Zinadim, Historiador muçulmano do século XVI.
PARTE PRIMEIRA
DE ALGUNS PRECEITOS ACERCA DA GUERRA SANTA, SUA RECOMPENSA, E INCITAÇÃO A ELA
É DE SABER que os infiéis podem dividir-se em duas categorias. A primeira é a daqueles que habitam os seus próprios países; neste caso a guerra santa é um preceito de delegação, isto é, basta que os crentes que estão com eles a façam, não sendo a isso obrigados os mais dos muçulmanos, a não ser que eles estejam em pecado, [porque então o passam a ser].
A segunda é a daqueles que invadem os territórios dos muçulmanos, como é este o caso no Malabar13; e então a guerra é indelegável noutrem, mas é imperativa para todo o muçulmano, quer seja escravo, mulher, cidadão ou camponês, ainda sem autorização do seu senhor, esposo, credor ou proprietário da terra; tanto para aqueles que estão junto deles, como para os que estão afastados.
Compete ao capitão aconselhar-se com os seus oficiais acerca da guerra, e distribuí-los pelas fileiras. Sc for feita presa, que a mande juntar e dar o despojo do morto ao : matador, despojo que consiste nas suas roupas, sapatos, cinturão e fato; quanto aos objectos encontrados com ele, braceletes, armamento de guerra, arreios, selas e rédeas, mandá-las dividir cm cinco quinhões, e um deles cm cinco outros; o primeiro para beneficiação dos muçulmanos, por exemplo, a defesa da fronteira, a construção de fortalezas, de pontes, de mesquitas, e honorários de juizes e sacerdotes; o segundo para os próximos parentes do Profeta, os Háxeme e os Almotálebe; o terceiro para os órfãos; o quarto para os desprotegidos da sorte, incluindo os faquires; o quinto para os viajantes; c os quatro quintos restantes para os apresadores que realmente tomaram parte na luta.
Deve o combatente dirigir a prece e súplica a Deus para o seu triunfo, mostrar temor de Deus, e apoio nele, antes de principiar a guerra, porque Deus é [omnipotente e a promessa] será executada, di-lo a Bíblia, o Evangelho e o dispensador de socorro, e que todos se abstenham de fraude na partilha da presa, nem se deixem vencer com ameaças.
É sabido que os muçulmanos do Malabar não têm príncipe que os governe, e administre os seus bens, antes todos são súbditos de infiéis; mas apesar disso lutam com os inimigos da fé, e gastam em guerras grandes somas, segundo as suas posses, ajudados do samorim, o amigo dos muçulmanos. Ainda com este auxílio pecuniário a luta no primeiro momento terminou pela fraqueza a que ficaram reduzidos os muçulmanos, despojados os seus moradores, perdidas as suas vidas, arrasadas as suas moradas, e tomados os seus bens; nas lutas posteriores esse enfraquecimento foi crescendo, a sua pobreza e miséria aumentando, enfim chegaram à impotência; e os soberanos e príncipes muçulmanos—torne-os Deus seus auxiliadores! — não obstante a obrigação imposta nestes casos, em nenhuma maneira os socorreram Mas aquele que se erguer com o poder real para combater os infiéis, despendendo a sua fazenda c preparando as munições de guerra devidas para os combater c expulsar do país do Malabar e fazer abandonar os portos de que se assenhorearam nele, esse será cheio de louvores, feliz; ele será o punidor do que faltou ao dever, como executor da vontade de Deus, e pre-miador dos que permaneceram fiéis à causa da fé. E então ele receberá uma recompensa dos seus anjos, profetas e enviados; os servos de Deus cobri-lo-ão de preces e saudações; os homens de virtude, os fracos, os pobres e abandonados da fortuna, elevarão até ele com a recompensa da guerra santa e do dispêndio da sua fortuna no caminho de Deus a recompensa daquele que libertou da opressão estes infelizes. Porque na verdade disse o Profeta: Aquele que livrar um crente de uma pena do mundo, Deus o livrará de uma das penas do Dia do Juízo, refere Moceleme.
Ora se é assim para aqueles que livraram um só crente de uma só pena, ainda que insignificante, como não há-de ser daqueles que livraram de penas numerosas e grandes um sem número de infelizes, por meio da guerra santa no caminho de Deus? Certamente só Deus, excelso e grande, poderá apreciar essa recompensa, ele que prescreveu particularmente a guerra santa para libertação dos oprimidos! Ele disse: Porque não lutais pelo amor de Deus e dos oprimidos, homens, mulheres e crianças?
Citam-se a respeito das excelências da guerra santa, seu zelo, despesa com ela, e martírio por ela, versículos e tradições numerosas. Assim Deus disse: Ordenou-se-vos a luta e ela repugna-vos; e provavelmente as coisas que vos são de aversão são para vós as melhores, assim como as coisas que amais são as piores para vós, porque Deus tudo sabe, e vós nada sabeis!19 Ele disse também: Deus deu o paraíso aos crentes que combatem por amor dele, a troco da vida e dos bens; e na verdade, quer matando quer sendo mortos a probela, ilimitada, um belo, infinito louvor dos crentes do Oriente e Ocidente será bem acolhido de Deus, Alcorão, e quem será mais fiel à sua aliança do que Deus? Regozije-se, pois, com a troca aquele de vós que fez com ele pacto, porque assim alcançou uma grande vitória. E ele disse mais: Assim como o grão germinou sete espigas, e em cada espiga há cem grãos, assim também fez ele duplicar, conforme a sua vontade, a fortuna daqueles que gastaram seus bens por amor dele, porque Deus é grande e sábio!E ele disse: Não julgueis que estão mortos aqueles que sucumbiram por amor dc Deus, porque eles estão vivos na presença do seu Senhor, gozando alegres os benefícios concedidos por ele, e folgando da bem-aventurança que espera os que virão após eles, sem temor nem tristeza.
Contam Albocarí e Moceleme, nos seus livros O Autêntico, que Abú Horeira referira, que interrogado o Profeta de Deus sobre qual era o acto mais meritório, ele respondera: A crença em Deus e no seu Profeta. E depois? perguntaram-lhe. Ele respondeu: A guerra santa por amor de Deus. E depois? A santa peregrinação a Meca.
Contam os mesmos autores, como referido por Abú Horeira: Disse o Profeta dc Deus: Deus favoreceu aqueles que obraram por amor dele, que acreditam em mim e nos seus Profetas; se eles voltarem sãos e salvos, terão a presa em recompensa, mas se forem mortos ganharão o paraíso.
Os mesmos dizem: o Profeta de Deus disse: Juro por aquele em cujo poder está a minha vida que não há um só crente que se regozije de me renegar, como não há nenhum que afirme que eu reneguei aqueles que se bateram por amor de Deus; juro por aquele em cujo poder está a minha vida que eu desejei morrer por amor dele; ressuscitar três vezes, e três vezes morrer por ele!
Os mesmos dizem: O Profeta de Deus disse: Aquele que faz a guerra santa por amor de Deus é tão meritório como o jejuador constante, o devoto dos preceitos de Deus, e não e obrigado ao preceito do jejum e da oração até que volte da guerra.
Os mesmos dizem: O Profeta disse: Ninguém há-de enganar Deus no amor dele, porque ele sabe quem o engana; quando vier o Dia do Juízo a sua ferida verterá um sangue que terá a cor do sangue, e um cheiro que será o do almíscar.
Anas refere: O Profeta disse: Certamente uma manhã e uma tarde empregadas por amor de Deus são melhores do que a vida deste mundo e os seus prazeres.
O mesmo diz: O Profeta disse: Ninguém que entre no paraíso quer voltar a este mundo; e só do mundo ele ambiciona uma coisa, é a de mártir, e como tal desejaria voltar e morrer dez vezes pela mercê que recebe.
Jaber refere: Um homem disse ao Profeta na batalha de Ohode: Eu sinto-me morrer: para onde vou eu? Ele respondeu: Para o Paraíso. Ele atirou as tâmaras que tinha na mão, e correu a batalhar até que foi morto.
Refere Sahle bem Sahde: O Profeta disse: A vida de um dia combatendo por amor de Deus vale mais do que o mundo e os seus prazeres.
Refere Abú Muça: Um homem apresentou-se ao Profeta de Deus, e perguntou-lhe: Qual procede no caminho de Deus, o homem que se bate para ganhar a presa, o que se bate para adquirir fama, ou o que se bate para subir em dignidade? Ele respondeu: Aquele que combate pela exaltação da palavra de Deus, que é o mais nobre fim, esse na verdade vai no caminho de Deus.
Refere Abú Saíde Aladirí que o Profeta dissera: O mais meritório dos homens é o crente que luta por amor de Deus, e por ele gasta os seus bens.
Conta Albocarí citando Abú Horeira: O Profeta de Deus disse: No paraíso há cem degraus que Deus preparou para os que lutam por amor dele; entre cada dois degraus há a distância que medeia entre o céu e a terra. Depois de Deus vos perguntar que quereis, respondei-lhe: Alfirdi/ce, porque ele é o lugar melhor e mais elevado do paraíso; por cima dele está o trono do Piedoso, e dele correm os rios do paraíso.
Refere Abú Abaz: O Profeta disse: Quem não se preparou um lugar de servo no amor de Deus, consumi-lo-á o fogo do inferno.
Refere Abú Queis: Eu ouvi Sahde dizer: Eu fui dos primeiros que lutei por amor de Deus; um dia que nós combatíamos junto do Profeta de Deus, e não tínhamos outro alimento mais que folhas de árvore, um de nós comeu-as como o poderia fazer um camelo ou uma ovelha, e esse foi o seu único alimento.
Refere Abú Horeira: O Profeta disse: Àquele que apanhar um cavalo por amor de Deus, tendo crença nele, e fé nas suas promessas, certamente ele saciá-lo-á; e no Dia do Juízo pesará na sua balança o dono e o excremento.
Conta Moceleme à fé do mesmo: O Profeta disse: Aquele que morreu sem combater [por amor de Deus], nem formou esse propósito, morreu hipocritamente.
Refere o mesmo: O Profeta disse: O infiel e o seu matador não se juntarão no fogo do inferno.
Refere o mesmo: O Profeta disse: Aquele que tomou as rédeas do seu cavalo para ir combater por amor de Deus, voando-lhe sobre o dorso todas as vezes que ouve um alerta ou rebate, e voou sobre ele desejando a morte ou ser morto, seu supremo desígnio, comparado ao homem a quem a presa arrebata o espírito, ou que no meio do deserto ergue a oração a Deus, pratica uma vida pura e serve seu Senhor até possuir a verdade, aquele outro é ainda o melhor.
Refere Jaber Samara: O Profeta disse. Não acabará esta religião, porque por ela combaterão os muçulmanos até ao Dia do Juízo.
Refere Soleimão Alfered: Eu ouvi o Profeta de Deus dizer: Vale mais o serviço militar por amor de Deus de um dia e de uma noite do que um jejum de um mês, e as respectivas orações; se morrer, deu o que tinha a dar, cumpriu o seu destino, e fica ao abrigo da tentação de Satanás.
Refere Ocba Benamir: Eu ouvi o Profeta, quando estava no púlpito, dizer: Preparai para eles quanta força puderdes, mas sobretudo archeiros.
O mesmo refere: Eu ouvi o Profeta dizer: Aquele que aprendeu a atirar o arco, e abandona depois esta arte, não é dos nossos.
Refere Maçude Alançarí: Veio um homem com uma camela com freio, e disse ao Profeta: Esta camela consagro-a ao serviço de Deus; e o Profeta respondeu: Terás no Dia do Juízo setecentas camelas todas com freio.
Refere Masruque: Nós interrogámos Abdallá bem Maçude acerca do versículo que diz: Não julgueis que aqueles que sucumbiram por amor de Deus estão mortos; eles estão vivos junto do seu Senhor, gozando aquilo que Deus lhes concedeu, etc. Ele disse: Nós perguntá-mo-lo ao Profeta, que disse: Os seus espíritos estão no paraíso alumiados por lâmpadas suspensas do trono divino, e ali todas as suas necessidades são satisfeitas. Então eles colocam-se debaixo dessas lâmpadas; e depois o seu Senhor aparece-lhes, e pergunta: Desejais alguma coisa? E eles respondem: Que podemos nós querer, nós que estamos no paraíso, onde tudo nos é satisfeito? Três vezes lhes fez Deus a mesma pergunta, e vendo eles esta insistência, disseram: O Senhor, nós desejamos que os nossos espíritos voltem aos nossos corpos para podermos morrer outra vez por amor de ti; mas Deus, quando viu que nada precisavam, deixou-os.
Refere Abdallá Benomar Bcnalace que o Profeta dissera: O que morre por amor de Deus renega tudo menos a sua fé.
Refere Anas: Partiu o Profeta de Deus com os seus companheiros de armas, e chegado a Bedre apareceram os politeístas; então ele disse aos seus: Preparai-vos para irdes para o paraíso, cuja grandeza é a dos céus e da terra. Omeir Benalhamame exclamou: Bravo! Bravo! O Profeta perguntou-lhe o que queria significar com aquelas palavras, e ele respondeu: Simplesmente que tenho esperança de entrar nele. O Profeta disse: Pois bem, assim será! Depois Omeir tirou a pele às tâmaras que trazia, c pôs-se a comê-las; mas o Profeta disse: Na verdade se eu quisesse comer as minhas tâmaras, eu obteria por elas uma vida prolongada; e então ele atirou fora as tâmaras que tinha na mão, começou a batalhar, e por fim foi morto.
Refere Attirmedí e Abú Daúde, citando Fadalla Benobeide, que ouvira ao Profeta: Todo aquele que morre termina aí o seu destino, mas não aquele que morreu lutando por amor de Deus, porque ele prosseguirá o seu até o Dia do Juízo, e estará isento da prova do túmulo.
Refere Abú Daúde citando Abú Amama que ouvira o Profeta dizer: Aquele que não combateu, nem equipou um combatente, ou que dissuadiu um combatente de seguir no bom caminho, Deus fá-lo-á sofrer a pena antes do dia do juízo.
Refere Amrám bem Huçáim: o Profeta disse: Nunca deixará uma parte do meu povo de combater pela verdade, distinguindo-se exteriormente dos seus adversários, e combaterá, até ao último deles, o Anti-Cristo.
Refere Attirmedí, citando Benabaz, que ouvira o Profeta de Deus dizer: Há dois olhos que o fogo do inferno não atinge, o que chora com receio de Deus, e o que se não fecha velando por amor de Deus.
Refere Abú Horeira: Um dos companheiros do Profeta de Deus passou por um outeiro onde corria uma fonte de boa água, e agradou-lhe, e disse: Se eu abandonasse a companhia destes homens, na verdade eu ficaria neste outeiro. Foi isso sabido do Profeta, que lhe disse: Não faças isso, porque o mérito de um de vós no caminho de Deus é maior do que a oração em sua casa durante setenta anos. Se quereis que Deus vos perdoe e vos dê entrada no paraíso, combatei por amor dele; aquele que luta por amor de Deus, ainda que seja só durante o intervalo entre duas ordenhas de camela, ganha o paraíso.
Referem Attirmedí e Annaçái, citando Abú Horeira, que ouvira o Profeta de Deus dizer: O mártir da fé não sofre de morrer, antes sente uma grande alegria.
Refere Harame bem Fatdque: o Profeta disse: Àquele que gastou a sua fortuna no caminho de Deus é concedido setecentas vezes o dobro do que despendeu.
Refere Bem Maja citando Ali, Abú Adrada, Abú Horeira, Abú Amama, Abdallá Benamrú, Jaber Benabdallá e Amrám bem Huçáim que ouviram ao Profeta dizer: Aquele que combateu em pessoa por amor de Deus, ou pagou a alguém em seu lugar, receberá por cada direme setecentos mil, e em seguida recitou este versículo: Deus duplica a quem quer, Deus é grande e sábio!27
Refere Abú Daúde citando Benabaz que ouvira o Profeta dizer: Quando os vossos irmãos foram mortos na batalha de Ohode, Deus colocou os seus espíritos no ventre das aves verdes28, onde correm os rios do paraíso, comendo as suas tâmaras e abrigando-se debaixo das lâmpadas de ouro suspensas do trono de Deus; e quando eles viram que era bom o seu alimento, a sua bebida e morada, disseram: Quem fará saber aos nossos irmãos que estamos vivos no paraíso, para que conheçam que não terão mortificação no paraíso, nem se trata de guerra? Então Deus disse: Eu lho farei saber da vossa parte; e revelou ao Profeta estas palavras: Não julgueis que os que sucumbiram no caminho de Deus estão mortos, antes estão vivos, etc.29
Refere Alaquemc citando Abú Muça Alaxarí que ouvira o Profeta dizer: O paraíso está à sombra das espadas.
Refere Bem Maja citando Anas: O Profeta disse: Os restos daquele que exalou o espírito no caminho de Deus, cheirarão a almíscar no Dia do Juízo.
Refere Attibraní no livro Grande, citando Benomar, que ouvira o Profeta dizer: Àquele que foi em romaria a Meca ser-lhe-ão perdoados os pecados praticados até então.
Refere Ueila que o Profeta dissera: Aquele que não combateu comigo, terá de bater-se no mar 30.
Refere Addilamí no seu livro intitulado O Trono do Paraíso, citando Abú Horeira, que ouvira o Profeta dizer: Uma hora gasta por amor de Deus vale mais do que cinquenta peregrinações a Meca, isto é, a recompensa do guerreiro é durante uma hora superior a cinquenta peregrinações, c a razão de tal superioridade está em que o guerreiro arrisca a vida e bens por amor de Deus, e por consequência a vantagem que tem excede a do peregrino.
PARTE SEGUNDA
ORIGEM DO ESTABELECIMENTO DO ISLAMISMO NO MALA BAR
CERTO número de judeus e de cristãos embarcaram com suas famílias num grande navio, e vieram aportar a uma cidade do Malabar, chamada Cranganor, capital do reino do mesmo nome; e pedindo ao rei terras, hortas e casas, ficaram morando nela.
Anos depois chegaram ali alguns faquires muçulmanos, tendo à sua frente um xeque, os quais pretendiam visitar a pegada do nosso pai Adão em Ceilão31. Soube o rei de tal, e mandou-os vir à sua presença, e acolhendo–os com favor, perguntou-lhes que novas lhe traziam, e a que vinham. O xeque contou-lhe a vinda do nosso profeta Mohamede, a fundação do islamismo, e o milagre da bipartição da Lua. Então entrou no peito do rei a verdade do nosso profeta, e creu nele, e manifestou amor por ele; e mandou ao xeque que na volta da peregrinação à pegada de Adão, ele e os seus companheiros viessem pela sua cidade, para que partisse com eles, proibindo-lhes porém que revelassem esse segredo aos habitantes do Malabar. Eles assim fizeram; seguiram para Ceilão, e procuraram-no na volta.
El-rei mandou ao xeque que procurasse um navio para se embarcarem, sem que tal fosse conhecido de ninguém. Havia no porto muitos navios de mercadores estrangeiros; o xeque dirigiu-se a um capitão deles, e disse-lhe que ele e alguns faquires desejavam seguir viagem no seu navio, ao que ele acedeu.
Quando chegou a ocasião da partida, el-rei proibiu à sua corte e ministros que comunicassem com ele durante sete dias; nomeou um governador a cada uma das suas cidades, e determinou a jurisdição de cada um, para que nenhum saísse das suas atribuições; isto é tradição corrente ainda hoje entre os pagãos do Malabar.
Este rei dominava todo o Malabar, cujos limites eram a sul o cabo Comorim, e a norte Canjarcote. Depois destas disposições embarcou com o xeque e faquires durante a noite, e foram ter a Pandarane, onde desembarcou, e passou um dia e uma noite. Embarcaram dali
novamente para Darmapatam, onde também foi a terra, e descansou três dias; e daqui foram para Xael, onde desembarcou com os seus companheiros. Após uma longa estada ali, resolveu-se a voltar com alguns companheiros ao Malabar, para nele edificar mesquitas, e propagar o islamismo.
Mas no entretanto el-rei adoeceu muito gravemente, e vendo que não escaparia pediu aos seus companheiros que não desistissem da viagem da índia, se viesse a morrer. Estes, que eram, entre outros, Xarfe bem Mélique, e seu irmão materno Mélique bem Dinar, e seu sobrinho Mélique bem Habibe bem Mélique, responderam: Nós não sabemos de onde tu és, nem quem tu és, e se aceitámos empreender esta viagem foi confiados em que nos acompanharias. El-rei ficou um momento irresoluto, e por fim escreveu na língua do Malabar uma carta, em que dizia quem era, os seus parentes, e nomes dos seus governadores. Recomendou-lhes cm seguida que fossem a algum destes portos, Cranganor, Darmapatam, Pandarane ou Coulão; e mais lhes disse: Não informeis nenhum dos malabares, nem do meu grande sofrimento, nem da minha morte; depois do que deu a sua alma a Deus misericordioso e grande!
Anos depois partiram para o Malabar num navio, entre outros, Xarfe bem Mélique, Mélique bem Habibe è sua mulher Comría, com seus filhos e parciais. Chegados a Cranganor, e desembarcando nela, entregaram a carta d’el-rei ao governador dela, ocultando-lhe porém a sua morte. Depois que ele a leu e se informou do seu conteúdo, distribuiu-lhes terras c hortas, conforme se mandava na carta, e eles estabeleceram-se ali e edificaram na cidade uma mesquita; mas o sobrinho de Mélique bem Dinar, Mélique bem Habibe, foi em seu lugar levantar outras mesquitas no resto do Malabar.
Saiu pois Mélique bem Habibe para Coulão com seus bens, mulher e alguns filhos, e edificou nela uma mesquita; foi dali, em seguida a ter ali perdido sua mulher, para Eli Marabia, onde edificou uma mesquita, e também em Bacanor, Mangalor, Darmapatam e Canjarcote. Voltou novamente a Eli Marabia, onde se demorou três meses, e daqui foi a Jarpatam, Darmapatam, Pandarane e Chalé, construindo mesquitas em todas estas povoações; e depois de uma demora de cinco meses nesta última, voltou a Cranganor, junto do seu tio Mélique bem Habibe. Não tardou que partisse a visitar c orar em cada uma destas mesquitas, voltando depois a Cranganor, agradecendo e louvando a Deus por ter permitido a propagação do islamismo em país cheio de infiéis; depois Mélique bem Dinar e Mélique bem Habibe partiram para Coulão, onde este se estabeleceu com os seus companheiros e escravos, e Mélique bem Dinar com alguns daqueles seguiu para Xael, onde foi em romaria ao túmulo do rei morto, e dali para o Coraçám, onde morreu. Quanto a Mélique bem Habibe, tendo deixado alguns filhos em Coulão, voltou com sua mulher a Cranganor, onde ambos faleceram.
Tal é a história do primeiro estabelecimento do islamismo no Malabar. Com respeito à sua data nada se sabe ao certo, mas eu suponho que não terá sido posteriormente ao princípio do século ix32. E, porém, tradição
muito corrente entre os muçulmanos do Malabar que a conversão deste rei foi no tempo do Profeta, com a visão que teve uma noite da partição da Lua; que depois fora até o Profeta, c este o acolhera muito honradamente; que voltara a Xael com a tenção de seguir dali para o Malabar, com os companheiros de que falámos, e que morrera nela; mas isto é pouco verosímil. O que é certo é que agora é voz geral que foi enterrado em Dofár33ou Xael34, e ali é o seu túmulo tido em grande reverência, e os naturais do país chamam-lhe samorim; assim como de todos os habitantes do Malabar, muçulmanos e infiéis, é bem conhecida essa partida. Para os infiéis contudo ele subiu ao céu, e esperam a sua vinda; e em lembrança de tal facto, trazem a um certo sítio, em Cranganor, um tamanco c água35, e durante uma certa noite iluminam-no. E também bem sabido entre eles que este rei, próximo da sua partida, dividiu o governo do reino pelos seus companheiros, com excepção do samorim, que foi o primeiro príncipe do porto de Calecut, por estar ausente da corte nesse momento. Como chegasse antes do embarque d’el-rei, este presenteou-o com uma espada, dizendo: «Bate com ela, e serás rei»; ele fez conforme lhe fora recomendado, e assim se assenhoreou de Calecut.
Algum tempo depois que começou a ser habitada por muçulmanos, principiaram a afluir ah mercadores e capitães de navios de todas as partes, e tanto cresceu o comércio que ela veio a ser uma grande e nobre cidade, onde se cruzavam todas as classes de homens, quer muçulmanos, quer infiéis, e deste modo o poderio do samorim foi superior ao de todos os príncipes do Malabar. Eram todos estes infiéis uns mais poderosos do que outros, mas nem por isso o forte espoliava o fraco, abusando da sua força, e isso graças às prescrições daquele grande rei, que se converteu ao islamismo, e ao favor do Profeta e da sua religião. Estes reinos são ? de grandeza muito variável, há-os de uma farçanga, outros são maiores; os seus exércitos são também de cem (e até abaixo deste número), de duzentos, trezentos, mil, cinco mil, dez mil, trinta mil, cem mil ou mais homens.
Algumas cidades confederam-se em número de duas, três ou mais, apesar de mais poderosas umas do que outras, e ainda que rebente a guerra e a desinteligência entre elas, nem por isso quebram o seu pacto de aliança.
Os soberanos mais poderosos do Malabar são Tiruare, príncipe de Coulão, Comorim e do território compreendido entre estes dois pontos; para o oriente dele estendem-se numerosos reinos; Colátiri, príncipe de Eli Marabia, Jarpatam, Cananor, Iracole, Darmapatam, etc.;
porém mais poderoso do que eles, e de maior fama, é o samorim, cujo domínio vai de um a outro reino; é grande soberano graças ao favor do islamismo, e ao seu amor pelos muçulmanos, e ao modo liberal como os trata, sobretudo sendo estrangeiros. Os infiéis pretendem que o é graças à espada com que o presenteou aquele rei de que falámos, a qual eles pretendem que o samorim guardou até hoje com veneração e respeito, e a leva consigo todas as vezes que vai à guerra ou à grande assembleia.
O samorim quando faz guerra por um qualquer motivo a um dos príncipes menos poderosos do Malabar, depois de desafrontado restitui ao vencido a fazenda ou qualquer parte do território que haja tomado, e senão logo fá-lo mais tarde, porque não conserva violentamente o que tomou; e a razão deste procedimento está em que isso é uso e tradição antiga dos malabares, que eles raras vezes infringem. Isto faz o samorim; os outros príncipes nas suas guerras limitam-se também a matar os seus adversários e destruir as cidades, se podem.
PARTE TERCEIRA
DE ALGUNS USOS E COSTUMES ESTRANHOS ENTRE OS INFIÉIS DO MALABAR
É de saber que entre os infiéis do Malabar há estranhos usos, que se não encontram entre os outros povos 17. Assim, se um dos seus príncipes é morto em batalha, o seu exército faz guerra sem tréguas ao príncipe inimigo, às suas tropas e cidades, e só depois de mortos todos os adversários, ou destruído todo o reino do adversário, eles se dão por satisfeitos. E por isso que eles evitam sempre que tal suceda; mas este antigo uso já no tempo de agora se não guarda tanto.
Os príncipes do Malabar estão divididos em duas parcialidades, a dos aliados do samorim, e a dos do príncipe de Cochim, mas esta oposição é puramente ocasional, e logo que as circunstâncias mudem, desaparecerão, e voltarão às suas boas relações.
Também são leais nas suas guerras, e por isso escolhem um certo dia para a batalha, a que não faltam, e toda a fraude empregada consideram-na eles como uma afronta.
Depois da morte de um próximo parente, como pai, mãe ou irmão mais velho, entre os brâmanes, carpinteiros e castas vizinhas; ou como mãe e tio materno, e irmão mais velho entre os naires e castas vizinhas, abstêm-se durante um ano inteiro de relações carnais com suas mulheres, e de comer carne e bétel, não cortam o cabelo, nem as unhas; e não só não quebram este uso, mas antes o consideram como preito aos mortos.
O direito de herdar pertence entre os naires e castas vizinhas aos irmãos da mãe, ou filhos dos irmãos ou tios maternos, ou parentes próximos pelo lado da mãe, nunca aos descendentes directos, quer bens móveis, quer imóveis, e este uso de não fazer herdar os filhos foi adoptado pela maioria dos muçulmanos de Cananor e seu termo, apesar de existir entre eles quem leia o Alcorão, cumpra os seus preceitos, tire proveito da sua leitura, adquira saber e execute os seus deveres religiosos. Porém, entre os brâmanes, ourives, carpinteiros, ‘ ferreiros, xanáns, pescadores, etc., herdam os filhos, e celebram contrato de casamento; mas entre os naires o casamento consiste apenas em atar ao pescoço da mulher um colar, podendo ela depois desposar o que lho atou , ou outro que quiser.
Entre os brâmanes, havendo vários irmãos só se casa o mais velho, excepto se houver certeza que não terá descendência; os outros irmãos não se casam, para evitar o fraccionamento da herança, de onde resulte disputa; apenas coabitam com mulheres de naires, sem outra forma de casamento, como os naires, e se a alguns sucede fazerem-lhes filhos, estes não herdam; mas se houver certeza de que o mais velho não terá filhos, é permitido a um dos outros irmãos casar-se.
Também é de uso no país entre os naires e castas vizinhas, juntarem-se em número de dois, quatro ou mais com uma só mulher, indo cada um deles alternadamente passar a noite com ela, do mesmo modo que o muçulmano faz com as suas esposas, sem que daí advenha inimizade ou discórdia entre eles40. E assim também que fazem os carpinteiros, ferreiros, ourives, etc., com a diferença de que são só irmãos ou próximos parentes que têm uma só mulher, para deste modo se não dividir a herança, e impedir questões entre os herdeiros.
Os malabares não cobrem o tronco, com excepção das partes vergonhosas, e do que as mais aproxima, ficando descoberto o resto dele, e isto tanto homens como mulheres, reis como grandes personagens.
Também não escondem as mulheres aos olhos dos outros homens, com excepção das dos brâmanes; mas os naires enfeitam as suas, e vestem-nas de atavios, e levam-nas às grandes assembleias para as mostrarem aos homens, e estes as admirarem.
Na realeza o sucessor de direito é o irmão mais velho, ou um dos sobrinhos maternos, ainda que o seja por uma diferença mínima, e quer seja idiota, quer cego ou doente; e contudo não consta que nenhum dos irmãos ou sobrinhos maternos tenha morto o mais velho para mais cedo se apossar do poder. Se faltam os herdeiros, ou escasseiam, tomam um estranho, contanto que seja de idade, e fazem-no herdeiro em lugar do filho, do irmão, ou do filho da irmã, e não fazem depois diferença entre ele e o legítimo herdeiro. Este uso é geral entre todos os infiéis do Malabar, para os reis como para os súbditos das castas superiores ou inferiores; e deste modo não se interrompe a sucessão à herança.
Os malabares estão sujeitos a numerosas peias de que se não podem eximir, por estarem divididos num sem número de castas, umas superiores, outras inferiores, outras intermédias; e se entre a casta superior c inferior houver contacto, ou se os das castas inferiores excederem os limites entre si de parentesco, é obrigatória para a casta superior a purificação, e não podem tomar alimento antes disso, porque de contrário são excluídos da sua casta, e eles não tornarão a entrar mais na casta superior. Só resta a estes um de dois caminhos: ou refugiarem-se cm povoação onde o seu acto não seja conhecido, porque de contrário é lícito ao senhor do país prendê-lo e vendê-lo a pessoa de casta inferior, quer seja homem ou mulher; ou então converterem-se ao islamismo, ou tornarem-se jogues41 ou cristãos. Também não é permitido aos das castas superiores comerem alimento preparado pelos das castas inferiores, porque se o fizerem saem da sua. Os que envolvem o pescoço da donzela com colares formam a casta mais nobre de todo o Malabar, e ela própria subdivide-se em outras subcastas, umas superiores, outras inferiores e intermédias; os brâmanes constituem a mais alta dela, e eles por sua vez também se subdividem.
A casta a seguir a estas é a dos naires; estes são a casta guerreira, a mais numerosa e de maior poder; também se divide em muitas subcastas — superiores, inferiores e intermédias.
Logo abaixo dos naires vêm os xanáns, os quais se ocupam a colher os frutos dos coqueiros, e extraem deles o líquido de que fazem uma espécie de vinho, ou preparam c fabricam o açúcar. Abaixo destes há as dos carpinteiros, dos ferreiros, ourives, pescadores, etc.; e
abaixo há ainda muitas outras inferiores, que tratam da cultura e sementeira dos campos, e o mais que a isso diz respeito; dividem-se também em castas, e se um homem de casta inferior cometer acto ilícito com mulher de casta superior à sua durante certas noites do ano, ela será excluída da sua, a não ser que tenha sido fecundada. De contrário pode seu marido prendê-la e vendê-la, a não ser que tenha fugido para entre os muçulmanos, e se tenha convertido à sua fé, ou à cristã, ou tornado jogue; assim como se um indivíduo de baixa casta tiver relações com uma mulher de casta superior da casta inferior, ou vice-versa, o indivíduo da casta superior é excluído da sua, ou tem de proceder como dissemos acima, excepto se é algum dos que atam os colares das donzelas que teve relações com uma mulher naire, porque assim não sai da sua casta, sendo a razão desta excepção o facto de que já falámos, de que só o irmão mais velho entre os brâmanes pode casar, e os outros estabelecem concubinagem com as mulheres dos naires.
Muitas outras particularidades semelhantes a estas poderíamos citar, as quais os malabarcs praticam ignorante e estupidamente; e esta foi a razão principal porque Deus os favoreceu, fazendo-os entrar no seio do islamismo. Estas considerações constituem certamente uma digressão, mas palavra puxa palavra, e por isso nos fomos alargando. Voltemos ao nosso propósito.
Assim pois Xarfe bem Mélique, Mélique bem Dinar e Habibe bem Mélique, etc., aos quais já anteriormente nos referimos, tendo entrado no Malabar, e edificado mesquitas nos porto ‘obreditos, e neles implantado o islamismo, começaram c nuçulmanos a engrossar pouco a pouco, e a afluírem aliam grande número de todas as partes os
mercadores. Fundaram-se então novas cidades, como Calecut, Baliancote, Tirurangar, Tanor, Panane, Purpurangar, Paronor, do termo de Chalé, Capocate, Tiracole c outras do termo de Pandarane, Puriangar, Eli, Cananor, Iracole, Chombá, do termo de Darmapatam, a sul Pudepatam, Nilachiram42, a sul destas Cranganor, Cochim, Vaipim43, Palipuram e muitos outros portos. Cresceu o número dos seus moradores, e neles se estabeleceram os muçulmanos e os mercadores desta religião, graças ao benévolo tratamento dos seus príncipes, apesar de serem pagãos, tanto eles como as suas tropas, e ao respeito dos seus velhos usos, sem exercerem opressão senão raras vezes; os muçulmanos são seus súbditos, e em pequeno número, pois não atingem um décimo da população.
Os portos do Malíibar foram desde andgos tempos de grande importância, sendo mais notável entre eles o de Calecut, mas depois que chegaram os franges ao Malabar, e tolheram o seu comércio, têm diminuído bastante.
Os muçulmanos não têm em todo o Malabar um príncipe com poder para os governar, são pelo contrário os príncipes pagãos que presidem aos seus negócios; impõem as multas, quando algum dos muçulmanos comete um delito punível entre eles com multa, mas nem por isso deixam de lhes manifestar honra e favor, porque a maior parte das suas cidades foram edificadas com o auxílio deles. São eles que fazem celebrar a oração da sexta-feira e as festas; são eles que determinam os honorários dos magistrados e dos muezins, e que ordenam a execução dos preceitos legais entre os muçulmanos. Não
permitem o abandono da oração de sexta-feira; e aqueles que o fazem sofrem grandes danos, e obrigam-nos a multa na maior parte das cidades.
Quando um muçulmano comete um crime punível entre eles com a pena de morte, matam-no, mas com a permissão dos chefes dos muçulmanos, e depois estes tomam-no, lavam-no, vestem-no, rezam sobre ele a oração final, e enterram-no no seu cemitério. Quando é um pagão que comete um crime punível com a pena de morte, matam-no, e crucificam-no, ou deixam-no no lugar onde foi morto, até que venham comê-lo os cães e os chacais. Apenas percebem os dízimos sobre as suas mercadorias, e as multas, quando algum deles comete um delito que entre eles sofre multa; não taxam os proprietários de terras e hortas, ainda que sejam grandes; e não entram nas casas dos muçulmanos sem sua licença.
Quando algum deles comete um delito, ainda que seja morte injusta, eles contentarn-se com a sua expulsão dentre os muçulmanos, procurando constantemente castigá-lo com a fome ou coisas parecidas; mas àqueles dos pagãos que se convertem ao islamismo não fazem dano, antes honram como aos demais muçulmanos, mesmo que tenham sido das castas inferiores. E por estas razões favoráveis que os mercadores muçulmanos se estabeleceram ali desde tempos antigos.
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Tradução de Davi Lopes. Fonte: Antígona, 1998.
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