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20/06/2004 às 0:21 #70143Miguel (admin)Mestre
Olá! Bem, tem algo que me encomoda muito, que é algumas pessoas apresentarem o Nietzsche como um homem frustrado e de mau com a vida, sendo que ele nos da muitos meios de contemplá-la, como o eterno retorno.gostaria de saber a opiniao de voces sobre o ponto que as pessoas abordam para mostra-lo de tal forma pessimista!
23/06/2004 às 19:43 #78450Miguel (admin)MestreAs abordagens que procurar relacionar fatos de sua vida, superficialmente conhecidos, com a sua obra são grosseiras. O desconhecimento de textos e documentos, por exemplo, leva a uma livre associação pejorativa com o nazismo.
Da mesma forma, o fato de ter sido recusado mais de uma vez em casamento, e de teorizar de maneira pouco positiva sobre as mulheres e o feminismo, levam a caracterização de Nietzsche como ressentido, que nunca teria namorado etc.
Nietzsche sofreu inúmeros golpes durante a vida, além de ter padecido de algumas enfermidadea, mas como ele mesmo diz, nunca se entregou a uma visão pessimista, frustrada, e sempre apostou no exarcebamento, na superabundância, na caracterização da vida pelo excesso, e não pela falta.
Aqui cumpre deixas esses lugares comuns de lado e procurar entender melhor, se for o caso, a complexa biografia do autor. Um bom começo para isso é lendo a primeira biografia sobre Nietzsche, baseada em vários documentos originais, a do francês Daniel-Halevy.
25/06/2004 às 18:43 #78451Miguel (admin)MestreMiguel, creio que tudo que você escreveu seja “absolutamente” pertinente, no entanto a fundamentação da vida assume um caráter que me parece diferente do usual em alguns aforismos de Nietzsche.Por fundamentação usual entendo: o sentido (rumo) da vida é ser feliz.
Entendo que Nietzsche defenda uma vida plena (uma experiência plena de vida) em detrimento da felicidade.Por isso devemos necessariamente sofrer não para sermos felizes, mas sim para vivermos plenamente mesmo que não “felizes”.
O que me leva a crer que a opinião de Nietzsche seja essa é o aforismo 429 do livro quarto do Aurora (pode ser encontrado na coleção “Os pensadores”).O aforismo se chama “A nova paixão” e se inicia da seguinte maneira:
“Por que tememos e odiamos nós um possível retorno à barbárie? Por que ela faria os homens mais infelizes do que são? Ai não! Os bárbaros de todos os tempos são mais felizes: não nos iludamos!”.
E prossegue:
“O fato é que o impulso ao conhecimento é forte demais para que ainda sejamos capazes de estimar a felicidade sem conhecimento ou a felicidade de uma ilusão forte…”.
“-sim, talvez sejamos também amantes infelizes-”
Os “bárbaros” são então mais felizes, mas nossa (nós que temos o vicio de descobrir e adivinhar) “felicidade minguada” é mais nobre, mais sublime.Mas fico me perguntando, para que tal nobreza, não é esta nobreza que faz de Schopenhauer um asceta pessimista?
Nietzsche continua:
“…acreditamos que a humanidade, sob o ímpeto e o SOFRIMENTO desta paixão, teria de se acreditar mais sublime e mais CONSOLADA do que até agora, quando ainda não havia superado a inveja pelo bem-estar mais grosseiro que acompanha a barbárie”
Vejam que paradoxo: O consolo sublime vale mais que a felicidade, mas isso não é pessimismo, niilismo?Inveja do bem-estar grosseiro?Mas e quanto àqueles que realmente possuíam e possuem este bem-estar?Será mesmo que este bem-estar não é possível?
Conclui:
“Talvez mesmo a humanidade sucumba por essa paixão do conhecimento! – nem mesmo este pensamento pode nada sobre nós-“. “Essa é a questão principal. Queremos para ela um fim em fogo e luz ou em areia?”.
Minha conclusão é que para Nietzsche, viver plenamente, (conhecer, experimentar) transcende a felicidade, sentimentos alegres são então apenas parte de um jogo que é sagrado, que vale mais do que todas as suas partes isoladas (felicidade, tristeza, otimismo, pessimismo etc).
Por isso acho que visto do ponto de vista usual( viver para ser feliz e alegre) Nietzsche possa ser chamado de pessimista.Mas creio que ele coloca a fundamentação da vida em um outro patamar.Um patamar que transcende, não o mundo físico, mas o mundo dualista de bem e mal, tristeza e} felicidade, pessimismo e otimismo.Se delinea talvez uma tolerancia metafísica, um perspectivismo cósmico.
Uma questão que me aparece também com este aforismo é se de fato, é possível aquele bem-estar grosseiro invejado (invejado ou talvez visado, infelizmente não leio alemão).Será que uma alienação completa não facilita a vontade de potência? Quem possui mais vontade de vida, vontade de verdade, vida de vontade, de que um fanático?..Aquele que se explode alegremente por sua verdade (a filosofia de Cioran tangencia essa questão).Sim devemos por caráter, para sermos sublimes, conhecer e calar, por tolerância, nossa vontade de potência (nossa vida de vontade).Mas não é de certa forma isso que representa a filosofia de Schopenhauer?
Por favor, aceito de “mui bom grado” sugestões, correções etc, este “bigodudo” sim é que é uma dama!
28/06/2004 às 18:36 #78452Miguel (admin)MestreMiguel, obrigado pela transcrição do verbete “vontade de poder”, ela é bem esclarecedora, se coloca exatamente no ponto que procurava.
Quanto às vontades de Schopenhauer e de Nietzsche fica posto da seguinte maneira (ao menos pelo que pude entender):
Para Schopenhauer a vontade assume um caráter ativo perante o homem, a vontade se impõe.Saciar a vontade significa acabar com uma dor, porém a vontade não tem fim (em ambos os sentidos).Outro ponto importante é que à vontade de Schopenhauer abrange toda a matéria, “tudo quer’.
Para Nietzsche (segundo Ferrater) a vontade de poder é a forma primitiva do afeto.A noção de afeto em Nietzsche necessita de um cuidado maior, mas assim como Schopenhauer, Nietzsche coloca a vontade como principio, como fundamente em que se edifica o mundo.Nietzsche critica a vontade de Schopenhauer, pois este a coloca como “coisa-em-si” como essência do mundo.Para Nietzsche tanto o “Eu penso” quanto o “Eu quero” não podem ser coisas-em-si, pois as coisas por natureza não podem ser “em-si”, apenas são “em-nós”.
Para Nietzsche a vontade deve ser domada e assumir um papel passivo perante o homem, vontade de poder deve expandir infinitamente (como diz Ferrater isso contrasta com o Eterno-Retorno).Certo, organizada a “maçaroca” que tinha feito com as vontades, como fica a questão da felicidade em Nietzsche? Nietzsche é “de bem com a vida”?A vida trágica e o amor fati são apenas contrapontos a um hedonismo que culminaria possivelmente em um sofrimento ainda maior? (a maioria das interpretações de Nietzsche feita por não “profissionais” (“eu” incluso) parece entender desta forma).
Apelo para ajuda de profissionais (“esta certo disso”?):
O sistema schopenhauriano considera a Vontade a essência única do mundo e do homem.Ele a concebe como uma força obscura e inconsciente que limita e comanda tudo que existe.
Nessa visão pessimista, a única consolação é a liberação temporária pela contemplação estetica e, sobretudo a libertação definitiva pela renuncia ao jugo da vontade cega.O pessimismo de Schopenhauer, descrevendo um mundo absurdo e repetitivo, busca como remédio para ele uma existência sem dor, sem tempo, sem movimento: a negação da vontade.Nietzsche, por sua vez, também considera a infelicidade humana, o fundo dionisíaco da existência, mas oferece ao homem uma sabedoria diferente: a possibilidade da vida no tempo, no efêmero.Ele exalta a alegria de viver no tempo – experimentada pelo individuo exposto a dor- como sendo força e sabedoria de um saber trágico da existência.
(…) o homem pode responder a questão fundamental do valor da existência: negativamente segundo Schopenhauer, buscando uma saída ascética para o problema da dor ou contemplando por instantes o mundo como idéia Eterna; positivamente Nietzsche julgando que o imperfeito e o efêmero devem ser amados e queridos com uma alegria serena”
Jose Thomaz Brum “O pessimismo e suas vontades” (Brum também traduziu alguns livros (uns 5 acho) de Emil Mihal (não gosto de traduções de nome, sinceramente) Cioran para o português)
Pois então, respondendo a questão: é difícil dizer que Nietzsche seja realmente “de bem com a vida” a resposta que ele oferece a vida, seu canto que diz “Sim”, para maioria de nós iria parecer o canto do cisne.O amor fati de Nietzsche é digno de um arrebatamento poético (a la Rimbaud)em reação a ausencia de valor. O mais hábil “filosofo de gabinete” (uso a expressão de Bacon) não conseguiria reduzir isso a um simples conceito.Este afirmação incondicional da vida é antes de linguagem, sangue.Isto diz respeito a todos nós, todos temos de responder, uns são aptos e responder de forma poética outros gostam de calcular, mas todos temos de responder…isto é não apenas “pêlo em ovo” ( a expressão favorita para desdenhar dos filósofos!)
Mas será que eu gostaria de ,como Nietzsche, de ser serenamente arrebatado pela beleza de nosso efêmero fogo de artifício ou gostaria de ter uma vida confortável com os prazeres, devidamente controlados pela temperança?Será que uma vez exposto ao desencantamento do mundo (que passou diante dos olhos de Nietzsche, Schopenhauer e Weber etc) existe como retornar?Nietzsche não oferece o único “retorno” possível (ou o melhor deles) aos desencantados?A educação deveria encantar ou desencantar?
Gostaria de escrever um pouco minhas aproximações sobre as “respostas” de Emil Cioran e William Blake, porem tenho de escrever um trabalho (de Antiga I), então fica pra mais tarde (sei que possivelmete ninguém possa estar interessado nisso, mas ao menos eu aprendo a pensar/escrever livremente, com um pouco de responsabilidade).
Enquanto isso leiam Fernando Pessoa (e comparem com Nietzsche e com vcs mesmos)
“Faze de tua alma uma metafísica, uma ética e uma estética. Substitui-te a Deus indecorosamente.É a única atitude realmente religiosa.(Deus esta em toda parte exceto em si próprio).
“Faze te teu ser uma religião ateísta; de tuas sensações um rito e um culto”
30/06/2004 às 4:30 #78453Miguel (admin)MestreOlá
Você levanta várias questões. Estou sem minha biblioteca aqui, então não tenho a quem recorrer.
Me parece que a felicidade em Nietzsche está ligada a Vontade de Poder, principalmente como uma coisa fisiológica, a saúde, a força de vida. Nesse ponto que entra aquela frase que diz que “a felicidade é o estado resultante de uma boa sugestão”. A felicidade é o contrário do ressentimento, da lamúria, da crença em outros mundos que não a terra. O homem superior afasta com apenas uma inflexão todas as suas desgraças. A dança, (só acreditaria num deus que soubesse dançar), o valor da comida em Nietzsche entram aí. “Deveríamos obrigar o asceta a comer uma caixa de maizena”.
Agora não sei como fica a valorização do efêmero. E o eterno retorno? E o gênio que diz, na calada da noite, que o mesmo momento irá acontecer inúmeras vezes? Isso dá um peso à existência, além da parte cosmológica do eterno retorno, temos essa parte prática, quase um carpe die. Sem o peso, o fardo metafísico, mas cada momento é também eterno, penso.
Vamos ver…
13/07/2004 às 4:01 #78454Miguel (admin)MestreOlá
Achei que sobre o seu primeiro post, um parágrafo de Para Além de Bem e Mal reforça um pouco o que você diz. Vamos a ele:
39
“Dificilmente alguém tomará por verdadeira uma doutrina apenas porque ela torna feliz ou virtuoso: excetuando talvez os doces 'idealistas' que se entusiasmam pelo bom, belo e verdadeiro, e fazem nadar em seu viveiro toda as espécies de idealidades toscas, coloridas, benévolas. Felicidade e virtude não são argumentos. Mas as pessoas, e entre elas espíritos sóbrios, esquecem de bom grado que tornar infeliz e tornar mau também não são contra-argumentos. Algo pode ser verdadeiro, apesar de nocivo e perigoso no mais alto grau; mais ainda, pode ser da construção básica da existência o fato de alguém se destruir ou conhecê-la inteiramente, de modo que a fortaleza de um espírito se mediria pelo quanto de “verdade” ele ainda suportasse ou, mais claramente, pelo grau em que ele necessitasse vê-la diluída, edulcorada, encoberta, amortecida, falseada. Mas não há dúvida de que, para a descoberta de determinadas partes da verdade, os maus e infelizes estão mais favorecidos e tem mais possibilidade de êxito; sem falar nos maus que são felizes – espécie que os moralistas não mencionam. Para o surgimento do espírito e filósofo independente, forte, talvez a dureza r astúcia forneçam condições mais favoráveis que a suave, fina, complacente disposição, a arte de aceitar as coisas com leveza, que é apreciada e justamente apreciada num filósofo. Pressupondo o que vem antes de tudo, isto é, que o conceito de “filósofo” não seja restrita ao filósofo que escreve livros – ou até mesmo faz livrosda sua filosofia! Stendhal contribuiu com um último traço para a imagem do filósofo de espírito livre, e no interesse do gosto alemão eu não quero deixar de sublinhá-lo: – pois ele vai contra o gosto alemão. “Pour être bon philosophe“, diz o último grande psicólogo, “ il faut être sec, clair, sans illusion. Un banquier, qui a fait fortune, a une partie du caratère requis pour faire des découvertes en philosophie c'est-à-dire pour voir clair dans ce qui est” [Para ser bom filósofo, é preciso ser seco, claro, sem ilusão. Um banqueri qoe fez fortuna tem parte do caráter necessário para fazer descobertas em filosofia, ou seja, para ver claro naquilo que é].”
Tradução de Paulo Cézar de Souza.Por aí vemos um pouco as direções da nossa investigação. Existem maus felizes, a felicidade não está apenas ligada a moral, ao seguimento das leis. Não se pode apenas valorar como mais positivo ou negativo um sentimento, sofrendo também se vive. Precisa ver até que ponto o sofrimento pode estar ligado ao trágico e a vida sem que isso descambe num niilismo, como você colocou.
14/07/2004 às 18:29 #78455Miguel (admin)MestreMiguel, primeiramente obrigado pela citação ela é bem esclarecedora.
Pois é, também me parece que a moral vigente não traz felicidade para o individuo, acho que para Nietzsche a moral vigente funciona sempre como repressora das vontades do individuo, por isso todos louvam aquele que morre de tanto trabalhador, afinal o “trabalhador” não faz mal a ninguém, mas também segundo Nietzsche deixa muitas vezes de fazer bem a si mesmo (tanto deixa, que morre).No entanto isso não significa que os preceitos da moral vigente sejam sempre ruins ao individuo.
É engraçado isso de sofrer fazer parte da vida, geralmente quando pensamos nisso, pensamos que necessitamos sofrer para sermos mais felizes depois, mas acho que não é somente por este motivo que devemos “sofrer”.
Creio que dificilmente alguém acharia correto educar uma criança de modo que ela só tivesse boas experiências, “achasse que o mundo fosse colorido”, e não creio que isso seja só pq ela poderia sofrer depois, mas sim porque parece um tanto “doentio” viver em uma ilusão, recusar a experimentar algo que existe.Acho que isso é um certo apego incondicional a procura da “verdade”.Claro nós podemos temperar isso tudo, podemos ser mentirosos um pouco para podermos suportar estas verdades (será essa a forma de superar o niilismo?).O próprio Nietzsche diz que não é recomendável ficar nem muito alto, nem muito baixo, o mundo é mais belo a meia altura!
Concordo com sua definição de felicidade, mas acho que problema essencial não é determinar o que é a felicidade em Nietzsche (embora isso seja importante também, para afinal definir nosso assunto), mas saber qual o papel da felicidade na vida em Nietzsche.Como você escreveu é preciso buscar até que ponto a vida trágica e o niilismo se contrapõe.
Bem, eu disse que nós muitas vezes pensamos que precisamos sofrer para depois sermos mais felizes.É isso que diz Nietzsche no aforismo 12 do primeiro livro de “A Gaia Ciência”
No aforismo (chamado “Do objetivo da ciência”) ele diz que os estóicos possuem certa razão em desejarem pouca felicidade para pouco sofrerem, pois aqueles que sofrem mais (aqueles que agüentam mais perspectivas como bem esclarece o parágrafo transcrito)
também deve ter mais prazeres.Para Nietzsche talvez (este talvez é essencial) seja verdadeiro que “quem quiser aprender a “rejubilar-se até o céu” tenha de se preparar também para estar “entristecido de morte”.Engraçado, Nietzsche deixa posto desta forma mas apenas sugere que “talvez” seja assim.O aforismo 429 do Aurora da a entender que os bárbaros são de fato mais felizes.Sim, são felizes de uma felicidade grosseira (sem este paixão ou vicio do verdadeiro), mas se contarmos que a felicidade é algo fisiológico (e eu concordo com sua definição) os bárbaros são sim, definitivamente mais felizes.Mas então, qual é o sentido da vida?
Tenho ainda que freqüentar muito mais a obra de Nietzsche (agradeço muito a ajuda) para definir com um mínimo de credibilidade as respostas (e perguntas) de Nietzsche sobre este assunto, mas acho muito interessante ler a filosofia (ou literatura) “existencial”, ou “pessoal” depois de Nietzsche, a maioria que li adotam um certo pessimismo relutante, acho que constataram que quem sabe narrar, quem sabe “ser outrem”, não sabe viver.Não da pra ser nem ave de rapina, nem ovelha, quando podemos ser ambos, só nos resta uma fantasia rasgada.
De qualquer forma tem alguns filósofos “pós-nietzscheanos” que arrumam meios de afirmar a vida “no vazio”, Susan Sontag escreve no texto “Pensar contra si mesmo”, que John Cage (o musico) é um destes casos, não li nada ainda.Parece-me que o filosofo espanhol Ortega Y Gasset também fundamenta a vida de forma mais alegre, comprei um livro para verificar.Sei que mesmo o desafeto de Gasset, Miguel de Unamuno Y Jugo não é dos mais deprimentes, mas pelo pouco que li me parece que o “vazio” lhe pesa.Hermann Hesse acho que também fica no meio termo.Bem, Cioran nem precisa dizer…tenho ainda que freqüentar um pouco Camus,Heidegger,Chestov,André Gide,Kahil Gibran etc(aceito sugestões).Claro isso contando apenas os “pós-nitzscheanos”
Mas então, a pergunta/resposta que estou procurando em Nietzsche é esta: “Qual o sentido de sua vida, caro Fred Guilherme Nietzsche?”.Definições diferentes de felicidade em Nietzsche são também de sumo interesse.
30/07/2004 às 17:36 #78456Miguel (admin)MestreOlá,
“Acho que achei” (esse,acho, é meu “karma” hehe) uma solução para diferença de “cálculo” de felicidade entre o Aurora e o Gaia Ciência.
No posfacio do Gaia Ciencia (da Compainha das Letras) o tradutor informa que Nietzsche enviou os dois livors juntos (ao mesmo tempo) para o editor Hyppolyte Taine e que “Aurora” foi escrito quando Nietzsche estava “doente, desenganado pelos médicos, em quase total privação e solidão”, Gaia Ciencia por sua vez surgiu “em algumas sublimes ensolaradas semanas de janeiro”.No “Aurora” a “nava paixão” é o amor incondicional dos sofredores, no “Gaia Ciencia” uma escolha “economica” para o espirito, mais sofrimento rende mais felicidade.
Aí surge a questão qual é o Nietzsche “real” o “doente” ou o “são”.
Talvez a questão ideal seja qual é o Nietzsche desejavel não acham?(Mensagem editada por bookofyoureason em Julho 30, 2004)
20/11/2005 às 16:37 #78457Miguel (admin)MestreQuando eu era adolescente meu pai dizia que eu era muito criança, eu respondia: pai, ser homem é dificil! só mais tarde vim saber que aquilo já refletia o peso da realidade que eu carregava. Meu irmão me diz que quando criança eu era chato e que só vivia perguntando se prego era macho e barata fêmea, não foi atoa que só tive um amigo de infância e muitos inimigos.Eles me chamavam de sabe-tudo, gato civilizado e etc; isso por que eu disse que o gato la de casa era civilizado, e eu cresci num lugar em que falar uma palavra desconhecida era se tornar uma aberração. Bem, ainda tinha a historia de ver a Deus, que não me saia da cabeça. não é de estranhar que logo eu começei a desmontar tudo isso; vi que meu pai era de certo modo uma fraude, que sua austeridade e rigor escondia um homem sentimental e fragil. Ele dizia posso morrer de medo mas, ninguem saberá, e daí para os mitos menores era um pulo: Deus, o homem, a figura da mãe, o pecado, o demônio são assuntos que descuti comigo mesmo a vida inteira, as vezes partilhei com meu pai, até onde ele suportava; que logo ele se sentia ofendido. Uma vez perguntei a ele: pai, por que eu tenho que lhe obedecer? Ele respondeu – quem procur saber a razão pela qual obedece o valor da obediencia por completo desmerece. bem, vamos ao que interessa: quanto a felicidade, eu começo pensando que as capacidades humanas estando a serviço da manutenção da vida tendem a armonizar as coisas de modo a manter o individuo adaptado ao meio. a felicidade surge como um artificio da mente para esse fim, sendo que quanto mais racionalmente livre o individuo se torna mais ele perde os beneficios desse mecanismo natural. Aqui eu lembro uma estorinha zen budista: o miriápode (muitos pés)vivia feliz, tranquilo até que o sapo lhe perguntou como ele conseguia andar, hoje ele jaz perplexo pensando em como foram feitos seus pes. A medida que pensa filosoficamente o homem mata ilusões, resta saber que efeitos são produzidos em seu espirito. O que sabemos é que a mente quer se harmonizar com o novo estado de coisas para constinuar funcionando, a mente não quer enloquecer, ela quer continuar dando conta da sua tarefa nem que pra isso tenha que enganar a si mesma, aceitando mentiras por verdades na impossibilidade de obtê-la. Isso já é outro caminho para a felicidade; a construção de uma falsa verdade que silencie uma questão insoluvel.
falando nisso,estou cansado até logo… -
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