Erro do erro sobre Marx

Início Fóruns Fórum Sobre Filósofos Marx Erro do erro sobre Marx

  • Este tópico está vazio.
Visualizando 2 posts - 1 até 2 (de 2 do total)
  • Autor
    Posts
  • #70593
    Arbeiter
    Membro

    O DEBATE EM SUMAOlá forenses,Este é minha primeira postagem neste forum. Minha área de estudo, em que venho me aprofundando a pelo menos 4 anos, é o marxismo. E vi aqui alguns equivocos que eu tinha, que se configuram em uma série de "pré"-conceitos sobre a teoria marxista e sua crítica. Para ser mais rigoroso, eu poderia citar um por um, e dar a devida resposta, mas sei que isso, mediante a própria essência da internet, tornaria essa minha postagem ilegível, porque muito extensa. Mas vou focar nos equívocos principais, ou os principais preconceitos contra Marx.Serei o mais breve possível. NEGAÇÃO É CRÍTICA?Iniciaria pela questão mais teórica, que é o conceito de crítica no pensamento alemão. Marx, ao realizar a crítica do capitalismo, não realiza a sua negação. A negação, o momento da oposição, compõe na dialética, não uma outra realidade, mas um momento da realidade. Não se pode suprimir algo, apenas na sua negação, e abusando do hegelianismo, apenas a negação da negação oferece a superação. Aí entra a crítica. Crítica é, segundo a tradição alemã que remonta a Kant, é expor os critérios. Marx não inaugura o pensamento crítico do capitalismo, mas na verdade realiza sistematicamente a crítica da crítica do capitalismo, e isso supõe a condições de realização da negação e superação do capitalismo. Não mais em termos idealistas-dialéticos, mas realista-dialético(materialismo dialético histórico). Assim, ele critica todo o socialismo até então, como é claro no próprio Manifesto Comunista, aonde faz uma análise critica de toda literatura socialista. Negar o capitalismo, é um pensamento esquerdista, está já na gênese do capitalismo, na expressão dos jacobinos. Porém criticar o capitalismo é uma condição mais elevada, que é o propósito do pensamento marxiano. Nao se trata de amenizá-lo, mas de superá-lo.MARX É DETERMINISTA?Outro equivoco comum, acusar marx de ser determinista. Marx é dialético, e com o tal, não poderia pressupor nem um determinismo absoluto, nem um voluntarismo absoluto. Como dialético, esses momentos são apenas unilateralidades da dialética, apenas momentos. A questão, que o diferencia do idealismo dialético, é o ponto de partida. Marx é materialista-dialético, portanto, o primeiro momento está na realidade objetiva, que como dizem os existencialista, prescede ao sujeito("A existencia prescede a essência"). Mas o momento subjetivo é fundamental, se este fosse ignorado, pensar o capitalismo de forma crítica, seria como fazer pregações éticas a uma máquina que independemente seguiria o seu rumo. O que há é que, "não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência", assim ele inverte Hegel. Não é que Hegel, como diria um professor meu um tanto ocioso, parte da subjetividade para objetividade e retorna a subjetividade; e Marx partiria da objetividade-subjetividade-objetividade. Esse esquema é errado, pois perde o silogismo. A dialética tanto de Hegel quanto de Marx, tem o momento da síntese, não é um mero ziguezague. Em Hegel, a síntese é o espírito, em Marx a síntese(teoria + prática) é a práxis revolucionária(pois assim o sujeito transforma as circunstancias, e em seguida as circunstancias transforma o sujeito). E Hegel, tal como está na "razão operante" na fenomenologia do Espirito, parte também das circunstancias. Mas seu ponto de partida é sempre a consciencia, e de Marx é sempre a realidade(ciencia). Partir da consciencia é gerar ideologias, porque a consciencia é efetividade(efeito), e não causa, como proprio admite Hegel. POrtanto, a fenomenologia só pode ser a superfície da ontologia(causalidade), e aí entra Marx. Para encurtar a história, Marx não é determinista(realista), é um realista-dialético. O determinismo ou o materialismo mecânico é a proposição do positivismo, positivismo esse que também influenciou o marxismo social-democrata e russo, mas que não tem origem no "socialismo científico". A subjetividade tem seu momento, mas não primordial, pois o ser humano só pode se manifestar dependendo das circunstancias aonde vive, e para ser bem didático, nao pode sugerir a superação do capitalismo(aspiração), sem o proprio capitalismo(circunstancias). A critica nasce da crise, e não o inverso. BOLCHEVISMO É COMUNISMO?Outro erro comum é afirmar que o marxismo é bolchevismo. Tambem para encurtar a historia, basta afirmar três teses que são anti-marxistas até o osso, e estao na base do bolchevismo. O dito "marxismo-leninismo", leia-se stalinismo, afirma:1) a superação do capitalismo vem da periferia do capitalismo, por ser a periferia do capitalismo o "elo mais fraco da cadeia". (Marx afirma o oposto, o comunismo nasce das contradições do capitalismo avançado, como seu pressopusto objetivo-histórico-evolutivo);2) a classe deve estar submetida ao partido, que segundo Lenin é a sua "vanguarda". Assim, é o partido que emancipa a classe. (Marx afirma reiteradamente que o proletariado tem de emancipar-se ele mesmo, ou seja, se auto-emancipar ou não se emancipará)3) o poder instituído é uma estatização total da sociedade. (Em Marx a estatização só tem uma função imediata, expropriar a burguesia, a partir daí deve ser socializada, ou seja, o controle da propriedade deve vir da "associação livre dos produtores associados"). O marxismo mais recente, mais evoluído, num caudaloso estudo sobre o marxismo(História do Marxismo), afirma categoricamente que o bolchevismo foi um mero neojacobinismo, e sua identidade com o marxismo foi meramente uma manipulação político-ideológica de legitimação do fascismo stalinista. Da mesma forma que o nazismo se chamava de "nacional-socialista", e nem por isso era socialista, pelo contrário, perseguia e matava os socialistas. A DITADURA DO PROLETARIADO. A questão final é a temerosa expressão "ditadura do proletariado". Esse termo foi tal falsificado, distorcido e manipulado, que praticamente significa tudo, menos aquilo que Marx quis expressar. Dialeticamente, poderiamos demonstrar a ditadura do proletariado com um modelo formal. O promeiro momento do poder, é o poder pelo poder, é a tirania(ou a ditadura). Mas a ditadura só é ditadura por ser uma ditadura de poucos sobre muitos(ou contra muitos). É o Estado terrorista contra a sociedade civil, é despotismo. Num segundo momento, a sociedade civil se organiza para ela também participar do poder político, aqui funda-se a democracia. Mas a democracia sempre surgiu em sociedade de classes, por um lado, por outro lado, representa sempre o poder(ou vontade) da maioria da sociedade expresso nas urnas. Mas é justamente aqui, com a democracia, que fica cada vez mais explicito os antagonismos de cada classe e seus interesses opostos. A democracia inviabiliza a si mesma, como governo de várias classes por um lado, e governo da maioria do outro. A batalha civil inviabiliza a própria democracia, que por sua vez, incentivou esse desenvolvimento conflituoso e consciente através do processo democrático. A singularização age na ditadura do proletariado, e o que é ela? A ditadura do proletariado é, ao mesmo tempo ditadura, governo da força, porque todo o governo é meramente força. E justamente, quando o formalidade democrática é desmascarada pela intensificação dos conflitos. E por outro lado, é o governo da maioria. Mas não a maioria indeterminada, mas o governo que representa a parcela maior da sociedade, o governo dos trabalhadores. A classe que é maioria. A UTOPIAOutra acusação a Marx é de ele ser utópico. Ora, utupia significa "lugar nenhum", basicamente é um idealização de um futuro promissor, que nunca existiu e que nada tem a ver com a realidade. Para Marx o comunismo não vem a ser, ele é; e se manifesta no processo histórico concreto do desenvolvimento do proletariado. É um movimento(e nao um partido). O proletariado por acaso já não provou muitas vezes que é capaz de fazer revoluções, de tomar o poder, de se organizar internacionalmente e nacionalmente(em partidos, sindicatos, cooperativas, etc)? Isso ele já fez e continua fazendo. É um fato, é um movimento real. Mas nao quer dizer que seja um movimento perfeito, pois a perfeição é uma questão escolática que a história ignora. Para a história o que importa é compreender seu movimento, o seu devir.O marxismo, portanto, sobrevive como teoria robusta. Nao é perfeita, e jamais se propôs a ser, mas seus fundamentos sobreviveram a prova da história. Após o keynesianismo, o marxismo se enfraquece em suas conclusões, pois a partir da macroeconomia, ou seja, da intervenção do Estado na economia, é possível amenizar os desequilíbrios do capitalismo. Pois de fato, sem isso, o capitalismo teria caído na Grande Depressão. Mesmo sob o neoliberalismo, a macroeconomia permance enquanto monetarismo. Assim, o marxismo e suas conclusoes ficam mais elásticas já que o proprio capitalismo puro(liberal) cedeu. Eh certo que neoliberalismo é um retorno a alguns ponto do capitalismo liberal que Marx analisa, mas não é um retorno total, como eu disse. Portanto, o único elemento que se pode considerar como novo para o marxismo se desenvolver em tal direção, é essa possibilidade da intervenção do Estado para garantir a reprodução capitalista, ou seja, superar ou amenizar as crises. E daí surge outros impasses, como a questão ecológica. Mas isso já é uma outra questão. O marxismo sobrevive.

    #84127
    artmov
    Membro

    Concordo com quase tudo que disse!!Um autor que recupera o Marx autêntico é Nildo Viana (veja Escritos Metodológicos de Marx) e outro, mais antigo, é Karl Korsch, Marxismo e Filosofia.

Visualizando 2 posts - 1 até 2 (de 2 do total)
  • Você deve fazer login para responder a este tópico.