Reflexões sobre a Alma

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  • #71016
    nairan
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    Ola companheiros de Fórum, conforme prometido ao colega Philipon, estou abrindo esse tópico para abordarmos as várias formas de se pensar sobre a alma humana, o que é, ou pode ser, se existe, que qualidades e características poderia possuir, e outras coisas mais que possa paracer oportuno ao tema.Apesar de estar abrindo o tópico, talvéz eu demore um pouco para responder às replicas, pois estou mudando de cidade, de estado de emprego e estou sem computador, estou usando os equipamentos de parentes, amigos e lan-houses quando possível, mas responderei a todos sem exceção, quando as réplicas forem dirigidas a mim evidentemente. A seguir apresento uma visão de como entendo o conceito de alma, como abertura dos debates.Abraços a todos.

    #88456
    nairan
    Membro

    Apesar de ser um tema muito comentado e discutido, causa espécie notar o quanto esse tema referente à alma humana é frequentemente tratado com tão pouca coerência e isenção, estando normalmente maculado pelas preferências pessoais ditadas pela emoção e pela vontade de se confirmar os anseios de uma vida perpétua e uma oportunidade de se refazer os caminhos vividos ou se rever os erros cometidos durante a vida, assim como a esperança de se reencontrar aqueles que perdemos pelos caminhos, especialmente aqueles que nos foram tirados de maneira abrupta e violenta.Mas se analisarmos com mais frieza e calma poderemos chegar a uma compreensão mais clara e profunda sobre a condição humana perante o final de nossa e existência, e sobre nossa constituição no que diz respeito à essência vital ou aquilo que é mais comumente chamado de Alma.Primeiramente temos que saber sobre o que estamos discutindo, e para tanto precisamos nos ater ao fato de existirem duas maneiras principais de se pensar sobre a alma.A primeira é pelo pensamento puro, através de conceituações baseadas em idéias que carecem de experimentação e de verificação direta.A segunda é buscarmos submeter o tema à avaliação e escrutínio do método cientifico, e buscarmos ferramentas que nos permitam perceber e analisar a realidade o mais acuradamente possível e que nos tragam as ferramentas disponíveis através de nossa tecnologia contemporânea.É compreensível o fato de que as primeiras idéias e noções sobre esse tema terem surgido através do pensamento puro, uma vez que não havia modo ou maneira de se ter acesso ao funcionamento cerebral nem à fisiologia humana durante a maior parcela da história humana, sendo que as primeiras incursões por esse universo referente à fisiologia e constituição do aparato neurológico e cerebral humano serem muito recentes em termos históricos.Entre as vertentes de conceituação sobre a alma, temos principalmente duas linhas distintas.Uma delas é a linha de conceituação baseada nas origens do pensamento cristão que se origina do pensamento hebraico, através dos livros que vieram a formar o agregado literário chamado atualmente de bíblia.Essa linha, baseada principalmente nos escritos conhecidos como torah, apresenta a noção de alma como a resultante do sopro, ou fôlego, do poder divino animando o corpo humano criado diretamente pela mão divina, sendo que nem o corpo, nem o fôlego divino sozinhos possuíam as características de personalidade e individualidade humanas, e sim que essas características humanas apareceriam em decorrência direta da atuação desse poder divino no corpo criado por Deus formando dessa maneira uma criatura inteira e indivisível, o homem.Dessa maneira a alma é a expressão da inteireza do ser, não podendo haver separação entre o fôlego de vida e o corpo humano que é animado por ele.“... e soprou em suas narinas o sopro da vida, e o homem se fez, alma vivente.”A New Catholic Encyclopedia (Nova Enciclopédia Católica) diz:

    “Nepes [né•fesh] é um termo de muito maior extensão do que nossa ‘alma’, significando vida (Êx 21.23; Dt 19.21) e suas várias manifestações vitais: respiração (Gn 35.18; Jó 41.13[21] ), sangue [Gn 9.4; Dt 12.23; Sl 140(141).8 ], desejo (2 Sm 3.21; Pr 23.2). A alma no A[ntigo] T[estamento] significa, não uma parte do homem, mas o homem inteiro — o homem como ser vivente. Similarmente, no N[ovo] T[estamento] significa vida humana: a vida duma entidade individual, consciente, além do invólucro material, que é o corpo carnal. (Mt 2.20; 6.25; Lu 12.22-23; 14.26; Jo 10.11, 15, 17; 13.37).” — 1967, Vol. XIII, p. 467.

    A tradução católica romana, The New American Bible (A Nova Bíblia Americana), em seu “Glossário de Termos de Teologia Bíblica” (pp. 27, 28), diz:

    “No Novo Testamento, ‘salvar a alma’ (Mr 8:35) não significa salvar alguma parte ‘espiritual’ do homem, em contraste com o seu ‘corpo’ (no sentido platônico), mas a inteira pessoa, com ênfase no fato de que a pessoa está viva, desejando, amando e querendo, etc., em adição a ser concreta e física.” — Edição publicada por P. J. Kenedy & Sons, Nova Iorque, 1970.

    É importante salientar que, mantendo uma perfeita coerência interna, mesmo que pouquíssimas vezes mostradas pelas igrejas modernas, e menos ainda pelas linhas espiritualistas, a narrativa bíblica não menciona, em nenhum de seus textos, qualquer referencia à uma dissociação entre corpo e espírito, ou entre a parte sólida e palpável, e alguma parte imaterial que seria separada do corpo físico do homem, tanto é assim que a palavra usada para se referir ao estado do homem depois do julgamento divino é a ressurreição, que significa literalmente recriação da pessoa, ou seja, o ser humano sendo novamente criado em corpo e fôlego de vida, sendo dessa maneira novamente chamada à existência a “alma” que havia deixado de existir devido à morte.A outra linha de conceituação baseada no pensamento puro é representada principalmente pelas idéias apresentadas por Platão (evidentemente ele não é o único a apresentar esse tipo de visão, mas é o que a mostra de maneira mais elaborada e conceitualizada, visto que as demais visões que seguem essa mesma linha se apresentavam como uma verdadeira colcha de retalhos presente em diversas culturas e manifestações)No conceito platônico, o homem seria formado por duas partes distintas, uma seria o parte física, representada pelo corpo físico, e outra imaterial, que seria a psy.khé, que originou a palavra psique em português.É importante salientar também que o psy.khé platônico, não era um conceito tão “nobre” quanto o conceito atual de alma, mas se referia a uma gama enorme de interpretações podendo representar coisas variadas como: fôlego, consciência, força vital, ser vivente, (animal ou humano), âmago, e outras..., tendo como principio unificador unicamente o fato de se referirem a representação de qualidades imateriais em contraste ao corpo físico.Antes do advento de Allan Kardec, e sua doutrina espírita, prevalecia uma visão cristã original dentro das instituições ocidentais, mesmo que não plenamente consciente, mas mesmo assim fortemente influenciadora dos padrões de comportamento.Atualmente, no Brasil, prevalece cada dia mais uma visão dualista, nos moldes do espiritismo Kardecista, em que o homem é entendido como corpo e alma separados na morte, e com a alma se perpetuando através de migrações em uma sucessão de vidas através do fenômeno chamado de reencarnação.Apesar da grande aceitação da visão espiritualista da alma presente dentro da sociedade Brasileira atual, esse conceito trás inúmeras dificuldades lógicas especialmente no que diz respeito à sua conciliação com a linha cristã que é tida como base dessa mesma sociedade Brasileira, a transmigração das almas, ou a reencarnação, destrói a unidade básica do individuo, pois se uma mesma alma se encarna inúmeras vezes vivendo variadas personalidades e mesmo sexos diferentes em cada encarnação, não há como se efetuar um “julgamento” ao molde cristão, onde a pessoa é responsável diretamente por seus atos, portanto o próprio conceito de “pecado” é solapado, e com ele a necessidade de um “salvador”, em suma o Cristo se torna uma figura totalmente dispensável, anulando assim o cristianismo em sua essência.Além disso, o próprio consolo que os adeptos dessa doutrina buscam o de perpetuação de seus entes queridos cai por terra, pois o que se mantém não é “seu filho” ou “sua esposa”, mas uma alma que não é nem uma coisa nem outra e se tornara sabe-se lá quem em suas futuras “vidas”.Apesar de todos os livros e de toda a defesa articulada pelos adeptos das filosofias espíritas, ou espiritualistas, nada há, até o momento que mostre de forma plena que essa alma, imaginada por essas doutrinas exista de fato, a não ser a vontade de que assim seja.Não existindo essa “alma imaterial” imaginada por seus adeptos, resta para o conceito de alma, somente aquele derivado do conceito hebraico/cristão de inteireza do ser.Esse conceito se ajusta perfeitamente dentro de uma visão mais realista e mais pragmática, servindo para denominar o fenômeno de individualização pessoal que emerge do sistema fisiológico humano completo, pleno e funcionando de maneira autônoma.Em suma, o único significado coerente para a palavra alma, é o de representar a totalidade do ser, seu corpo, seu metabolismo, seus pensamentos, suas habilidades, sua personalidade, enfim tudo que o compõem, sendo que a quebra dessa integralidade significa o fim da alma daquela pessoa, a alma na verdade é a primeira coisa a sucumbir quando da morte de uma pessoa.Para corroborar essa tese, temos os estudos fisiológicos que mostram como os diversos sistemas orgânicos precisam trabalhar em sintonia e de maneira coerente para que a pessoa possa subsistir, os diversos componentes do aparato neurológico humano, precisam trabalhar de forma coesa, não apenas no que diz respeito ao equilíbrio químico e mecânico, como também ao equilíbrio de “comunicação entre suas partes”, realizado e mantido por inúmeros intermediários químicos (físicos), sinais elétricos (físicos), disparados ou bloqueados por sua vez através de interações entre grupos de neurônios, que se comportam como sistemas de programação.Além dos sistemas automatizados envolvendo grupos de neurônios, temos os sistemas neuronais que formam o sistema límbico, responsável por comandar as emoções, sistema que, sozinho demonstra tal versatilidade que é tido por muitos como o responsável direto pelo surgimento das bases da personalidade, inclusive a consciência.Todos esses sistemas se mostram extremamente frágeis e sensíveis a qualquer alteração seja no equilíbrio químico ou a acidentes, com conseqüências deletérias que alteram de forma dramática o indivíduo, modificando traços de personalidade, maneiras de agir, lembranças, humores, preferências, gostos, forma de falar, e mesmo a própria auto-percepção do individuo.Exatamente como seria de se esperar sendo essas funções dependentes do substrato físico que as sustém, pois, se assim não fosse, se estas qualidades pertencessem a algo totalmente separado, que possuísse a qualidade de ser eterna e subsistir ao substrato físico do corpo, seria de se esperar que o indivíduo não sofresse tão prontamente esse tipo de seqüelas.no momento so posso chegar ate aqui, mas espero respostas para podermos espandir o tema.Abraços.

    #88457
    ppaulo
    Membro

    Bom dia colega nairan,Creio que seria interessante num primeiro momento diferenciarmos alma e espírito, por uma questão metodológica.Abracos cordiais, e posto em breve meus comentários!

    #88458
    nairan
    Membro

    Bom dia colega nairan,Creio que seria interessante num primeiro momento diferenciarmos alma e espírito, por uma questão metodológica.Abracos cordiais, e posto em breve meus comentários!

    Olá caro ppaulo, infelizmente terei que postar uma resposta rápida no momento, mas para questão de diferenciação, sendo a alma o todo da pessoa, o espírito é aquele componente da alma que da o tom particular que caracteriza cada um, quanto ao modo como essa pessoa age, atua no meio em que vive e com as pessoas com quem convive, faz parte do repertório que todo ser humano carrega consigo como a índole, o caráter, o temperamento.O espírito indica a linha geral de como a pessoa se posta diante do que lhe é externo, mas isso de forma impessoal, sem particularizar pessoas ou situações, o que será feito por outras características mais particulares.É a isso que se refere quando se diz que uma pessoa tem um espírito indomável, ou apaziguador, ou selvagem e assim por diante, em contraste por exemplo, com uma índole cordata ou sanguínea.no primeiro caso as atitudes da pessoa não tem sujeito a quem se direcionar, se direcionam ao mundo externo como um todo, no segundo caso já se particularizam situações casos e relações com pessoas.Espero ter sido coerente com o que sua colocação estava buscando.Abraços, e espero em breve me encontrar em situação mais estavel para voltar a debater com mais calma e cuidado.

    #88459
    Acácia
    Membro

    A alma é o HD do ser humano, e o espírito, é sua “memória ambulante” de forma que, se o espírito não evoluir no tempo, a alma se torna petrificada, “uma alma mineral” como dizia Platão.

    #88460

    A matéria determina as condições de existência, mas não é a existência em si. Tenho um poema curto sobre a alma, baseado em Platão e Dante Alighieri. Espero que gostem:http://interludico.blogspot.com/2011/04/estrangeiro-no-mundo.html

    #88461
    nairan
    Membro

    A matéria determina as condições de existência, mas não é a existência em si.

    Olá Renan, Obrigado pela participação, infelizmente não tenho estado conectado por muito tempo ultimamente, mas devo estar mais presente de agora por diante.Mas quanto à seu comentario, gostaria de perguntar:.Em sua opinião em que consiste a matéria, e por que razão ela não poderia ser a existência em si ?E continuando, de que maneira a matéria  determina as condições de existência, sem ser parte dessa mesma existência.Além do mais, se considerarmos que matéria e energia são manifestações diferentes de uma mesma coisa (tanto que são intercambiaveis por assim dizer), então o que existe além da matéria/energia ??Abraços.

    #88462

    Olá, Nairan.É uma questão muito complexa, envolve mais crença do que conhecimento científico. Nesta questão, o conhecimento intuitivo, creio eu, é mais válido. Para saber a que me refiro quando digo "conhecimento intuitivo" leia sobre “práticas de meditação” e pesquise também as escolas do pensamento oriental (na Índia e China, especialmente).Algumas dessas escolas tradicionais eu listarei a seguir.Primeiro as escolas surgidas na Índia:1. Sankhya: forte dualismo teórico entre mente e matéria.2. Raja Yoga: enfatiza a meditação.3. Nyaya (ou lógicas).4. Vaisheshika: escola empírica e “atomista” (fundada antes de Demócrito).5.Mimamsa: escola anti-ascética (recusa a mortificação dos sentidos) e anti-mística.6. Vedanta: opõe o ritualismo védico em favor do misticismo.E algumas escolas chinesas:1- Taoísmo: fundada por Lao Tze, lendário autor do Tao Te Ching.Outro taoísta importante foi Chuang Tzu (séc IV a.C.), conhecido pelo seu “sonho no qual era uma borboleta”.2- Lógicos ou Escola dos Nomes: trabalha com a lógica, os paradoxos e os nomes. Seus principais representantes são Hui Shi (séc IV a.C.) e Gongsun Long (325 – 250 a.C.) cujo texto “Quando um cavalo branco não é um cavalo” escrito em forma de diálogo é bem famoso.E este notável pensador chinês:Wang Yangming (1472 – 1529) formulou o pensamento que se tornou o mais proeminente do xinxue (estado da mente). Ensinava que os objetos não existem inteiramente separados da mente porque é a mente que os forma. Não é o mundo que dá forma à mente, mas é a mente que dá razão ao mundo. O conhecimento, para Wang Yangming, é inato, entretanto, ele entendia o conhecimento como ação. Conhecimento é ação, dizia ele.Obviamente, falo como leigo em física, mas até onde consegui entender, a física contemporânea não consegue definir satisfatoriamente o conceito de matéria.Creio que a matéria determina nossa existência na Terra, enquanto espíritos habitando corpos, mas o oposto também é verdadeiro. Temos aí uma relação dialética.Quando digo que a matéria não é a existência em si, significa crer que a matéria é apenas a parte efêmera da existência, porque a essência é a ideia (eterna).Peço que não confunda alma e energia, são coisas diferentes. Segundo algumas tradições, o homem possui sete níveis de existência, algumas delas são a matéria, a energia e o espírito.Se debatermos o tema “alma” apenas com os olhos da ciência, realmente ficaremos limitados. Mas a metafísica e a teologia explicam a alma de forma coerente. É claro que, às vezes, também tenho minhas dúvidas, mas acho importante conhecer um pouco de todos esses pontos de vista e não apenas o científico.Boa semana.

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