Início › Fóruns › Fórum Sobre Filósofos › Sócrates e Platão › Sócrates realmente existiu?
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30/04/2004 às 1:18 #70123Miguel (admin)Mestre
Se Sócrates jamais escreveu algo sobre seus pensamentos e suas idéias; como podemos ter certeza de que ele realmente nasceu?
Ouvi dizer que platão pode ter criado Sócrates para escrever seus diálogos e discutir suas idéias.
gostaria de saber e conhecer mis opiniões sobre isso?
30/04/2004 às 11:30 #78293Miguel (admin)MestreSe Napoleão nunca deixou nada escrito sobre suas proezas, como podemos ter certeza que ele existiu? E quanto a César, Alexandre Magno e outros?
Isso não é critério. Sócrates é uma figura histórica tão palpável quanto qualquer outra da época.
O que existe é a tentativa de delinear o que é o Sócrates histórico. Muitos concordam que ele seria bem diferente do platônico, personagem usado para ilustrar a doutrina da Academia.
O Sócrates dos primeiros diáologos seria o que mais se aproximaria do Sócrates real. Os primeiros diálogos são aqueles ditos aporéticos, em que a descoberta e a enunciação de um problema, mas ele termina sem resolvê-lo, como uma interrogação, como uma charada.
Além de Platão existe duas outras grandes referências, que são Xenofonte e Aristófanes. Em Xenofonte não temos o peso literário de Platão, e em Aristófanes Sócrates aparece como um sofista, mirando as alturas, na sua comédia.
Existe uma série de pequenas outras fontes que foram reunidos em um volume, infelizmente de díficil acesso.
Essa questão é bastante trabalhada no livro O Problema de Sócrates, de Magalhães-Vilhena.
05/06/2005 às 11:52 #78294Miguel (admin)MestreO que existe é a tentativa de delinear o que é o Sócrates histórico. Muitos concordam que ele seria bem diferente do platônico, personagem usado para ilustrar a doutrina da Academia.
O Sócrates dos primeiros diáologos seria o que mais se aproximaria do Sócrates real. Os primeiros diálogos são aqueles ditos aporéticos, em que a descoberta e a enunciação de um problema, mas ele termina sem resolvê-lo, como uma interrogação, como uma charada.Platão era um contador de estórias. Falou sobre a Atlântida e até hoje estão a procurá-la no fundo dos mares.
A maiêutica, da forma como é mostrada, parece ser algo simples de ser posto em prática. Os interlocutores de Sócrates parecem os seres humanos ideais, parece até que nasceram só pra fazer papel de coadjuvantes.
Na prática mesmo, as pessoas resistem a aceitar a idéia de que “nada sabem”, renegam os argumentos, respondem de maneira hostil.
O tópico em questão é bastante sugestivo, mesmo que tenha existido um outro Sócrates, o real, conforme falou Miguel…
05/06/2005 às 21:53 #78295nahuinaMembroAs de qualquer forma as idéias continuam validas…..
Se o Sócrates Platônico, e o mesmo Sócrates historico ou ñ.Isso só mudaria o autor das ideias,se o Sócrates platônico ñ existiu as ideias e reflexoes socráticas seriam da autoria de Platão.ou não?05/06/2005 às 23:58 #78296Miguel (admin)MestrePoderiam até ser de Platão. Às vezes, as pessoas não “põem palavras na boca dos outros”?
Até que ponto a história contada (ou recontada) é mesmo história ou apenas estória?
06/07/2005 às 20:57 #78297Miguel (admin)MestreEm um dos diálogos de Platão, no caso O BANQUETE, ele coloca Socrates como “discipulo” de uma mulher (DIOTIMA), principalmente no que se refere ao Amor. O que vocês dizem disso?
}06/07/2005 às 22:24 #78298Miguel (admin)Mestre“Os interlocutores de Sócrates parecem os seres humanos ideais, parece até que nasceram só pra fazer papel de coadjuvantes.”
É comum ao leitor dos diálogos esse estranhar com os interlocutores de Sócrates e seu papel meramente coadjuvante, a expressar simplesmente diante da argumentação “Por certo que sim, Sócrates”, “É forçoso que sim, Sócrates”, “Por Zeus, Sócrates”.
Isso é a mais pura dialética. A dialética era praticada em toda a sociedade ateniense. Como vocês sabem, palavra na mesma raiz de diálogo. A dialética exige esse jogo de perguntas e respostas, muitas vezes entre mestre e discípulo. A investigação funciona dessa forma, delinea-se o objeto de estudo e ao interlocutor cabe ou não dar asserção ao princípio exposto. É um papel fundamental. Se ele concordar, de acordo com a arguição, a investigação prossegue para outro grau. Se ele discordar, é preciso repassar tudo até achar a falha lógica. Uma vez admitido um princípio terá que se arcar com suas consequências, e não se poderá voltar atrás.
Platão identifica esse método dialético com o único melhor meio de ascender à contemplação da idéia, através da eliminação das hipóteses falsas.
Além disso, em vários diálogos os oponentes de Sócrates argumentam com mais desenvoltura. Notadamente há uma discussão sobre isso no Protágoras, naquele trecho em que Sócrates exige as falas curtas e Protágoras quer exposições mais longas. O diálogo quase acaba e é preciso que os convivas que assistiam intercedam. Briga de cachorro grande, como disse um professor meu uma vez.
06/07/2005 às 22:33 #78299Miguel (admin)Mestre“Platão era um contador de estórias. Falou sobre a Atlântida e até hoje estão a procurá-la no fundo dos mares.”
Concordo com essa visão do Platão como o grande difusor, e mesmo inseriu certas suspeitas que até hoje permanecem fundas no imaginário. O mito de Atlântida é uma delas, a outra é essa suspeita em relação à realidade sensível, e a outra é a metempsicose.
Mas não é meramente o criador delas e sim o grande difusor. A metempsicose vem por exemplo das escolas pitagóricas. E embora ele seja a maior fonte sobre a Atlântida, existem outras. O que está em jogo ali é o reconhecimento da antiguidade da cultura egípicia. A tradição ocidental coloca a Grécia como criadora da filosofia através do advento do logos em contraposição ao mito. Mas existe uma discussão entre os helenistas se a Grécia é ou não autócne, aliás comentada por Nietzsche em A filosofia na época trágica dos Gregos. Porém Platão e Aristóteles prestam conta ao Egito. Vocês devem se lembrar que Platão, depois da morte de Sócrates, viajou por vários anos, incluindo ali no Egito. No Crítias, aparece o legislador Sólon contando de sua viagem, e um sacerdote zombando da eterna juventude do povo ateniense. Ao passo que o Egito, inventor da escrita, mantinha uma História, a Grécia tudo perdia novamente a cada dilúvio. É quase um grito patriótico afirmar que no lugar onde existiu Atenas em V a.C estava outrora uma poderosa cidade grega que liderou a resistência ao invasor Atlante.
Aristóteles na Política lida com a origem de vários hábitos e reconhece que muitos se originam na civilização egípcia, mas que os gregos não devem se envergonhar em copiar quando julgarem necessário, mas eliminar os vícios onde encontrarem.
Sobre Platão ser contador de Histórias e portanto ter inventado Sócrates, acho que é uma conclusão meio precipitada. Primeiro teria de se lidar com o problema real das outras fontes que falam deste personagem.
07/07/2005 às 14:14 #78300Miguel (admin)MestreAcho que Platão não inventou Sócrates, ele o reinventou. O Sócrates real deve ter mesmo existido, caso contrário, outros não teriam comentado sobre ele.
Quanto à Atlântida, não foi encontrado absolutamente nenhum indício de sua existência. Por isso, os cientistas acreditam tratar-se apenas de uma alegoria do discurso platônico, uma espécie de parábola sobre os fins que podem suceder a um estado evoluído que sucumbe as tentações da ganância.
07/07/2005 às 14:19 #78301Miguel (admin)MestreQuero saber da sua opinião sobre a leitura que Platão tinha da mulher, diferente de Aristóteles, ele era uma espécie de “feminista”? No BAQUETE ele coloca claramente a influencia de Diotima diante de socrates; seja coisa da cabeça de platão ou não ele usava essa “coisa” para deixar uma mensagem, e a mensagem que ele tinha a respeito da mulher era positiva na minha opinião.
07/07/2005 às 15:38 #78302Miguel (admin)MestreOlá Sofia
Aristóteles tem uma visão da mulher sobordinada ao homem. Ele relacionada a sua ontologia do ato e potência com o papel masculino na relação, que seria mais ativo, enquanto o da mulher seria passivo.
Além disso, na Política, ao desenvolver as hipóteses da origem da polis, ele coloca a importância dos clãs patriarcais, e o patriarca como o primeiro líder.
Bom, em Atenas, a mulher não participava da democracia, assim como os escravos. Não eram consideradas cidadãs. E a maior parte de suas tarefas estava ligada ao ambiente doméstico. O Chico Buarque até fez uma música ironizando isso, chamada Mulheres de Atenas, você conhece?
Sócrates passava muito tempo com os convivas, e embora fosse casado com Xantipa, não a considerava intelectualmente, sendo ela caricaturizada como um estorvo às suas atividades filosóficas. Em alguns trechos ele chega mesmo a maldizer isso.
Na República, o casamento é visto com fins predominantemente de procriação, há mesmo uma prática da eugenia, nos moldes da legislação de Licurgo que é descrita por Plutarco. Mas você tem razão ao identificar que Platão delega mais importância à mulher do que Aristóteles, uma vez que elas tem capacidades de ascenção igual à dos homens na Politéia, podendo executar as mesmas tarefas, limitadas somente pela forma física.
É interessante ao invés de pensar um autor como “feminista” ou como tendo uma mensagem “positiva” ou negativa, primeiro, se precaver contra juízos de valor acerca de um objeto que se põe a estudar, e segundo tentar evitar o anacronismo, tentando entender o autor segundo sua própria época, na medida que isso for possível. O anacronismo consiste em analisar uma época com os valores de outra e é um erro crucial em ciências humanas. Você deve saber que o movimento feminista ganha força somente no século XX, especialmente depois do movimento democrático, direitos nas fábricas e direito ao voto.
abs
07/07/2005 às 19:30 #78303Miguel (admin)Mestre.
Eu acho que a mensagem que se pode extrair disso é a mesma que Diotima passa a Sócrates: o que não é positivo, não é necessariamente negativo!
A imagem da mulher não é positiva nem negativa; a mulher não será melhor vista, nem pior vista, caso sejam boas ou péssimas na filosofia…
Eu concordo com a Diotima de Platão quando ela diz que o amor não é o desejo do que é belo, mas o desejo da parte que lhe completa.
No meu gosto pessoal, as melhores mulheres são aquelas mais acatadas e desvinculadas de tarefas que são tradicionalmente executadas pelos homens.
Ou seja, quanto menos parecidas forem com os homens, até em relação aos tipos específicos de tarefas que executam, melhor….
08/07/2005 às 19:56 #78304Miguel (admin)MestreE. mileto
Não sei se você realmente está falando sério ou é uma espécie de brincadeira com nós, mulheres, esse seu argumento está um pouco ultrapassado não acha? a sociedade á muito tempo a sociedade impõe á mulher esse papel de submissa, na verdade não existe nada que comprove que a mulher tem que realizar essa ou aquela tarefa, tambem não há uma lei que diga das tarefas do homem …
Essa sua ultima frase mostrou o medo que você e muitos outros homens preconceituosos e machistas sentem quando se fala de igualdade; têm medo de perder a pose de magestade que adquiriu através de uma imposição social totalmente absurda e quando vê que as mulheres são tão capazes quanto os homens e que a única diferença existente entre eles é o sexo enquanto órgão, mas como diz Simone de Beauvoir -É com as mãos e os olhos que as pessoas apreendem o mundo e não com o sexo, então vocês sentem-se ameaçados e se colocam dessa maneira.
Achei a sua opinião completamente absurda!08/07/2005 às 21:21 #78305Miguel (admin)MestreOlha, Sofia,
o feminismo é só uma faceta da realidade e acho que as mulheres podem ser bastante livres na sociedade sem parecerem masculinizadas.
O que eu disse não foi brincadeira alguma, é apenas o meu gosto, a minha preferência, e se você não quiser aceitá-lo, não é problema meu e nem precisa ser problema seu…
Adendo: Eu gosto muito que a minha mulher não se pareça com um homem e nem se houver reencarnações mudarei de idéia.
(Mensagem editada por Mike em Julho 08, 2005)
08/07/2005 às 22:16 #78306nahuinaMembroSophia, concordo quando você diz que” o medo que você e muitos outros homens preconceituosos e machistas sentem quando se fala de igualdade; têm medo de perder a pose de majestade que adquiriu através de uma imposição social totalmente absurda ”
Isso é verdade, e muito triste também.
Mas no caso o Mileto expressou um gosto pessoal, e “gosto não se discute, se lamenta”,brincadeiras aparte….você também deve entender que mesmo que as suas idéias sejam muito boas, Simone de Beauvoir era uma feminista cega, e isso é um problema tão grande quanto o machismo.
O problema ao meu ver é que se você vê o feminismo como “uma crítica à desigualdade social dos sexos e promove os direitos das mulheres, seus temas e interesses.” Então tudo bem, mas muitas “feministas” que andam por aí fazem do feminismo um “machismo-invertido” com idéias tão absurdas como as dos machistas, você entende? A idéia é lutar pela igualdade! E não lutar por um ou pelo outro lado da mesma moeda…..
Não adianta criticar os machistas e acreditar “que as mulheres são melhores que os homens” isso seria fazer a mesma coisa contra a qual estão lutando.
E lutar pela igualdade para as mulheres não é uma coisa exclusiva das mulheres, eu como homem heterossexual, também procuro defender os direitos das mulheres e de qualquer pessoa que esteja sendo oprimida por alguém ou alguma coisa, um grande equivoco das feministas é enxergar o homem como “inimigo”, na verdade o que deve ser mudado são os valores da nossa sociedade podre.(Mas isto não tem muita relação com a existencia ou não de Sócrates)
(Mensagem editada por nahuina em Julho 08, 2005)
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