A FILOSOFIA E O ENSINO – DA PRÁTICA À PRÁXIS

A
FILOSOFIA E O ENSINO – DA PRÁTICA A PRÁXIS

Karla
Samara dos Santos Sousa

Graduada
em Filosofia pela
Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras – FAFIC

Resumo: São inúmeros os
problemas aos quais o processo educacional está envolto. È crescente o rol de
questionamentos que se fazem a marginalização da sociedade como resultado dá má
formação dos jovens, adolescentes e crianças. Muitos vêem exacerbada uma crise
educacional resultado de ideologias que silenciam consciências críticas e
ativas. Entretanto, vale salientar que esta é apenas uma visão pessimista
acerca da educação; no tocante ao seu verdadeiro intuito, ela objetiva a
autonomia do homem, afim de que este possa assumir um papel de extrema relevância
perante a sociedade em que vive. Assim surge a Filosofia dentro do contexto
educacional, partindo da reflexão para a prática transformadora propriamente.

Palavras –
Chaves
– Filosofia. Ensino. Educação.

Filosofia,
educação e Ensino Médio.

Considerando a prática educativa de extrema relevância para o processo de
socialização e humanização entre os indivíduos, volta-se a ela toda atenção
pela sua complexidade. A educação faz parte do cenário evolutivo da humanidade,
abarcando várias áreas de formação, como bem estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional:

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas
instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da
sociedade civil e nas manifestações culturais.

Nesse sentido, uma de suas estratégias maiores foi sistematizar o
processo educacional em três níveis de ensino: o Ensino Fundamental I e II, o
Ensino Médio e o Ensino Superior. Os dois primeiros constituem o que chamamos
de “educação básica”. Amiúde nos deteremos neste trabalho a sua etapa final: o
Ensino Médio.

 As premissas que norteiam sua prática pedagógica estão voltados
prioritariamente ao desenvolvimento de habilidades e aptidões psíquicas,
sociais, motoras e tecnológicas que servirão no decorrer do tempo para a
formação profissional e exercício da cidadania dos educandos.

 O Ensino Médio visa em seu processo de ensino-aprendizagem “consolidar
conhecimentos anteriormente adquiridos, preparar o cidadão produtivo,
implementar a autonomia intelectual e a formação ética; e ainda, contextualizar
os conhecimentos segue alguns parâmetros que norteiam seu andamento” (CARNEIRO,
2009, p.116.).  E não obstante, propõe a construção de um currículo dinâmico
pautado na necessidade de incentivar a criatividade dos educandos em harmonia
com a aquisição dos novos conhecimentos; donde resulta em sua disposição a
presença de eixos curriculares específicos que ao final tornam-se
interdisciplinares e contextualizados. As áreas trabalhadas assim se
apresentam:

a-      Linguagem, Códigos e suas Tecnologias integram as disciplinas de Língua
Portuguesa, Artes, Língua(s) Estrangeira(s), Informática e Educação Física.

b-      Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias – integram as
disciplinas de Física, Química, Matemática e Biologia

c-      Ciências Humanas e suas Tecnologias. integram as disciplinas de
Filosofia, História, Geografia e Sociologia.

Aparentemente há um equilíbrio notável, na distribuição das disciplinas
dentro da matriz curricular, o que demonstra a existência de uma coerência a
ser seguida. É isso que saberemos ao final do nosso estudo.

Conforme atesta a LDB- Lei de Diretrizes e Bases faze-se necessário uma
disciplina que priorize o desenvolvimento do pensamento crítico e autônomo, a
formação de valores e o exercício da cidadania. Esta pelos referenciais
circunscritos denota o próprio “fazer filosófico”.

“Pelo estudo da Filosofia, o estudante vai penetrar na
natureza da realidade e da significação dos seus códigos, vai compreender as
condições efetivas da construção do ser histórico, vai penetrar criticamente no
mundo do conhecimento e em toda a sua estrutura axiológica e vai, por fim,
equipar-se de instrumental ético imprescindível para o estabelecimento das
possibilidades e dos limites humanos” (CARNEIRO, 2009, p 120)

Evidentemente trata-se processo crucial, pois envolve a construção de
ideias e atitudes a partir da resposta do educando e suas vivências. A cada
passo dado, surge um novo aprendizado. O fator importante nesse caso é a
interpelação da subjetividade do educando como algo essencial à maneira de
lidar com os conhecimentos. Ao aprendiz filósofo deve ser cultivado o desejo
pelo saber, jamais a mera transmissão de conceitos. O objetivo aqui sustentado
é à distância dos formatos clássicos de ensino; mas torna-se premente cada vez
mais a emancipação do educando, o que não impede a utilização de métodos
legítimos para o filosofar.

Com isso a implementação de novas
disciplinas, no caso da Filosofia, que além de rechearem a disposição da
matriz, tem a tarefa de formar verdadeiros agentes compromissados com a
realidade social. Para isso se faz pertinente observar a postura docente como
afirma Paulo Freire:

“minha presença de professor, que não pode passar
despercebido dos alunos na classe e na escola, é uma presença em si política.
Enquanto presença não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo
revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de
decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de não falhar
à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho (2007, p.98)

            É
compreensível a todos que a educação brasileira está envolta a muitas
diversidades e assim sendo, o ensino de filosofia no nível médio ganha um
arsenal de perspectivas. Temos escolas com características bastante
heterogêneas outras bem congruentes marcadas pela violência, pela invasão das
novas tecnologias de comunicação, por estruturas familiares contestáveis, etc.
Todos esses fatores pesam quando se envolve o ensino. Evidentemente esta não
teria um fim salvífico, nem resolveria todos os problemas, mas por seus pressupostos
elementares, mostraria uma nova visão de mundo.

            Outro ponto de reflexão é a permanência destes jovens
na escola. As maiorias das disciplinas do currículo do Ensino Médio ainda
prendem-se a objetivos utilitaristas do que de significado, não evidenciando ao
educando a importância daquele conteúdo para suas vivências. Neste simples
argumento, ver-se proeminente o valor que se tem o conhecimento filosófico para
a educação, pois somente ele se alicerça nestes referenciais.

Assim enumeramos algumas questões
fundamentais: quais as bases motivadores que as instituições de ensino oferecem
para que seus jovens se vejam tragados pela construção do conhecimento? Será
que a prática educativa age mais por exclusão do que por inclusão quando
fomenta apenas o que é útil, prescindido os verdadeiros anseios do educando? Em
suma, os jovens descompromissados com seu aprendizado por motivos que a prática
educativa desconhece são de imediatos deixados de lado; a velha democratização
cai de novo por terra. Assim afirma Kuenzer, que,

“a escola público do ensino médio só será efetivamente
democrática quando seu projeto pedagógico, sem pretender ser compensatório,
propiciar as necessárias mediações para que os menos favorecidos estejam em
condições de identificar, compreender e buscar suprir ao longo de sua vida,
suas necessidades com relação à participação na produção cientifica,
tecnológica e cultura”. (KUENZER, 2007, p. 43)

 O processo ensino-aprendizagem deve ultrapassar o espaço das paredes da
escola e interagir com as reais necessidades dos educandos. A resposta para que
tenhamos uma efetiva democracia na educação seria justamente essa: ouvir e
procurar solucionar cada uma delas. A disciplina de Filosofia recentemente
inserida na matriz curricular é aquela que mais condiz com tal preceito, pois
de forma autentica vem guiar os discentes a uma reflexão acerca da realidade
que o circunda. Os temas abordados por ela sempre envolvem discussões
filosóficas presente em toda a história, desde a antiguidade até os dias
contemporâneos.

Tal estrutura não é fixa no ensino de Filosofia. O esquema pode se
reduzir a conteúdos mínimos que se contrapõem ao verdadeiro “fazer filosófico”.
A estratégia didática deve abrir espaço para o aluno, pois ela “dá lugar ao
pensamento dos estudantes, à medida que a problematização seja uma construção
coletiva”, (KOHAN. 2004, p. 38) logo é inquestionável afirmar: o ensino de
Filosofia é o próprio filosofar, como denotava Kant, ou seja, o professor é
quem instiga o outro a pensar, e a cada resposta dada os conhecimentos são
reordenados, e assim por diante.

 O ensino de filosofia – entre a
questão pedagógica e a questão filosófica

O ato de filosofar para Kant só é possível pelo uso contínuo da razão, só
ela permite um diálogo crítico com a filosofia, ou seja, possuímos um
instrumento perspicaz de compreensão, estritamente filosófico, que nos permite
analisar no presente no passado e no futuro a  Filosofia. Ele não propõe um
método vazio, nem tão pouco a transmissão de teorias, mas pela junção de ambos
concebe que fazer filosofia é o próprio ato de filosofar. Lemos em Kant, na Crítica
da Razão Pura
: “Só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento
da razão, fazendo-a seguir seus princípios universais em certas tentativas
filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o direito de
investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os ou
rejeitando-os”.

            Entrelaçando-se
o ato de filosofar e filosofia, concluímos que não é possível fazer o primeiro
prescindindo do segundo. Ela vive e reina abrindo janelas, “(…) a própria
prática da filosofia leva consigo o seu produto e não é possível fazer filoso-
fia sem filosofar, nem filosofar sem fazer filosofia (…) porque a filosofia
não é um sistema acabado nem o filosofar apenas a investigação dos princípios
universais propostos pelos filósofos” (Gallo & Kohan, 2000, p. 184).

Filosofia e filosofar são indissociáveis, o caminho de um leva
simultaneamente ao outro. Não é matéria ao esmo, mas corpo de entusiasmo, que
dar-se no movimento da razão. Criamos e recriamos conceitos por meio do
filosofar, desafiamos as inquietações dos jovens pela busca de compreensão, de
significado e valor da realidade.

A filosofia em si mesma nasce das variadas aflições humanas, do
estranhamento e do incomodo, ela busca saídas para os problemas concretos. As
questões filosóficas são, portanto, universais, são humanas.

Potencialmente, a prática docente no ensino de filosofia favorece o
desenvolvimento contínuo do educando; ela propicia o reconhecimento do saber do
outro. Ressignificando o que não é sistematizado, o docente se dá conta do
verdadeiro filosofar, sem a utilização de métodos mágicos. Por tudo isso vale
ressaltar que

“nunca o aluno é uma tabula rasa. Sempre há algo
(certos saberes/certas práticas) que se reacomoda a partir da irrupção do novo.
Essa reacomodação, ressignificando o que se possuía, é uma composição
subjetiva. Quando isso se dá, podemos dizer que alguém pensou” (KOHAN. 2004,
p.45.)

            O
professor-filósofo se confunde com o filósofo-professor; na prática ambos estão
tão emaranhados que não sabemos dissociá-los. O ensino de filosofia retrata
isso. Porém esta abordagem não foi das mais fáceis. Tratar de filosofia é
tratar do pensamento filosófico e dos filósofos dentro da história.

            A
inserção da Filosofia na matriz curricular do Ensino Médio passou por
obstáculos consideráveis. Quando ela entrou efetivamente nas salas de aula, a confusão
foi inevitável. Professores preocupados como seria trazer para os jovens algo
recheado de reflexão, e alunos que mal entendiam o que era proposto na sala de
aula. “O limite que se colocava ao ensino da Filosofia não era só o compreender
a filosofia e o pensar filosoficamente, mas o aprender a história, os temas, os
métodos propostos pelos filósofos e, até mesmo, a linguagem utilizada pela
filosofia para expressar-se”. (GELAMO, 2010, p. 22).

As perguntas essências ao quais os professores se fizeram foram: o que
é e como ensinar a filosofia
? A construção da prática docente depende
dessas repostas bem como o êxito do ensino da disciplina em questão. As
respostas começam quando o docente descobre a importância de se ensinar
Filosofia, e os alunos aprendem seu teor peculiar bem como o nexo causal com os
demais campos do saber. “A reposta que muitas vezes se encontra sendo repetida
como um refrão é a de que a filosofia é importante para a formação crítica do
sujeito etc. No entanto, apesar da generalidade a que está submetida essa
afirmação, ela corrobora o vazio de sentido para os alunos que ali se
encontram.”

O fazer filosófico do professor de Filosofia enuncia-se não em pedagogias
e métodos corriqueiros, se assim o for, corremos o risco de fadá-lo ao fracasso.
Por isso, a melhor forma de sintetizar o fazer filosófico em seu dever de
ofício: é ser realmente ser um filósofo-professor.

Inquestionavelmente o ambiente escolar é o espaço onde a harmonia é
elemento importante para o bom resultado da intervenção pedagógica e prática
educativa. De bom grado confluem os objetivos de seus agentes, sendo este ainda
um espaço de discussão e interação. Sob a égide desse pensamento, a Filosofia
situa-se como uma peça articuladora interdisciplinar, pois promove junto a outras
áreas do saber, o pensar autônomo.

REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Alves
Moacir. LDB fácil – leitura crítico-compreensiva artigo a artigo. 16º
Ed. Petrópolis: Vozes, 2009. 

FREIRE,
Paulo: Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática
educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 1996 (coleção Leitura).

GALLO, S.;
KOHAN, W. Filosofia no ensino médio. Petrópolis: Vozes, 2000.

KANT, I. Crítica
da razão pura
. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Coleção “Os
Pensadores”).

KUENZER, Acácio
Zeneida. Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem o ensino
médio
. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

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