ANTÔNIO CÂNDIDO GONÇALVES CRESPO

antonio crespo

ANTÔNIO CÂNDIDO GONÇALVES CRESPO (Rio de Janeiro, 1845-
1883) viveu no Brasil até a idade de catorze anos. Estudando em Coimbra,
publicou o seu primeiro volume de versos, Miniaturas.

A publicação destas poesias, além de renome, lhe valeu a simpatia
literária, e logo depois pessoal, da Exma. Sra. D. Maria Amália Vaz de
Carvalho, com quem se casou o poeta em 1863. Depois escreveu outro
livro: Os Noturnos.

Rigorosa crítica poderá exprobrar a Gonçalves Crespo o demasiado
impressionar-se com a leitura dos outros poetas; mas só com injustiça
lhe poderia contestar o mimo da imagem, a melodia da frase e a deli-
cadeza do sentimento.

O Minuete – poema de ANTÔNIO CÂNDIDO GONÇALVES CRESPO

Espaçoso é o salão; jarras a cada canto;
Admira-se o lavor do teto de pau-santo. (699)

Cadeiras de espaldar com fulvas pregarias;
Um enorme sofá; largas tapeçarias;

O purpúreo tapete aos olhos nos revela,
Entre as garras de um tigre, ansiosa, uma gazela.

Retratos em redor; olhemos o primeiro:
No Toro as mãos de Afonso o armaram cavaleiro.

Era arcebispo aquele; esta foi açafata (700)
Que frescura sensual nos lábios de escarlata!

Olhos revendo azul que sobre a Itália assoma;
Em finos caracóis, a loura e ondada côma.

Este, que vês, morreu num africano areal
Por vingança cruel do áspero Pombal.

Desse olhar na expressão infinda e inenarrável
Desabrocha uma dor profunda e inconsolável.

 

Defronte, uma donzela, o rosto meigo e aflito,
Num êxtasis adora o pálido proscrito.

O teu sonho nupcial, franzina morgadinha,
Tão cedo se desfez, ó mísera e mesquinha!

No burel escondeste o viço e a formosura, (701)
E desmaiaste, flor, no chão de uma clausura!

Repara nos desdéns do fofo conselheiro,
Que sorridente aspira a flor de um jasmineiro!

Em cânones doutor; no paço foi benquisto:
Orna-lhe o peito a cruz de um hábito de Cristo.

Esse outro combatendo às portas de Baiona,
Como um bravo, alcançou a rútila dragona.

Vibra flamas do olhar; cabeça ereta e audaz;
Ilumina-lhe o rosto a glória de um gilvaz.

Assistimos, ao vê-lo, às pugnas carniceiras,
E ouvimos o clangor das músicas guerreiras.

No antiquíssimo espelho, à sombra das cortinas,
Reflete-se o primor de argênteas serpentinas.

Sob o espelho se anima um cravo marchetado, (702)
Mimo outrora da casa, e prenda de um noivado.

Ao lado o cofre encerra, em amorável ninho,
Antiga partitura em velho pergaminho.

Uma noite estendi a música na estante
E o cravo suspirou… Naquele mesmo instante

Da ebúrnea palidez doentia do teclado, (703)
Manso e manso, evolou-se o aroma do passado,

E vi descer do quadro a lânguida açafata
Que, ao discreto palor das lâmpadas de

A fímbria alevantando azul do seu vestido,
O rosto acerejado, o gesto comovido,

A sorrir deslizou graciosa no tapete,
Dansando airosamente o airoso minuete.

(699) — se — apassivativo.
(700) aça/ata (do ár. aç-ça-fat) = dama ou aia do paço, dama do açafate (cesto de rendas e alfaias).
(701) burel
= hábito de freira, feito do pano grosseiro desse nome.
(702) o cravo —
instrumento musical de teclado e cordas.
(703) ebúrneo = de marfim, mar
fíneo ou marfileño; do lat. eburneu, de ebur, marfim. Marfim — do ár. nab-
-al-fil,
pelo esp. marfil.


Seleção e Notas de Fausto Barreto e Carlos de Laet. Fonte: Antologia nacional, Livraria Francisco Alves.

 

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