AS GUERRAS MERCANTIS
Dr. Aluísio Telles de Meirelles.
Fonte: Manual do Executivo.
Novo Brasil editora brasileira.
A HOLANDA, a Inglaterra e a França sustentaram durante os séculos XVII e XVIII grandes lutas pelo predomínio do mar e das rotas mercantis.
Os holandeses procuraram sempre e em interesse próprio, manter sob sua autoridade, os caminhos recém-des-cobertos, sem, no entanto, se preocuparem com o futuro, esgotando as disponibilidades das colônias e reduzindo os seus habitantes à miséria mais desesperadora. Qualquer tentativa de sublevação era reprimida com excessivo rigor e crueldade, chegando mesmo a destruir pelo fogo as plantações que não podiam vender, dada a quantidade enorme armazenada.
A Companhia das índias, rica e importante, adquiriu enorme prestígio, a tal ponto que o bem-estar do país ficou intimamente relacionado ao seu. O afã exclusivo do lucro, a ambição desmedida, no entanto, levou à decadência o mercador, elevado aos mais altos cargos do govêrno. Assim, a Companhia das índias terminou em bancarrota.
Um país que não possui uma base territorial suficientemente povoada e extensa não tem qualquer ponto de apoio para uma grande expansão mercantil. É o caso da Holanda que, amoldando toda a sua política às relações marítimas, toda a sua força consistindo apenas no domínio do mar, teria que fracassar certamente.
Sustentar, além das grandes frotas, exércitos terrestres, era algo que excedia às possibilidades da Holanda naquele tempo. No interesse da marinha descuidou-se das forças de terra, sendo esta a causa da sua queda de posição como potência naval.
As Ilhas Britânicas tinham sido, durante a Idade Média, um país de pouca importância relativámente, conhecido apenas como um fornecedor de lã ou estanho, embora já se pudesse prever o seu desenvolvimento futuro, dadas as suas excepcionais qualidades como nação privilegiada, quer pela situação geográfica, quer pela técnica perfeita e a experiência naval adquirida pelos seus habitantes em sua luta constante contra os elementos, quer ainda pela sua esplêndida posição marítima, a coberto dos ataques do Continente, a posição mercantil já bastante elogiada pelos Estados mais progressivos da Europa e as terras virgens das colônias americanas.
Mas, foi a Rainha Isabel a primeira a estabelecer firme aliança com o mar e a dar o impulso que permitiu utilizar plenamente toda essa esplêndida posição.
As divergências políticas e religiosas com a Espanha, fizeram a Inglaterra tomar-se aliada natural da Holanda. Tal circunstância, entretanto, apenas serviu para retardar a luta entre os dois Estados marítimos, luta que se foi convertendo em uma necessidade cada vez maior, desde que se tornou insuportável para a Inglaterra o predomínio da Holanda.
Resolvida a acabar de vez com a tutela comercial holandesa, a Inglaterra começou a por abaixo o poderio batavo.
Os ingleses, com a sua famosa Ata de Navegação consideraram que os artigos de procedência ultramarina nó podiam ser levados à Inglaterra em embarcações britânicas. Além disso, todas as mercadorias procedentes de países europeus deviam ser conduzidas à Inglaterra em embarcações inglêsas ou do país de origem dos produtos.
Era como que um repto a todas as nações marítimas do mundo e praticamente, uma declaração de guerra lançada aos holandeses. Uma ruptura das hostilidades foi a conseqüência imediata, com amplas vantagens para os britânicos, pois em Amsterdam as mercadorias começaram a se acumular nos armazéns, até o ponto em que a Holanda viu-se obrigada a dobrar-se ante a Inglaterra vitoriosa.
Desde então, a Holanda foi-se retraindo cada vez mais da intervenção nos assuntos políticos exteriores da Kuropa, sua superioridade extinguindo-se paulatinamente até o colapso final.
Ao período da guerra mercantil anglo-holandesa sucedeu o da luta sustentada entre a Inglaterra e a França pela hegemonia do mar.
A França, sob a enérgica direção de Richelieu havia robustecido consideravelmente seu poderio naval, podendo já intervir com possibilidades de êxito nos mares. Assim, dispondo de ricas possessões coloniais e uma poderosa frota, estava disposta a defender o seu comércio ultramarino.
Sendo um Estado continental, muito mais ainda do que a Holanda, a França necessitava de grandes recursos para a luta, pois estava de certo modo esgotada pela política ambiciosa de Luís XIV, quando se desencadearam diversas guerras terrestres. Em conseqüência, não estava preparada para uma luta de grandes proporções.
Por outro lado, a Inglaterra, Estado puramente naval, pode aplicar, como conseqüência de sua posição insular, todas as suas energias ao cuidado da frota.
Valendo-se dos seus aliados continentais que lutavam contra as forças terrestres da França, a Inglaterra pode lutar com vantagem sobre a marinha francesa. A guerra colonial que durou sete anos teVe grande importância considerada do ponto de vista mercantil, elevando a Inglaterra à categoria de Estado naval de primeira ordem e situando em segundo lugar a França que, naquela guerra, perdeu a maior parte das suas colônias.
Assim, ficou a Grã-Bretanha com a herança da Holanda e da França. Com a mesma rapidez que o comércio colonial e o tráfico marítimo, desenvolveu-se a indústria inglesa, principalmente no comércio da lã, ou melhor, com a substituição da lã em rama pelos produtos fabricados com essa matéria.
Daí por diante, o comerciante inglês soube conquistar o monopólio na esfera do comércio de tecidos de todo o mundo.
Através de uma enérgica política mercantil, o governo inglês procurou ajudar ainda mais vigorosamente a sua indústria, fechando as suas fronteiras aos artigos procedentes de outros países e assumindo cada vez mais o regime de comércio mundial na tradicional forma de monopólio.
A França encontrou então em Colbert o seu educador econômico com o seu sistema mercantilista que considerava a riqueza de um país em seu capital metálico. Assim sendo, trabalhou para conseguir, uma balança mercantil na qual a nação recebesse do estrangeiro menos produtos que os que ao exterior vendia, para que os demais países tivessem que liquidar em metálico a sua diferença.
Estimulada ao máximo a indústria nacional, o comércio francês foi impelido para a frente. Assim, os impostos de importação para as matérias-primas exóticas foram reduzidos na medida do possível, bem como os de exportação dos produtos nacionais, enquanto que, em compensação, foram elevadas as tarifas aduaneiras sobre todos os produtos elaborados no estrangeiro.
O objetivo consistia em atrair matérias-primas a baixo preço, estimular a indústria nacional, dar novo alento ao comércio próprio e proteger o mercado interior contra a concorrência dos Estados estrangeiros.
Muitas indústrias novas foram então fundadas, mediante o pagamento de subvenções elevadas, prêmios e atração aos artesões estrangeiros.
Copiou-se então de Veneza a confecção de tapetes e espelhos de cristal; da Alemanha, a fabricação de artigos de chumbo, latão, etc.; da Holanda, a tecelagem, enquanto as fábricas de seda eram protegidas por subvenções, bem como a indústria da lã.
A partir daí a França assumiu a direção da moda, o que deu lugar ao desenvolvimento de muitas indústrias artísticas diferentes. A lapidação de pedras preciosas, a bijouteria, a confecção, o bordado e todos os inúmeros artigos de luxo, pràticamente encontraram seu lugar permanente na França. Daí por diante, os artigos de luxo e de fantasia de fabricação francesa inundaram todos os países.
* * *
Os efeitos da política econômica francesa afetaram gravemente a vida industrial e mercantil do sul da Alemanha, principalmente.
Com o fechamento de suas fronteiras à importação de produtos exóticos, a França assestou um golpe sensível na indústria das cidades alemãs, principais fornecedoras até então de trabalhos artísticos de madeira. couro e metal.
O mercado francês foi perdido de um golpe, o que afetou rudemente a Alemanha. Ainda mais: a moda francesa, penetrando, ano após ano, com pujança cada vez maior na Alemanha, fez com que estes perdessem a possibilidade de venda de seus artigos até mesmo nos mercados nacionais.
E como se não bastasse, a França passou a absorver as matérias-primas dos países circunvizinhos sem agravar com impostos a sua importação. Em conseqüência, a matéria-prima para a indústria alemã encareceu mais, com resultados ainda mais ruinosos para a sua economia, que só muito mais tarde veio a se recuperar.
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O ano de 1776 pos à prova o predomínio comercial da Inglaterra que havia assumido na América do Norte, como nas IndiaS Orientais, a herança dos holandeses e franceses.
Desenvolvendo uma política diferente dos outros povos colonizadores, a Inglaterra impeliu os indígenas para o interior e povoou as costas, ilhas do litoral atlântico com os colonos ingleses, que empreenderam a exploração econômica adequada das inesgotáveis fontes de riqueza do país. Assim, o novo império colonial americano foi se destacando no tráfico dos povos, à medida que os seus produtos — café, fumo, cacau, açúcar, etc., se convertiam em outros tantos elementos necessários, para o continente europeu.
As lutas desenvolvidas pelos colonos ingleses contra a terra selvagem, as guerras constantes com os índios, com os holandeses e franceses, acabaram por desenvolver neles um profundo sentimento de liberdade e uma poderosa personalidade, abrindo pouco a pouco a vontade de proteger o bem-estar próprio em face da metrópole.
O controle rígido exercido pelos ingleses impedia aos colonos americanos qualquer comércio independente e muito menos a criação de qualquer indústria, restando às colônias apenas o direito de enviar suas matérias–primas para a Inglaterra.
Em troca das matérias-primas enviadas, recebiam os americanos do Norte produtos industriais ingleses, ou por intermédio dos comerciantes britânicos, artigos manufaturados em outros países.
Fatalmente, aconteceu o que tinha que acontecer. Amargurados, os americanos deram início à guerra de libertação, culminando com o reconhecimento inglês da independência de treze de seus Estados coloniais.
E não ficou só nisso a derrota britânica. Os armadores holandeses, franceses e espanhóis, que apoiavam os norte-americanos, causaram graves danos à frota britânica, fazendo com que a expedição de produtos ingleses para a América cessasse a princípio de um modo quase completo, enquanto o comércio dos países neutros crescia com maior amplitude, às custas da Inglaterra.
Contra os seus inimigos, a Inglaterra lançou toda a sua fúria então. A principal vítima foi a Holanda que teve as suas colônias quase totalmente conquistadas, suas embarcações afundadas em massa, seu poderio comercial aniquilado.
Também o tesouro francês estava arruinado devido às prolongadas guerras, enquanto que a Espanha observava intranqüila o pernicioso exemplo dado pelos norte-americanos para as suas possessões do centro e do sul da América.
O fato de ingleses e americanos serem etnogràfica-mente e lingüisticamente afins favoreceu a uma boa aproximação entre os dois países. O comércio da América com a Inglaterra foi então desenvolvido cada vez mais favoràvelmente, o desenvolvimento da jovem nação ame-ricana contribuindo para que a Inglaterra novamente se desenvolvesse em potência mundial.
A libertação das colônias inglesas da América do Norte, trouxe também para o comércio exterior alemão o começo de uma nova e grandiosa evolução.
Enquanto a guerra americana ocupava a atenção dos ingleses, as potências não participantes, sob a direção da Rússia, estabeleciam as linhas principais de um direito internacional marítimo.
Segundo tais normas, as embarcações neutras estariam livres de navegar de um porto a outro e pelas costas das nações beligerantes, sob a condição de não praticar contrabando de armas e material de guerra.
Assim, sob a proteção da neutralidade, a Alemanha estabeleceu um tráfico imediato com a república americana do Norte, assumindo assim parte do comércio com a América libertada.
Hamburgo e Bremen, as duas grandes cidades comerciais alemãs, redobraram a atividade comercial, com o aniquilamento da Holanda, provocado pela Inglaterra.
O século XIX trouxe para a Inglaterra novas e duríssimas provas, com Napoleão Bonaparte recomeçando a luta pela hegemonia do mar.
Apesar dos seus vitoriosos exércitos, Napoleão não conseguiu aniquilar o poder naval da Inglaterra, o que o fez conceber o genial plano de cortar todas as relações mercantis da Inglaterra com o continente europeu, objetivando destruir em seus sólidos alicerces a potência política do Estado inglês.
Assim, o bloqueio continental foi decretado precisamente no dia 21 de novembro, ficando proibido todo tráfico mercantil com as Ilhas Britânicas, todas as mercadorias que viessem da Inglaterra ou de suas colônias consideradas como boa presa.
A metade da Europa estava então submetida à vontade de Napoleão, as perdas causadas ao comércio inglês se traduzindo em benefícios para a indústria e o tráfico francês. A política de Napoleão consistia no deslocamento do centro de gravidade da economia européia de Londres para Paris, isto é, colocar o domínio industrial da França no lugar do da Inglaterra, que, embora emancipada da influência política da Europa, necessitava do Continente, porque consistia seu mercado mais importante.
Nessas circunstâncias, a Inglaterra passou a desenvolver um extenso comércio de contrabando, explorando seu domínio marítimo, procurando, além disso, novas rotas, estabelecendo relações mercantis com os países espanhóis da América do Sul, principalmente.
Também a mudança forçada da corte portuguesa para o Brasil foi vantajosa para o comércio inglês.
Em primeiro lugar, dirigiram a temível arma de sua frota contra todos os países que, voluntária ou involuntà-riamente estivessem ligados ao sistema napoleònico.
Assim, as expedições dos corsários britânicos aniquilaram o tráfico marítimo da França, pondo a pique as embarcações inimigas e ocupando as possessões francesas que ficaram apenas com um pequeno comércio de cabotagem.
Também a Espanha e a Holanda sofreram perdas em suas possessões de ultramar. A Dinamarca foi repentinamente atacada, Copenhague foi bombardeada até que os dinamarqueses entregassem toda a sua frota.
Milhares de embarcações mercantis foram assim incorporadas como presa à frota mercantil inglesa, caindo todo o comércio colonial em suas mãos.
A infeliz expedição napoleônica à Rússia fez com que cada país quebrasse a cadeia que o unia ao bloqueio.
A França, já aniquilada pelas lutas de vinte anos, cedeu lugar novamente à Inglaterra, cuja indústria tinha sido ameaçada, bem como seu comércio e poder político.
Após a queda de Napoleão, percebeu-se claramente que a Inglaterra, não só se tinha apoderado das vantagens do mar, como também tinha conseguido afastar toda a concorrência séria na luta econômica dos povos,
O continente então viu-se inundado por uma enorme quantidade de produtos britânicos coloniais e industriais, que os comerciantes ingleses queriam vender a todo custo.
Como conseqüência, veio a baixa dos preços, que, por sua vez, trouxe consigo uma profunda crise nos negócios.
Também a indústria francesa que inicialmente tinha se conseguido beneficiar com a exclusão da concorrência britânica, baqueou fortemente, trazendo graves danos ao povo gaulês, já cansado de tantas lutas.
Durante os anos seguintes, os ingleses conseguiram fabricar em melhores condições e vender suas merca-dorias a preços mais baixos, devido ao fato de se terem mantido relativamente afastados das guerras européias que deixaram o Continente, após as comoções da era napoleônica, cansado de tudo e incapacitado para qualquer esforço sério.
Com o advento da máquina a vapor, ganhou a Inglaterra outra grande vantagem industrial, passando a ser a primeira potência mercantil do século XIX.
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