ATUALIDADE DA FILOSOFIA ANTIGA


ATUALIDADE DA FILOSOFIA ANTIGA



Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho *



Introdução




Uma questão se levanta: Uma filosofia antiga pode ser atual?



Poder-se-ia também formular este tema desta maneira: Como uma filosofia antiga pode ser ela atual?



Cumpre de plano esclarecer os conceitos.



Uma filosofia antiga é uma doutrina pertecendo a um passado longínquo, a uma época pretérita.



Deixando de lado  ulteriores considerações sobre  o conceito  de antigüidade, neste texto nos referimos à  filosofia greco-romana.   



Por outro lado, a idéia de atualidade pode ser entendida de duas maneiras: Atual como sendo o que existe no momento presente ou o que concerne e interessa à época presente.



 Afirmar que uma filosofia antiga pode ser atual é querer conciliar dois termos incompatíveis, dado que uma filosofia antiga, a priori, não pode ter nenhuma atualidade, pela própria  definição dos vocábulos, pois pertence a um contexto anterior. 



O princípio da contradição determina que uma coisa, considerada sob o mesmo aspecto, não pode ser e não ser ao mesmo tempo, ou seja, coisa alguma pode ter e não ter, ao mesmo tempo, determinada propriedade.



Entretanto, pode-se pensar que uma filosofia antiga é atual desde que se considere que o conhecimento da mesma se torna um preâmbulo indispensável para a compreensão da filosofia e da ciência hodiernas, edificadas sobre os fundamentos de séculos passados.



 Uma filosofia antiga pode ser atual na medida em que ela se faz necessária à compreensão da filosofia contemporânea.



Avançando o raciocínio é possível inclusive asseverar que, não apenas sob este aspecto, é lícito falar na atualidade de uma filosofia antiga, mas também no sentido em que uma filosofia antiga pode interessar à época presente por fornecer meios de compreensão para os problemas recentes e, na verdade,  é verídico assegurar até que, sem tais teses anteriores, há temas que ficariam obscuros e não teriam sido aprimorados e enriquecidos como os conhecemos hoje.



 São, portanto, indispensáveis  não apenas porque tais conhecimentos, que foram maduramente idealizados por indivíduos de extraordinária potência intelectual, deixaram um legado permanente para o desenvolvimento do pensar humano, mas, outrossim, como foi dito, se tornaram imprescindíveis  para a solução de problemas conaturais ao homem de todos os tempos.



Se é certo que o contexto histórico varia e não se pode negar que  existe um processo  que determina o surgimento de novos elementos socioculturais, como resultado de adaptações e modificações contínuas e progressivas de elementos anteriores que eram  mais simples; se é evidente que  técnicas, formas de organização social, crenças, costumes, conhecimentos, mais complexos e diferenciados vão surgindo século após século e, hoje em dia, a aceleração da história é um fenômeno inegável, contudo, seria um manifesto equívoco arrolar, por exemplo, as obras de Sócrates, Aristóteles e Platão como desatualizadas, devendo ser inteiramente ignoradas, precisando ser vistas como teorias pitorescas e descabidas.



Uma “ontologia do presente” não se coadunaria com uma “ontologia do passado” é o que dizem aqueles que, exatamente, se esquecem que proferem um contra-senso, revelando um desconhecimento primário da própria noção do ser.



Um relativismo morboso está na base de afirmações como estas: “A noção de verdade muda”; “As normas da verdade e da admissibilidade racional evoluem”.



Embora o progresso do saber e da técnica sejam incontestáveis, no entanto não se pode compreender o sentido de seus resultados e deles fazer uma idéia justa, se não se estuda o pensamento antigo dos filósofos que já refletiram em profundidade mormente sobre  problemas metafísicos.



Importância da Filosofia Antiga


A filosofia antiga oferece, de fato, recursos para melhor se refletir sobre as magnas questões que afligem a sociedade atual, proporcionando meios para solucionar inúmeras dificuldades que a ciência e tecnologia não resolvem.



O que se esquece muitas vezes é o aspecto interdisciplinar da filosofia  cujas noções basilares farolizam todas as outras ciências.



Os filósofos da antiguidade clássica tiveram intuições  transcendentais sobre a realidade as quais atravessam o tempo, dado que seus conceitos convêm à essência de todos os seres e, assim,  permanecem vivas não obstante todo o avanço da ciência moderna.



Aí está o motivo pelo qual, embora sob o ponto de vista da constituição física, biológica, química dos seres criados eles tenham cometido erros, no que tange à qüididade mesma, à essência de uma coisa, à qualidade essencial, ao conjunto das condições que determinam um ser particular no que lhe é ontologicamente constitutivo, deixaram noções sem as quais a própria ciência não chegaria aonde tem conseguido conquistar.



Pela pujança intelectual incontroversa desses gênios que surgiram na Grécia e em Roma  não se pode negar que não há, nas províncias da investigação teórica, doutrina moderna  que não tenha sua raiz  nas idéias fulgurantes de algum destes pensadores.



Aliás seja dito que muitos malefícios causados à humanidade neste início de milênio, e mesmo anteriormente, pelo mau emprego das conquistas científicas têm seu antídoto em princípios éticos formulados pelos sábios filósofos da antigüidade, os quais, segundo Justino, participavam do logos divino1.  Ao número destes filósofos pertencem Sócrates, Platão e os estóicos, pelos quais Justino tem sincera admiração; mas nem por isso excluem de sua companhia os poetas, os legisladores e os historiadores. Descobre excelentes normas de moralidade nos poetas e nos pensadores anteriores à sua época. Eles não  possuíram integralmente o Logos, mas dele compartilhavam tanto imediata como mediante: imediatamente pela iluminação do Logos, e mediatamente pela revelação.



Diante de tanta calamidade, não obstante a empáfia com que a ciência moderna se apresenta, o retorno ao pensamento antigo proporcionaria soluções para os males atuais.



Adite-se que o ser pensante necessita de referenciais consistentes para poder desenvolver suas conquistas e muitos erros posteriores foram causados exatamente por se ignorarem os princípios filosóficos intemporais levantados pelos gregos e romanos.



Após fatigosas reflexões, quantos estão a repetir ao auscultar o pensamente antigo: “Não há nada de novo sob o sol”!2.



Há algo de permanente no universo e quando os pré-socráticos, assumindo pela vez primeira uma atitude exclusivamente filosófica, passaram a indagar qual seria a ousia, o elemento primordial, o mito foi vencido e uma monumental construção filosófica na plena acepção do termo se iniciou. É de se notar, inclusive,  que a física de certos pré-socráticos anunciaram, embora de maneira rudimentar a física moderna. O caminho foi longo até chegarem os pensadores a Aristóteles com sua teoria do hilemorfismo, uma conquista ímpar da inteligência humana, tendo um grande impacto na antropologia filosófica posterior.



Grande é, por exemplo,  a atualidade da “Carta de Epicuro a Meneceu” para se pensar a relação da humanidade com a natureza e para se colocar um freio aos desejos frívolos, artificiais, como a busca desenfreada de riquezas ao impulso da sociedade de consumo.



No turbulento mundo de hoje e suas vicissitudes, ante o niilismo da cultura moderna, a obra “Arte de viver” de Epicteto, o livro “ Da vida feliz”, de Sêneca,  lidos sob a ótica cristã são atualíssimos, mostrando o uso da razão para se atingir a felicidade. Cumpre, realmente, não se desviar seduzido pelas  falsas aliciações do mundo, mas é preciso que cada um seja senhor de si mesmo. É necessário suportar as dificuldades existenciais com parhesia, coragem, decisão, determinação e força de caráter.



Questionamentos à Ciência Moderna




A verdade é que a ciência moderna apresenta um saber racional unilateral. Volta-se unicamente para o objeto exterior, a quantidade, o que é aparente, e acaba se esquecendo do sujeito, da sensibilidade, do espírito, do mundo da vida, da consciência  nas quais o saber se enraíza.



O imperialismo científicista leva a querer objetivar e a quantificar o próprio sujeito pensante e daí uma psicologia, uma antropologia e uma sociologia dita cientificas, donde uma série de desvios, levando a uma falsa visão do homem nesta terra, a qual é, deste modo,  violada pela falsa percepção do valor da vida humana que fica agredida vítima da agressão desumana à natureza. Uma ciência  que se mostra divorciada  da vida, da existência.



 É aí que o pensamento antigo entra para recolocar o homem no seu lugar e o entrosar novamente com a natureza numa perspectiva filosófica profunda.



É deste espírito que os líderes mundiais deste momento histórico precisam se conscientizar, reservando um tempo no seu agitado agir para repensar o que os sábios greco-romanos disseram.



O pensamento antigo leva, realmente, o homem à reconciliação com a natureza e consigo  mesmo e, hoje mais do que nunca, vale o lema socrático “ Conhece-te a ti mesmo” – Gnôthi seauton". É esse ato de conhecimento que torna viável a promoção de nossa autotranscendência. Conhecer a si  mesmo para saber como modificar a relação para consigo, com os outros e com o mundo.



Quem acompanha certos fatos que hoje se desenrolam no Brasil fica certamente cada vez mais convencido de que uma releitura dos sábios filósofos gregos, mormente Sócrates e Platão, muito ajudaria para que houvesse mais consistência em muitos dos pronunciamentos e atitudes de alguns líderes que comandam esta nação.



O que mais censurava Sócrates nos retóricos de seu tempo era o fato de que, por trás das palavras, não se percebia um saber objetivo, uma filosofia ou firme concepção de vida. Nenhuma moral sólida animava muitos pronunciamentos, cujo móvel era a cobiça, a vontade do sucesso a todo custo, a falta de escrúpulo em prometer sem condições ou intenções de se cumprir o prometido. Um hedonismo macabro estava subjacente no discurso dos sofistas que se julgavam investidos da missão de educadores.



É que naquele tempo já se lutava contra o mero fogo de artifício que deslumbra e, por isto mesmo, engana. Apelava Sócrates para um senso crítico apurado, a fim de que se pudesse desmascarar as quimeras cerebrais de falsos intelectuais que aspiram dominar através de palavras fluentes, mas vazias. Tanto ele como Platão chamam a atenção para o fato de que os falsos estadistas são sempre cortejados por aqueles que usam em tudo o padrão de suas conveniências pessoais. Os mais fortes exploram os mais fracos, usando uma política de intimidação. Isto significa que passa a imperar  o princípio do sórdido egoísmo que costuma dominar quem idolatra o  poder, cortejado pela  lisonja que é a arma comum dos palacianos. O ideal socrático e platônico, porém, é que o verdadeiro estadista deve escolher as palavras, praticar  ações justas e distribuir  seus dons em vista de uma ordem suprema do reino do espírito. Nada mais calamitoso para a sociedade do que a destruição dos valores morais. Diluir a tessitura ética da sociedade é o maior dos males.



 A atenção do bom político terá que se concentrar constantemente no  fazer com que a justiça entre nas almas dos cidadãos apartado qualquer tipo de injustiça. Que reine a prudência e a moderação e desapareça o destempero. Sejam estimuladas as virtudes e afastados todos os vícios. Nada de satisfazer os caprichos pessoais ao ritmo de uma vaidade perniciosa. O tirano que idolatra o poder exige que os outros pensem sempre como ele. Faz correr lágrimas de crocodilo ao se livrar de amigos que se tornam incômodos e não tem receio em afastar no próprio interesse quem no seu caminho se tornou uma pedra.  Por tudo isto,  no pensar de Sócrates o bom cidadão é um lutador e não um adulador, pois é preciso que se aplique  por toda parte  a terapêutica da verdade a qual  torna os homens melhores. Segundo Platão, o autêntico homem público é aquele que faz  mais virtuosos os cidadãos, depois de haver, ele próprio, se tornado mais virtuoso, graças ao domínio que exerce sobre seus ímpetos de mando, evitando todo e qualquer desmando.



 A opinião reta deve ser fixada, estabilizada pelo saber exato, com o qual se preocupam sempre os bons políticos.



Virtus in medio




Ante os desatino do mundo de hoje, no qual falta a moderação, a prudência, o sentido da medida das coisas ressoa o clamor aristotélico virtus in medio3.  De fato o grande problema hodierno é o problema das atitudes.  Falta de critério e de objetividade para utilizar o progresso científico. Sob este aspecto atualíssima é a “Ética da Nicômaco”, pois em Aristóteles, toda racionalidade prática é teleológica,  orientada para um fim. À Ética cabe determinar qual a finalidade suprema  e qual a maneira de alcançá-la. Essa finalidade suprema é a felicidade, isto é, eudaimonia, que não consiste nem nos prazeres, nem nas riquezas, nem nas honras, mas numa existência virtuosa. A virtude, por sua vez, se encontra num justo meio entre os extremos, que será encontrada por aquele dotado de prudência – phronesis e educado pelo hábito no seu exercício. Trata-se da valorização de cada ação, bem compediado no  age quod agis, que  era o lema do poeta grego, Xenofanes de Cólofon, o qual exerceu notável influência sobre a escola eleática.



 Como seria bom refletir hoje  neste pensamento aristotélico: "O homem, quando perfeito, é o melhor dos animais, mas é também o pior de todos quando afastado da lei e da justiça, pois a injustiça é mais perniciosa quando armada, e o homem nasce dotado de armas para serem bem usadas pela inteligência e pelo talento, mas podem sê-lo em sentido inteiramente oposto. Logo, quando destituído de qualidades morais, o homem é o mais impiedoso e selvagem dos animais, e o pior em relação ao sexo e à gula"4 Por certo a violência que campeia por toda parte, a imoralidade sem peias e o descontrole dietético seriam refreados!



O pensamento antigo leva, deste modo, a uma análise  equilibrada do homem dentro do cosmos, à harmonia, à preocupação dos limites, à sabedoria do bem viver e bem tratar a terra em que se vive.



As virtudes cardeais platônicas, ou seja, a sabedoria, a coragem, a temperança e a justiça precisam ser revividas após uma funda reflexão do texto do célebre epígono de Sócrates a bem da cidade terrena. Os políticos hodiernos deveriam aprofundar os conceitos de Platão  para terem coragem para preservar a integridade física e espiritual dos cidadãos com aquela sabedoria  que leva a empregar a virtude da justiça no sentido de honrar os direitos alheios,  controlando os impulso próprios em prol unicamente das necessidades da sociedade. Uma releitura destas obras  República, o Político, as Leis modificariam as atitudes de muitos homens públicos de nossos dias! Platão dizia que nada pior do que ser governado por ignorantes. A política é um saber e é preciso, portanto, que governem os que sabem. O filósofo tem pois o dever de governar. Em caso algum, entretanto, o filósofo deverá tomar o poder, porque ele se tornaria um tirano. Deve esperar que os cidadãos lhe peçam para governar. Para Platão a justiça não consiste somente em dizer a verdade; nem somente em devolver o que se tomou emprestado; nem em apenas dar a cada um o que se lhe deve, fazendo bem aos amigos e mal aos inimigos; nem em fazer bem aos amigos bons e mal aos inimigos maus; nem muito menos no interesse do mais forte, como ensinava Trasímaco; nem no que é útil para o mais poderoso, considerando as leis como dadas pelos que governam para seu próprio proveito. A justiça não consiste, outrossim, em uma convenção estabelecida como lei pelos homens, diante da lei natural, para defender os fracos contra os mais fortes. Para Platão a Justiça na cidade e no indivíduo é a mesma, ou seja, é a unidade da ordem. A cidade é um grande todo integrado por indivíduos, famílias e classes sociais com atividades e interesses muito distintos. Não seria possível uma entidade social se entre suas diversas partes não reinasse uma ordem rigorosa que reduzisse a diversidade à unidade, assinalando a cada parte o lugar e a função que lhe correspondem dentro da totalidade. É a mesma ordem que deve reinar dentro de cada um, pois a justiça é uma virtude da alma que introduz unidade dentro do composto humano. Platão, além disto,  considera o ateísmo como o mais grave dos delitos. Deus é a medida de todas as coisas e a norma suprema para regular as relações de conduta dos cidadãos e as relações estatais. Como seria bom, de fato,  que todos os governantes hodiernos assimilassem bem estas idéias políticas. A condenação platônica  àqueles que têm fome de poder e nele desejam se perpetuar é um dos pontos altos de seu ensinamento, tão útil a certos líderes latino-americanos deste início de milênio. A Justiça como busca do total equilíbrio interior e social deveria ser o anelo de todo cidadão. Embora, o governo dos filósofos seja uma utopia, pois diz Platão que eles são sempre incompreendidos, fica o ensinamento de que governar é tarefa que exige o máximo de seriedade. O atual panorama político mundial por certo deixaria o notável filósofo convencido de que mais do que nunca o equilíbrio deveria imperar. Então, sim, as reformas transcorrerão de uma maneira transparente, bem longe de qualquer injustiça. O que está muito esquecida é a sentença de Sêneca: Actio recta non erit, nisi recta fuerit voluntas 5.



Conclusões




 Os sábios antigos podem, portanto, ajudar a repensar plenamente a época atual.



É de se notar que  Gilles Lipovetsky,  Professor francês, denunciou  um lamentável vazio que passou a reger o mundo de hoje6. Intelectuais acometidos de senilidade precoce, militantes do insignificante protestaram com veemência, mas o jovem filósofo tinha razão. Gilles preconiza um combate à frivolidade imperante, à apatia, à indiferença, tanto mais que a sedução tomou lugar à convicção.  Visível  a desagregação da sociedade, dos costumes, do indivíduo colocado a reboque do consumismo. Erosão das identidades sociais com prevalência do individualismo, sendo visível, por exemplo, a exacerbação sexual. Percebe-se até uma fratura da socialização disciplinar. A mutação sociológica global em curso tornou muito mais complexa a situação humana no cosmos. Isto porque nos dias atuais impõe-se o máximo possível de opções com um mínimo de normas; o máximo de desejos com pouca austeridade. Acentuou-se uma aversão ao mínimo de constrangimento. Daí a necessidade, que se observa hoje, da psicologização das modalidades de socialização em bases filosóficas tais como as preconizaram os filósofos antigos. Os valores individualistas não podem simplesmente impor suas indeterminações constitutivas. Quando o termo globalização está na ordem dos acontecimentos, é preciso enfrentar a estratégia global do processo de uma personalização acentuada, de um individualismo hedonista. Uma maior valorização da pessoa humana e não das máquinas e das estruturas econômicas.



 A Filosofia Antiga conduz à ataraxia, serenados os ânimos numa quietude beatífica, mas que não amordaça o dinamismo necessário aos grandes esforços, visando o aprimoramento individual e social. Não há então a morte do desejo, nem a amputação da expressão e a atrofia do eu, mas o aflorar de personalidades abertas à realidade de um mundo que não pode romper com princípios fundamentais sem os quais nada de consistente se constrói. É deste modo que se orientará a sociedade pós-moderna colocando-a sob a égide de dispositivos abertos e plurais. Hoje, tão alucinante é o passar das horas pela influência de toda a parafernália tecnológica de que dispomos, que o perigo é, de fato, cair no vazio descurando-se inteiramente do devir. Fecha-se o homem no imanente e bloqueada está a passagem para o transcendente. Desconhece-se o autêntico eudemonismo. É então que o ideal educativo grego poderá ajudar a um repensar desta situação atual, mostrando como a paidéia7, formação geral que tem por tarefa construir o homem como homem e como cidadão, poderá arrancar o ser humano de uma materialidade destrutiva, levado-o a um autêntico humanismo. Cumpre, de fato, a formação equilibrada e harmônica do homem como tal.



O pensamento antigo se torna assim tão atual, uma vez que ele teve a missão de deixar um patrimônio cultural inestimável não só  sob o ponto de vista teórico, mas, mais ainda,  ensinamentos práticos utilíssimos para os que vivem no tumultuoso início do século XXI. 



A sabedoria  grega é uma sabedoria do homem, ser racional, perfectum opus rationis, como salientou com precisão Jacques Maritain8.  Tinham consciência do valor supremo do conhecimento racional para compreender a realidade, edificar  uma filosofia de vida e orientar o ser pensaente em todos os sentidos. Com efeito, os pensadores antigos partiam da realidade tangível e visível, do movimento, do múltiplo que  flui da energia do ato de ser. O que separa  até o fundo o pensamento grego dos pensamentos anteriores é o seu pendor metafísico.  Depara-se uma linha de investigações que se dirigem a um substratum do universo.



Adite-se que uma das  característica do pensamento grego foi, de fato,  o humanismo e a partir do homem, microcosmos admirável, chegaram à noção de um Deus transcendente e ofereceram a verdadeira significação do mundo. Daí um dos aspectos da atualidade da sabedoria antiga, pois o filósofo grego procurou  a harmonia do homem com o universo e com um Ser Supremo.   



Não se duvidava entre os autênticos filósofos  gregos da capacidade da mente humana de alcançar a verdade e superando com vitalidade extraordinária os equívocos dos sofistas,  legaram um patrimônio cultural que atravessaria os séculos, farolizando as pesquisas posteriores.



Sócrates, o demolidor da sofística abriu o período áureo da filosofia antiga lançando princípios que influenciariam a tradição cultural da humanidade, mesmo porque na sua alheta  Platão e Aristóteles fariam chegar ao apogeu uma reflexão que iluminaria para sempre os autênticos arquitetos das idéias. Legaram noções que o passar do tempo não conseguiu, nem conseguirá, abalar.



A notável aptidão dos antigos filósofos de organizar e assimilar a realidade, capacidade animada por uma persistente reflexão de um espírito questionador, deu, de fato, uma primazia  ímpar aos pensadores greco-romanos.



 As numerosas obras do final do século XX e início do século XXI analisando sob novos ângulos os escritos platônicos, aristotélicos e de outros filósofos  e as reedições das obras dos escritores romanos  provam também a importância e a atualidade  da Filosofia antiga.



É que  os filósofos greco-romanos deram uma resposta incitante a inúmeras questões que inquietam o ser pensante.





•        Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008



•        Membro da Academia Mineira de Letras



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1 Apol.II, 13



2 Eclesiático 1,9



3 Eth. Nicom. VIII,11



4 Política, 1252 b



5 Epistulae Morales 95.57 – “A ação não será honesta, se não for honesta a intenção”.



6 Gilles Lipovetsky, O império do Efêmero – A moda e seu  destino nas sociedades modernas.



 São Paulo, Companhia das Letras, 2002.



7 Werner Jaeger, Paidéia – A formação do homem grego. São Paulo, Martins Fontes,  1994



8 Jacques Maritain, Science et Sagesse, Paris, Labergeri, 1935, p. 28-31
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