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onofreMembro
Segue alguns trechos selecionados de Abbagnano, História da Filosofia, vol. II; coloquei o ebook em anexo para você ir lendo principalmente os artigos de neoplatonismo, gnose e patrística. Leia também o artigo do maior dos filósofos patrísticos, o Santo Agostinho de Hipona, que verdadeiramente adaptou a doutrina pagã de Platão às bases doutrinais da igreja católica.Alguns links: http://www.puc-rio.br/parcerias/sbp/pdf/16-miguelr.pdf http://acacia.pntic.mec.es/~falvar4/Cristianismo%20y%20filosofia.htmhttp://br.geocities.com/mcrost08/o_mundo_de_sofia_15.htmhttp://plato.stanford.edu/entries/christiantheology-philosophy/__________________________________________________O CRISTIANISMO E A FILOSOFIA§ 128. A FILOSOFIA GREGA E A TRADIÇÃO CRISTãA Grécia foi o berço verdadeiro da filosofia. Pela primeira vez nomundo ocidental, compreendeu e realizou a filosofia como investigaçãoracional, isto é, como investigação autónoma que em si mesma encontra o fundamento e a lei do seu desenvolvimento. A filosofia grega demonstrou que a filosofia só pode ser procura e a procura liberdade. A liberdade implica que a disciplina, o ponto de partida, o fim e o método da investigação sejam justificados e postos por essa mesma investigação, e não aceites independentemente dela.A influência do cristianismo no mundo ocidental determinou uma novaorientação da filosofia. Toda a religião implica um conjunto de crençasque não são fruto de qualquer investigação porque consistem naaceitação de uma revelação. A religião é a adesão a uma verdade que ohomem aceitou devido a um testemunho superior. Tal é, com efeito, ocristianismo. Aos fariseus que lhe diziam: "Tu alegas de ti mesmo e,portanto, o teu testemunho não tem valor", Jesus respondeu: "Eu não estou só, somos eu e aquele que me enviou (S. João, VIII, 13, 16),apoiando assim o valor da sua doutrina no testemunho do Pai. A religiãoparece, portanto, nos seus próprios princípios, excluir a investigaçãoe consistir antes numa atitude oposta, a da aceitação de uma verdadetestemunhada do alto, independentemente de qualquer investigação.Todavia, logo que o homem se interroga quanto ao significado da verdade revelada e tenta saber porque caminho pode realmente compreendê−la e fazer dela carne da sua carne e sangue do seu sangue, renasce a exigência da investigação. Reconhecida a verdade no seu valor absoluto, tal como é revelada e testemunhada por um poder transcendente, imediatamente se impõe a cada homem a exigência de se aproximar dela e de a compreender no seu significado autêntico para com ela e dela viver verdadeiramente. Esta exigência só pode −ser satisfeita pela investigação filosófica. A investigação renasce, pois, da própria religiosidade, pela necessidade que o homem religioso tem de se aproximar, tanto quanto lhe for possível, da verdade revelada. Renasce com uma tarefa específica, que lhe é imposta pela natureza de tal verdade e pelas possibilidades que pode oferecer à sua efectiva compreensão pelo homem; mas renasce com todas as características, próprias da sua natureza, e com força tanto maior quanto maior for o valor que se atribui à verdade em que se acredita e se pretende fazer sua.Da religião cristã nasceu assim a filosofia cristã. Esta tomou tambémcomo objectivo conduzir o homem à compreensão da verdade revelada por Cristo, de modo a que ele possa realizar o seu autêntico significado.Os instrumentos indispensáveis para este fim encontrou−os a filosofiacristã, prontos a servirem, na filosofia grega. As doutrinas da especulação helénica do último período, essencialmente religioso, prestavam−se a exprimir, de modo acessível ao homem, o significado da revelação cristã; e com esta finalidade foram, efectivamente, utilizadas da maneira mais ampla.A PATRISTICA DOS DOIS PRIMEIROS SÉCULOS§ 133. CARACTERISTICAS DA PATRISTICAQuando o cristianismo, para se defender dos ataques polémicos e dasperseguições, e também para garantir a própria unidade contra cisões eerros, teve de pôr a claro os próprios pressupostos teóricos eorganizar−se num sistema doutrinal, apresentou−se como expressãocompleta e definitiva da verdade que a filosofia grega tinha procurado,embora imperfeita e parcialmente encontrada. Uma vez no terreno dafilosofia, o cristianismo defendeu a sua continuidade com a filosofiagrega e apresentou−se como a sua última e mais completa manifestação.Justificou esta continuidade com a unidade da razão (Logos), que Deuscriou idêntica para todos os homens e em todos os tempos e à qual arevelação cristã deu o último e mais seguro fundamento; e com istoafirmou implicitamente a unidade da filosofia e da religião. Estaunidade não é um problenw para os escritores cristãos dos pri−meiros séculos: é mais um dado ou um pressuposto do que guia e dirigetoda a sua reflexão. E mesmo quando estabelecem uma antítese polémicaentre a doutrina pagã e a cristã (como no caso de Taciano), estaantítese estabelece−se no terreno comum da filosofia e pressupõe, portanto, a continuidade entre cristianismo e filosofia.Era natural, segundo este ponto de vista, que se tentasse, por uni ladointerpretar o cristianismo mediante conceitos tirados da filosofiagrega, para assim o ligar a esta filosofia e, por outro, −reconduzir osignificado da filosofia grega ao próprio cristianismo. Esta duplatentativa que, na realidade, é uma só, constitui a essência daelaboração doutrinal que o cristianismo sustentou nos primeiros séculosda nossa era.Nesta elaboração, os Padres da Igreja foram frequentemente ajudados einspirados, como era inevitável, pelas doutrinas das grandes escolasfilosóficas pagãs; e, especialmente aos Estoicos, foram eles bebermuitas das suas inspirações, impelidos até muitas vezes (como acontececom Tertuliano) a aceitar teses aparentemente incompatíveis com ocristianismo como a da corporalidade de Deus. O período desta elaboração doutrinal é a Patrística. Padres da Igrejasão os escritores cristãos da antiguidade que contribuíram para aelaboração doutrinal do cristianismo e cuja obra foi aceite e tomadacomo sua pela Igreja. O período dos Padres da Igreja pode considerar−se como terminado com a morte de João Damasceno para a Igreja grega (cerca de 754); e com a de Beda o Venerável para a Igreja latina (735). Este período pode dividir−se em três partes. A primeira, que vai até cerca do ano 200, é dedicada à defesa do cristianismo contra os seus adversários pagãos e gnósticos. A segunda, que vai de 200 até cerca de 450, é dedicada à formulação doutrinal das crenças cristãs. A última, que vai de 450 até ao final da Patrística, é mar. cada pela reelaboração e sistematização das doutrinas já formuladas.§ 135. JUSTINOJustino nasceu provavelmente no primeiro decénio do século 11 em Flávia Neápolis, a antiga Siquem, agora Nablus na Palestina. Ele próprio nos descreve a sua formação espiritual. Filho de pais pagãos, frequentou os representantes das várias escolas filosóficas.− Estoicos, Peripatéticos e Pitagóricos, e professou durante largo tempo as doutrinas dos Platónicos. Por fim, encontrou no cristianismo aquilo que procurava e desde então com a sua palavra e os seus escritos defende−o como a única e verdadeira filosofia. Viveu muito tempo em Roma e ali fundou uma escola, foi ainda em Roma que suportou o martírio entre 163 e 167. Das obras que nos ficaram, apenas três são seguramente autênticas: o Diálogo com o judeu Trifon e duas Apologias. A primeira e a mais importante é dirigida ao imperador Antonino Pio e deve ter sido composta nos anos 150−155. A segunda, que é um suplemento ou um apêndice da primeira, foi motivada pela condenação de três cristãos, réus apenas por se terem confessado como tais: O Diálogo com o judeu Trifon refere uma discussão que ocorreu em Éfeso entre visa, em substância, demonstrar que a pregação de completa os ensinamentos do Velho Testamento.A doutrina fundamental de Justino é que o cristianismo é "a únicafilosofia segura e útil" (Dial., 8) e que esse é o resultado último edefinitivo que a razão pode alcançar na sua pesquisa, uma vez que arazão não é mais do que o Verbo de Deus, ou seja, Cristo, do qualparticipa todo o género humano. "Nós aprendemos −disse ele (Apo.primeira, 46) que Cristo é o primogénito de Deus, e que é a razão deque participa todo o género humano. E aqueles que viveram segundo arazão são cristãos, ainda que tenham sido considerados ateus como,entre os Gregos, Sócrates, Heraclito e outros; e entre os bárbaros,Abraão e Ananias e Azarias e Misael e Elias. De modo que também aqueles que antes nasceram e viveram irracionalmente eram maus e inimigos de Cristo e assassinos daqueles que vivem segundo a razão, mas aqueles que viveram e vivem conformes com a razão são cristãos impávidos e tranquilos". Todavia estes cristãos "avant Ia lettre" não conheceram toda a verdade. Neles existiam sementes de verdade, que não puderam entender plenamente. (1b., 44). Podiam, por certo, ver obscuramente a verdade, mediante aquela semente de razão que com eles nascera. Mas uma coisa é a semente e a imitação e outra o desenvolvimento completo e a realidade, da qual a semente e a imitação se geraram. (Apol. seg., 13).Aqui é adoptada a doutrina estoica das razões seminais para fundamentar a continuidade do cristianismo e da filosofia grega, para reconhecer nos maiores filósofos gregos os precursores do cristianismo e para justificar a obra da razão mediante a sua identificação com Cristo. Esta mesma doutrina permite a Justino a identificação completa entre ocristianismo e a verdade filosófica. "Tudo aquilo que se disse deverdadeiro pertence a nós cristãos, já que, além de Deus, nós amamos e adoramos o Logos do Deus ingénito e inefável, que se fez homem por nós, para nos curar das nossas enfermidades participando delas"Deus é o eterno, o que não teve princípio, o inefável: o conhecimentode Deus é um facto inexplicável, radicado na própria natureza doshomens (Apol. sec., 6). Ao lado e abaixo dele existe outro Deus, oLogos coexistente e gerado antes da criação, por meio do qual Deuscriou e ordenou todas as coisas (1b., 5). Assim como uma chama nãodiminui quando se acende urna outra, o mesmo aconteceu com Deus nacriação do Logos (Dial., 48). Depois do Pai e do Logos está o EspíritoSanto, a quem Justino chama o espírito profético, ao qual os homensdevem as virtudes e os dons proféticos (Apol. prima, 6).O homem foi criado por Deus, livre de fazer o bem e o mal. Se o homemnão tivesse liberdade, não teria mérito no bem nem culpa no malrealizado (Apol. prima, 43). A alma do homem é imortal, apenas por obrade Deus: sem esta, com a morte volveria ao nada (Dial., 6). Mas opróprio corpo está destinado a participar na imortalidade da alma.Efectivam−ente, deverá vir, segundo o anúncio dos profetas, uma segunda parusia de Cristo, e desta vez ele virá em glória, acompanhado pela legião dos anjos, ressuscitará os corpos e revestirá com imortalidade os dos justos, ao mesmo tempo que condenará ao fogo eterno os dos iníquos O Platonismo e o Estoicismo constituíram as duas raízes fundamentais pelas quais se une à filosofia grega. Mas Orígenes adaptou com grande equilíbrio, da mensagem cristã, a doutrina platónica da queda e da redenção dos seres espirituais e a doutrina cosmológica dos Estoicos. Por certo, alguns elementos que a consciência religiosa contemporânea considerava essenciais nesta mensagem foram perdidos na síntese de Orígenes. o conceito da criação é, no fundamental, estranho a Orígenes para quem a criação das substâncias racionais é eterna. Na sua natureza o Logos está subordinado a Deus Pai e o Espírito Santo ao Logos, na sua natureza e na sua função. O sacrifício de Cristo não encontra urna própria e verdadeira justificação e a ressurreição da carne, sobre a qual tanto insistiram outros padres (por exemplo Tertuliano) é explicitamente excluída (De princ., 11, 10, 3; Contra Cels., V, 18). Mas, em compensação, Orígenes elevou, pela primeira vez. à clareza da reflexão filosófica o significado mais profundo e universal do cristianismo. Foi o primeiro que viu no facto histórico da redenção o destino da humanidade inteira que, decaída da vida espiritual, deve retornar a ela. Foi o primeiro que reuniu numa única visão de conjunto a sorte da humanidade e a sorte do mundo, fazendo da antropologia cristã o elemento de uma concepção cosmológica. meiro que afirmou a exigência de liberdade humana que se havia perdido não só nas doutrinas duaUsticas dos gnósticos, mas também todas as interpretações que faziam do homem o sujeito da obra redentora deCristo.Carpócrates, para explicar a superioridade de Cristo sobre oshomens, serve−se da teoria platónica da reminiscência. Cristo torna−sesuperior aos outros homens, porque a sua alma recordou maisabundantemente quanto tinha visto durante o seu curso com o Pai nãogerado, onde este lhe deu uma virtude particular que o tornou capaz deescapar ao predomínio do mundo e de regressar livremente até ele. O mesmo acontecerá a toda a alma que se atenha à mesma linha de conduta. Os sequazes de Carpócrates ou carpocracianos admitiam a transmigração da alma de corpo em corpo, enquanto não tivesse completado o ciclo das experiências pecaminosas; só no termo desta odisseia, a alma seria digna de voltar para o Pai, libertando−se de todas as ligações com o corpo.____________
onofreMembroMuito bem!
Só gostaria de observar que o termo teologia talvez não seja correto, pois a teologia, fruto da escolástica, só se desenvolveu plenamento de Santo Aquino em diante. A teologia se pretende um estudo racional de Deus e seus atributos.
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