Início › Fóruns › Fórum Sobre Filósofos › Derrida › A Gramatologia e a desconstrução da Modernidade
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11/02/2005 às 12:39 #75958Miguel (admin)Mestre
Olá, sou um apaixonado por filosofia, e só agora descobri Derrida; e ainda bem que descobri, e mais, não sou o único. Andei pesquisando, e encontrei essa discussão, que me levou a escrever.
Como faço para contactar? Ahhh, só uma perguntinha por ora: – Vocês são professores de filosofia?
Atc
Almustafá12/02/2005 às 16:18 #75959Miguel (admin)MestreOlá Almustafá e a todos os que gostam de Derrida!
Nomade, eu não estou “desaparecida”, mas algo ausente em virtude do imenso trabalho que tenho tido. Para além de aulas (sim, sou professora de Filosofia Almustafá), da orientação de estágio, tenho tido uns artigos para escrever, tenho prazos, tem sido complicado…mas em breve espero voltar, com mais assiduidade!..Deixo-vos então com Derrida: “Pas de vérité”!!
Isabel Maia.12/02/2005 às 16:19 #75960Miguel (admin)MestreAh, é verdade, este “I M” sou eu, Isabel Maia, só que não consigo entrar com a minha senha e nome de usuário normal. Não sei o que se passa, mas sou eu na mesma!!!
Isabel Maia.13/06/2005 às 16:29 #75961Miguel (admin)MestreGostaria de sugerir ao Miguel Duclós colocar textos explicativos sobre desconstrução, metafísica da presença e outros conceitos relevantes da filosofia derridiana.
Eu mesmo me considero ignorante à respeito de Jacques Derrida…
01/07/2005 às 16:25 #75962Miguel (admin)MestreDiferenças entre a filosofia contemporânea e a filosofia tradicional (clássica/moderna)
A única diferença é que, na filosofia contemporânea, a consciência é tratada, sempre e sem exceções, como falácia. Ou seja, não se trata de desvelar a essência a partir da refutação das aparências.
O saber, por mais objetivo que seja, está sempre inserido num contexto falacioso, portanto, a ênfase deixa de ser dada ao saber sobre o que realmente existe e passa a ser dada a “o que não se quer saber”, a “o que se deixou de lado”, a “quais os fatos que deixaram de ser mencionados”, quando as atenções estão voltadas para um objeto.
Um exemplo prático e bastante compreensível é a própria distorção que a filosofia helênica sofreu ao longo do tempo. A filosofia contemporânea, então, trataria de perguntar: o que foi recalcado e por quê? Por que a filosofia helênica precisou ser distorcida???
Embora não tenha sido especificamente isso que Derrida fez, é precisamente isso que ele chama de desconstrução…
01/07/2005 às 16:41 #75963Miguel (admin)MestreÉ uma boa sugestão, Mileto. A minha leitura de Derrida é influenciada pela análise que o Habermas faz dele. Eu tenho pouco contato com esse autor. Nunca li a Gramatologia. Um texto que poderia ser abordado e que exemplifica bem aspectos da teoria de Derrida é “A Farmácia de Platão”.
abs
01/07/2005 às 17:12 #75964Miguel (admin)MestreEu vou começar a ler os livros de Derrida para comentar mais e melhor sobre ele, desde os primeiros até os últimos trabalhos desse filósofo.
No momento, apenas tratei de delinear as linhas básicas para formar um conhecimento geral sobre as idéias de cada autor. Em breve, passarei a me aprofundar mais nos assuntos.
02/07/2005 às 18:28 #75965Miguel (admin)MestreCaro Miguel Duclós,
Têm chegado ao meu conhecimento muitas reclamações sobre a qualidade das traduções dos textos de Platão e Aristóteles. Recentemente, estava tratando do tema Khôra de um livro de Derrida e alguém me disse que a interpretação daquele autor era equivocada. Derrida escreve:
“La ambigüedad declarada por Timeo se manifiesta de otro modo: unas veces la khôra parece no ser ni esto ni aquello, otras veces a la vez esto y aquello. Pero esta alternativa entre la lógica de la exclusión y la de la participación –volveremos extensamente sobre esto- proviene tal vez de una apariencia provisoria y de las coacciones de la retórica, esto es, de alguna inaptitud para nombrar. La khôra parece extraña al orden del “paradigma”, ese modelo inteligible e inmutable. Y sin embargo, “invisible” y sin forma sensible, “participa” de lo inteligible de un modo muy dificultoso, en verdad aporético (aporôtata, 51b). Al menos, agrega Timeo, declarando esto no nos mentiremos, no nos diremos lo falso (ou pseudometha). La prudencia de esta fórmula negativa da que pensar. No mentir, no decir lo falso, ¿es necesariamente decir lo verdadero?”
Mas a crítica à Derrida foi essa:
“Ele pega o “pseudometha” e interpreta como se fosse “não mentir, não dizer o falso” mas nessa frase significa 'não nos enganemos – não podemos nos enganar'. Ora, se não nos enganamos com algo, não é dizer ou reconhecer o que é verdadeiro, separar do que é falso?”
Ora, se a crítica procede, Derrida está enganado. O Khôra de Platão não saí da lógica binária.
Portanto, eu te pergunto: há alguma forma de tirarmos essa dúvida? Você sabe de algum texto de Platão que fale sobre Timeu na internet?
(Mensagem editada por Mike em Julho 02, 2005)
11/07/2005 às 22:40 #75966Miguel (admin)MestreEu acho que já compreendi a situação:
Filósofos, como Derrida, não estão preocupados em fazer leituras fidedignas dos autores mencionados. Ele falava dos textos de outros pensadores como se fosse uma espécie de co-autor.
Ou seja, trata-se de passar uma versão própria sobre as idéias de outros autores ou é apenas a impressão que fica…
14/07/2005 às 15:31 #75967Miguel (admin)MestreÉ bem provável que as palavras empregadas não sejam as corretas, mas se você nem sequer parou pra tentar entender o que o Renan disse, como você pode julgar se o que ele disse está certo ou errado?
Nahuina, eu trouxe essa discussão pra cá com a finalidade de me desvincular daquele tópico, do qual não participarei mais. Como disse anteriormente, o Renan errou por não perceber que essa escolha arbitrária de nomes não levava em consideração as diferenças significativas entre a forma de pensar dos carolas em relação aos filósofos.
Eu não aceito que um autor prefira criar um contexto confuso em sã consciência quando seria mais simples diminuir as chances de ser mal-interpretado…
E mesmo que a palavra empregada seja inadequada esses conceitos (de mais de 2.300 anos ) continuam sendo efêmeros….e acreditar que esses conceitos são universais seria um dogma (segundo a sua definição de dogma)…..
Está errado porque não é um dogma eu dizer banana quando quero que você entenda banana. Isso é o convencionalmente correto. Se eu disser arbitrariamente maçã querendo que você entenda banana, o que é que eu sou?
17/07/2005 às 0:24 #75968Miguel (admin)MestreA desconstrução é sacar mais além. É tentar transcender o circuito do discurso comum, buscando identificar seus vícios velados. É buscar o não-dito sobre o que foi dito. É ler as letrinhas miúdas do documento antes de assiná-lo…
23/07/2005 às 2:44 #75969Miguel (admin)MestreAlan Sokal e Jean Bricmont são dois pedantes que escreveram um livro chamado Imposturas Intelectuais, atacando Jacques Derrida, Jacques Lacan, Kurt Gödel e outros bons filósofos. Eles criticam a flexibilidade retórica e a liberdade metafórica desses pensadores como se a linguagem fosse algo muito racional, como se o pensamento lógico fosse obrigatoriamente formal.
Pra acabar com essa hipocrisia toda, já vou logo declarando que a linguagem não foi feita pra comunicar. Pode até ter contribuído para a nossa existência como espécie, mas é péssima para comunicar e para descrever o real!
Quanto ao termo razão, não importa qual significado você encontre nos livros, ela estará sempre associada ao que Derrida chamou de logocentrismo. Os filósofos ocidentais conferiram uma primazia assombrosa à racionalidade humana e à consciência, sustentando uma ilusão racionalista sobre o alcance da linguagem, alienando-se da natureza obscura e surreal do inconsciente. E, no entanto, acontece que, de vez em quando, o racionalismo falha, o empirismo falha, o racional-empirismo falha, além de que nem todos os fenômenos podem ser comprovados empiricamente e, também, existem os princípios de incerteza, os paradoxos insolúveis, o caos para além da teoria do caos e por aí vai…
27/06/2012 às 21:49 #75970MonstrinhoMembroAlan Sokal e Jean Bricmont são dois pedantes que escreveram um livro chamado Imposturas Intelectuais, atacando Jacques Derrida, Jacques Lacan, Kurt Gödel e outros bons filósofos. Eles criticam a flexibilidade retórica e a liberdade metafórica desses pensadores como se a linguagem fosse algo muito racional, como se o pensamento lógico fosse obrigatoriamente formal. Pra acabar com essa hipocrisia toda, já vou logo declarando que a linguagem não foi feita pra comunicar. Pode até ter contribuído para a nossa existência como espécie, mas é péssima para comunicar e para descrever o real! Quanto ao termo razão, não importa qual significado você encontre nos livros, ela estará sempre associada ao que Derrida chamou de logocentrismo. Os filósofos ocidentais conferiram uma primazia assombrosa à racionalidade humana e à consciência, sustentando uma ilusão racionalista sobre o alcance da linguagem, alienando-se da natureza obscura e surreal do inconsciente. E, no entanto, acontece que, de vez em quando, o racionalismo falha, o empirismo falha, o racional-empirismo falha, além de que nem todos os fenômenos podem ser comprovados empiricamente e, também, existem os princípios de incerteza, os paradoxos insolúveis, o caos para além da teoria do caos e por aí vai...
Esse assunto é muito fascinante! Eu também não li a "Gramatologia" do Derrida, mas sei que ele é um filósofo muito importante no contexto da chamada Filosofia Pós-moderna. Outros já vinham fazendo esse estudo anteriormente, como é o caso do Foucualt, em "As Palavras e as Coisas", onde ele mostra - no século XVI - a estreita relação entre signo e significado, em que, não havia a complexidade da linguagem tal como conhecemos hoje. Segundo Derrida, a distância hoje tida entre signo e significado (a coisa significada) propiciou ao universo moderno a construção de identidades, nivelando os objetos reais, com características diferentes, a partir do conceito. Assim, todas as cadeiras se tornam iguais perante o conceito, o signo. Na ciência, todas as peras e maçãs se tornam iguais ante a força da gravidade, pois, o poderoso simbolismo matemático (o signo) retira a personalidade dos fenômenos de modo que a identidade entre uma maçã sendo atraída para o centro da Terra e uma galáxia sendo atraída pelo poderoso centro gravitacional do aglomerado galáctico, torna-se a mesma, única. Assim, o signo constrói a realidade, nomina as coisas, mas não como elas são e sim a partir da própria lógica da razão simbólica. A partir daí Derrida irá estender o conceito de identidade ao plano social, cultural e político: a linha de produção, igualmente, não leva em conta as diferentes personalidades dos indivíduos, mas faz com que estes pratiquem movimentos, gestos e ações idênticos no plano do trabalho industrial. Assim também, a identidade suprime, a partir do signo, as diferenças entre culturas. Na crítica ao Logocentrismo, Derrida explica que a razão só logra percepcionar (ou construir? ::)) a realidade através do pensamento, e dessa forma, a "identidade primária" a partir da qual é criada a "identidade universal", é advinda da lógica da razão e do discurso filosófico e científico. Por isso mesmo, Derrida opera a crítica ao discurso filosófico ocidental que se auto-denomina o enunciador de uma lógica possível para toda a sociedade, incluindo sociedades primitivas e de roldão, subjulgando aspectos tidos como irracionais como a poesia, a arte "não-oficial", as minorias e seu modo de pensar e as formas de política alternativas.Na crítica de Derrida, os conceitos dominantes a partir do qual o discurso filosófico impõe a sua lógica são palavras de ordem como Sociedade, Progresso, Ciência, Trabalho, Pátria, Deus, Organização, Produção, em detrimento de categorias da alteridade, como sociedades primitivas, sexualidade, medicina alternativa, etc. Com isso, Derrida opera a desconstrução - que não significa destruição - do discurso filosófico, abrindo caminho para a Pós-modernidade que se caracteriza como o fim dos grandes discursos, e o questionamento daqueles conceitos maiúsculos tidos como valores e instituições inquestionáveis e intocáveis, ensejando a grande crítica, operada hoje por antropólogos e sociólogos, da cultura dominante ocidental. Ou seja, o discurso filosófico bem como os valores e instituições ocidentais, ficam sob suspeita.Não sei se contribuiu aí para o debate... ::)
27/06/2012 às 22:15 #75971MonstrinhoMembroA desconstrução é sacar mais além. É tentar transcender o circuito do discurso comum, buscando identificar seus vícios velados. É buscar o não-dito sobre o que foi dito. É ler as letrinhas miúdas do documento antes de assiná-lo...
Nesse contexto, a crítica de Derrida ao discurso filosófico oficial é a expressão mais ambiciosa do discurso pós-moderno, pelo menos no âmbito da crítica sociológica? ::)
27/06/2012 às 22:42 #75972MonstrinhoMembroPra acabar com essa hipocrisia toda, já vou logo declarando que a linguagem não foi feita pra comunicar. Pode até ter contribuído para a nossa existência como espécie, mas é péssima para comunicar e para descrever o real!
Muito bom... muito bom! Pena que o Mileto parou de postar! Esse é o pressuposto das várias correntes da Filosofia Oriental - Zen e Vedanta, para falar das duas mais famosas: "O conceito não é a coisa". Essa frase, essa idéia vem desde Krishna e Buda a Krishnamurti no século XIX. Será que a Filosofia Oriental não poderia "contribuir" nesse debate? Essa "contribuição" (lógico que é uma ironia ;D) traduziria-se em RE-descobertas de algo que já se sabia desde há milênios atrás... Nesse sentido, Derrida e os demais filósofos pós-modernos não inventaram nada, mas apenas descobriram... ::) ;) Dêem uma espiadinha... http://mascarasdedeus.blogspot.com.br/
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