Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › Qual é o sentido da vida? › A questão da ESSÊNCIA: "Eu sou o que sou"
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23/06/2004 às 1:25 #70139Miguel (admin)Mestre
Achei que valeria a pena começar um novo tópico dedicado à discussão dessa pergunta interessante proposta por 'confidencial' no tópico 'O EU':
“Somos alguma coisa fixa ou somos uma metamorfose ambulante, existe alguma essencia, ou algo que não muda em nos?”
Boa pergunta.
A questão da essência é muito interessante. Essa essência realmente existe em nós e é imutável, é ela que determina a consciência… Pense nisso, se você fosse “um milímetro” diferente de quem você é, você simplesmente não existiria, existiria outra pessoa, parecida com você, mas que não seria você, e não sendo você a consciência seria outra.Existe uma frase que muitos gostam “Eu sou o que sou”, porém ninguém entende o que realmente existe por trás de tal frase.
Veja só: “Eu sou o que eu sou”.
Dois Eu's.
Mas será que nós temos duas pessoas dentro de nós?
Claro que não, então o que é o primeiro 'Eu' e o que é o segundo?Bem, primeiro nós precisamos analisar a frase que seria oposta a essa “Eu não sou o que sou”. Daí nós identificamos que o primeiro 'Eu' só pode ser algo mutável e o segundo algo imutável.
O primeiro seria a alma/mente e o segundo seria a essência.
Olha só… se nós invertermos a sentença nós obteremos a mesma frase, porém será uma frase totalmente ilógica. “Eu sou o que eu sou”, sendo o primeiro 'Eu' capaz de ser somente o que ele é, dizer que ele sempre será aquilo que o segundo 'Eu' é, que é mutável, é algo absurdo. A não ser que a pessoa realmente seja o que ela é, então a frase reversa seria perfeitamente correta.
A verdade é que essa famosa frase é dita pela maioria das pessoas num impulso de vaidade; elas nem sequer entendem o que estão falando. Então quando as pessoas dizem “Eu sou o que sou” elas estão muito mais próximas de estarem expressando a frase reversa do que a original, uma vez que auto-conhecimento para elas é “coisa de filósofo”, besteira intelectual.
23/06/2004 às 6:58 #78422Miguel (admin)MestreConcordo. Mas a frase dita de qualquer maneira, teria um significado oculto.
Esse significado apareceria ao perguntarmos o que é o “ser” da frase???
Qual seria o ser dessa frase?
“Eu sou o que sou?” ou “Eu não sou o que sou”.
Para saber se sou algo ou não tenho que saber o que significa o ser.
Acho que fui muito redundante, mas espero que você tenha entendido minha pergunta.
Um abraço.23/06/2004 às 17:49 #78423Miguel (admin)MestreEu entendi a pergunta.
Essa análise também pode acrescentar muito ao entendimento da frase.O primeiro 'ser' também seria mutável, e o segundo 'ser' também imutável. Então o 2º 'ser' significaria aquilo que É o mesmo algo ontem, hoje e amanhã; e o 1º 'ser' aquilo que FOI algo ontem, É outro algo hoje, e SERÁ outro algo amanhã.
Então nós concluímos que:
Essência = intemporal e constante.
Alma/Mente = temporal e variável.Agora nós perguntamos: Há como alguém existir SENDO somente essência ou SENDO somente alma?
Essência + alma se completam formando 1 ÚNICO SER. A sua essência sozinha NÃO É, e a sua alma sozinha NÃO É.
A alma seria aquilo que dá vida à essência. Já a essência seria o fundamento da alma, aquilo que faz a vida possível, “o pai da alma”, a personalidade do pensamento e do sentimento, e portanto a consciência da alma.
Cristo era o Logos de Deus encarnado, a própria Alma de Deus.
Eu vou tirar umas coisas da Bíblia em inglês que eu tenho no pc aqui pra demonstrar uma coisa legal, to com preguiça de transcrever da convencional, heheh:
“For the Father judgeth no man, but hath committed all judgment unto the Son: “
John 5:22Aqui Jesus diz que o Pai não julga a ninguém, mas entregou todo juízo ao Filho. E essa é uma frase científica, na qual ele diz que a essência de Deus(Pai) não julga a ninguém, quem julga é sua mente/alma (Filho).
SER então significaria EXISTIR em forma de VIDA, isto é, PENSANDO e SENTINDO, e para que alguém pense e sinta, primeiro é necessário que esse alguém exista, e este alguém é exatamente a essência, a personalidade que determina a consciência do ser.
15/06/2005 às 4:35 #78424Miguel (admin)MestreNao existe essencia alguma…e antes de surgirem nós os seres humanos???Tudo era apenas tudo..a flor era apenas uma flor..nascia, vivia e morria..daí surgiu o ser humano com seu romantismo..para analisar q a flor é bela,linda q se abre lentamente e se alegra com água.
As coisas acontecem pq tem q acontecerem.15/06/2005 às 14:26 #78425Miguel (admin)MestreNao existe essencia alguma…e antes de surgirem nós os seres humanos???
A questão não é essa.
a flor era apenas uma flor..nascia, vivia e morria
E por que a flor era uma flor? E por que o era nessa frase? Depois ela não é mais? A flor é flor no nascimento, no crescimento e continuará sendo flor na morte? O que faz com que a flor seja flor apesar de todas as diferenças nesse processo?
daí surgiu o ser humano com seu romantismo..para analisar q a flor é bela,linda q se abre lentamente e se alegra com água.
A questão não é essa.
As coisas acontecem pq tem q acontecerem.
Mas os filósofos não se contentam com esse senso comum. As coisas não acontecem somente pq tem que acontecer. Tudo acontece diferente. E o que significa acontecer? …mas essa também não é a questão.
[]'s
16/06/2005 às 3:43 #78426Miguel (admin)Mestre>Mas os filósofos não se contentam com esse senso comum…< Os filósofos não constituem a espinha dorsal da humanidade..
Não só os filosofos como tambem o carpinteiro o pedreiro, o padeiro, o açougueiro, o cientista constituem..
A fIlosofia não está no trono..
Digo ACONTECER no sentido inevitável..como a flor crescendo, desabrochando e morrendo..ou vc quer agir contra o natural e nao deixar a linda florzinha morrer?..como Jesus ressucitando!!..um ridículo acontecimento antinaturalista..q acaba quebrando toda essa ESSENCIA..16/06/2005 às 12:49 #78427Miguel (admin)Mestre“A filosofia não está no trono”
o carpinteiro o pedreiro, o padeiro, o açougueiro…
…não são o objetivo principal desse site!
um ridículo acontecimento antinaturalista..q acaba quebrando toda essa ESSENCIA.
E antes vc havia digo que não existia essencia alguma.
Quanto a “essência linda florzinha desabrochando”, parece propaganda de bombom lacta ou poderia figurar em livros de auto-ajuda. Enfim, coisa para boi dormir, ou para encantar caderninhos de jovens e lindas adolescentes enamoradas.
A poesia tem lugar como poesia.
A filosofia não está no trono.
Talvez tenhamos escolhido então compor a realeza e não a “plebe”.
um ridículo acontecimento antinaturalista..q acaba quebrando toda essa ESSENCIA
Estranho ler isso de quem antes defendia Daniken em outra lista. Quer coisa mais “antinatural” do que parque de diversões para ET's?
Abraço.
16/06/2005 às 14:38 #78428Miguel (admin)MestreEstá engraçada essa discussão, hehe…
Bem resmungos à parte, temos que definir o conceito de essência. Para depois tentarmos pretensamente tratar da frase “sou o eu sou”, que a meu ver é uma incógnita redundante, e com um pressuposto existencial muito forte.
A essência na filosofia antiga e medieval era o natureza propriamente dita. Com Aristóteles, concebeu-se a essência sob uma forma de realismo e com Platão sob uma forma de idealismo, mas ambos explicavam com suas teoria a existência “em si da natureza”, tudo bem, para Platão o mundo físico é enganoso, mas através da libertação do mesmo podemos vir a conhecer a essência das coisas. Ou seja a essência supostamente estava sob o domínio desse pensamento.
Essencialmente metafísico veio a ponto de vista cartesiano de essência: o cogito. O eu penso de Descartes dava certezas por causa do criador, não poderia haver um deus enganoso para ele, e portanto não estaria escondida a essência, e sim ao alcance daquele que faz uso correto do método.
Depois da crítica de Hume às certezas metafísicas e também empíricas (causalidade), Kant definiu a distinção de dois mundos, o dos fenômeno, que seria a realidade intuida pela sensibilidade, e o númeno, onde existe “a coisa em si”, a essência que podemos pensar, mas não conhecer. Descartou-se assim a possibilidade de ter acesso à fundamentação de o que seja a essência.
Pensadores mais artísticos e que atingiram o âmago, o estado bruto da condição humana, foram Schopenhauer e Nietzsche. Por que digo “estado bruto”?
Para Schopenhauer a “coisa em si” de Kant, a essência, era a vontade, e como era ela responsável pelo sofrimento humano, deveria ser anulada. Para Nietzsche era o contrário, a vontade era o que fazia o humano primeiramente humano, mas depois poderia fazê-lo superar tal condição. Nietzsche demonstra além disso que existe o espírito dionisíaco em que a essência do ser humano se faz sentir através do coro, da arte e da celebração à vida.
Vêm então Heidegger querendo fazer uma volta, assim como Nietzsche, ao pensamento primordial grego, que não estava corrompido pela metafísica e era puramente ontológico. Pergunta então Heidegger: Qual é a essência do ser?
Faz a distinção de ôntico (ente) e ontológico (ser).Bem fiz tal explanação para que nos situemos no legado dos seres humanos precedentes à nós, e podemos defender nossas argumentações demonstrando o que seria em nossa concepção a essência. Há pano para manga, e creio que sairá um bom diálogo.
Abraços à todos, não escrevi minha concepção de essência pq tenho que ir almoçar. mas escreverei novamente.
CUIDADO COM O CAMINHÃO AZUL17/06/2005 às 2:31 #78429nahuinaMembroDuas mulheres conversando:
Estou mais perto do fim da minha vida do que jamais estive…
mas sinto, mais do que nunca, que tenho todo o tempo do mundo.
Quando era mais jovem, havia necessidade de… certeza. Eu precisava chegar ao fim do caminho.
– Sei o que quer dizer. Eu me lembro que pensava…
“Um dia, aos 30 e poucos anos, talvez, tudo irá, de algum modo, se acomodar, parar. Simplesmente acabar.”
É como se houvesse um platô…
me esperando. Eu estava escalando. Quando eu chegasse ao topo, todo crescimento e toda mudança parariam. Até a excitação cessaria.
– Mas isso não aconteceu, ainda bem.
– Na juventude, não levamos em conta a nossa curiosidade. Isso é que é incrível de sermos humanos.
– Sabe o que Benedict Anderson diz sobre a identidade? Ele fala sobre, digamos, uma foto de bebê. Você pega uma imagem bidimensional e diz: “Sou eu” .
Para ligar o bebê dessa imagem estranha a você, no presente, é preciso criar uma história.
“Esta sou eu quando tinha 1 ano. Depois, tive cabelos compridos e depois nos mudamos para Riverdale, e aqui estou.”
Então, a história necessária é, na verdade, uma ficção para tornar você e o bebê idênticos.
– Para criar sua identidade.
– O engraçado é que nossas células se regeneram totalmente a cada sete anos.
Já fomos várias pessoas diferentes.E, no entanto, sempre permanecemos
sendo, em essência, nós mesmosRichard Linklater
17/06/2005 às 3:40 #78430Miguel (admin)Mestreé..axu q o pilgrim nao captou o q eu queria dizer..é preciso mostrar expressão do meu rosto para demonstrar meu sarcasmo?
o carpinteiro o pedreiro, o padeiro, o açougueiro…
…não são o objetivo principal desse site!
sem eles nao haveria uma outra maneira de pensar..nao haveria a filosofia..ja pensou se o mundo fosse um amontoado de filósofos!!
nada seria maior ou menor..nada seria mau ou bom..um ridículo acontecimento antinaturalista..q acaba quebrando toda essa ESSENCIA.
E antes vc havia digo que não existia essencia alguma.
pois agi com sarcasmo..ate sublinhei a palavra essencia para ajudar na interpretaçao..(mas vi q nao adiantou).Quanto a “essência linda florzinha desabrochando”, parece propaganda de bombom lacta ou poderia figurar em livros de auto-ajuda. Enfim, coisa para boi dormir, ou para encantar caderninhos de jovens e lindas adolescentes enamoradas.
Pois é isso q venho tentando dizer..q é puro fruto de nosso romantismo inevitável..essa maneira de falar observando os detalhes minuciosos..Estranho ler isso de quem antes defendia Daniken em outra lista. Quer coisa mais “antinatural” do que parque de diversões para ET's?
Nao é simples assim dizer sobre isso..não é simples quanto a sua maneira de banalisar este assunto..17/06/2005 às 14:46 #78431Miguel (admin)MestreO trecho que o Nahuina cita é do filme Walking Life. O diálogo das duas mulheres é realmente bastante inteligente e remete à distinção heideggeriana entre o Ser (Das Sein) e o Ente (Das Seiende).
Mas o fato de o ser humano ser um Ente, não quer dizer que não haja a essência humana. Só que ela é um Ser-em-si e, não, um Ser-para-si como disse Sartre.
A essência é tudo o que caracteriza o Ser e não engloba seus acidentes. A fala, que não se reduz ao ato de emitir som, mas é fenômeno decorrente da existência do inconsciente estruturado como uma linguagem, por exemplo, é uma característica que compõe a essência humana (O ser humano é essencialmente um Ser pulsional e, não, instintivo).
Em suma, a essência humana não é algo definível por um punhado limitado de palavras (metafísica da presença), mas ela existe impreterivelmente à existência, ao Ente. Caso contrário, não poderíamos sequer distinguir uma pessoa de um cachorro…
17/06/2005 às 18:14 #78432Miguel (admin)Mestre– Sabe o que Benedict Anderson diz sobre a identidade? Ele fala sobre, digamos, uma foto de bebê. Você pega uma imagem bidimensional e diz: “Sou eu” .
Para ligar o bebê dessa imagem estranha a você, no presente, é preciso criar uma história.
“Esta sou eu quando tinha 1 ano. Depois, tive cabelos compridos e depois nos mudamos para Riverdale, e aqui estou.”
Então, a história necessária é, na verdade, uma ficção para tornar você e o bebê idênticos.
– Para criar sua identidade.
– O engraçado é que nossas células se regeneram totalmente a cada sete anos.
Já fomos várias pessoas diferentes. E, no entanto, sempre permanecemos sendo, em essência, nós mesmos…(Do filme Walking Life.)
__________________________________________________É possível que uma pessoa mude tanto que, no final, acabe se transformando num outro radicalmente diferente e que só tenha em comum o nome e algumas recordações. E que, ainda assim, acredite ser o mesmo, quando nem as células de seu corpo são as mesmas…
__________________________________________________
25/07/2006 às 10:05 #78433ZMembroEste tópico discute a essência segundo o campo lexical. Podemos discutir e procurar a mais correcta hierarquia de ente, ser, essência e existência, mas todos estes termos estão ligados pelas causas que precedem à criação do objecto e pelas consequências que advêm do seu surgimento. A permanência é coisa que não existe, um objecto, independentemente de ser um ente, um ser, uma ideia ou um conceito, está sempre em mutação, sempre a recriar-se, deixando para trás a marca do que era e impondo a marca do que é. Tudo é diferente consoante a "visão", a interpretação e os factores que o tentarem explorar. Assim, nada é o que é, tudo é nada e apenas existe o historial que fará sempre parte da constante génese universal.Vislumbro neste momento a visão d eum buraco negro, dois cones unidos pelo vértice, em que a união representa o significado destes 4 termos; um cone representa as causas, as origens, as relações anteriores à existência, e o outro cone representa as consequências e as relações à posteriori da criação própria. O segundo cone representa parte de um outro primeiro cone e por aí adiante. Cada conjunto, interligado com todos os outros, representa uma mera marca no espaço temporal, que se julga infinito...Este princípio de que a questão da essência é a convergência das causas e consequências na criação, reduz a importância do significado para o presente, e aumenta o valor histórico do "surgimento".cumps ;)
23/03/2011 às 17:53 #78434AcáciaMembroQue proveito há no existencialismo sem a essência do que somos? E a essência do que sou faz sentido sem a percepção de minha existência?
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