Da "a priori" e da "posteriori"

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  • #70086

    Todas as análises feitas partindo do iludido Descartes em que ele afirma por imprudência intelectual que a idéia de um Deus é uma idéia “ináta” a razão humana, é ser demasiadamente iludido. O único dessa corrente filosófica a ter uma grande visão e uma conciência “normal” se chama Hume, que teve por muitos uma filosofia digna de Lord. Kant por sua vez, foi muito consciente e prudente, mas pecou quando ele afirma que a matemática,o espaço e o tempo são a priori sendo que nada pode ser a priori, pois sem o s sentidos não somos humanos e até então todos esses conceitos seriam absolutamente vento, ou seja, nada. Concordo com um termo voltado mais para “lógica-perceptiva”}

    #77970

    Podemos afirmar que se a matemática não é considerada a priori, ou seja , nada é considerado ináto a razão se despojarmos do nossos sentidos, podemos afirmar que a matemática é um conceito e logo, uma percpção, bem como a geometria e o método emprírico da física.

    #77971

    Olá Gustavo.

    O que seria uma filosofia “digna de Lord”? A filosofia, ao seu ver, é uma atividade essencialmente aristocrática?

    É interessante a sua receptividade a essa questão, que é bastante complexa. Gostaria que você relatasse os passos que o levam a afirmar que “sem os sentidos, não somos humanos”. Ou qual seria a essência do humano? O que não pode ser tirado dos homens, sem que o homem deixe de sê-lo, são os sentidos?

    Os conceitos classicamente não são considerados uma percepção, não entendo esse “logo”. Os conceitos de contrapõe ao sentido, já que o conceito é algo pensado e não algo imediato aos sentidos.

    Kant coloca como inatos o tempo e o espaço, você sabe, porque toda a percepção de fenômenos vai se dar dentro do espaço, tempo. Já a matemática não remeteria aos sentidos porque é uma mera junção de conceitos, que não precisam remeter aos sentidos, na sua lógica interna. Partindo de um axioma eu posso montar um sistema matemático sem que haja nenhum correlato no mundo, pois as coisas serão assim por definição. Ou seja, a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a dois retos mesmo que não haja nenhum triângulo no mundo, afinal as coisas sâo assim por definição.

    Mas essa discussão toda é interessante, gostaria que você falasse mais como foi levado a ir para um ponto de vista, quais autores o influenciaram.

    #77972

    Acredito, fidedignamente, que a partir da premissa cartesiana do “penso, logo existo” não poderemos obter uma resposta satisfatória. De toda sorte, vale explicar o caminho do cogito. Descartes começa negando tudo, e isso o coloca no estado da completa incerteza. CONSCIENTE de sua incerteza completa, de suas dúvidas, Descartes tem o estalo de que ele mesmo é quem dúvida, ele mesmo é quem pensa e quem põe em dúvida sua existência bem como a existência de tudo o mais. Nesse sentido, quando descobre existir um “eu” (penso, logo sou), continua problematizada a questão do “não-sou”. Para mim, a nebulosa cartesiana está na sua prova da existência de Deus, da qual, ele infere que, sendo Deus bom e justo, não seria o gênio maligno querendo brincar conosco, ou seja, a realidade é REAL porque Deus não é cruel (basicamente isso). Essa é a base cartesiana. Pensar a questão das máquinas fundado no pensamento cartesiano é praticamente impossível. Isso porque as premissas cartesianas são equivocadas. Não quero nem desenvolver muito problema, só gostaria que pensassem o seguinte: se eu construísse um robô agora, desse inteligência a ele, “bom senso” (possível isto?) ele seria humano? NÃO. Porque falta o principal a ele: ser sujeito-no-mundo. Nós não somos simplesmente o que pensamos ou o que intuímos: somos seres-no-mundo, isto é, sujeitos históricos, com compreensão construída mediante nossa tradição, nossa comunidade linguística, mediante nossas experiências, vivências particulares. Não existe um mundo completamente real exterior a nós; existem vários mundos, isto é, mundos de cada um. E cada um não poderia ser o que é baseado apenas no conteúdo de sua consciência. Somos também gosto, cheiro, sabor, experiências diretas que experimentamos (desculpe a redundância) de maneira particular. Como pensar num robô que não teve infância? Que não teve a carência do leite materno? Que não desenvolveu gradativamente a sua compreensão? Que não passou pelo trauma do primeiro “NÃO”? A idéia de um “robô humano” deve ser muito criteriosa, isto é, seria necessária a reprodução em diversas escalas das possibilidades de experimentação humana. Então, “penso, logo existo” responde isso? Não, essa pergunta já deriva de uma visão excessivamente racionalista, que não é capaz de apresentar (ou representar, para alguns) as nossas demandas filosóficas.

    #77973

    Para Gustavo…

    Não me parece nem um pouco absurda a concepção a priorística kantiana do tempo e do espaço. Seu raciocínio é perfeitamente construído, sendo que de fato é impossível abstrairmos completamente o tempo e o espaço. O grande detalhe de Kant, ao meu ver, não está no fenômeno, mas no noumenon, esta coisa-em-si impassível de ser conhecida. Para tanto, Kant é forçado a afirmar que o sujeito representa a realidade de acordo com certas categorias, captando, portanto, somente os fenômenos. No fim, se você for um existencialista ferrenho ou um fenomenólogo (que geralmente criticam muito Kant e gostam de Hume), deve perceber que a própria noção de espaço é construída pelo homem mediante seu próprio corpo. Trocando em miúdos, tanto faz pensar que o tempo e o espaço são a priorísticos ou são noções construídas através de nossa experiência no mundo: o resultado é que não podemos abstrair o tempo nem o espaço. A meu ver, Kant abre perspectivas mais promissoras no tocante à ciência, pois, se há um mundo-em-si, uma razão que determina os fenômenos, podemos perfeitamente pensar que outras razões vislumbrariam outros fenômenos. Pensar: “como seria o mundo em cinco, seis, sete dimensões, se tívessemos capacidade de percebê-las?”…. Acho BASTANTE razoável afirmar a razão ter certa natureza e, quem sabe até, certos “vícios”. Talvez o tempo e o espaço sejam muito mais vícios desta razão do que propriamente noções oriundas de nossa experiência enquanto seres-no-mundo. De toda sorte, repito: por uma razão ou por outra, é impossível abstrair tempo e espaço.

    #77974

    Nesse sentido, quando descobre existir um “eu” (penso, logo sou), continua problematizada a questão do “não-sou”.

    Não há garantias de que o ego seja puramente real. Ele mesmo é objeto de percepção e, portanto, passível de engano das aparências. O sujeito real está sempre no mais além da percepção, é um Ser-em-si.

    Para mim, a nebulosa cartesiana está na sua prova da existência de Deus, da qual, ele infere que, sendo Deus bom e justo, não seria o gênio maligno querendo brincar conosco, ou seja, a realidade é REAL porque Deus não é cruel (basicamente isso).

    Essa atribuição de predicado é um mero subjetivismo. Mesmo que o real de cada um fosse a própria realidade em todos os aspectos, isso não garantiria a inexistência de crueldade.

    Mas, mesmo havendo uma possível objetividade, com a garantia de consensos, ainda assim, as pessoas se enganam e se iludem bastante quanto ao real da realidade.

    #77975

    .

    Não quero nem desenvolver muito problema, só gostaria que pensassem o seguinte: se eu construísse um robô agora, desse inteligência a ele, “bom senso” (possível isto?) ele seria humano? NÃO. Porque falta o principal a ele: ser sujeito-no-mundo. Nós não somos simplesmente o que pensamos ou o que intuímos: somos seres-no-mundo, isto é, sujeitos históricos, com compreensão construída mediante nossa tradição, nossa comunidade linguística, mediante nossas experiências, vivências particulares. Não existe um mundo completamente real exterior a nós; existem vários mundos, isto é, mundos de cada um.

    Essa sua observação sobre a subjetividade aproxima-se muito da minha maneira de pensar.
    Acredito que não haja garantias para se poder afirmar que exista uma única realidade, mas, apenas, uma certa necessidade lógica.

    Por isso, o exemplo do daltonismo é importante: a garrafa é verde ou vermelha? Quem está mentindo?
    Ou ambos dizem a verdade? Onde fica o princípio da não-contradição?

    A consciência não pode ser a percepção de um mundo completamente real.

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    #77976
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    Membro

    Somos também gosto, cheiro, sabor, experiências diretas que experimentamos (desculpe a redundância) de maneira particular. Como pensar num robô que não teve infância? Que não teve a carência do leite materno? Que não desenvolveu gradativamente a sua compreensão? Que não passou pelo trauma do primeiro “NÃO?Entao segundo o teu raciocino, um eventual clone Humano, nao seria um ser humano, ja que se um clone viesse ao mundo com a mesma idade do seu conjénere, nao teria passado. 

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