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10/03/2006 às 11:58 #70383felixmailMembro
Preciso de apresentar um seminário e gostaria de uma explicação sobre dialética ascendente e descendente.Obrigado
24/03/2006 às 21:45 #81340Miguel DuclósMembroFelixA dialética é um desses conceitos de filosofia que toma diversas acepções ao longo da história e dependendo do autor. Por isso, para se ambientar, é recomendável você ler o verbete dialética de alguns bons dicionários de filosofia: Ferrater Mora, Lalande, Abbagnano.No contexto grego, platônico, a dialética é uma palavra que está na mesma raiz da palavra diálogo. Era um 'jogo' de perguntas e respostas que, segundo os comentadores, era praticado em toda a sociedade ateniense, desde a marcenaria e medicina até a filosofia.No método socrático, a dialética é fundamental. É o percurso das perguntas e respostas entre dois interlocutores, normalmente um mestre e um discípulo em que se propõe uma "tese" (ato de colocar um existente no mundo). A investigação consiste em uma proposta para um objetivo que é asserida ou não pelo interlocutor. Uma vez admitido um passo da dialética, é necessário também admitir suas implicações e consequências, por mais absurdas que elas possam parecer. Se, nesse percurso, se verificar um erro, é necessário voltar na cadeia de argumentação até indentificá-lo e aí prosseguir. Os diálogos platônicos são dialéticos, como você pode verificar na leitura. Geralmente Sócrates está desmontando uma hipótese de algum interlocutor ou propondo ele mesmo provar sua visão, sua hipótese.Mais do que isso, a dialética ascendente é assim chamada porque ocupa lugar central na metafísica platônica. Isso se verifica na República. Através da dialética, o filósofo pode se desligar do mundo sensível e partir para o inteligível (noeisis), numa ascese que permitira a contemplação da idéia. Cito um trecho da da República na edição da Calouste:"O método da dialética é o único que procede, por meio da destruição de hipóteses, a caminho do autêntico princípio, a fim de tornar seguros seus resultados, e que realmente arrasta aos poucos os olhos da alma da espécie de lodo bárbaro em que está atolada e eleva-os às alturas, utilizando como auxiliares para ajudar a conduzir as artes que analisamos." (VII - 533 c-d)Essa ascese é a dialética ascendente que se dá por etapas, por degraus, desde conhecimento sensível até o vislumbre das Formas, que não são transitórias, mas eternas. Isso é explicado na alegoria da caverna.Mas o filósofo, uma vez que se liva dos grilhões e contempla a fonte do Bem, ao invés de viver nesse estado contemplativo, se vê obrigado a voltar e tentar alertar seus iguais, seus companheiros, ainda acorrentados. Se a dialética ascendente é metafísica, a dialética "descendente" é política. A tarefa política do filósofo, que é tratada na República, é justamente tentar criar, no mundo sensível, uma polis que esteja de acordo com o Bem. O diálogo começa na conjecturação de como seria uma cidade justa. Os diálogos-chave para essa "obrigação" do filósoso, além da República, são o Críton e o Protágoras.
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