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28/04/2007 às 9:28 #70672NunoMembro
Estou a fazer um seminário sobre Descartes… confesso que tenho pouca vocação para a filosofia… mas a cadeira tem que ser feita… estou muito atrapalhado e o prazo está a ficar cada vez mais apertado.Pré-Compreensão filosófica de Deus em Descartes?? Quem me pode ajudar? Ja li e nao compreendo nada! Pré-Compreensão... deus da filosofia envia-me uma luz por favor...Fico a aguardar alguma mensagem... O meu mail é o seguinte: [email protected]Deste ja o meu obrigado! Um Abraço! Help!
28/04/2007 às 13:34 #85056Miguel DuclósMembroOláO movimento que passa do cogito para a realidade de Deus é dado na terceira meditação metafísica. Grosso modo, diz-se que à idéia de Deus em mim corresponde a realidade de Deus, é a questão da marca do artista em sua obra... o homem, ser finito, é capaz de conceber o que seja infinito. A bondade de Deus também é importante para garantir a veracidade desse movimento que dá existência para o mundo fora do sujeito e afastar a hipótese do Deus Enganador levantada durante o percurso do cogito, na primeita meditação.Abaixo o scan (não revisado) do verbete "Deus" e "Deus Enganador" do Dicionário Descartes de John Cottinghan (Zahar Editores, São Paulo)_______________________________________________________________
dilema do Deus enganador Na Primeira Meditação, Descartes, em sua exploração sistemática dos limites da dúvida, apresenta o seguinte dilema: fui ensinado a crer nu existência de uma divindade onipotente. Ou há ou não há um tal ser. Se há, pareci possível que ele me tenha dado exatamente o tipo de natureza que me faz errar "todii vez que somo dois e três ou conto os lados de um quadrado, ou menino em um assunl<> ainda mais simples, se é que se pode imaginá-lo". Se, por outro lado, não há um Deu:, então eu devo minha existência, não a um criador divino, mas a alguma cadeia imperfaltl de eventos do acaso; nesse caso, entretanto, é ainda mais provável que eu seja "imperfeilo ao ponto de ser enganado todo o tempo" (AT VII21: CSM II14). Admitir a possibilidadi de eu estar errado, mesmo no que diz respeito às verdades mais simples da matemátifíi é levar a dúvida aos seus limites últimos (ver CÍRCULO CARTESIANO). Na recapitulaçw1 da discussão, ao final da Primeira Meditação, o Deus enganador reaparece na figura dl um "gênio maligno do maior poder e astúcia". Ver GÊNIO MALIGNO.
Deus Deus desempenha um papel central no sistema filosófico de Descartes. Na validação cartesiana do conhecimento, a existência de um criador perfeito tem que ser demonstrada para que o meditador passe do conhecimento subjetivo isolado de sua própria existência ao conhecimento de outras coisas; o movimento que parte do eu (Segunda Meditação) para o mundo externo (Sexta Meditação) não poderia realizar-se sem a argumentação das Meditações intermediárias, que são, em grande parte, tomadas por uma investigação sobre a existência e a natureza de Deus. Confronte-se a Quinta Meditação: "Vejo claramente que a certeza e a verdade de todo o conhecimento dependem unicamente de meu próprio conhecimento do verdadeiro Deus, de sorte que, antes de conhecê-lo, não fui capaz de saber perfeitamente qualquer outra coisa. Agora, entretanto, é-me possível alcançar o conhecimento certo c completo de inúmeras coisas relativas a Deus e a outras naturezas intelectuais, e também relativas ao todo da natureza corpórea, que é objeto da matemática pura" (AT VII 71: CSM II 49). (Para as provas da existência de Deus que Descartes oferece, com a finalidade de mostrar essa transição, ver ARGUMENTO ONTOLOGICO e MARCA IMPRESSA, ARGUMENTO DA.)O sistema de conhecimento de Descartes depende, por um lado, do poder do intelecto pfirfl discernir a verdade por meio de suas "percepções claras e distintas" e, por outro lado, da resolução tomada pela vontade de ater-se a tais percepções (Quarta Meditação; Ver ERRO). Todo o procedimento pressupõe a "regra da verdade" - "Parece-me que já posso estabelecer como regra geral que tudo aquilo que clara e distintamente percebo é verdadeiro" (Terceira Meditação, AT VII 35: CSMII24). O papel central da divindade para garantir a regra da verdade é um ponto em que Descartes sempre insiste: "se não soubéssemos que tudo o que é real e verdadeiro em nosso interior vem de um ser perfeito e Infinito, então, por mais claras e distintas que fossem nossas percepções, não teríamos, anula assim, motivo para a certeza de que continham em si a perfeição de serem verdadeiras" (Discurso, Parte IV, AT VI39: CSM 1130). O intelecto humano é, em outras palavras, uma das obras criadas por Deus, e, uma vez que Deus é um ser de-suprema perfeição, esse intelecto não pode ser um instrumento intrinsecamente incerto para discernir a verdade. Isso não quer dizer, é claro, que o intelecto humano seja, em si, perfeito: é uma verdade imediatamente evidente o fato de que há muitas coisas por ele Ignoradas (muitas coisas, cpm efeito, que estão completamente fora de nosso alcance; Cf. AT VII 47: CSM II 32). Mas (seguindo a linha de raciocínio convencional na apologética cristã), Descartes observa que tais deficiências são meras ausências ou negações; os poderes positivos (se bem que limitados) que o intelecto de fato possui Originam-se do criador perfeito, sendo portanto confiáveis. "Toda percepção clara e distinta é, decerto, algo.de real e de positivo, e portanto não pode advir do nada, mas assim, necessariamente, ter em Deus o seu autor. Seu autor, eu afirmo, é Deus, que, sendo loberanamente perfeito, não pode ser causa de erro algum, sob pena de contradição; assim, a percepção é sem sombra de dúvida algo verdadeiro" (Quarta Meditação, AT VII 62: CSM II 43). A invocação explícita de Deus como aquele que garante nossas I lercepções claras e distintas levanta, por sua vez, questões sobre como o meditador pode ter a certeza da veracidade das premissas que, antes de mais nada, são necessárias para provar a existência de Deus (para mais informações acerca desse recalcitrante embaraço na epistemologia cartesiana, ver círculo cartesiano).Um paradoxo fundamental, que reside no âmago da metafísica teocêntrica de Descartei, é 0 de que o mesmo ser invocado como garantidor da veracidade e confiabilidade das percepções do intelecto seja, também, como tantas vezes Descartes declara, algo alémde nossa compreensão humana: "Não podemos compreender [comprendre] a grandeza I Ir I leus, mesmo quando o conhecemos [connaissons]" (a Mersenne, 15 de abril de 1630: AT I 145: CSMK 23); "já que Deus é uma causa cujo poder ultrapassa os limites do entendimento humano, e já que a necessidade dessas verdades [as verdades eternas da matemática] não ultrapassa nosso conhecimento, estas verdades são, portanto, algo Inferior ao poder incompreensível de Deus, estando a ele sujeitas" (a Mersenne, 6 de maio do 1630: AT I 150: CSMK 25; cf. VERDADES ETERNAS); "Digo que sei, e não que conceba ou o compreenda, porque é possível saber que Deus é infinito e todo-poderoso ainda que nossa alma, sendo finita, não possa compreendê-lo ou concebê-lo" (a Mersen ne 27 de maio de 1630: ATI 152: CSMK 23), A posição de Descartes nesta e em outras passagens semelhantes é, entretanto, razoavelmente consistente, e baseia-se em uma distinção crucial entre saber e compreender totalmente: "assim como podemos tocar uma montanha, mas não abraçá-la, também compreender uma coisa é abraçá-la em pensamento, ao passo que, para se saber algo é suficiente tocá-lo pelo pensamento" (AT 1152: CSMK 25). As perfeições infinitas de Deus não podem, portanto, ser completamente englobadas ou compreendidas pela mente humana; com efeito, em um certo sentido, a incompreensibilidade é a própria marca do infinito (AT Vil 368: CSMII253). Podemos, no entanto, obter suficiente conhecimento dos atributos divinos para que tenhamos certeza, ao menos, daqueles aspectos da natureza divina que precisam ser estabelecidos para a validação do conhecimento: podemos provar que Deus existe e é veraz (AT VII 70: CSM II48). Por toda a obra metafísica de Descartes, encontramos uma tensão entre o que poderia ser chamado modo racionalista, em que o projeto é tornar inteiramente transparente a estrutura da realidade à luz da razão, e o que poderia ser chamado de modo devocional, em que o meditador humildemente reflete sobre a grandeza da divindade e a fraqueza da mente humana perante a incomparável majestade do criador. Para mais informações acerca da modalidade devocional, ver, especialmente, a "admiração e adoração" expressas no último parágrafo da Terceira Meditação; o tema reaparece nas Primeira? Respostas, em que se diz que deveríamos tentar "não tanto adquirir as perfeições de Deus, mas antes rendermo-nos a elas", (pcrfectiones ... non tam capcre quam ab ipsis capi, AT VII144: CSM II 82).Na física cartesiana, o papel de Deus é bem diferente. O poder criador divino é invocado como a causa última da quantidade de movimento no universo {ver CONSERVAÇÃO), mas, uma vez demonstradas as leis do movimento, quase não se faz mais referência a Deus. Nesse sentido, pode-se dizer que a ciência cartesiana é relativamente "autônoma", em comparação com os sistemas de muitos dos predecessores de Descartes, que invocaram os supostos desígnios da Divindade para explicar os inúmeros detalhes relativos à estrutura e ao funcionamento dos fenômenos naturais. A abordagem cartesiana ao mundo natural é de um firme mecanicismo: os fenômenos são explicados somente com referência ao tamanho, à figura e ao movimento das partículas de matéria, excluindo-se qualquer menção ao desígnio divino, então considerado fora do escopo da ciência propriamente dita {ver CAUSA FINAL).A única área da ciência cartesiana em que se invocam os desígnios de Deus de uma maneira mais direta é a da psicologia humana - área que envolve referências a fenômenos mentais, e não apenas aos materiais, e que portanto escapa, pode-se dizer, ao alcance da física propriamente dita. Quando o sistema nervoso de um ser humano entra em um determinado estado, um determinado tipo de sensação é produzido na mente; há, portanto, uma espécie de "instituição natural" decretada por Deus, pela qual os estados cerebrais despertam os estados sensoriais. Descartes introduz essa idéia em seu Tratado sobre o homem (ver AT XI 143: CSM I 102), desenvolvendó-a ainda mais na Sexta Meditação: "Qualquer movimento dado que ocorra na parte do cérebro que afeta de imediato a mente produz apenas uma sensação correspondente; por conseguinte, a melhor sistemmática Concebível seria a que produzisse aquela sensação que, entre todas as possíveis conduzisse da maneira mais específica e freqüente a preservação do homem saudável. E a experiência nos mostra que as sensações que a natureza nos deu são todas dessa espécie, não se encontrando nelas, desse modo, absolutamente nada que não ateste o poder e a bondade de Deus" (AT VII 87: CSM 1160). O apelo à bondade divina no:, permite, portanto, em um certo sentido, entender como os fenômenos psicológico', ajustam-se ao esquema das coisas, ainda que a natureza qualitativa de tais fenômenos 01 coloque além do alcance da física matemática cartesiana.
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