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01/07/2003 às 18:47 #70085Miguel (admin)Mestre
Tenho refletido a algum tempo sobre a função da fé na mentalidade humana e também sobre seus respectivos resultados no comportamento das pessoas. O assunto é sem dúvida abrangente e admito que minhas opiniões são baseadas em informações obtidas de um pequeno grupo de indivíduos (que pretendo aumentar com este tópico).
Pois bem, levando em conta tal abrangência gostaria de iniciar uma discussão sobre uma das faces deste tema tão complexo: A fé supõe conhecimento absoluto sobre aquilo que acreditamos ter ela em mãos? Afinal, tudo que a fé sugere ter o poder de prover às pessoas é, indubitavelmente, passível de vislumbrar a verdade sobre as coisas?
Pude observar que um expressivo número de indivíduos tiveram como marco inicial de sua adesão à fé a busca por certas verdades de difícil acesso, quando não intangíveis. Me refiro a respostas a dúvidas milenares como a origem do mundo e dos seres (algo reconhecidamente longe de nosso conhecimento atual) e mesmo a perguntas menores como a cura de uma doença qualquer após certo ritual religioso.
Ora, se perguntar é , sem dúvida, inerente à natureza dos seres humanos. As pessoas se questionam sobre os fenômenos que as cercam e empreendem esforços as vezes inacreditáveis na busca pelas respostas a tais lacunas em seu conhecimento. Porém, se as pessoas podem se motivar muito facilmente a procurar certas respostas, tambem parece ser muito fácil se conformar apenas com o conhecimento até então adquirido; a resposta pode até as estar esperando, mas não antes de um penoso caminho de hipóteses, experiêcias e discussões aparentemente intermináveis.
Eis então que surge o Mito, que defino aqui como o “conjunto de determinações que procuram justificar e legitimar sob a luz do sobrenatural aquilo sobre o que o conhecimento de determinada sociedade pode ser julgado insuficiente para explicar”. De fato, o Mito é um recurso muito conveniente para prover respostas a determinada investigação racional quando os indivíduos não estão muito interessados em desgastar-se com esforços consideravelmente grandes.
Reconheço que é possível tomar posições diferentes em relação ao exposto acima sobre a fé, mas creio que este argumento pode ser tomado como uma dentre tantas formas de explicar a defesa de um expressivo numero de pessoas ao objeto em estudo.
Assim sendo, se a crença é capaz de expor grandes respostas com tamanha facilidade, não é de se supor que alguns podem pretender encontrar bases legítimas na fé quando estão apenas a fim de se acomodar sobre determinada questão e já perderam, seja por falta de vontade ou coragem, a ousadia de questionar a si mesmos e aos outros?
Se assim for, não se pode ainda concluir que a fé é um bom instrumento na busca de respostas absolutas a algumas questões, respostas estas que as pessoas anseavam tanto em encontrar mas que só não o fizeram por terem se desvinculado da especulação?
Por enquanto me limitarei a apenas estas poucas perguntas, mas desejo investigar um pouco mais juntamente com qualquer um que se dispuser a desencadear uma discussão racional e livre de opiniões pessoais mal fundamentadas.01/07/2003 às 20:05 #77956márcioMembroVejo de forma simplista (como sempre) assim:
Acredita-se (em algo), baseado em:
1. Fatos (ou mesmo hipoteses ainda nao comprovadas).
2. Fé (quando o item 1 esta muito distante).Grande parte dos Fatos mudam o tempo todo, portanto a crença baseada em fatos (obrigatoriamente) vai mudando junto. (O que é muito legal).
A Fé esta mais para um sentimento pessoal de questao fechada. Ela pode ser adquirida (sabe-se la como) e perdida. Se uma pessoa diz, “eu acredito nisso em funcao da minha Fé”, ponto final, assunto encerrado, nao esta aberto a discussoes, fim de papo, etc. Nao precisa haver uma logica atras da Fé.
02/07/2003 às 1:35 #77957Miguel (admin)MestreGostei muito do tema deste fórum.
Ultimamente, mais preguiçoso que nunca, estou para citações bobas…
“…esta saudade que eu sinto de tudo que ainda não vi…”
Márcio pq vc acredita que só o que pode ser provado e repetido é digno de atenção?
O que muda o tempo todo é o método analítico de descrever o mundo e não a fé humana.
Nada contra a inteligência analítica, mas esta, a meu ver, é débil sem a intuição….sem a revelação.
Sem revelação a inteligência analítica é positivismo…tô fora.
Pq nos colocamos fora das coisas? Fora do mundo…?
Esta posição afeta até mesmo os que possuem a “famigerada” fé, dando munição aos céticos.
Mais uma citação:
“A fenomenologia não é o nome de uma nova ciência, nem uma palavra de substituição para filosofia, mas uma postura espiritual, com que se recebe algo para ver ou para viver, algo que sem ela permaneceria oculto, um dirigir-se para aqueles fatos puros que o homem em geral, e mesmo o cientista não sabem captar”.
abs
02/07/2003 às 14:24 #77958márcioMembroOba Alex,
Nao queria ir por ai e nem era essa minha intensao. Absolutamente nada contra a Fé.Apenas tentei enfocar que reconheco (de forma simplista) basicamente 2 tipos de embasamento para a crença.
Pelo FATO ou pela FÉ.
Fato aqui respresenta qualquer coisa tipo: evidencia, hipotese, ciencia, logica, teorias, por ai …
Fé representa uma outra dimensao da crença, talvez mais mistica (nao sei), por ai …
A crença total seria a soma desses 2 “grupos”.
bom, vou ficando por aqui … vou viajar uns dias.
02/07/2003 às 15:35 #77959Miguel (admin)MestreOlá..Alex e Márcio…
Sem muito tempo, mas queria dar uma achegazita…sim..concordo que( não obstante a Fé não tenha que ser sinónimo de “irracional”, por excelência)a Fé começa onde acabam os factos…a questão é: para quê fé?? Aí concordo com o Alex…suponho que a existência da Fé reforça a insuficiência dos factos…a necessidade humana de transcendência, a abertura…o desconhecido…o mundo da intuição…o mundo onde não cabem os factos..
Falando de citações, penso que Exupéry ficaria bem aqui…”o essencial é invisível para os olhos”…o essencial está para lá dos factos???
Abraços.03/07/2003 às 18:31 #77960Miguel (admin)Mestrequando foi q pensei a primeira vez? não lembro, mas já rendia fé em algo não sei como, talvez foi uma semente plantada ou um barco empurrado, mas já procurava, e talvez fosse em tudo, pq nada sabia…hj já sei alguma coisa, e minha fé cada vez mais se dirige a algo cada vez mais específico… tateando na escuridão até hj, mas hj com alguma capacidade de distinguir com alguma nitidez em q rendo isso tão bonito…
07/07/2003 às 21:27 #77961Miguel (admin)MestreOlá pessoal, concordo com o márcio sobre os dois caminhos usados para se acreditar numa coisa.
Por que umas pessoas só acreditam em certas coisas através de fatos, e outras no entanto através da fé?
Para os dois lados o outro, é considerado errado, ou seja, para um ciêntista a fé é um absurdo e pra um religioso a ciência está longe da verdade.
Acho que uma questão interessante é.
Por que o homem sempre teve necessidade de ter fé.07/07/2003 às 23:08 #77962Miguel (admin)Mestre“Por que o homem sempre teve necessidade de ter fé.”
Admitindo q seja essa uma pergunta, caro vdj, diria q por segurança. Imagine, caro amigo, vc em São Paulo, fazendo o caminho de sempre para a casa, ouvindo seu radinho, suas músicas, vc então chega em casa. Houve qualquer despreendimento de energia excessivo? Qualquer stress além do que já é normal? Bem, vc estava seguro do trajeto. Agora imagine, no meio do seu caminho, um desvio por uma rota q nunca vc passou antes, vc recebe uma descarga de adrenalina, começa a suar, fica nervoso, atento a qualquer variável q possa atentar contra sua vida. Vc está inseguro, porém tem fé de chegar em casa, acredita q se tudo der certo, chegará são e salvo. Portanto a necessidade da fé é para aliviar a insegurança, é esfriar os ânimos. Isso no meu míope entendimento.
Abraços
Gustavo09/07/2003 às 2:18 #77963Miguel (admin)MestreOlá
Discordo da palavra necessidade. Sempre que discutimos religião chegamos nesta palavra.
Gostei muito do tema deste fórum pq podemos falar sobre fé e, no meu mode de ver, sobre um elemento da fé que seria a revelação.
Caberia, quem sabe, falarmos sobre pensamento e inteligência.
Mas vou ficando por aqui.
” – Você não pode agir como agia antes. Console-me.
– As pessoas se dividem em dois grupos. Quando passam por algo de sorte, o grupo número 1 vê como mais do que sorte… mais do que coincidência.
Eles vêem como um sinal. Evidência de que alguém está cuidando deles.
O grupo número 2 vê como pura sorte. Um acaso feliz.
Tenho certeza que o grupo número 2 está olhando para essas 14 luzes de forma suspeita.
Para eles a situação é meio a meio. Poderia ser ruim…. poderia ser boa.
Mas por dentro, eles sentem que não importa o que aconteça…. estão sozinhos.
E isso os enche de medo.
Estas pessoas existem.
Mas tem muita gente no grupo número 1… e quando eles vêem essas 14 luzes no céu… estão vendo um milagre.
E por dentro sentem que não importa o que aconteça, alguém lhes ajudará.
E isso os enche de esperanças.
Vc deve se perguntar que tipo de pessoa vc é?
Vc é do tipo que quando vê sinais, vê milagres?
ou vc acredita que as pessoas dão sorte?
ou então….
Será que coincidências não existem?” Sinais
O texto acima já responderia, de certa forma, a pergunta de VDJ. Mas alguém poderá dizer tratar-se de um problema da psicologia.
Tirando o problema psicológico haveria, talvez, uma outra resposta para a pergunta de VDJ.
A fé “poderá ser sustentada por uma razão ainda por descobrir – por que pensar que já conhecemos todas as razões possíveis? – e por isso é racional num sentido mais amplo, que leva em conta todas as boas razões que há e que haverá, na eternidade.”
abs
10/07/2003 às 20:45 #77964Miguel (admin)Mestreacreditar no acaso é Fé? desculpa a ignorância, mas não entendo como possa eu crer que algo q eu não interfira nem um pouco ou q possa estar no mínimo ao meu alcance de conhecê-lo ou fazê-lo um dia seja Fé…ou somente se eu conseguir interferir no acaso, daí não seria mais acaso, e isso poderia se chamar fé…acho que não existe fé em nada, a própria fé, seja sentimento, seja conhecimento, seja ação, já é algo q movimenta, q modifica, que afasta qualquer tipo de acaso ou sorte.
10/07/2003 às 21:06 #77965Miguel (admin)MestrePegando carona nas palavras do Alex:
Quem disse que a única forma de racionalidade é aquela que pode ser provada em laboratório ou em raciocínios lógico-matemáticos?
“O coração tem razões que a própria razão desconhece” (Pascal)
Acho engraçado encontrar gente que critica Hegel, mais apoiado na desinformação do que em alguma outra coisa, que se acha discípulo de Nietzsche ou sei lá mais quem, mas depois desdiz tudo ao se enveredar pela mesma e antiga via da razão que procura englobar tudo. Talvez sejam mesmo discípulos, sem o saber, da corrente em que Hegel foi o maior. Hegel foi quem chegou ao ápice dessa jornada. Ninguém mais racional.
Hegel foi genial ao ponto de elaborar um sistema tão “perfeito” que já incluia tanto a “ida” quanto a “volta”. Um hegeliano defenderia o sistema mostrando, sem muita dificuldade, que mesmo as críticas no fim acabam sendo integradas e reforçando o sistema. Com alguma boa vontade (?), seria possível vislumbrar algo do gênero na trama do segundo Matriz.
Fechando o parêntese: as criticas de tantos contemporâneos não dizem nada para os que criticam outro tipo de racionalidade? Só a atualidade da pergunta “Que razcionadidade?” em si já é reveladora. É bastante interessante notar que mesmo os instrumentos da filosofia de Nietzsche podem ser voltados contra os ataques e para a defesa da fé.
No fim, talvez, “A fé é um tipo de razão que a própria razão desconhece” .
[]'s
14/07/2003 às 16:12 #77966Miguel (admin)MestreGostei muito da visão do gustavo sobre a fé como meio de aliviar a tensão, e com certeza isso se aplica a muitos casos, é muito mais fácil dizer eu acredito nisso ou naquilo porque tenho fé, e com essa atitude aliviar a pressão causada por muitas questões que afligem e tiram o sono da humanidade. A fé é uma maneira rápida e fácil de conseguir que isso ocorra, acho que para a maioria das pessoas, não estou falando que para todas as pessoas funciona dessa forma, é uma forma de fugir a questionamentos e dúvidas, uma espécie de anestésico mental.
Os que se dizem ter fé consideram errônea qualquer opinião que difira das deles mesmo que seja a opinião mais irracional possível, e quando ela age dessa forma não há o que fazer pois não existem argumentos contra a fé, e dessa forma mais uma vez a fé faz com que não seja mais nescessário se pensar no assunto.
O que eu estou querendo dizer com isso tudo é que a fé muitas vezes faz com que uma pessoa se torne preguiçosa mentalmente, não preciso mais questionar nada tenho fé.
Coloco mais uma pergunta.
É possível ter fé e ao mesmo tempo estar aberto a novas opiniões?15/07/2003 às 1:14 #77967márcioMembroOla … gostaria de complementar o meu ponto sobre esse tema. Acho que na pressa nao me expressei adequadamente.
Considero que o conjunto de crenças de cada pessoa é composto por deducoes embasadas em fatos e em fé ao mesmo tempo.
Entendo ser o relacionamento entre os dois bastante complexo, por exemplo:
Alguns partem da Fé em busca dos Fatos (Ciencia).
Outros partem de Fatos em busca da Fé (Religiao).
(mao e contra-mao ?).Mas entendendo que nossa crenca seja um misto equilibrado de ambos.
Acredito (tenho Fé) que por mais cientifico que seja o individuo, ele carrega consigo um boa bagagem de crencas baseadas em Fé.
15/07/2003 às 21:46 #77968Miguel (admin)Mestrevdj,
É possível ter fé e ao mesmo tempo estar aberto a novas opiniões?
Depende de que tipo de fé (ou fé em que) vc está falando. Como entendo, nao só é possivel como é praticamente necessário.
Kierkegaard refletiu sobre isso em “Temor e Tremor”: muita gente diz ter “fé”, como se isso fosse alguma coisa fácil. Longe disso. A questão é: o que vem a ser “fé”? Para começar é algo existencial.
16/07/2003 às 17:25 #77969Miguel (admin)MestreSem me alongar, digo que há a necessidade da fé, seja na religião ou seja para se viver. Ter fé, é ter esperança que dum suposto fato produza-se um certo efeito peretendido. Agora colocar a fé em um lugar místico, onde é morada da essência das coisas, onde o homem nunca poderá chegar etc, é corroborar com o aludido acima, criando supostos fatos e esperarando efeitos certos, ou seja, é dizer que fé necessita de fé para se poder entende-la…redundância pura.
Quanto as luzes no céu, sim, há vários tipos de interpretação, umas mais fáceis outras nem tanto, racionalizar leva, como o Gustavo disse, gastos demasiados de energia (física, psíquica etc) e gera movimento para sanar-se o motivo causador. Agora valorar o fato sentindo-se esperançoso que algo seja bom é afastar o problema de si e eleva-lo ao não-saber. Parece-me o mesmo q dizer: Vc viu sua mulher no bar quando passavamos lá de carro? E o outro, esposo da dita cuja, não e nem quero saber, vc está enganado, e não me fale mais sobre isso. Chegando em casa, não pergunta nada a esposa, pois cutucar em buraco de cobra pode ser perigoso.
Ou seja, a fé pode tampar os olhos para o “ruim” mas não significa q o ruim não seja ruim. Encará-lo leva a possibilidades pelo menos. É melhor? Sei lá, tenho fé que voltarei para casa hj. Se eu não tivesse, estaria agora debaixo da mesa com medo. Ou estaria comprando uma arma para minha defesa, se o caso fosse de assalto e morte.
Sendo assim, é uma necessidade como dizer q não é necessidade e sim algo espiritual, ora, mais uma vez, necessidade de ter fé para tal alegação. -
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