Filosofia e alienação

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    Filosofia e alienação.Os termos de início parecem antagônicos, mas um golpe de vista sobre os séculos XIX e XX expressa alguns (ou várias)pensamentos que mais fetichizam do que ilustram a realidade. É o que pensadores como Marx e Marcuse demonstraram.
    Pensadores atuais, como Habermas, expressam um cunho alienado e alienante da Filosofia Contemporânea: dizer que a ciência avança de modo linear e nos conduz à emancipação é um sintomático pensamento alienante. A dinâmica entre forças produtivas e relações sociais de produção, para Habermas, é uma não-dinâmica: o avanço das forças produtivas trazem consigo a emancipação humana, melhorando as relações de produção. Mas Habermas não aceita uma importante contribuição de Marcuse e, por isso, complica-se: a ciência em si mesma, sob o nosso capitalismo, já traz embutida uma dominação, uma alienação: o trabalhador está dominado também pela máquina.

    #71574

    Caro Anderson: Foi legal o seu comentário sobre o Marcuse para refutar Habermas. Marcuse conseguiu mostrar em A IDEOLOGIA DA SOCIEDADE INDUSTRIAL que a máquina já é fabricada dentro de um contexto dominador do capital sobre o trabalho. Assim, a máquina domina o homem. Como poderiam então a ciência e a tecnologia, por si mesmas, libertarem a humanidade ? Habermas, como você considera – e com toda a razão – produziu um pensamento alienante.

    #71575

    Caro Flávio: Legal que você não se deixou levar pela ideologia habermasiana. E temos de pensar juntos o que está subjacente à produção desta e de outras ideologias: quem trabalha esta questão de modo muito interessante é István Mészáros em O PODER DA IDEOLOGIA. Este pensador vai, por ser um marxista – mas não vulgar -, até às relações sociais de produção e estuda nelas o que lhe é característico. Os fenêmenos da alienação do trabalho e do fetichismo, assim, são muito bem explorados: o trabalho alienante e alienado engendra uma realidade tal que, por sua vez, potencializa a reprodução de ideologias legitimadoras da ordem capitalista em função do limite instrumental e metodológico das mesmas ideologias, cuja característica em comum é o “gradualismo”, o “pouco a pouco”, o “pragmatismo”.
    A força dessas ideologias ganha muita efiácia por evocar a autoridade da ciência para si e são muitas as ideologias, segundo Mészáros, por serem muitos os capitais: o capitalismo é um, mas há uma diferença quantitativa e de ramo de atividade entre os capitalistas. Assim, a pluralidade de ideologias tem na pluralidade de capitais a sua subjacência.
    Assim, fica aqui um pensamento sobre a reprodução alienante e alienada que a ciência e a Filosofia fazem de uma sociedade alienante e alienada. Como se vê, Mészáros propõe a imanência das relações sociais de produção para explicar as teorias “científicas” alienadas e alienantes.

    #71576

    Sr. Anderson: Eu não conheço o livro do Mészáros, mas prometo que eu o procurarei. Deve ser interessante porque, como você disse, ele busca na própria realidade a base para a produção de ideologias e alienações pela própria ciência. É realmente horrível ver que grandes instituições acadêmicas de todo o mundo produzem ideologia e não ciência. Temos de findar com a alienação na ciência e na filosofia. Como conseguiremos ?

    #71577

    Caro Flávio: sua pergunta exige um grande esforço e muito fôlego. Aqui, o que eu sugiro apenas é que você leia o primeiro dos MANUSCRITOS ECONÔMICOS E FILOSÓFICOS do Marx – há um comentário sobre ele aqui mesmo neste site, escrito por seu webdesigner-, além de A IDEOLOGIA ALEMÃ, também do Marx. Nestes textos, Marx mostra um tipo de pensamento que ao mesmo tempo que é imanente, é dialético: a Filosofia burguesa é alienante por emanar de uma determinada realidade social e, concomitantemente, a realidade burguesa conta com a Filosofia como instrumento de dominação ideológica para manter a reprodução de capital. Destarte, para findar coma a alienação na ciência e na Filosofia, é preciso findar com a alienação na própria realidade: daí a importância de uma Filosofia da praxis, da “Filosofia como arma teórica do proletariado, do proletariado como arma prática da Filosofia.”

    #71578

    Caros colegas Anderson e Flávio, acredito, assim como vocês, que o pensamento de Habermas é extremamente alienante, e que sua confiança na ciência não passa de uma crença iluminista-racionalista, como se o pregresso desta pudesse indicar uma alternativa para a busca do conhecimento e da desalienação. Esse pensamento não passa de uma busca entre o verdadeiro e o falso, como se esse paradoxo pudesse ser definido pela razão.
    Apesar de não estar muito certo disso, e deixo a questão para possíveis debates, acredito que o pensamento marxista quanto a teoria da alienação precisa ser revista, pois, ao pensarmos em um processo de alienação via luta de classes e relações sociais, sistema de produção, ideologias políticas e formas de consumo, não estaríamos partindo de um pensamento secundário? Como explicar as relações de poder e saber que estão diretamente implicadas na formação destes discursos? Como abandonar o príncipio de que estamos intrinsecamente ligados a essa formação econômica e política, onde os discursos são também filtrados pelo nosso pensamento e aprovados pelo nosso poder? Não estou com isso desconsiderando a possibilidade desigual de saber e a existência da dominação do mais forte, apenas não permito-me pensar em todas as questões marxistas sem antes analisar a formação deste jogo de poder, não um poder do tipo cartesiano, mas de uma relação de baixo para cima e, sobretudo, em como esse jogo irá refletir nas formações discursivas, tanto em nosso pensamento quanto ao pensamento institucionalizado. Utilizo para esta critica marxista, o pensamento de Michel Foucault, que soube encotrar uma forma primeira de explicar a formação do sujeito na modernidade.

    #71579

    Caro Vanderlei: sua mensagem foi extremamente pertinente na medida em que introduziu, neste debate, a relação entre alienação e política. Talvez, o que está nos Manuscritos Econômicos-Filosóficos e na Ideologia Alemã continue existindo: uma imanência das relações sociais de produção que engendram uma política alienante e alienada – da produção do objeto como coisa e absorvendo a subjetividade do sujeito, o alienando, à realidade política exterior aos indivíduos, que torna real a existência de um Estado coercitivo e alienado dos interesses de enorme parcela das pessoas. A política, assim, nos parece alienada, acima de nós, com discursos-coisas fetichizados.

    #71580

    Caro Colega Anderson, a questão a que eu gostaria de problematizar, e a qual venho tentando pesquisar a algum tempo, é em relação ao próprio conceito de alienação, que podemos entender como separação, algo exterior ao sujeito. Porém, penso que o termo alienação não traduz o processo de dominação; quando dizemos que a alienação absorve toda a nossa subjetividade estamos afirmando que a nossa interpretação ou consciência em relação as coisas são controladas por uma força externa, no caso marxista, pelas relações politicas e de produção.
    Analisando todo o nosso processo histórico, perceberemos que a formação do pensamento do homem, me refiro aqui também ao mundo grego-romano, formou-se a partir das rupturas e das descontinuidades discursivas. Desta forma, acredito que a nossa consciência é projetada como algo que de antemão já nos incitasse não ao começo mas ao processo, cabendo ao nosso pensamento simplesmente se alojar em seus interstícios; ou seja, como se toda a formação discursiva não fizesse parte de um mundo subjetivo, mas sim de um mundo externo, objetivado pela nossa vontade de saber. Em outras palavras, o domínio do discurso e a execução do poder estão diretamente relacionadas com o saber. Assim sendo, o pensamento subjetivo não seria toda a formação externa, pois a origem da consciência passaria não mais a existir? Ou ainda, é possível pensar em alienação quando sabemos que a formação discursiva não nos pertence, ou em últimos casos, apenas fazemos parte de sua constituição?
    A dominação e o controle do estado ou das instituições existem não porque somos alienados, mas porque os jogos de poder-saber são desiguais – lembrando apenas que, conforme Foucault, o poder não é algo que se conquista, ao contrário, ja está em nosso discurso, basta articula-lo. E a ação estatizada não visa a opressão mas sim o controle, a disciplina e a normalização.
    Gostaria que estas considerações possibilitassem novos debates, pois será somente desta forma que estaremos exercendo a nossa liberade.

    #71581

    Visão C

    existe uma teoria que eu não me lembro bem, que fala sobre o caos e a ordem.
    que aplicado na pergunta “a filosofia é util para sociedade?” a resposta é que se usada de certa maneira ela pode ser perigosa e até destruir a sociedade.
    pois se espalhasse as ideias e pensamentos de todos pelo mundo, e o mundo se tornasse mais inteligente e surgisse um grande genio que desse um argumento que ninguem conseguisse bater e que convencesse a todos que aquela é a verdade universal.
    E que todas as pessoas passassem a pensar igual.
    então de acordo com a teoria da evolução natural,
    quanto mais igual nos somos mais chance temos de morrer todos de uma vez, seriamos prezas faceis, ovelhinhas nas garras do perigoso e cruel mundo que vivemos.

    #71582

    Esse é um novo assunto que eu queria colocar em discussão: É necessária uma certa alienação a sociedade para obter prazer a maneira dela: se não se aceita sua lógica seu entretenimento não faz sentido.

    #71583
    gallagher
    Membro

    Não há nada mais alienante do que a própria filosofia, cada vez mais se mostra a inutilidade que ela representa, com a sua terminologia e significância que se tornaram um verdadeiro cipoal intransponível. A filosofia se tornou puro diletantismo.

    O próprio termo “filosofia” já é uma tremenda estupidez. Se existe um “amigo do saber” seria de se pressupor que existisse um “inimigo do saber” ou um “amigo da ignorância”, o que é uma grande bobagem. Ou seja, em lato sensu todas as pessoas seriam filósofas.

    #71584

    Gallagher é o exato protótipo do homem ignorante dizendo que a filosofia é alienante, típico do homem moderno pragmatista voltado exclusivamente para o útil, alienados são os trabalhadores! quem desconsidera a busca por sabedoria está realmente se afastando da essência do homem que aspira por natureza o saber.
    Disse que se existe um “amigo do saber” seria de se pressupor que existisse um “inimigo do saber”, bobagem é o que tu escreveu: em primeiro lugar o amigo do saber ainda não sabe mas não pressupõe saber, já que não existe realidade absoluta, o “saber” é o que está por vir, o que se deve tornar conhecido, certamente as certezas humanas “extra filosóficas” pertencentes ao senso-comum não passam de postulados que cada vez são mais facilmente refutados pela filosofia. E porque o útil é sinônimo de coisa positiva? porque perdemos a admiração pelo mundo, e é a admiração que primeiramente gera a filsofia, só o que é útil é bom, é por isso que a humanidade se encontra em crise profunda, pois a própria natureza é vista com fins úteis e não mais como uma coisa em si, onde está o sentimento de bem-viver com o mundo? se abandonar pré-conceitos e verdades superficiais não tem sua validade então realmente a filosofia não “serve” pra nada, Gallagher tu és realmente um etrombilácuo! paz e amor

    #71585

    Gallagher: O próprio termo “filosofia” já é uma tremenda estupidez. Se existe um “amigo do saber” seria de se pressupor que existisse um “inimigo do saber” ou um “amigo da ignorância”, o que é uma grande bobagem. Ou seja, em lato sensu todas as pessoas seriam filósofas.

    Talvez o nome fizesse bastante sentido quando foi dito pela primeira vez. E, com o passar do tempo, sua semântica foi perdendo o valor original.

    O seu raciocínio também deixa a desejar: Eu não sou amigo de Pedro, mas nem por isso devo ser inimigo dele

    …além disso, a sabedoria e o conhecimento não são sinônimos.

    #71586
    nahuina
    Membro

    Se existe um “amigo do saber” seria de se pressupor que existisse um “inimigo do saber” ou um “amigo da ignorância”, o que é uma grande bobagem.
    Gallagher:Concordo com vc!! isso que vc disse é realmente uma grande bobagem!!!

    O raciocinio mais adequado poderia ser assim: SE existe um “amigo do saber”, É POSSIVEL que exista um “não-amigo do saber”…

    mas um “não-amigo do saber” está longe de ser um “inimigo do saber” ou um “amigo da ignorância”…

    #71587

    Eu acho que as pessoas estão alienadas por não pensarem seriamente na questão da distribuição de riquezas.

    Por que um bombeiro que é infinitamente mais útil a sociedade do que um cantor de rock deve pagar impostos, se mal consegue pagar a casa própria?

    O cantor de rock, por outro lado, tem tanto dinheiro que não sabe o que fazer com ele e muito raramente consegue fazer algum trabalho que realmente ajude a melhorar a qualidade de vida das pessoas.

    Não quero dizer com isso que o cantor não seja um trabalhador que possa contribuir para a sociedade com suas idéias nas letras das músicas, além do simples entretenimento. Mas por que precisam ganhar tanto dinheiro e contribuir tão pouco com os impostos???

    São esses caras milhonários que deveriam pagar taxas de 50% (pelo menos) nos impostos e, não, os bombeiros e os demais cidadãos que passam dificuldades e, mesmo assim, contribuem diretamente para o bem-estar social.

    Nenhum cantor de rock salvou tantas vidas quanto a maioria dos bombeiros, pensem nisso…

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