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17/12/2000 às 23:01 #69852Miguel (admin)Mestre
Caro Senhores, para se falar da necessidade da filosofia na sociedade pós-industrial, talvez seja necessário, antes de tudo, estudar algumas características desta sociedade, já que ela é o instrumento do qual o homem faz uso para atingir seus objetivos. É a sociedade, como um conjunto, que estabelece e amplia barreiras, adota novas culturas e rompe com sistemas. Por ser dinâmica em seu comportamento, talvez um estudo sobre ela possa avaliar o sentido da filosofia para o homem que vive e se relaciona com esta sociedade.
Um fator creio ser relevante para iniciar este estudo: em que momento da formação da sociedade industrial a filosofia começou a ser vista como dispensável para os seus indivíduos?
O homem, até o século XIV, parecia entender mais das coisas metafísicas do que das físicas. Contudo, com o advento do renascimento urbano esse panorama foi se modificando. As explicações dos fenômenos físicos afloraram em meio aos pensamentos filosóficos e passaram a motivar a ciência de tecnológica; o homem, então, passa a exercer uma fascínio pela máquina e pela vida prática. O pensamento teórico não é mais aceito como argumento puro e simples; a reprodução do pensamento no sentido prático é visto como real forma de conhecimento. Os meios de produção ganham destaques e envolvem necessariamente outros fenômenos essências, como de comunicação, econômico, político e social. Neste contexto, de produção científica propriamente dito, pois nesses séculos que nos antecederam houve, na verdade, uma “produção de ciências”; revigoram-se os debates, férteis em interpretações empíricas e ávidos por distinguir uma matéria das outras.Apesar de a comunidade intelectual ter pensado o indivíduo, não foi suficiente para conter o avanço da formatação social, da racionalidade prática e das referências individuais. Em oposição a essa sociedade industrial e científica que surge, posicionam-se aqueles que queriam demonstrar, salientar e alertar acerca das suas relações contraditórias. Alguns pensadores, como Karl Marx em Contribuição à Crítica da Economia Política – Introdução, alertaram que ao estudar a sociedade industrial se deveria interpretar as relações sociais do ponto de vista das imposições da política industrial que eram praticadas ao indivíduo.
Ora, sabemos que a sociedade industrial para realizar a sua função, precisa necessariamente do elemento gerador de suas forças: a produção. A produção não é um sistema acabado e duradouro, tem de ser estrategicamente processual e infinito. Por isso, seu elemento principal é o descartável, tanto no que produz, bem como na tecnologia que desenvolve. O sistema de produção de um carro a cinqüenta anos atrás não é o mesmo hoje e não será o mesmo daqui a cinqüentas anos, o mesmo ocorre com o carro, que quase nada tem haver com o produto original e quase nada terá com o produto futuro, senão o princípio fundamental.
Esse sentimento de que tudo é “passageiro” que invade o sistema social e o reorganiza, impulsiona o indivíduo a acentuar as suas características individuais, isto é, a aumentar o interesse pelos assuntos pessoais e as formas de satisfação imediata dos desejos, deixando de lado as questões mais abrangentes e impessoais.
Por ser um processo hedonista, que ocupa a mente com objetivos fúteis, a sociedade industrial não permite que o indivíduo tome consciência, pelo menos profundamente, dos desníveis sociais, ou seja das negativas sociais. Este processo de alienação das negativas sociais cria uma aparente ordem social, que para o filósofo alemão Theodor Adorno seria a “antologia do estado falso”; em que as relações sociais negativas são interpretadas pelos seus habitantes como se fossem algo semelhante ao destino, isto é, os desníveis sociais teriam de existir dentro do sistema para que a maioria se beneficie.
É neste ponto que a filosofia começou a ser vista como dispensável pela sociedade industrial. Quando se pensa esta sociedade, percebe-se que a forma mais comum deste pretenso “destino” se chama mercado, se percebermos, é claro, que é ele quem alimenta a sociedade industrial. À medida que o mercado ganha importância, ele deve ser exercido de modo alienado e autômato, de maneira que as necessidades do indivíduo sejam motivadas artificialmente. A reflexão, neste ponto, que serviria para o controle deste estímulo, deve ser, portanto, controlada; isto leva necessariamente ao controle instrumental do pensamento. Várias são as formas mercadológica para a alienação, mas entre tantas, a massificação da informação é a mais eficiente. A grande quantidade de informação, aliada ao conceito democrático de escolha, leva o indivíduo a um esquecimento acidental e involuntário, o que favorece uma justaposição de indivíduos que tem em si próprio o instrumento de censura ideológica, como a política e a religião, por exemplo. Esse processo leva quase que necessariamente, veja bem o leitor “quase”, a uma divisão social de classe pela capacidade de exercer seu espírito crítico e não mais pelo poder do dinheiro. Dentro desta divisão, é óbvio, aquele que detém o poder de produção sai extremamente beneficiado, pois além de possuir o poder de produção, influencia diretamente no poder de informação. Nessa nova classe social não há lugar para filosofia, que é, por excelência, reflexão (voltar atrás) e discurso de contestação.
Por outro lado, a filosofia entra com sua quota nesta “nova classe social”, sua produção intelectual vive, nas últimas décadas, um “discurso silencioso”. As obras filosóficas têm sido produzidas aqui e ali, mas percebe-se que: ou são uma releitura de obras filosóficas anteriores ou são obras de pesquisas duvidosas ou, ainda, são adequadamente editadas pelo próprio conteúdo inócuo. Até porque nos últimos anos, ela está mais preocupada em se posicionar neste contexto pós-industrial. Outra vezes, a comunidade acadêmica parece incentivar que da cabeça de um filósofo saia um novo mundo: livre, justo e feliz; ou pelo menos, que do “cultivo da filosofia” saia a interpretação e a correção daquela “falha do destino” da sociedade industrial, a qual a própria sociedade é genitora. Como se fosse a filosofia o acordo entre a consciência da sociedade e a sociedade consciente. E isto me parece algo totalmente novo, pois a filosofia, ao meu ver, não está em estabelecer respostas, mas em motivar perguntas.
Por tudo isso: a sociedade de consumo, o estímulo da produção, a massificação da informação, o conteúdo filosófico se tornou irrelevante e é cada vez mais discriminados na socialização do indivíduo. Deixando-se passar a imagem contrária ao que a filosofia propõe, isto é, a filosofia é desnecessária, pois eleva o filósofo a uma esfera da realidade que não se encaixa e nada contribui para esta sociedade industrial. Daí porque a filosofia é uma ciência, dentro do contexto industrial, que sem a qual ou com a qual, a sociedade fica tal e qual.
12/09/2001 às 14:25 #73317claudiaMembroGostaria de saber sobre a Teoria de Adorno sobre a Comunicação, mais precisamente os meio de comunicação de massa??
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