Labor de nosso corpo e trabalho de nossas mãos.

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    O Labor de nosso corpo e o trabalho de nossas mãos.
    Hanna Arendt

    A autora faz uma distinção entre as palavras labor e trabalho caracterizando um e outro enfocando que essa distinção não foi percebida tanto pelos clássicos quanto pelos modernos teóricos do assunto que relaciona-se ao tema, isso repetidas vezes ao longo da história humana muitas dessas a despeito da própria evolução da sociedade que primou em enxergar os dois temas como partes componentes de um mesmo corpo.
    Para a posicionar seu pensamento a autora busca nos clássicos e nas línguas européias antigas justificar essa diferença que ganha um caráter superior ao morfológico, o que segundo opiniões de seus estudiosos não existe. A exemplo pode-se citar o exemplo que é utilizado no livro quando ela cita a vida dos escravos da Grécia antiga que eram obrigados a realizar atividades domésticas para o sustento da família a qual pertenciam como também seu próprio sustento e os operários, homens do povo em geral, que tinham liberdade de movimento fora da chamada vida privada, ainda que não fossem cidadãos completos. Essa exemplificação na sociedade é a forma com a qual a autora utiliza-se para definir o labor, conjunto de atividades realizadas pelo nosso corpo e que a partir das quais sobrevivemos e o trabalho como tudo que está relacionado à transformação, a atividade de fabricar propriamente dita, ou seja aos escravos cabia a designação dos trabalhos realizados com o intuito mero e simples de manutenção da vida, na sua essência mais simples, o conjunto de atividades que realiza-se para sobrevivência do corpo, para a manutenção da vida.
    Contudo, Hanna Arendt afirma que na antiguidade clássica essa distinção passou como que despercebida ou até mesmo ignorada, atribuindo a isso o fato de não ser encarada as atividades mais rotineiras, as inerentes ao labor, como aquelas que engrandeceriam o homem, a vida só era dividida ou distintas em alguns pontos básicos, sendo estes os únicos que podiam ter efeito. A esfera privada e a esfera pública, o escravo doméstico e o chefe de família, as atividades do lar e as atividades da vida pública.
    A era moderna veio promover a ascensão do chamado animal loborans em detrimento ao animal rationale, sem contudo não produzir novamente nenhuma distinção entre os termos labor e trabalho, sua ênfase deu-se apenas na distinção entre o trabalho produtivo em contraposição ao improdutivo, o qualificado ao não qualificado, o manual versus o intelectual, tendo tudo isto a produção como pano de fundo e cena da história mundial. Nesse ponto Adam Smith e Karl Marx, segundo Hanna Arendt, compartilham da mesma observação: A de que o trabalho improdutivo – aquele que não enriquece o mundo, que não deixa nada, os criados servis, trabalho para a subsistência seria uma espécie de parasita social. È válida ressaltar que para todas as eras anteriores à moderna, esse trabalho quando identificado era o que proporcionava aos senhores a liberdade do pensar, a esfera política enquanto na era moderna ele toma um caráter de antiprodutivo, sendo contudo essa classificação: produtiva e improdutiva, a que mais tipifica a diferença entre labor e trabalho restando aí, a era moderna, ao encarar e voltar-se apenas à produção, igualar o Animal loborans ao Homo faber.
    Para Marx a atividade humana labor, independente de estar na esfera pública ou privada, possui uma produtividade (força humana) capaz de produzir um excedente que impulsionaria a produção. O trabalho, então torna-se possuidor de um caráter intrínseco com labor explicando a não distinção feita por Marx pois, em seu pensamento, igualá-los, era correto uma vez que tudo é resultado da força do labor, de um labor que impulsiona o homem a produzir agora para acumular. A moderna divisão do trabalho assegurou a não observação da distinção entre labor e trabalho para o pensamento Marxista pois, com o seu “advento” a qualificação perdeu ainda mais espaço uma vez que o que passou a ser vendido não mais é fruto de uma qualificação individual mas da força de trabalho que gera também o excedente.
    Para a autora há um desprezo pelo labor na teoria antiga e uma glorificação na teoria moderna e ainda que misturada à idéia de trabalho baseiam-se na atitude subjetiva pela qual foram encaradas. As tentativas de igualá-los se dão talvez pelo fato de não serem amplamente compreendidos pela sociedade. Observados pelo ponto de vista da autora sua diferenciação torna-se facilmente identificada, uma vez que são os frutos do trabalho que garantem a sociedade tal como hoje se apresenta, num mundo repleto de bens, de materializações que garantem a vida e que foram produzidas perante a materialização dos pensamentos cabendo ao labor ser a força que é desprendida para realizá-los além de defini-los.
    A despeito do labor como parte intrínseca da vida humana torna mais evidente ainda o conjunto de diferenças deste com o trabalho, pois o caráter cíclico do labor é sua maior característica ao passo que o trabalho em si é fadado ao fim quando produzido o bem ao qual este se destinou, quando incorporado ao homem como forma de saciar a cadeia cíclica proveniente do processo de labor tão normal ao homem. O que dá a Marx um novo equívoco de interpretação pois sua forma de equacionar e relacionar os dois conceitos dá ao labor características que este não possui, sua principal está fato de que ele é necessário à vida, enquanto ao trabalho cabe a transformação, ao consumo.

    #79760

    Olá, gostaria de ter acesso ao texto integral do tema, pois estou trabalhando com Hanna Arendt sobre a condição humana na saúde. Obrigada

    #79761
    “…ele(o labor) é necessário à vida, enquanto ao trabalho cabe a transformação, ao consumo.”

    O Homo laborans recebe a recompensa imediata pelo seu esforço, o Homo faber também será recompensado, todavia, dessa recompensa, não participa a cota de lucro do produto que ajudou a fabricar…

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