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16/09/2005 às 0:01 #80250Miguel (admin)Mestre
Intitula-se “Preconceito lingüístico”um opúsculo de Marcos Bagno, professor de Lingüística da USP, que nele pretende invalidar o que reputa encarnarem oito mitos concernentes ao português no Brasil e que proclama como forma pior de preconceito em termos de idioma, o conjunto de prescrições de que se constitui a gramática tradicional, que, segundo a autor, representa um instrumento ideológico de legitimação das classes dominantes no poder.
Cuida-se de mais uma porcaria ideológica, de intuito confessadamente político, em que o autor não trata do tema como cientista em busca da verdade, porém na condição de ativista que emprega o conhecimento para desautorizar as regras do idioma em sua forma culta, em seu lugar enatecendo o seu uso vulgar.
Segundo o livro, inexiste erro de português porque todo falante da sua língua materna, por natureza usa-o corretamente, na medida em que este uso é necessariamente inteligível. O erro achar-se-ia na discrepância entre o uso e as regras da gramática que, segundo o prof. Bagno, encarnam algo arcaico, carecedor de imediatamente dobrar-se à forma como fala o povo e que representa o prolongamento do colonialismo português. (Alías, o prof. Bagno recomenda expressamente que se associe a gramática ao colonialismo luso, fomentando dois preconceitos, um de natureza idiomática e outro, que leva os brasileiros incautos a repudiarem as nossas origens históricas, à semelhança do filho que, revoltado contra o seu pai, renega o próprio sangue).
O autor não percebe que se a gramática inclinar-se à fala coloquial, não haverá mais regra que as pessoas devam seguir para entenderem-se dentro de um critério homogêneo, desde que cada qual tornar-se-á livre para falar a seu modo e constituir a sua gramática pessoal. Tudo vale, ensina o prof. Bagno. Logo, valem todas as simplificações, as perdas das preposições, a abolição dos plurais ( “as duas máquina está parada”, “veio muitas pessoa”), a confusão dos tempos verbais, as gírias, o desleixo, a lei do menor esforço, a preguiça, os modismos, os estrangeirismos.
É lindíssimo pregar-se aos oprimidos que a gramática não presta porque os oprime e que, livrando-se dela, livram-se de uma parte da sua opressão, tanto quanto é odioso convencer-se os ignorantes de que a ignorância corresponde a um estado normal e não a um mal por erradicar.
Quando se trata de língua, prevalece a quantidade, ensina o mesmo lente: se no Brasil há maior população do que em Portugal, o critério do idioma pertence por óbvio ao primeiro, em nada importando o nível de escolaridade do povo, a presença do hábito da leitura, o zelo pelo idioma, lá muito mais intensos do que cá. Se a qualidade é irrelevante, para o sr. Bagno muitos ignorantes equivalem a um culto e o desempenho idiomático de um povo de baixa escolaridade e avesso ao livro é culturalmente superior ao de um que estuda e que lê muito mais do que o anterior. Assim é que o marxismo militante inverte valores e cria o preconceito contra a forma culta do idioma. Que inverta valores, não admira: é a própria essência do gramscismo.
No livro em foco são muitas as falsas generalizações, os primarismos, as mistificações, os absurdos, como o de que entre o português luso e o nosso há de comum apenas a escrita formal, fora dela não nos entendendo eles e não os entendendo nós a eles, falsidade que, corroborando a distinção falaciosa entre o “nosso” português e o “deles”, serve para legitimar todas as distorções que sofra a língua entre nós. Afinal, temos que proclamar a nossa independência lingüística, doutrina o prof. Bagno e as mudanças idiomáticas são fenômenos, lá diz ele, assim como a lepra e a sida (“aids”) também o são, cá digo eu.
Quem o leia com algum senso crítico, atina logo no quão pouco inteligente o livro é. No entanto, com todo o seu primarismo, vem ele vem conhecendo um êxito estrondoso, nos mais de cincoenta mil exemplares já vendidos, graças, certamente, à lavagem cerebral com que a revolução gramsciana embruteceu a inteligência nacional.
Ele aconselha os professores a lançarem dúvidas na mente dos seus alunos quanto à validade da gramática. Por que os estudantes iriam disperdiçar tempo em aprender e aplicar regras que os próprios docentes reputam duvidosas e verberam como indesejáveis? Tudo vale, diz o prof. Bagno: logo, vale tudo.
Se alguém suspeitar de que com isto abriu-se o caminho à anarquia e aos guetos lingüísticos, acertou em cheio: o prof. Bagno confessa preferir a barbárie do cada um por si, ao regramento da norma culta, graças ao qual, havendo homogeneidade de expressão, have-la-á também de compreensão.
Outro dos livros do mesmo escritor, “Dramática da língua portuguesa”, ele o redatou em “tom marcadamente engajado, militante mesmo”, propondo um novo senso comum lingüístico, que rompa com a ordem estabelecida. Como o precedente, não é livro de ciência: é um panfleto político, que leva a sério somente quem quiser.
O resultado tudo isto só pode ser o do espetáculo atual da decomposição do idioma, em que o brasileiro sabe-o mal porque falte-lhe escolarização e leitura, e porque quando lê, lê obras como as que citei, capazes de em poucos anos corromper uma herança cultural que levou séculos a formar-se, motivo porque considero as doutrinas do sr. Bagno destruidoras e detestáveis.
16/09/2005 às 7:08 #80251Miguel (admin)MestreCom a devida vênia,
Vou apenas trazer questões para serem avaliadas:a)”Cuida-se de mais uma porcaria ideológica, de intuito confessadamente político, em que o autor não trata do tema como cientista em busca da verdade”
1- Qual ciência não tem cunho ideológico?
2-Qual ciência não nasce com cunho político ou não é adotada por uma ideologia política?
3-O que é verdade nas ciências humanas?
4-Deve-se generalizar que toda ciência busca a verdade?
5-O que buscou o positivismo, por exemplo?
6-O que significa o lema “Ordem e Progresso”?b)”Segundo o livro, inexiste erro de português porque todo falante da sua língua materna, por natureza usa-o corretamente, na medida em que este uso é necessariamente inteligível.”
-Isso faz sentido. Afinal, a linguagem nasce da forma escrita ou da falada? Certamente da segunda, e a lingua não é estática. Ela sofre modificações com o decorrer do tempo. O português, por exemplo, é originário do latim, e tem várias palavras de origem grega, e outras de origem francesa, e também inglesa. O que é o português, o que é a língua? Um mutante, um frankestein. Além disso, o português falado no Brasil têm vocábulos desconhecidos em Portugal. Muitos desses vocábulos são de origen indígena e africana. O Brasil é esse mix de povos (índios, africanos, europeus e orientais). Sua língua não poderia ser diferente.
c)”…os brasileiros incautos a repudiarem as nossas origens históricas, à semelhança do filho que, revoltado contra o seu pai, renega o próprio sangue)”
-Os nosso pai e nossa mãe nos dão a vida. Às vezes, eles são autoritários, mas visam a segurança e bem estar de seus filhos.
Não compare isso com o colonialismo que buscou somente exploração das riquezas naturais para satisfazer seus interesses econômicos burgueses. Não compare o colonialismo com a paternidade.
Não se trata de negar as origens históricas, se trata de fazer sua história daqui para frente.Não sou a favor de assassinar a gramática, nem de impo-la como “norma culta”. Tanto aquela pessoa liberal quanto a tradicional acabam sendo lados opostos da mesma moeda. São ambos radicais.
No ensino (tradicional) da lingua portuguesa, existem:
1-as gramáticas (não é só uma, como saber qual é a certa);
2-a literatura (a qual possui a chamada liberdade poética);
3-e o estilismo. – Este último às vezes é ignorado pelos professores do 1º e 2º graus. Às vezes, dependendo do curso, o estilismo é estudado pelos alunos de alguns cursos superiores.
O estilismo mostra que realmente não há erro, tudo é intencional. É estilo ou expressão. O estudo da língua não é o estudo de regras, mas sim o estudo dos significados e significantes e seus signos.
As gírias, segundo alguns professores, são saudáveis, são a identidade de um grupo social. Isso é objeto de estudo também da antropologia. Não há como negar que a sociedade é formada por vários grupos heterogêneos. Todos falam o português, mas há algumas palavras restritas e singularidades. As gírias não são exclusividade dos brasileiros, também os americanos e vários outros povos criam gírias. Isso não os torna menos patriotas.d)”É lindíssimo pregar-se aos oprimidos que a gramática não presta porque os oprime e que, livrando-se dela, livram-se de uma parte da sua opressão, tanto quanto é odioso convencer-se os ignorantes de que a ignorância corresponde a um estado normal e não a um mal por erradicar.”
– Ao que parece, o sistema busca erradicar não a “igorância” mas o próprio “ignorante”. Este quase morre de fome e de descaso.
A maioria da população que você trata pelo rótulo de “ignorante” não teve acesso a educação, saúde e mal se alimentam. Vivemos num país de famintos. As regras gramáticais, a exclusão social, o analfabetismo, não são as piores das opressões neste país. Aqui a fome e o preconceito são muito mais opressores. Então, como vamos educar o povo, se estes não têm nem comida ou saúde? Eles não precisam de aprender regras gramaticais mais do que precisam de comida.e)”Assim é que o marxismo militante inverte valores e cria o preconceito contra a forma culta do idioma.”
– O marxismo (materialismo histórico) analisa a contradição entre classes e seus fatores históricos. Além disso, analisa como a ideologia oculta a contradição entre as classes e a própria contradição do capitalismo.
Você diz que existe um preconceito contra a forma culta do idioma. Eu noto um preconceito na sua forma de se referir aos marxistas (preconceito devido talvez ao desconhecimento da teoria).
Outro preconceito que noto é contra as pessoas que não tem acesso a educação e nem a chamada “norma culta”. Esse termo entre aspas já denota um elitismo e uma supervalorização da cultura européia, chamada clássica por muitos.
Então, discordo de você. O preconceito não é dos marxistas nem dos “ignorantes”, o preconceito parte muito mais dos chamados “intelectuais”.Particularmente, eu adoro a cultura portuguesa. Principalmente a culinária, os vinhos e a música. Sou fã de fado. Adoro a poesia da língua portuguesa.
Então, minha opinião, é contra a separação entre língua portuguesa e língua brasileira. Tanto o Brasil quanto Portugal sairiam perdendo. Mas ninguem está falando em “proclamar a nossa independência lingüística”. A questão é que até mesmo as empresas de softwares reconhecem a diferença que há entre o português do Brasil e de Portugal. A diferença é um fato. Além disso, já mencionei o caldeirão cultural que é o Brasil, nossa língua nacional é uma fusão entre os idiomas indígenas, africanos e o português. Isso difere o idioma brasileiro do portugues, embora ambos sejam a mesma língua estruturalmente.Para haver liberdade, deve haver responsabilidade e vice-versa. Além disso, também a disciplina.
Semear a dúvida, é uma atitude muito mais filosófica do que simplismente pregar uma moral, um valor, uma lei…
A dúvida leva a questão, e esta leva a liberdade do pesamento. Esse processo não ocorre sem disciplina e reponsabilidade.
Por outro lado, impor uma “norma culta” como a única forma válida é prender o pensamento, estipar a poesia, se tornando ditador da educação e minando toda liberdade e responsabilidade do processo criativo.O que é “herança cultural”? Você quer dizer imposição cultural, né?
Assim como a língua, a religião indígena também foi combatida pelos colonos. Felizmente alguns traços dessa cultura foram absorvidas e nem tudo conseguiram banir.Enaltecer apenas o uso “vulgar”, ou ao contrário, apenas a “norma culta” são ambos radicalismos, totalitarísmos, lados opostos da mesma moeda.
Onde fica a criatividade? A individualidade? A liberdade poética? o estilismo?
01/12/2005 às 18:52 #80252Miguel (admin)Mestre“'A questão também pode ser levada ao interesse do direito: deve haver uma legislação no Brasil para regulamentar ou proibir o estrangeirismo na internet, nas ruas, em nomes de edifícios, estabelecimentos comerciais, etc? '
vc é louco???”
Louco por que, meu caro? Eu concordo em gênero e número com o rapaz. Temos um idioma completo em nosso poder. Português é o segundo idioma mais difícil de se aprender NO MUNDO (japa/ingles empatados hehehe). Temos uma complexidade única em idiomas derivados do latim, e vamos deixar nosso idioma ser desvalorizado/ estragado tanto com o internetes quanto com o estrangeirismo? Que idéia é essa? Acho isso um erro absurdo. Acho que estrangeirismos deviam sim ser proibidos. Algumas liberdades só podem ser concedidas mediante prisões.
07/12/2005 às 7:18 #80253Miguel (admin)MestreAcho que a educação deveria ser a forma de manter nossas raízes, tradições ou seja lá o que for. Não sou a favor de lei que regulamente o uso do idioma. Muito menos uma lei que proiba alguma forma individual de se expressar.
Mas concordo que o estrangerismo e a linguagem da internet são abusivas.
Mas a própria consiencia das pessoas pode ver isso, sem necessidade de lei. Basta dar a elas educação, promover debates, mostrar opções, exatamente como estamos fazendo aqui. Mas não parar por aqui. Felizmente, nesse governo tão criticado atualmente, a educação melhorou muito em relação a era FHC. Mas ainda não o bastante.03/04/2006 às 23:06 #80254BrasilMembroVejo essa linguagem como algo negativo, pois afinal, ela abrevia o que? Qual a diferença entre digitar a palavra “naum” ou palavra “não”? Nenhuma, são 4 tecladas.Além disso, é negativo também no seguinte aspecto: o exercício de ler e escrever é importante a todos, especialmente aos jovens, e exercitar-se nesse padrão é nocivo, na minha maneira de ver.Precisa ver se esse jovem que escreve assim, vai saber também escrever no padrão formal, e mesmo que se trate de um jovem bem alfabetizado e que consiga escrever perfeitamente no padrão formal, escrevendo assim, (internetes) ele estará contribuindo contrariamente com os mais novos ou então com os menos cultos e que estão exercitando-se ao mesmo tempo em que lêem mensagens informais.Também temos que considerar a dificuldade de comunicação que os jovens estão desenvolvendo a cada dia, tipo assim, mó legal, é isqizitu.Não é só na escrita, é na falta de conteúdo.
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