Nietzsche é talvez o único filósofo a ser levado a sério

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    Monstrinho
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    Eu penso que Nietzsche talvez seja o único filósofo ocidental a ser levado a sério. Ele apontou para o “rei que está nu”, colocando em evidência todas as mentiras da Filosofia Idealista, que, como nos diz Bachelard “constrói um mundo à imagem e semelhança da razão”, ou seja, constrói um mundo ilusório. Nietzsche desbanca o ideal da verdade da ciência e da filosofia modernas. Não pergunta, "O que é a verdade", mas sim, "Para que ela serve", o que irá de algum modo fornecer elementos para uma crítica da ciência a partir da Sociologia da Ciência. O que é uma verdade? Existe a verdade? Uma verdade é aquilo que se auto-evidencia por si mesma, logo, porque uma instituição como a ciência, com métodos e técnicas peculiares, tem a necessidade de demonstrar uma verdade? Qual é a verdade do Sol? Dirá Alberto Caeiro (Fernando Pessoa): "A verdade do Sol é que ele está brilhando, e a única verdade de uma flor é que ela existe, e nada mais". Mas a ciência diz que a "verdade sobre o Sol" é que ele é uma estrela que converte Hidrogênio em Hélio, e isto é que faz gerar a sua luminosidade. Ora, que verdade é essa, senão uma "verdade" construída pela razão? Muita gente leu Nietzsche e pensa que o entendeu. Mas na minha opinião ele é pouco compreendido - e me perdoem por já ir postando sem ter lido todo o tópico, mas o farei mais tarde, porque certamente há especialistas em Nietzsche aqui, e talvez trazendo abordagens inusitadas. Mas, vamos resumir o que é a filosofia de Nietzsche. Ela não é senão uma crítica ao "ideal da verdade", que tem suas origens em Sócrates e sua culminância na Filosofia Idealista Moderna, talvez na filosofia de Kant, ao preconizar - e retomar o velho ideal grego - de procurar por detrás das aparências, alguma verdade. Me parece que Kant diz que a "coisa em si" é impossível de ser alcançada, mas Nietzsche diz que "a coisa em si" de Kant é uma grande mentira. O ideal da Filosofia e da Ciência Moderna ocidentais é "procurar ver além dos sentidos, porque os sentidos enganam" (Descartes). Os índios do Mato-grosso ou da Amazônia olham as Plêiades em Touro, e vêem um "enxame de abelhas", mas a ciência aponta o telescópio e diz estar vendo um aglomerado de estrelas constituídas de Hidrogênio, com idade não superior a 100 milhões de anos, e distando da Terra, cerca de 400 anos-luz. Então temos apenas um sentido artificial (telescópio) vendo mais longe. Mas o fato de ver mais longe não significa nada! O que é importante é a "auditoria", a "averiguação" a interpretação que o pensamento científico irá fazer desse "olhar que viu mais longe", e aí se constrói todo o conjunto de crenças de que "são estrelas que nasceram de uma nuvem de Hidrogênio e que estão envoltas por esse gás de temperatura elevadíssima. A ciência está portanto construindo uma representação simbólica, através da razão, sobre o que foi observado. Até aqui tenho tecido uma breve crítica da ciência. Vamos falar rapidamente como Nietzsche vê a ciência. Para ele, a ciência é de cunho cristão  :D Essa doeu né?  ;D Mas é verdade! A ciência substitui a religião quando se torna uma instituição superprotetora, assim como a religião era no passado. O ideal da ciência é cristão: ela não te promete o céu ou o inferno, mas promete a cura dos males do corpo de da mente; enquanto a religião permitia que você tivesse várias amantes e poderia matar um monte de gente em nome de Deus, desde que se pagasse o dízimo, a ciência também permite que o indivíduo use drogas, fume, beba, faça sexo, trabalhe além das forças, pois ela tem os medicamentos e as técnicas cirúrgicas para curar as doenças advindas dessas práticas. Se você está ansioso ou depressivo por que vive num mundo louco de extrema competição, não há problema, há ciência dispõe de psiquiatras e calmantes para que você continue vivo. Vamos tomar como exemplo, para facilitar o pensamento de Nietzsche essas poesias do Alberto Caeiro - Fernando Pessoa. O conto antigo da Gata Borralheira,O João Ratão e o Barba Azul e os 40 Ladrões,E depois o Catecismo e a história de CristoE depois todos os poetas e todos os filósofos;E a lenha ardia lá fora em dias de destino,E por cima da leitura dos poetas as árvores e as terras...Só hoje vejo o que é que aconteceu na verdade.Que a lenha ardida, exatamente porque ardeu, Que o sol dos dias de destino, porque já não há,Que as árvores e as terras (para além das páginas dos poetas) - Que disto tudo só fica o que nunca foi:Porque a recompensa de não existir é estar sempre presente. Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) IN: Poemas Inconjuntos _______________________________Todas as opiniões que há sobre a naturezaNunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor.Toda a sabedoria a respeito das coisasNunca foi coisa em que pudesse pegar como nas coisas;Se a ciência quer ser verdadeira,Que ciência mais verdadeira que a das coisas sem ciência? Fecho os olhos e a terra dura sobre que me deitoTem uma realidade tão real que até as minhas costas a sentem.Não preciso de raciocínio onde tenho espáduas. Aberto Caeiro (Fernando Pessoa) - IN: Poemas Inconjuntos (1913-1915).http://mascarasdedeus.blogspot.com/2011/06/delirios-da-razao-ii.htmlPara Nietzsche, portanto, a razão cria um mundo falso, e a Filosofia Idealista cria um homem e um mundo que estão muito aquém do que é realmente o homem e o mundo. Conceitos de "fraco e forte" em Nietzsche_Para Nietzsche, a moralidade socialmente instituída cria a fraqueza. Como no canto de Zaratustra "Dos Virtuosos", as pessoas religiosas fazem o "bem" com vistas a dois objetivos: o primeiro é fazer notar, salientar a existência dos "maus" e da sua "maldade" - porque, se eu "sou do bem", logo tem que haver o "do mal". O segundo objetivo é que os "virtuosos" querem ser recompensados pelo "bem" que fazem, e daí Nietzsche faz notar que os conceitos de "bem" e "mal" são invenções da moralidade e da razão. Mas aqui é preciso cuidado, pois, como eu já andei lendo aí para traz, há a interpretação de que Nietzsche valoriza os instintos humanos, mas a questão não é bem por aí, porque o próprio Nietzsche não foi um homem que viveu sob o império dos instintos, muito pelo contrário, ele gostava de artes, de música clássica, ou seja, ele valorizava a cultura humana, mas criticou o mundo ilusório criado e idealizado pelos filósofos e pelos cientistas.Nietzsche era ateu? - qual era o "deus de Nietzsche"? Ele foi um dos poucos homens que compreenderam o que Jesus veio fazer na Terra. Leiam e tirem suas conclusões ==> http://mascarasdedeus.forumeiros.com/t40-auto-conhecimento-em-friedrich-nietzsche-a-psicologia-dos-evangelhos-segundo-nietzsche Nietzsche assinala que Jesus interpretou a verdade como realidades subjetivas no aqui e agora, o que está de acordo com todos os mestres da Filosofia Oriental - Krishna, Buda, e mais recentemente, Swami Vivekananda e Krishnamurti, que retomam no século XIX toda a tradição da Filosofia Vedanta, cuja cultura indiana fora ameaçada pela invasão dos ingleses e sua cultura ocidental no século XIX).Então o cristianismo, NEGA - assim como a Filosofia Idealista - o aqui e agora, e sempre projeta no futuro a realização da felicidade, o que é um engodo e uma mentira, segundo Nietzsche. Tampouco o passado deve servir de referência para se construir o futuro, diz Nietzsche, e nesse sentido, ele mesmo é um filósofo cujos referenciais são os mitos gregos, a mitologia grega e nisso, Nietzsche é singular, pois que não retoma a Filosofia a partir dos seus vícios e dos erros do Idealismo - o Mundo das Idéias de Platão - e por isso mesmo é que Nietzsche é um dos poucos filósofos que devem ser levados a sério, ao contrário do que postula o título do tópico. Bom, paro por aqui. Passo a palavra... Abçs,

    #88701

    Acho que põe talvez nisso, apesar de entender o cerne do argumento. Digamos que Nietzsche está num gomo contrário ao dominante na história da filosofia clássica. Mas vejamos por que o talvez:Nietzsche, mesmo para criticar, leva a sério a filosofia e os filósofos anteriores. Deles não se desfez, deles teve influência na tradição trafega, ainda que para contrapôr-se em um momento ou outro. Ora, se quisermos levar Nietzsche a sério, não devemos fazer como ele, e tomar também a sério outros pensadores?Consideremos ainda que a influência de Nietzsche na filosofia posterior é magna, especialmente a partir da recepção francesa de sua obra, que influenciou muitos pensadores do século XX e contemporâneos, desde Foucault e Derrida até Heidegger e outros. Se esses filósofos são influenciados por Nietzsche, nosso eleito herói, e reconhecidamente tem um pensamento vasto o bastante para ser lido e estudados como cânone, não devemos também tomá-los como objeto de estuda, por mais que pretendamos ser originais e únicos em nossa devoção?

    #88702
    Monstrinho
    Membro

    Acho que põe talvez nisso, apesar de entender o cerne do argumento. Digamos que Nietzsche está num gomo contrário ao dominante na história da filosofia clássica.

    E é aí que reside o seu mérito. Como diz Jiddu Krishnamurti, para descobrir o novo não podemos ter como referência o passado. E é aí também que reside o grande medo, por parte do unânime formigueiro em se defrontar com o novo, mas sem todavia, construir, projetar esse novo a partir de conceitos, costumes e tradições velhos. Como dizia Jesus, "não se põe vinhos novos em odres velhos e nem remendo novo em pano velho". Vou exemplificar para me fazer entender melhor. Por que, em geral, as pessoas têm medo ou não da morte? Se elas têm medo da morte, é porque não são capazes de enfrentar a morte como o desconhecido, como algo natural, e é por isso que, no segundo caso, as pessoas que não têm medo da morte, não o têm justamente porque as relgiões já inventaram, construíram, projetaram uma explicação de como será a morte e também depois dela. Assim, não é que as pessoas fingem não ter medo da morte, mas, já que a autoridade socialmente instituída já produziu uma explicação para o que sucede após a morte - e para ter-se um bom lugar no post-mortem basta seguir a moralidade imposta pela própria sociedade que no ocidente é de cunho cristão - então as pessoas se preocupam em seguir essa moralidade, já que, em o fazendo, estarão garantindo um bom lugar lá no "céu". Obviamente que isto é uma auto-enganação, mas a fraqueza e a covardia apontadas por Nietzsche, consistem justamente em se aceitar esse tipo de coisas. Por isso que Jesus disse: "Para entrar no Reino dos Céus é preciso que vos torneis semelhantes às crianças" e "às aves do céu, que não semeiam e nem colhem". Mas a Filosofia Clássica e a Ciência estão aí para, paradoxal e contraditoriamente, construir o reino de deus num mundo de impermanência e de vicissitudes -os altos e baixos da vida. Mas a arrogância filosófica e científica pretendem arvorar-se em instrumentos capazes de transcender a inexorável fragilidade humana, demandando o Cosmos. Uma vez abri um tópico no Fórum Espírita (um fórum português que congrega o fanatismo dos espíritas brasileiros com os fanáticos portugueses que se ajoelham ante a estátua de Nossa Senhora de Fátima. Uma coisa de louco aqui lá, mas a gente estava discutindo Filosofia Oriental e sendo vigiados o tempo todo pelo administrador do fórum). E o título do tópico era: Como Surgiu a Ilusão? E um amigo nosso matou a charada depois de que já tínhamos postado alguma coisa: "Com o pensamento!"  :o Toda a Filosofia Clássica - termo usado por você - se resume, de alguma forma - em projetar um futuro para a humanidade, em cujo âmbito subjaz o ideal da verdade, mas o que é a verdade senão aquilo que se auto-evidencia por si mesmo? Dirá Nieztsche...

    Nietzsche, mesmo para criticar, leva a sério a filosofia e os filósofos anteriores. Deles não se desfez, deles teve influência na tradição trafega, ainda que para contrapôr-se em um momento ou outro. Ora, se quisermos levar Nietzsche a sério, não devemos fazer como ele, e tomar também a sério outros pensadores?

    Quais influências? Além de Schopenhauer, quais outros você apontaria como "referenciais teóricos" de Nietzsche? E veja que ele já começa desdenhando o próprio Sócrates e também Platão, que comete o 'erro' de inventar um Mundo das Idéias. Talvez, com relação à Filosofia Clássica, Nietzsche tenha levado a sério alguns cépticos, mas o que é ser céptico senão duvidar, questionar? Segundo a Viviane Mosé, que é uma especialista em Nietzsche, este "começa do nada". Se há um referencial teórico para Nietzsche, esse referencial é a mitologia grega, em cujo "arcabouço teórico" não se encontra ainda os vícios do pensamento racionalista, não se encontra a idéia predominante na História da Filosofia que é "procurar por detrás das coisas", "ver por detrás das aparências". E Nietzsche cita os deuses gregos, como Dionísio - o seu predileto, e aqui não posso discorrer sobre esses referenciais mitológicos de Nietzsche porque não tenho conhecimento para isso -, Heráclito, ou seja, "filósofos" que convivem em paz com a Natureza, sem ter aquele ideal da filosofia pós-socrática, que irá inaugurar uma era de investigar a natureza buscando controlá-la e dominá-la. Então Nietzsche localiza uma mudança drástica ocorrendo, a saber que aqueles homens que viviam em paz com a Natureza e o mundo, se por um lado não produziam explicações de ordem filosófica e científica que viesse a "trazer progresso" ao mundo, por outro lado eles também não criavam esses problemas que foram criados pela razão ocidental, pela razão cartesiana. E veja que eu não estou, como Nietzsche, criticando os filósofos. Não penso por exemplo que Descartes tenha pensado: "vou produzir a dicotomia corpo-mente para reforçar o dualismo, para criar um novo método de exploração da Natureza." Mas o que é impressionante na História da Filosofia, é a neutralidade com que são narradas as biografias e os ensinos dos filósofos, ao contrário da Historiografia da Ciência, que mostra por exemplo que o "genial" Newton, não foi o único "inventor" da Teoria da Gravitação, Mas Robert Hoocke, já tinha a Teoria pronta faltando, para publicar, apenas saber se os cometas também se inseriam na Teoria da Gravitação ou se eles eram um fenômeno à parte, e Newton, com a ajuda de Edmund Halley, acrescentou os cometas em sua teoria e correu lá publicar, além de ter mandado enforcar um certo número de "homens desonestos", quando foi diretor da Casa da Moeda na Inglaterra. Assim também com a descoberta do Cálculo Diferencial, em que Newton, acusara Leibniz de plágio, e Leibniz fez a burrice de solicitar uma "comissão isenta" na Royal Society, para solucionar o caso, quando Newton era o presidente!  :o, e portanto tratou-se de um caso de "descoberta simultânea" - há outros casos como a Teoria da Evolução (Darwin e Wallace) e a Mecânica Quântica (Schorodinger e Heisenberg - mas Planck e Böhr também estavam envolvidos nesses estudos). Mas na História da Filosofia tudo é narrado como se esses filósofos fossem deuses e nós todos ainda somos fãs dos "gregos reencarnados" não é mesmo? Pois eles não estão todos lá na França? - Derrida, Lacan, Foucualt, sem falar dos cientistas, como os De Broglie na França entre outros.

    Consideremos ainda que a influência de Nietzsche na filosofia posterior é magna, especialmente a partir da recepção francesa de sua obra, que influenciou muitos pensadores do século XX e contemporâneos, desde Foucault e Derrida até Heidegger e outros. Se esses filósofos são influenciados por Nietzsche, nosso eleito herói, e reconhecidamente tem um pensamento vasto o bastante para ser lido e estudados como cânone, não devemos também tomá-los como objeto de estuda, por mais que pretendamos ser originais e únicos em nossa devoção?

    Não vejo como Nietzsche possa ter influenciado esses autores que você cita. Sobre isto infelizmente não posso me pronunciar. Sou formado em Sociologia, e é lógico, os professores doutores de Filosofia que escolhem dar aulas num programa de Sociologia, decerto que é para ensinar e divulgar o marxismo não é?  :D. Uma vez - você até deve conhecê-lo, é um grande tradutor de livros - o Raul Fiker parou a aula antes do intervalo alegando que não se lembrava de mais nada sobre Nietzsche. Não se lembrava ou não queria dar a aula conforme os "conformes"?  ::) ;). E tive o desgosto também de, depois de freqüentar a excelente disciplina "Kant, Hegel e Marx", de ouvir, na última aula o nosso professor dizer "eu sou marxista", e aí fui entender porque aprendemos tão pouco sobre Kant e NADA sobre Hegel... Decerto que Nietzsche não influenciou Marx e as escolas marxistas não é mesmo? Se Nietzsche tivesse influenciado de maneira concisa os seus contemporâneos e pósteros, decerto a Academia não seria uma instituição cristã hoje  ;) (e não é brincadeira isso não). Eles falam de Nietzsche na Academia, mas nunca abordam os aspectos psicológicos da filosofia de Nietzsche. Fiz uma disciplina de História da Psicologia aqui numa Universidade da minha cidade, e na última aula o professor reservou uma meia hora para falar da Psicologia Existencialista, depois de ter consumido o semestre deleitando-se em ensinar Skinner, Pavlov, e lógico, como não poderia deixar de ser, o próprio Freud, tudo de uma perspectiva comportamentalista e mecanicista. E Nietzsche está aonde então? Nas salas de psicoterapia. Ele influenciou os psicólogos existencialistas, porque a filosofia de Nietzsche não é uma teoria, ela é uma prática, que nós já sabemos qual é, e porque todos a evitam: sair do unânime formigueiro. Enquanto os hipócritas religiosos se comprazem em cantar o o hino do "um só rebanho, um só pastor", a Academia canta o hino do "um só rebanho e vários (que são os mesmos pastores), que são os filósofos e os cientistas. Mas sei que o problema aí não é sobre a questão de Nietzsche ter influenciado ou não os seus pósteros e contemporâneos, mas a questão é: a quem interessa aprender a Filosofia nietzscheana? Numa disciplina de Doutorado (não sou doutor), sobre Teoria do Conhecimento, o professor me pediu para eu apresentar para a turma O Anti-cristo, mas no final, o professor se resumia a dizer que o anti-cristo era Paulo de Tarso... E de fato, Nietzsche errou feio aí (Putz! enfim uma ocasião para eu deixar de ser parcial com relação a Nietzsche  :yahoo_mini:), pois o próprio Paulo de Tarso veio a dizer que "o ser humano é inimigo de Deus", numa alusão psicológica a que, o ser humano está totalmente iludido com as idéias mundanas, a ponto de se auto-desconhecer completamente, já que o "Reino de Deus está Dentro de Vós", mas as religiões, e também a "Filosofia Clássica"  :D, e também a ciência, estão sempre procurando esse "deus" no além, "por detrás das coisas":

    Hans George Gadamer: [...]A ciência grega é algo totalmente novo em relação a tudo que os homens sabiam anteriormente e a tudo que costumavam cultivar como saber. Quando os gregos formularam esta ciência, separaram o Ocidente do Oriente  :o e colocaram-no em seu próprio caminho.[...] Ao recuperar o sentido da palavra grega que designa a verdade, Heiddeger possibilitou em nossa geração um conhecimento promissor. Nâo foi Heiddeger o primeiro a descobrir que Aletheia significa propriamente desocultação  :o (Unverborgenheit). Heiddeger nos ensinou o que significa para o pensamento do ser o fato de a verdade precisar ser arrebatada da ocultação (Verbogenheit) e do velamento (Verhohlenheit) das coisas como um roubo. As coisas mantêm-se por si próprias em estado de ocultação; "a natureza ama esconder-se", teria dito Heráclito. (Pp. 59-60 - "Verdade e Método II")

    Há um verso do Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), em que, depois da morte dele Deus pergunta: "o que viste por detrás das coisas lá no mundo?" "Nada, tu não puseste nada lá", responde ele  ;D ;D ;DNum outro post que dei uma olhadela aí pelo fórum, o forista colocava e exaltava todas essas questões nietzscheanas, a questão da liberdade, mas, temerosamente dizia: como vamos largar a nossa vida, os nossos compromissos para seguir Nietzsche? É a mesma questão que foi colocada por Jesus, quando o jovem rico disse que queria segui-lo, ou quando um candidato a discípulo disse a Jesus: "vou segui-lo, mas deixe-me primeiro enterrar o meu pai". Quer dizer, ambos não tinham condições de segui-lo, uma vez que suas preocupações estavam todas voltadas para os interesses pessoais e mundanos, pois "as raposas têm suas tocas, as aves do céu, seus ninhos, mas o filho do homem não tem uma pedra onde recostar a cabeça dolorida. E, continua Jesus: "Eu não sou do mundo, por isso o mundo me odeia" (= não pertence ao rebanho), e esse é o medo de seguir filósofos semelhantes a Nietzsche: ter que abandonar o mundo, se opor a tudo e a todos se isto for preciso, mas há um preço a pagar é claro, e é por isso que há tão poucos seguidores de Nietzsche ou de outros "além-homens", ou seja, que se alçaram acima da condição humana, que é uma condição de miséria e escravidão. Portanto, seguir Nietzsche no meu entender é mais uma prática do simplesmente construir um novo Sistema de Filosofia para deleite de retóricos e estudiosos da História da Filosofia.Você ainda pergunta se não devemos tomar os filósofos influenciados por Nietzsche como heróis e objetos de devoção?. Acho que Nietzsche - se é que eu entendi alguma coisa desse autor - nos ensina a não sermos devotos de ninguém e de nada. Nem o próprio Nietzsche pode ser visto com tal. O que vale é o conteúdo das suas palavras na vida prática, porque a filosofia de Nietzsche consiste apenas em aceitar a vida e o mundo tais como eles são, não no sentido de que devemos aceitar as hipocrisias, os crimes e etc, mas no sentido de que é preciso negar tudo isso, dar as costas para as tradições e os costumes, não querer buscar um lugar ao Sol no "mundinho" ao qual se referiram aí anteriormente. Abçs,  

    #88703

    “Acho que Nietzsche – se é que eu entendi alguma coisa desse autor – nos ensina a não sermos devotos de ninguém e de nada”Justamente, nem do próprio Nietzsche. Apesar disso, e por isso, que argumentei no início. Nietzsche não surge do nada e nem desemboca em nada. Mesmo fugindo da sisudez, é um filósofo bastante sério. A sério tomou toda a filosofia que estudou. Tudo que estudou é parte de sua formação, até a Bíblia. Não é só questão de influência direta nas teorias, como o citado Schopenhauer, mas também outros... Heráclito, por exemplo. O homem era erudito, cita um sem número de coisas para dialogar, como eu disse, mesmo criticando. Então o que justifica, tomando a citação sua que destaquei, eleger Nietzsche como um herói filosófico, o único, e usá-lo como um gateway para julgar tudo o que seja "ocidental" ou o que valha? Isso é aceitar um tutelamento e também enxergar a filosofia com vendas, não no seu valor próprio, em si, mas segundo opiniões de antemão que causam o descarte. Embora não seja errôneo identificar-se mais com um pensamento ou corrente, não é preciso jogar uma miríade de coisas fora com base em algum problema fundamental, que, de repente, pode também ter sido abordado de diversas formas, tendo a visão aberta  para encontros possíveis.Da mesma forma, por que se você elege Nietzsche o "the one" da filosofia, mesmo elaborando a sua de forma independente, que Nietzsche também fez, junto com sua formação, por que pensar que outros filósofos contemporâneos que fizeram leituras igualmente graves de Nietzsche, tomando integral ou parcialmente suas ideias e escritos, sejam menos merecedores de atenção que o próprio? Não seria interessante ver também, de forma séria, o que têm se tido sobre ele nos últimos cem anos (além da própria leitura direta), e os desdobramentos disso, em vários nomes e vertentes?

    #88704

    “Então o cristianismo, NEGA – assim como a Filosofia Idealista – o aqui e agora, e sempre projeta no futuro a realização da felicidade, o que é um engodo e uma mentira, segundo Nietzsche. “Sobre esse ponto, em particular, que é bastante interessante,  você já viu o livro do Feuerbach "A Essência do Cristianismo" que trata do mesmo tema, mas de um ponto de vista mais político, talvez?

    #88705
    Monstrinho
    Membro

    "Acho que Nietzsche - se é que eu entendi alguma coisa desse autor - nos ensina a não sermos devotos de ninguém e de nada"Justamente, nem do próprio Nietzsche. Apesar disso, e por isso, que argumentei no início. Nietzsche não surge do nada e nem desemboca em nada. Mesmo fugindo da sisudez, é um filósofo bastante sério. A sério tomou toda a filosofia que estudou. Tudo que estudou é parte de sua formação, até a Bíblia. Não é só questão de influência direta nas teorias, como o citado Schopenhauer, mas também outros... Heráclito, por exemplo. O homem era erudito, cita um sem número de coisas para dialogar, como eu disse, mesmo criticando.

    Também acho isso. Ele cita de tudo, e utiliza termos e "chavões filosóficos" em francês, alemão, latim, e fala dos pré-socráticos como alguém que estudou com afinco e conhece tudo como a palma da mão. É um autor que escreve muito bem, sem aqueles chavões e vícios retóricos acadêmicos, o que para mim, se tornou de fácil leitura e entendimento. Mas nem tudo são rosas meu amigo! Dizem - os espíritas dizem isso, já fui um deles - que a gente "colhe aquilo que planta". E o fanatismo de outrora me impediu que eu lesse Nietzsche e outros autores do gênero. Fui daqueles que de antemão e pré-concebidamente achava que os escritos de Nietzsche teriam influenciado diretamente o Fascismo, e além disso, igualmente de antemão e precipitadamente, achava um insulto à minha condição de espírita estudioso, um filósofo falar da morte de Deus. Veja, meu amigo, como são as coisas. Na minha formação em Sociologia houve muitas frustrações, porque além de entrar em conflito as Ciências Sociais materialistas com o Espiritismo espiritualista - via no marxismo (que é só o que eles ensinam na Universidade) uma igrejinha disfarçada. Devido a isso houve uma tentativa de ir para as ciências naturais, mas como sou um fiasco em Física e Matemática, acabei encontrando um meio termo, que foi o mestrado em Educação Científica, com ênfase em Filosofia, História e Sociologia da Ciência. E também fui um fanático da ciência, e veja só a minha crítica sobre ela hoje. E tudo isso num curto espaço de tempo. Hoje graças a Deus posso dizer que não tenho verdade nenhuma, ainda que eu goste de escrever sobre Nietzsche às mancheias.

    Então o que justifica, tomando a citação sua que destaquei, eleger Nietzsche como um herói filosófico, o único, e usá-lo como um gateway para julgar tudo o que seja "ocidental" ou o que valha? Isso é aceitar um tutelamento e também enxergar a filosofia com vendas, não no seu valor próprio, em si, mas segundo opiniões de antemão que causam o descarte. Embora não seja errôneo identificar-se mais com um pensamento ou corrente, não é preciso jogar uma miríade de coisas fora com base em algum problema fundamental, que, de repente, pode também ter sido abordado de diversas formas, tendo a visão aberta  para encontros possíveis.

    O que justifica, retomando o que eu vinha dizendo, é que a partir do entendimento da sua obra, libertei-me do jugo da religião. Só quem viveu isso na pele sabe como é difícil. Entre no fórum Ateu.net, e veja lá o depoimento das pessoas que foram submetidas à religião desde cedo pelos pais, e hoje não suportam sequer que se pronunciem palavras como "Deus", "Espírito", "Alma", "Reencarnação' e etc.Permita-me conhecê-lo um pouco: você é formado em Filosofia? É professor de Filosofia?? Então, compreendo isso que você está dizendo. Acho mesmo que manter-se ligado a um único autor seja da filosofia, da literatura, do misticismo e etc, é também uma maneira de não permitir que a mente se abra a novos conhecimentos e insights. Ultimamente andei lendo e estudando sobre Filosofia Oriental, mas esta última é mais prática que teórica, mas sei que me falta retomar os estudos. Por exemplo, estou com os dois volumes do Gadamer aqui comigo, comprados já há algum tempo, e somente agora estou retomando o interesse pelos estudos.

    Da mesma forma, por que se você elege Nietzsche o "the one" da filosofia, mesmo elaborando a sua de forma independente, que Nietzsche também fez, junto com sua formação, por que pensar que outros filósofos contemporâneos que fizeram leituras igualmente graves de Nietzsche, tomando integral ou parcialmente suas ideias e escritos, sejam menos merecedores de atenção que o próprio? Não seria interessante ver também, de forma séria, o que têm se tido sobre ele nos últimos cem anos (além da própria leitura direta), e os desdobramentos disso, em vários nomes e vertentes?

    Sim, claro que seria interessante. Sempre é interessante ler a contraparte, a crítica de um autor, os contras, para não corrermos o sério risco de, em tomando os prós apenas por consideração, teminemos por fazer daquele autor um ídolo, como você disse. Contudo, se Nietzsche figura como a minha verdade particular no âmbito das leituras filosóficas, isto tem a sua razão de ser, porque, em confrontando os escritos de Nietzsche com os pensadores e instrutores indianos - Buda, Krishnamurti, Swami Vivekananda - e o próprio Jesus, encontramos um denominador comum, que, apesar de parecer o contrário, todos esses autores estão radicalmente contra as religiões institucionalizadas. Nesse sentido talvez eu esteja vivendo a minha revanche contra a religião. Atualmente outro conflito surgiu: a vontade de voltar a estudar Filosofia - principalmente mitologia (um dia ainda quero me debruçar sobre esse assunto e será logo) - e as coisas que aprendi com uns espiritualistas na internet sobre o perigo de não se criar novas verdades. Então eu estava numa postura tipo assim, de não estudar mais nada, de que tudo seria perda de tempo. Mas tudo tem seu tempo não é? "Há tempo para tudo" (Eclesiastes 1:1).Hoje penso seriamente em me debruçar sobre os estudos, mas agora, com uma nova cabeça. Preciso trabalhar também, voltar a dar aulas. Como eu te disse, a gente não tem uma boa formação em Filosofia, porque a minha graduação é em Ciências Sociais, e a História da Ciência te mostra aspectos da ciência enquanto instituição, que você passa a ver a ciência com outros olhos. Mas os próprios historiógrafos (Historiados não! historiadores são os próprios cientistas) da Ciência, não possuem uma crítica assim tão afiada sobre a mesma. Poderia ir lá na outra "seção de ajuda", mas vou perguntar aqui mesmo: quais livros você me recomendaria nessa linha?? Já tentei ler o Heiddeger outrora, mas achei difícil, e Sartre, "O Ser e o Nada", não consigo ler aquilo  :diablo_mini:O que me tá na mão é o Gadamer mesmo... Chegou um momento para mim em que cansei de escrever na internet - estou escrevendo aqui porque encontrei um locutor inteligente e se tivesse conhecido este fórum antes teria debatido aqui para aprender coisas novas. Só não me venham com Marx e os marxistas  :D. Disso aí eu to fora! Vamos lá responder o próximo post seu.

    #88706
    Monstrinho
    Membro

    "Então o cristianismo, NEGA - assim como a Filosofia Idealista - o aqui e agora, e sempre projeta no futuro a realização da felicidade, o que é um engodo e uma mentira, segundo Nietzsche. "Sobre esse ponto, em particular, que é bastante interessante,  você já tenha viu o livro do Feuerbach "A Essência do Cristianismo" que trata do mesmo tema, mas de um ponto de vista mais político talvez?

    Não li não, mas me parece muito interessante. Precisava arrumar um orientador e tentar fazer doutorado em alguma coisa - Filosofia ou Antropologia do Conhecimento. Você sabe que há estudos que temos que fazer para dar aulas e há outros que fazemos para nós mesmos, porque nem tudo pode ser ensinado na Academia. A propósito, você é da Academia? O meu fórum to deixando de lado também, porque as pessoas gostariam que houvesse temas religiosos lá para ficarem postando, e não têm! Há o Coronel que posta lá, militar reformado, um senhor de apenas 90 anos que sabe tudo e mais um pouco sobre Misticismo Oriental, e que vive encurralando os religiosos, a partir da dialética socrática. Mas ali não dá para aplicar a dialética, pois os poucos fanáticos inscritos não postam nada  :D :diablo_mini:. A gente fica esperando eles postarem alguma coisa só para ir lá e dar um sermão daqueles!  ;DEnfim, tornou-se insuportável ler e escrever na internet - embora eu não resista, rsrs, veja o tamanho dos meus posts. Agora até cansei de falar e postar sobre Nietzsche  :D ;). Mas também né? Já falei tudo o que tinha que dizer. Eu aprendi com esses espiritualistas, coisas que para mim são novas. É sempre muito bom quando surge um insight "daqueles" não é mesmo?? Eles dizem que os pensamentos não existem, que os pensamentos não são nossos. Há dois argumentos para sustentar essa tese: a de que já somos condicionados a pensar e a de que os pensamentos surgem na nossa mente "do nada", e assim, não são nossos já que não temos controle sobre eles. Isto pode ser comprovado na prática da meditação, em que, observando os pensamentos sem fazer objeções ou julgamentos sobre eles, e sem vivenciá-los emocionalmente, eles desaparecem. Podemos até matar alguns pensamentos, eu já consegui fazer isso algumas vezes na meditação. O Nisargadatta Maharaj, por exemplo, argumenta que se nós somos capazes de observar os próprios sentimentos e pensamentos, então não somos os pensamentos e sentimentos! :o. A Filosofia Advaita Vedanta, do Nisargatta Maharaj é a Filosofia do EU SOU, ou seja, eu não sou isto e nem aquilo, porque, se eu digo que sou isto, ou que sou aquilo, então posso observar este isto e aquilo como se eles estivessem fora de mim, e portanto EU SOU apenas. Sou o que? o observador, a testemunha que observa a tudo, e, se eu estou observando os meus pensamentos e sentimentos, então não sou eles! O que você pensa de tudo isso? E a outra "descoberta para mim mesmo" foi a de que nós somos personagens aqui neste mundo. O ser humano não é real! Ele é uma criação da sociedade. É a questão do ego. O Ego é criado socialmente. Eu tenho agora, uma certeza sobre isso, nem crença é mais. Quando a gente fala dessa "teoria" as pessoas logo se lembram do Matrix, mas eu infelizmente não assisti o filme Matrix. Mas, por que eu estou te importunando - talvez - com essas questões? Porque, descobri que há uma "ponte" entre esses conceitos e alguns filósofos como o Nietzsche, e também com as Ciências Sociais. Quando a Sociologia fala, por exemplo da Ideologia Dominante, que é um conjunto de crenças, costumes, tradições, leis, normas que são criados pelas classes dominantes, e que, uma vez transmitidas ás demais classes todos esses valores são acreditados como reais, é fácil concluir daí que, o "ser social" é uma ilusão! O ser humano enquanto ser social é um produto da sociedade, argumentam os sociólogos, logo, você não é você, você é aquilo que a sociedade fez de você, e portanto, há uma maneira de se despir desse envoltório (o ego = conjunto de crenças sobre quem ou o que sou eu) e conhecer a sua verdadeira essência! É isso o que Nietzsche está dizendo! É isso que os Budas e Jesus-Cristos do passado ensinaram! Como você deve saber, o Sidarta Gautama, o Buda, fez uma grande descoberta, a descoberta do "não-eu". O "eu" é uma ilusão, porque ele é criado socialmente, portanto ele não tem realidade em si. É possível destruir esse eu! O que você pensa disso tudo?E eu, aliás, já até escrevi uns pequenos textos sobre isso - está postado dois deles aqui neste fórum. Veja por exemplo a definição da Antropologia sobre o homem: "o homem é um animal simbólico, que constrói representações sobre o que seja a realidade", e com isso já dá para amalgamar a Teoria do Conhecimento, desde os cépticos - como David Hume e Descartes - até Nietzsche, Heiddeger e Bachelard entre outros com esse conhecimento da Filosofia ou Misticismo Oriental.Lógico que não há nada de novo em se conceber a hipótese de tudo ser ilusão; a Antropologia e a própria Teoria do Conhecimento já conhece de há muito essa possibilidade, mas o que eu havia pensado, é de tentar levar isso a sério, de escrever sobre isso numa linguagem que seja compreendida pelas pessoas. E, os religiosos são os que mais têm dificuldades de compreender isto, porque a mentalidade deles é dualista. Para você ter uma idéia, o Fórum Espírita tem mais de 70 mil membros, e os chamados - sarcásticamente - de "ilusionistas" conseguiram "converter" uma meia-dúzia ali, no máximo, entre eles, eu. As pessoas acreditam que o mundo é real! Acreditam que elas mesmas enquanto seres sociais são reais, mais isto é uma ilusão. Uma prova disso é a própria morte que dissolve esse ser social? Dissolve?  :o :o Dissolve nada! Mas aí já entramos no terreno do Espiritismo e eu não quero discutir mediunidade e comunicação com Espíritos aqui.  "Tudo é ilusão", logo todas as teorias também são ilusórias, incluindo o que eu estou escrevendo aqui. Mas talvez não seja ilusão se esse conhecimento vier amalgamado com a experiência mística e com o conhecimento das ciências humanas sobre esse tema. Pois, todas essas parábolas, mitos e ensinamentos dos grandes mestres são o que senão o expressar em palavras um conhecimento da realidade que eles tiveram não pela via da razão, do pensamento, mas por outras formas de percepções? Outra coisa também: muitas descobertas de filósofos e cientistas do ocidente vieram por essa percepção não-condicionada, ou seja, por outro tipo de percepção que não o pensamento e a razão. Você já ouviu falar que Descartes descobriu o cogito quando estava perto de uma lareira, e, ao adormecer sonhou com com o "penso, logo existo"? O mesmo se deu com Newton, que, segundo a lenda, ao ver uma maçã cair teria tido o insight sobre a Teoria da Gravitação. Há outros exemplos como Pascal e Niels Böhr que sonhou com a serpente que engolia a própria cauda. Repare então, que estes aspectos são poucos explorados pela Filosofia Ocidental, e se, como dizem os professores de Filosofia e os sociólogos, nós somos "livres para pensar", somos capazes de tecer "pensamentos críticos" o que mais crítico e livre do que tentar novas formas de pensar, ainda que estes, não sejam pensamentos novos, mas pensamentos que outros já pensaram? Veja a Alegoria da Caverna. O que Platão está dizendo sobre a caverna, senão que ela é o próprio mundo e esse mundo é uma ilusão? No entanto, me parece que os professores de Filosofia ensinam essas coisas aos alunos, mas eles mesmos não levam a sério. Sei que aí entra a sua proposta de também levar a sério o que os pensadores e filósofos pensam em contrário. Mas como se irá sustentar, por exemplo, que o pensamento é uma secreção do cérebro, se, na meditação, na prática de meditação esses pensamentos podem ser controlados e observados? Esse é um tema em que eu tenho trabalhado, mas como eu lhe disse, falta-me debruçar sobre leituras e mais leituras, estudos bíblicos, sobre mitos, Filosofia e etc. Agora passo a palavra, para ver o que vc acha de tudo isso... Abçs,  

    #88707
    mirtes
    Membro

    E a outra “descoberta para mim mesmo” foi a de que nós somos personagens aqui neste mundo. O ser humano não é real! Ele é uma criação da sociedade. É a questão do ego. O Ego é criado socialmente. Eu tenho agora, uma certeza sobre isso, nem crença é mais. Quando a gente fala dessa “teoria” as pessoas logo se lembram do Matrix, mas eu infelizmente não assisti o filme Matrix.

    O ser humano é real e o personagem também. O que não é real é apenas o ego que é imposto ao ser humano sem que o mesmo possa exercer o direito ao livre-arbítrio na escolha de seu personagem.

    #88708
    Monstrinho
    Membro

    E a outra "descoberta para mim mesmo" foi a de que nós somos personagens aqui neste mundo. O ser humano não é real! Ele é uma criação da sociedade. É a questão do ego. O Ego é criado socialmente. Eu tenho agora, uma certeza sobre isso, nem crença é mais. Quando a gente fala dessa "teoria" as pessoas logo se lembram do Matrix, mas eu infelizmente não assisti o filme Matrix.

    O ser humano é real e o personagem também. O que não é real é apenas o ego que é imposto ao ser humano sem que o mesmo possa exercer o direito ao livre-arbítrio na escolha de seu personagem.

    Salve! Há espiritualistas aqui neste fórum também!  :D ;) Acho que o Miguel não se importará se eu passar aqui (novamente  ;D) o endereço do meu fórum sobre Espiritualismo ==> http://mascarasdedeus.forumeiros.com/ (Façam o cadastro e participem!).Olá mirtes! Mirtes, se o ser humano não exerce o livre-arbítrio na escolha do personagem, quem então, é que exerce?  ::) O ser humano é o personagem, logo, ele é o próprio ego. Mas eu me baseio aqui, numa miscelânea de raciocínios advindos por um lado, do pensamento oriental, e por outro, da lógica kardequiana, que está contida em O Livro dos Espíritos. Na questão 266 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta aos Espíritos se "Não parece ser lógico que os Espíritos escolham as provas menos dolorosas"? E a resposta é "Para vós sim, para o Espírito não; quando ele está liberto da matéria, a ilusão cessa, e o seu modo de pensar é diferente". Durante 20 anos como espírita, eu mesmo e de maneira geral, todos os espíritas, não entenderam essa questão a contento. Por isso mesmo, um amigo nosso que é estudioso de O Livro dos Espíritos, se refere a este como o muito citado, pouco lido e raramente compreendido Livro dos Espíritos. Vamos analisar essa importante questão, que parece muito simples à primeira vista, mas seja por uma questão de tradução, ou até por uma questão de uma maneira incorreta de expressão, a resposta suscita abordagens dúbias. Esse "vós" é o ser humano, que pensa diferente do Espírito, apesar de o "Espírito estar nele"  ::). Esse "liberto" da matéria (é aqui que surge o problema, a dubiedade), não é estar livre do corpo físico apenas - o que gerou a mentalidade em grande parte do movimento espírita de que, uma vez estando desencarnado, o Espírito se livraria não só do corpo, mas das idéias mundanas, e isto não é verdade, em face das comunicações dos Espíritos que continuam após a morte acreditando que têm amigos, inimigos, nome próprio, profissão, esposa, filhos, bens materiais, idéias "próprias", ou seja, continuam vivendo o personagem após a morte, uma prova de que não se libertaram do ego. Então esse "liberto da matéria" é quando o Espírito se despiu do ego, e isto pode (deve, de outro modo o Espírito perde a reencarnação e volta para a Roda do Samsara) se dar em "vida". Se "a maneira do Espírito pensar" é diferente da do ser humano (o "vós", na resposta), é porque, quem escolhe representar o personagem é o Espírito, ou seja, ele exerce o seu livre-arbítrio na escolha das provas, e Deus, provê os meios (tudo aquilo que o ser humano chama de dores, desgraças, ou contrariamente, prazer, felicidade - isso é tudo ilusão) para que o Espírito cumpra a sua prova. Vamos exemplificar. O (a) Mirtes é um Espírito e escolhe nascer como mulher e terá como prova (além de ser mulher, que já é uma prova) ter um marido infiel. Ora, o Espírito é que está pedindo isso, não obstante, uma vez reencarnado, Deus proverá os meios para que a prova seja cumprida, a saber que surgirá em sua vida o homem infiel. A Mirtes se casará com ele, e será traída. Mas a Mirtes, que agora é uma personagem, verá isto como uma dor terrível, como uma injustiça, dirá que ela não merece passar por aquilo, porque ela se dedica ao marido, é fiel, companheira, amiga, batalhadora ao lado dele, e ele é infiel com ela. E aí surge aquele mar de lamentações e imprecações contra Deus e contra a vida. Quem está criando essa idéia de "infelicidade" e desventura, é o ego, porque a Mirtes nasceu num mundo, cuja sociedade ensina uma moralidade que preconiza a fidelidade como algo correto, e a infidelidade como algo imoral; preconiza mais: que o ato de ser fiel tráz "recompensas" socialmente falando - e também após morte - e o ato de ser infiel, provoca dor e sofrimento naquele que é alvo da infidelidade. Quer dizer, todas essas idéias são criadas pelo ego, mas o que é o ego senão o próprio ser humano? O que é ego senão esse ser social que é moldado pela sociedade e levado a acreditar nos valores e idéias dominantes dessas sociedade?  E o Espírito? Onde e como fica nessa? O Espírito está assistindo a tudo isso e pode amar incondicinalmente (= não acreditar nas estorinhas que o ego nos conta) ou não. Quando o Espírito assiste a isso? Nos momentos de desdobramento pelo sono em que algumas vezes toma consciência do que realmente está acontecendo. Se ele acredita nas mentiras ou estorinhas que o ego conta, ele não é capaz de amar incondicionalmente, mas se ele duvida das estórias que o ego conta, então vê a infidelidade como algo natural, já que vivemos num mundo de impermanência, que é o mundo de Maya, e o que suscita todos esses "males" são as próprias condições que Maya, suscita ao Espírito, cujo objetivo é fazer este mergulhar na ilusão a fim de poder discernir a realidade.Assim, o ser humano não existe. O ego é que cria a idéia de que o ser humano é real. O ego é o próprio ser humano, o que levou Paulo de Tarso a dizer que "O ser humano é inimigo de Deus" (= é inimigo do Espírito, que pensa diferente dele). Então, não existe homens e mulheres; pais e filhos; pobres e ricos; poderosos e fracos; sábios e ignorantes. Isso é tudo ilusão! O que existe são Espíritos representando todos esses papéis fictícios. Isto fica claro nos romances mediúnicos do Victor Hugo e Manoel Philomeno de Miranda entre outros, quando o filho de um certo pai nesta encarnação, se reencarna como pai daquele que lhe foi pai numa outra encarnação. Então, não faz sentido acreditar que eu tenho um pai, um filho, um inimigo, que eu tenho riquezas ou que sou poderoso. Outro exemplo mais contundente: o indivíduo acredita que pessoas "de cor" são inferiores. Ele é racista, e persegue esse tipo de pessoas. Quando ele desencarna, vê que aquilo tudo era ilusão, pois os Espíritos não têm cor!  ;) Espírito tem sexo? Espírito tem riquezas? De modo que, ele mesmo pede para reencarnar no meio daquele povo que perseguiu, mas não para "colher o que plantou", "pagar dívidas pretéritas", mas como ensejo para ele compreender, que cor da pele, sexo, classe social, etc, é tudo ilusão. Agora, não me faça a complicada pergunta do porquê os Espíritos necessitarem demandar o mundo de Maya, ou seja, encarnarem em mundos materiais em que "os sentidos enganam" (Descartes), porque isso ninguém sabe responder. Pai Joaquim de Aruanda diria que o objetivo da reencarnação é o Espírito "amar incondicionalmente", ou seja, suprimir o dualismo e, em deixando de acreditar na variedade/multiplicidade, que são modos de manifestação da Realidade Absoluta ou Brahman (Se quiser pode chamar isso de "deus" também) enxerga a unidade. Há até uma estória interessante, que, Swami Vivekananda uma vez riu de seu mestre Sri Ramakrihna, quando este dizia ver Deus. E Ramakrishna respondeu que "vejo Deus quando olho você, aquela pedra, aquela mulher, aquele pássaro", etc. E essa foi a grande descoberta de Buda, de que o ego é uma ilusão. Se as representações simbólicas criadas socialmente é que conferem inteligibilidade ao mundo, e se essas representações são construídas por um "ego coletivo", então o mundo e as próprias pessoas são ilusões, o que levou Buda a ver em tudo e em todos apenas modos de manifestação da Realidade Absoluta, e com isso, fez a descoberta do "não-eu", a descoberta mais importante de toda a história da humanidade, na minha opinião.  Bom, isso do ponto de vista da Doutrina Espírita - quando bem compreendida, é claro. Sem levarmos em conta a reencarnação, o EU SOU é a testemunha silenciosa que observa as ações, pensamento e sentimentos do ego. O EU SOU, o EU SUPERIOR não pensa. Pensar é uma atividade exclusiva do ego. O EU verdadeiro, conhece a realidade através da percepção não condicionada, que consiste numa postura céptica, ao questionar todas as estorinhas e mentiras que o ego nos conta. Este mister é passível de obtenção pela meditação, que consiste em observar os pensamentos, observar o ego, mas sem se envolver emocionalmente com ele, advindo então o conhecimento de que, eu não sou o ego, eu não sou fulano e sicrano, pai de beltrano, "eu não sou isto nem aquilo, EU SOU!" (Nisargadatta Maharaj). Então o ser humano é uma ilusão, ele não é real. Talvez ele seja real dentro de uma perspectiva relativa, mas de um ponto de vista absoluto "tudo o que existe debaixo do Sol é ilusão e vento que passa", como nos pontuou, sabiamente, o rei Eclesiastes. Abçs,

    #88709
    Monstrinho
    Membro

    Não foi, obviamente, desta perspectiva nesse meu post anterior, que Nietzsche viu o mundo como ilusão – lógico também que ele não usou esse termo; o termo usado por ele é mentiras  :D  ;D  ;). “O padre é um mentiroso”, dirá Nietzsche!  :D (Adoro esses emoticons rs).Veja que, mesmo da perspectiva espírita, nem mesmo os próprios Espíritos (As almas dos que viveram na Terra ou em outros mundos) saberiam dizer acerca da sua verdadeira essência uma vez que, não se despindo da carapaça do ego quando em vida, levariam para o além-túmulo todas as idéias do mundo material. E os espíritas argumentam, baseados em Platão: "O mundo material é uma cópia imperfeita e mal acabada do mundo espiritual". Não! O Espírito é que mergulhou na matéria (na ilusão) e voltou para o "mundo espiritual" iludido, e construiu cidades espirituais. Alguém assistiu o filme "Nosso Lar"? Nosso Lar é o nome dado a uma suposta cidade espiritual que existe um pouco acima da atmosfera da cidade do Rio de Janeiro. Na verdade, se tal cidade existe, ela existe como uma ilusão criada pelos próprios Espíritos, que ainda precisam de um "fetiche" ou seja, de representações simbólicas para conferir inteligibilidade ao local onde se encontram no além-túmulo. Assim, se os próprios Espíritos não saberiam definir o que seja o mundo espiritual como é que se poderá acreditar em quaisquer narrativas do post-mortem, pelos "Espíritos-humanizados"? (= seres humanos).Não é à toa que Nietzsche chama Jesus de "o grande simbolista", porque, ali naqueles Evangelhos, não há uma passagem sequer que não seja senão símbolos e metáforas para se falar da "vida interior", desse "EU superior", que não é o ego. Veja ==> http://mascarasdedeus.forumeiros.com/t40-auto-conhecimento-em-friedrich-nietzsche-a-psicologia-dos-evangelhos-segundo-nietzscheMas o Cristianismo, teve que "fetichizar" a coisa - dirá Nietzsche - ou seja, ele tem que criar algo que seja representativo da própria condição humana. Assim, o Reino dos Céus aparece como algo exterior e a vida após a morte é algum lugar circunscrito em que as almas viverão as suas bem ou más aventuranças. Jesus: "Se não nascerdes de novo não entrareis no Reino dos Céus"; Nicodemos: "Mestre, como poderei eu, estando velho, voltar para o ventre de minha mãe para nascer de novo?"; Jesus: "Se não entendeis das coisas da Terra, como se irá compreender as coisas do "céu"?", numa alusão a que todos eles não enxergavam os simbolismos. Mas também, como se poderá falar da cor vermelha a um cego de nascença? Contudo, a crítica de Nietzsche ao Cristianismo é uma crítica que se estende muito além, e que não poupou gregos e troianos da sua época, entre eles os filósofos idealistas, os metafísicos de toda espécie, os defensores de doutrinas de igualdade social e também os cientistas. Na leitura que faço da obra de Nietzsche a questão central que se deve ter em conta é a questão da autoridade - e essa autoridade sempre está representando poderes, interesses e idéias dominantes - a que, o unânime formigueiro está constantemente hipnotizado e atraído irrestivelmente no sentido de trocar a sua liberdade pela proteção oferecida pela autoridade. Essa questão pode ser ilustrada pelo trecho a seguir, do livro O Grande Inquisidor, de Dostoievski:

    Um dos quadros mais notáveis do conflito entre a sensitividade ética e as instituições existentes, e da ansiedade acarretada pela liberdade, encontra-se no conto de Dostoievski: “O Grande Inquisidor”. Cristo voltou à Terra um dia, curando tranqüilamente as pessoas nas ruas, e por todos reconhecido. Isto aconteceu durante a Inquisição Espanhola, e o velho cardeal, o Grande Inquisidor, encontrando Cristo na rua, mandou prendê-lo.Na calada da noite, o Inquisidor vai explicar ao Cristo silencioso porque jamais deveria ter voltado à Terra. Durante quinze séculos a Igreja vinha lutando para corrigir o erro inicial de Cristo ao conceder ao homem a liberdade e não lhe permitirá que desfaça seu trabalho.O erro de Cristo, diz o Inquisidor, foi que, “em lugar da rígida lei antiga”, ao homem deu um encargo: “de coração livre decidir por si mesmo o que é bom e o que é mau”, e “essa temível responsabilidade do livre-arbítrio” é demasiada para o homem. Cristo respeitava demasiado o homem, argumentava o Inquisidor, esquecendo que na verdade as pessoas querem ser tratadas como crianças e ser levadas pela “autoridade” e o “milagre”. Deus deveria apenas ter-lhes dado o pão, como o demônio sugeriu na tentação, “mas não quisestes livrar o homem da liberdade e rejeitastes o oferecimento, pensando: “de que vale a liberdade se a obediência é comprada com o pão?... Mas, no final, eles colocarão a liberdade aos nossos pés, dizendo: ‘Façam de nós “escravos”, mas dêem-nos pão’... Esquecestes que o homem prefere a paz até a morte ao livre-arbítrio, com conhecimento do bem e do mal? Há pessoas fortes, heróicas, que poderiam seguir a liberdade de Cristo, continua o Inquisidor, mas o que a maioria procura é estar unida “num só unânime e harmonioso formigueiro... Digo-vos que o homem não vive atormentado por ansiedade maior do que encontrar alguém a quel possa rapidamente entregar o dom da liberdade, com o qual toda malfadada criatura nasceu”. A Igreja aceita o dom: “Nós lhes permitiremos ou proibiremos viver com suas mulhres e amantes, ter ou não ter filhos – segundo sejam obedientes ou desobedientes – e se submeterão alegremente a nós... pois isto os salvará da grande ansiedade e terrível agonia que sofrem ao tomar uma livre decisão”. O velho Inquisidor, fazendo a pergunta retórica meio triste “Por que voltastes para perturbar nossa obra?”, acrescenta que no dia seguinte Cristo será queimado. Dostoievski não quer dizer, naturalmente, que o Inquisidor fale de todas as religiões, católica ou protestantes. Quer antes retratar o lado coercitivo da religião que procura “o unânime... formigueiro”, o elemento que escraviza a pessoa, tentando-a a ceder, como fez Esaú por um prato de lentilhas, suas mais valiosas posses – a liberdade e a responsabilidade. IN: "O Homem à Procura de Si Mesmo", Rollo May. ==> http://forum.consciencia.org/qual-e-o-sentido-da-vida/a-consciencia-criativa-psicologia-existencialista/msg20572/#new

    Não somente a religião, mas também a Filosofia e a Ciência, bem como as instituições sociais, estão o tempo todo oferecendo aos indivíduos quadros explicativos sobre o porquê de a sociedade e sua organização social, ser assim e não assado. Segundo o físico e sociólgo português Jorge Dias de Deus, hoje cabe à ciência fornecer o quadro explicativo do porquê da sociedade está organizada assim e não assado; cabe à ciência fornecer a explicação sobre as desigualdades sociais, sobre a questão dos méritos e deméritos sociais, sobre a lógica do trabalho e da vida em sociedade, coisa que, na época medieval, cabia à religião e à filosofia - ninguém duvida que o Positivismo suplantou a Filosofia como forma de explicação da realidade não é mesmo? (http://forum.consciencia.org/sociologia/sociologia-e-ideologia-da-ciencia-a-ciencia-como-mito-e-representacao-simbolica/).Mas todas essas explicações, dirá Nietzsche, são apenas invenções, suposições e idealizações do que seria a realidade. Portanto, para Nietzsche - ou na leitura que faço dele - todas essas instituições (e são todas de cunho cristão, incluindo a Filosofia; a sua mentalidade é cristã) estão apenas iludindo o homem; mas a questão é que os fracos e covardes (termos de Nietzsche) se comprazem em estar iludidos, pois se se retira todo esse quadro explicativo da "realidade", o que é que fica na frente do homem senão um "nada", um vazio, que irá obrigá-lo a buscar a verdade por si mesmo? E a busca da verdade - que segundo Nietzsche e os mestres orientais - deve ser feita individualmente, mas como é difícil e doloroso essa busca, então preferem delegar e outorgar à autoridade os seus destinos. Sei que Nietzsche também - vendo agora a outra face da moeda - valoriza e destaca a força dos grandes impérios, como algo que é constantemente invejado e atacado de maneira covarde pela mentalidade cristã, que procura tirar a força do forte mediante a constituição de um novo quadro moral, que ponha em dúvida a legitimidade dos valores de uma dada organização social. Foi o que aconteceu com o império romano, que ruiu de dentro para fora, mas eu não saberia dizer se o Cristianismo nascente então, teria tido alguma influência digna de nota nesse processo de decadência do império romano. Como já disse, estou fazendo uma leitura de Nietzsche, e o próprio Miguel, me alertou sabiamente que, há outras leituras e que não podemos fazer vista grossa a elas. Mas nesse contexto aqui, Nietzsche vê a distorção da Boa-nova como a instauração da "Má-nova", e com isso, surge, a partir do Cristianismo, um mundo de "anti-cristos", uma humanidade doente na medida em que é dependente de autoridades e instituições cujo papel consiste em dizer "como é a vida", como se deve vivê-la e como será o futuro da humanidade. O Além-homem é o que desdenha e nega a autoridade com a sua moralidade instituída socialmente e, para desgosto de Nietzsche, é também o que sai da Caverna de Platão  :D  ;).Abçs,  

    #88710
    Monstrinho
    Membro

    Olá!!!  ;D Como eu sei que vocês são fãs do Michel Foucualt  :biggrin_mini2: vou postar algo do Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) (de novo!  :D).A manhã raia. Nâo: a manhã não raia.A manhã é uma coisa abstrata, está, não é uma coisa.Começamos a ver o sol, a esta hora, aqui.Se o sol matutino dando nas árvores é belo,É tão belo se chamarmos a manhã "começarmos a ver o sol"Como o é se lhe chamarmos a manhã;Por isso não há vantagem em pôr nomes errados  ;D às coisas, Nem mesmo em lhes pôr nomes alguns.  ::)

    #88711
    mirtes
    Membro

    Salve! Há espiritualistas aqui neste fórum também!    Acho que o Miguel não se importará se eu passar aqui (novamente  ) o endereço do meu fórum sobre Espiritualismo ==> http://mascarasdedeus.forumeiros.com/ (Façam o cadastro e participem!)

    >:( Não gosto muito de espiritualismos pois vejo expresso na linguagem deste um "eu lírico" falseado(?)...Soa aos meus sentidos como uma tentativa de se institucionalizar aquilo que não pode ser institucionalizado, no caso, a alma do ser humano.

    Mirtes, se o ser humano não exerce o livre-arbítrio na escolha do personagem, quem então, é que exerce?  O ser humano é o personagem, logo, ele é o próprio ego.

    Jesus: "Se não nascerdes de novo não entrareis no Reino dos Céus"; Nicodemos: "Mestre, como poderei eu, estando velho, voltar para o ventre de minha mãe para nascer de novo?"; Jesus: "Se não entendeis das coisas da Terra, como se irá compreender as coisas do "céu"?", numa alusão a que todos eles não enxergavam os simbolismos. Mas também, como se poderá falar da cor vermelha a um cego de nascença?

    Até o novo nascimento não é o ser humano que exerce seu livre-arbítrio posto que este ser humano não é livre para exercer este direito. Nasceu sob a desobediência a Deus, sendo portanto um transgressor da Lei. Vive ali seu personagem e o ego que nela reside é o que a sociedade lhe impõe. Só Jesus Cristo tem o poder para a libertação!

    #88712
    Monstrinho
    Membro

    Cara Mirtes, Entendi a sua colocação, também não desejo que mais uma esfera de conhecimento seja uma vez mais institucionalizada. Mas creio que não estamos fazendo isso aqui. A indústria da meditação está vendendo às mancheias seus produtos como livros, cds com músicas relaxantes, exercícios de Yoga, textos de aut0-ajuda, e os budistas se impondo regras, rituais e vestuários exóticos que nada tem a ver com Buda. Portanto, não vejo de minha parte nenhuma tentativa de "institucionalizar" nada. Espiritualista é aquele que acredita na existência do Espírito - e isto não tem nada a ver com acreditar ou não em Deus, pelo menos da forma como o conceito de Deus foi colocado pela Filosofia Ocidental. O que eu acho estranho todavia, é a sua contradição: você é contra a institucionalização do novo, mas quer institucionalizar - uma vez mais - Jesus Cristo como salvador do mundo (O "libertador", segundo você), e pior, num tópico sobre Nietzsche, cuja proposta é demonstrar - e isso já está demonstrado aí para trás, acho que não leu os posts - que Jesus ou quaisquer outras pessoas ou instituições como "salvadoras" disso ou daquilo é um grande engodo. Abçs,

    #88713
    mirtes
    Membro

    Olá caro Monstrinho! :bye_mini:Eu gosto muito do espiritualismo nestes termos tão bem definidos por você, assim, vou "teletransportar-me " aos "forumeiros do mascarasdedeus" :wink_mini:posso?

    O que eu acho estranho todavia, é a sua contradição: você é contra a institucionalização do novo, mas quer institucionalizar - uma vez mais - Jesus Cristo como salvador do mundo (O "libertador", segundo você), e pior, num tópico sobre Nietzsche, cuja proposta é demonstrar - e isso já está demonstrado aí para trás, acho que não leu os posts - que Jesus ou quaisquer outras pessoas ou instituições como "salvadoras" disso ou daquilo é um grande engodo.

    Nietzsche tem razão pois as " as tábuas de valores de uma sociedade é o credo dos interesses de uma classe dominante..."porém, quanto a Jesus, Ele é o salvador pois Ele é o Mestre dos mestres e o Senhor dos espíritos, de forma que não há nada de "novo" e sim, apenas novas aparências do que há de vir.  :bye_mini: Vou até o "café filosófico" do seu sítio, ok?Abraços!

    #88714
    Monstrinho
    Membro

    Olá caro Monstrinho! :bye_mini:Eu gosto muito do espiritualismo nestes termos tão bem definidos por você, assim, vou "teletransportar-me " aos "forumeiros do mascarasdedeus" :wink_mini:posso?

    O que eu acho estranho todavia, é a sua contradição: você é contra a institucionalização do novo, mas quer institucionalizar - uma vez mais - Jesus Cristo como salvador do mundo (O "libertador", segundo você), e pior, num tópico sobre Nietzsche, cuja proposta é demonstrar - e isso já está demonstrado aí para trás, acho que não leu os posts - que Jesus ou quaisquer outras pessoas ou instituições como "salvadoras" disso ou daquilo é um grande engodo.

    Nietzsche tem razão pois as " as tábuas de valores de uma sociedade é o credo dos interesses de uma classe dominante..."porém, quanto a Jesus, Ele é o salvador pois Ele é o Mestre dos mestres e o Senhor dos espíritos, de forma que não há nada de "novo" e sim, apenas novas aparências do que há de vir.  :bye_mini: Vou até o "café filosófico" do seu sítio, ok?Abraços!

    Vá lá Mirtes, tomar um cafezito conosco  :)Esse negócio de "Senhor dos Espíritos" é coisa de espíritas  ;D. Mas há, em todo o fórum, uma única secção dedicada ao Espiritismo, e olhe que ficou chique o título hein: "Espiritualismo científico: doutrina espírita e seus fundamentos". Homenagem melhor aos espíritas, num fórum sobre espiritualismo oriental, não poderia ter não é?  :D ;)Abçs,

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