Nietzsche Para alem do bem e do mal

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    Li várias vezes o aforismo #36 (“Supondo que nada seja dado como real…”) de para alem do bem e do mal e nao consegui entendê-lo a fundo….
    Se alguem puder me ajudar a compreende-lo ficarei grato

    #79750

    O que você entendeu do que leu?

    Quais os pontos obscuros?

    Exponha o seu não-entendimento em forma de perguntas específicas.

    #79751

    Vou tentar ser ao menos compreensível:

    O que (não) entendi :

    Nietzsche começa formulando uma hipótese em que a realidade se limita aos aspectos psicológicos(desejos , paixões , instintos). Então questiona(?) se essa realidade seria suficiente para compreender o mundo material.

    Como o mundo material (mecanicista) poderia ser entendido como “forma mais primitiva do mundo das paixões (dos afetos)?
    O que é a “unidade poderosa” existente nesse “mundo dos afetos”?

    No final desse 1º parágrafo : “uma forma prévia de vida” se refere á “vida dos instintos”?

    Já no 2º parágrafo ele faz referência à um “método” e à “moral do método a que não devemos fugir.”. O que(qual) é o método e porque considerar a moral (tão criticada pelo próprio Nietzsche)?

    A vontade não pode atuar sobre “matéria” já a “vontade-força” ou a ” força de vontade” tem essa liberdade.. no que elas se diferem?

    Qual o objetivo de suas suposições( que parecem ser impraticáveis ): “Supondo, finalmente , que se conseguisse explicar (…) Supondo que se pudesse reconduzir todas as funções orgânicas a essa vontade de poder…”

    Afinal a vontade é considerada uma causa ou um efeito ?

    >Creio que há algo de muito errado nas minhas interpretações desse pequeno texto. Talvez toda a minha confusão esteja em simples aspectos gramaticais como ligar um objeto a seu devido verbo … (=

    #79752

    Nietzsche começa formulando uma hipótese em que a realidade se limita aos aspectos psicológicos (desejos, paixões, instintos). Então questiona se essa realidade seria suficiente para compreender o mundo material.

    – Sim, a partir do que é semelhante entre esses mundos (um aus Seines-Gleichen). Creio que se trate dos valores “naturais”. Mais abaixo, explico melhor…

    Como o mundo material (mecanicista) poderia ser entendido como “forma mais primitiva do mundo das paixões (dos afetos)”?

    – Veja bem, o mundo material/mecanicista se refere a uma forma de visão. Existe o ponto de vista psicológico que você já mencionou e a visão mecanicista, na qual a natureza, qualquer que seja ela, passa a ser vista como uma máquina, um mecanismo em funcionamento. Essa visão mecanicista tem a ver com a idéia de uma causalidade cega.

    O que é a “unidade poderosa” existente nesse “mundo dos afetos”?

    – Que toda a complexidade da vida pulsional (eine Art von Triebleben) e, não, instintiva (Instinkt), como você diz logo abaixo, converge para uma força única.

    No final desse 1º parágrafo : “uma forma prévia de vida” se refere à “vida dos instintos”?

    – Ou seja, é algo prévio, posto que seria o natural. Toda a complexidade posterior recalca o que havia anteriormente sem, contudo, destruí-lo. Ele continua em algum lugar, produzindo efeitos, buscando manifestar-se.

    Já no 2º parágrafo ele faz referência à um “método” e à “moral do método a que não devemos fugir.”. O que(qual) é o método e por que considerar a moral (tão criticada pelo próprio Nietzsche)?

    – O que ele chama de “moral do método a que não devemos fugir” é a ética de pesquisa que demanda a exatidão na metodologia matemática:

    “Nicht mehrere Arten von Causalität annehmen, so lange nicht der Versuch, mit einer einzigen auszureichen, bis an seine äusserste Grenze getrieben ist (—bis zum Unsinn, mit Verlaub zu sagen):…”

    – que não devemos admitir diversas classes de causalidade, enquanto não tivermos tentado resolver por meio de uma só, sem haver levado essa tentativa até os últimos limites (até o absurdo, se assim podemos dizer).

    A vontade não pode atuar sobre “matéria” já a “vontade-força” ou a ” força de vontade” tem essa liberdade… no que elas se diferem?

    – A vontade é abstrata, os nervos, concretos.

    Qual o objetivo de suas suposições( que parecem ser impraticáveis ): “Supondo, finalmente , que se conseguisse explicar (…) Supondo que se pudesse reconduzir todas as funções orgânicas a essa vontade de poder…”
    Afinal a vontade é considerada uma causa ou um efeito?

    – “…alle wirkende Kraft eindeutig zu bestimmen als: Wille zur Macht…” – A vontade de poder ele diz tratar-se de uma força agente e – “…gesetzt, dass man alle organischen Funktionen auf diesen Willen zur Macht zurückführen könnte…” – que todas as outras vontades relacionadas às funções orgânicas se reduzem, no final, a efeitos dessa causa única.

    Creio que há algo de muito errado nas minhas interpretações desse pequeno texto. Talvez toda a minha confusão esteja em simples aspectos gramaticais como ligar um objeto a seu devido verbo…

    – Justifica-se a dificuldade de ler Nietzsche: eu me caguei, com o perdão da palavra, pra conseguir destrinchar esse texto. Felizmente, consegui traduzi-lo com o feliz achado de uma “pedra de roseta” alienada a ele.

    Minha sorte foi ter reencontrado a expressão “vontade de poder” noutro texto desse autor, o capítulo II de Der Antichrist. Esse é um texto pesado e escrito numa linguagem muito mais poética do que, propriamente, filosófica. Recomendo que não o interprete de uma maneira muito literal, pois, nele, nada é exatamente o que parece ser:

    Was ist gut?— Alles, was das Gefühl der Macht, den Willen zur Macht, die Macht selbst im Menschen erhöht.
    O que é bom? – Tudo que aumenta, no homem, a sensação de poder, a vontade de poder, o próprio poder.

    Was ist schlecht?— Alles, was aus der Schwäche stammt.
    O que é mau? – Tudo que se origina da fraqueza.

    Was ist Glück?— Das Gefühl davon, daß die Macht wächst, daß ein Widerstand überwunden wird.
    O que é felicidade? – A sensação de que o poder aumenta – de que uma resistência foi superada.

    #79753

    Um pouco mais sobre a causalidade cega mecanicista:

    Desse modo, a vontade é a raiz, o princípio primeiro do mundo. Essa vontade extravasa do homem e do seu agir. Nele, está por toda a parte, na vivência, no pensamento, bem como nas volições.

    Fora do homem, a vontade está por toda a parte, ela é tudo: tanto a gravidade e a afinidade química, quanto o instinto animal, tudo tende, tudo quer. Em todos os fenômenos da natureza, da vida dos astros à vida vegetal, do instinto dos animais ao querer consciente do homem, manifesta-se a mesma vontade, que é cega vontade de viver, irracional, que se desdobra sem finalidade, que quer por querer e para aumentar a insatisfação e a dor.

    Todo o universo é uma manifestação desta vontade, não causa dos fenômenos, mas objetivação de si mesmo.

    [Extraído de um texto sobre Schopenhauer]

    #79754

    Obrigado pelos esclarecimentos ( são realmente muito úteis )

    Essa complexidade dos textos do Nietzsche me faz olhar com desconfiança os livros já traduzidos…

    Recentemente me deparei em uma livraria com um livro chamado “Fragmentos do espólio(ed. UnB)” achei muito interessante pelo que li ( apesar de ser composto principalmente por frases soltas ), mas devido ao preço não ser muito convidativo (R$44,00) resolvi não comprar na ocasião. Você conhece esse livro?

    Onde posso encontrar as obras de Nietzsche no idioma germânico?

    #79755

    Onde posso encontrar as obras de Nietzsche no idioma germânico?

    Aqui você encontra: http://www.geocities.com/thenietzschechannel/

    Você conhece esse livro?

    Acabei de conhecer. Pela sinopse, parece ser bem interessante…

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