Os crimes provêm do não atendimento às necessidades do cidadão?

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  • #70857
    Brasil
    Membro

    minha acusação vem da constatação de que a idéia, onipresente e adaptada às mais diferentes situações, de que o mal praticado por um cidadão é motivado pelo não atendimento de suas necessidades é conversa mole, ladainha surrada de moleque!

    Cara Ariadne, eu não colocaria isto que vou dizer como uma premissa absoluta, mas sim como uma premissa estatística. Há exceções!  Mas na contemplação geral, onde o cidadão tem efetivamente as suas necessidades atendidas a criminalidade é menor. Posso estar errado e, nem por isso me considerarei um moleque, mas gostaria de ver argumentos.

    #86238
    Ariadne
    Membro

    “Cara Ariadne, eu não colocaria isto que vou dizer como uma premissa absoluta, mas sim como uma premissa estatística. Há exceções!  Mas na contemplação geral, onde o cidadão tem efetivamente as suas necessidades atendidas a criminalidade é menor. Posso estar errado e, nem por isso me considerarei um moleque, mas gostaria de ver argumentos.” Olá, Brasil Vou aproveitar que caí da cama para comentar o que penso agora, depois eventualmente desenvolvo minhas ideias melhor. Antes de mais nada, observo que não só concordo com essa estatística como deixei claro, em meu post que o levou a fazer as considerações acima, que a noção de que a criminalidade pode ser, em parte, também consequência de carências econômicas vem da constatação de um fato, empiricamente observado, embora, neste caso, a meu ver, também ideológica e culturalmente construído, com todas as consequências que isso tem sobre a psicologia humana, reforçando o fato a ser empiricamente constatado. O problema é que, a partir da constatação de um fato e de sua difusão logo vem a vulgarização, com todas as consequências negativas. E, neste caso, uma delas me parece ser a extrapolação de noções que derivam da constatação do fato para outras situações em que não se aplica. Exemplo: um aluno indisciplinado ser identificado como economicamente carente ainda que não seja, uma vez que indisciplinado. Logo, se a raiz do problema da indisciplina do aluno for outra, jamais será encontrada, uma vez que já se assume, a priori, uma causa para seu comportamento, descartando automaticamente outras possibilidades. Fora isso, a explicação viciada para o referido fenômeno, ao ser incorporada pela sociedade, também pode ser usada como falsa justificativa por aquele que opta pela prática do crime ou, no caso de meu exemplo acima, pelo aluno que, assim, vê um estímulo externo à sua indisciplina, não o contrário, como penso que seria desejável. O problema é que também existe o perigo em sentido contrário, que me parece, sinceramente, ainda mais perverso, isto é, a condenação sumária, sem levar em conta os atenuantes (como a necessidade financeira) para certos tipos de comportamento. Ocorre que a banalização da ideia que leva a atribuir, de forma automática e irrefletida, atenuantes até em situações as mais descabidas gera justa indignação da sociedade, mesmo pq reforça comportamentos socialmente prejudiciais que colocam em risco permanente a própria integridade física das pessoas e, com isso, acaba justamente alimentando a sanha punitiva de certos segmentos da sociedade, num círculo vicioso cruel em que problemas que poderiam ser melhor investigados e mais precisamente identificados deixam de efetivamente ter solução possível... PS: Ainda sobre a correlação entre crime e pobreza, também vale lembrar das exceções, caso da Índia, que apontam para outros fatores determinantes da criminalidade.

    #86239
    Lekso
    Membro

    O crime surge porque o homem é um ser apenas parcialmente social.

    #86240
    Brasil
    Membro

    Antes de mais nada, observo que não só concordo com essa estatística como deixei claro, em meu post que o levou a fazer as considerações acima, que a noção de que a criminalidade pode ser, em parte, também consequência de carências econômicas vem da constatação de um fato, empiricamente observado, embora, neste caso, a meu ver, também ideológica e culturalmente construído, com todas as consequências que isso tem sobre a psicologia humana, reforçando o fato a ser empiricamente constatado.O problema é que, a partir da constatação de um fato e de sua difusão logo vem a vulgarização, com todas as consequências negativas. E, neste caso, uma delas me parece ser a extrapolação de noções que derivam da constatação do fato para outras situações em que não se aplica.

    Então o que é conversa mole e ladainha de moleque NÃO é a idéia ou premissa empiricamente constatada de que os crimes provêm do não atendimento das necessidades do cidadão E SIM O USO OPORTUNISTA desta premissa, nos casos de exceção.  Ah bom! Agora tá explicado... Concordo.  O uso oportunista e inoportuno de QUALQUER  premissa é algo abominável.Acho que não divergimos em nada neste assunto.

    #86241
    Brasil
    Membro

    O crime surge porque o homem é um ser apenas parcialmente social.

    E a(as) outra(s)  parte(s), explica(m) os crimes?A parte humana que reprova os crimes é a social e, a parte que comete os crimes, qual é?  Não estariam os crimes, também relacionados à parte social?

    #86242
    Ariadne
    Membro

    “Então o que é conversa mole e ladainha de moleque NÃO é a idéia ou premissa empiricamente constatada de que os crimes provêm do não atendimento das necessidades do cidadão E SIM O USO OPORTUNISTA desta premissa, nos casos de exceção.  Ah bom! Agora tá explicado… Concordo.  O uso oportunista e inoportuno de QUALQUER  premissa é algo abominável.Acho que não divergimos em nada neste assunto. " Creio que nem sempre conscientemente oportunista. A correlação entre pobreza e crime, tendo em vista justificá-lo, pode ter se tornado um discurso tão hegemônico que, me parece, nem sempre se lança mão dele de forma imprópria com segundas intenções. 

    #86243
    Lekso
    Membro

    A parte humana que reprova os crimes é a social e, a parte que comete os crimes, qual é?  Não estariam os crimes, também relacionados à parte social?

    Só há crime no contexto de sociedade, mas creio que possa haver sociedade sem crime. (Talvez até neste planeta mesmo, com nossos descendentes, daqui a algumas milhares de gerações.) Para isso, creio que a humanidade ainda precise completar seu processo de socialização, iniciado na pré-história. Talvez falte ao Homo sapiens intelecto suficiente para que ele desenvolva uma consistente consciência social. Nosso "intelecto social" ainda é muito primitivo; estaria ainda dormente, meramente insinuado... Ainda não desenvolvemos bem a tal da "consciência social" — e acredito que não a atingiremos através de nenhum "movimento social" que já se tenha idealizado.Entendo que o crime não seja fruto direto das "necessidades individuais" (em sentido ariadneano), embora ambos me pareçam ter origem comum. Enquanto persistir qualquer impulso individualista no ser humano, haverá atitudes socialmente reprováveis (ou seja: "crimes", em sentido amplo). Mas talvez um dia o individualismo fique obsoleto — como os dentes cisos — e, então, os crimes cessem de existir, por já não serem necessários (em sentido leksiano).

    #86244
    Lekso
    Membro

    Ou seja: entendo que a criminalidade tenha como causa um impulso individualista componente da psique humana, o qual se opõe aos imperativos da consciência social, que ainda está em fase de desenvolvimento.

    #86245
    Brasil
    Membro

    Olá Ariadne

    A correlação entre pobreza e crime, tendo em vista justificá-lo, pode ter se tornado um discurso tão hegemônico que, me parece, nem sempre se lança mão dele de forma imprópria com segundas intenções.

    Eu penso que é uma questão importante discutir a confusão que se pode fazer generalizando uma premissa, porém esta questão em certos casos, como este,  por exemplo,  é infinitamente menor que a questão que gerou a premissa.  Discutir o senso comum que abarca e contamina uma premissa verdadeira  e desfigura o seu real grau de veracidade é importante, porém, neste caso específico, se preocupar com isso é uma atitude de importância secundária.  É irrelevante  em minha opinião, discutir a banal generalização que se pode fazer com esta premissa,  diante do fato de que nada está sendo discutido para sanar o problema que gera a premissa que todos nós já consideramos verdadeira.A pobreza já é convenientemente considerada um mal necessário, ou seja, considera-se que os crimes provêm do não atendimento às necessidades do cidadão  e,  com esta premissa verdadeira  e o problema que a gerou ainda insolúvel,  começa-se a procurar os casos em que está havendo  uma generalização inconsciente ou oportunista...     Bem, como eu disse,  isso tem a sua importância, mas dentro de uma escala de importância isso está lá atrás.  O que é importante na verdade é sanar o problema efetivamente e não encontrar onde está havendo generalização da premissa que o explica.  Relegando esta questão para segundo plano e colocando a generalização desta questão em primeiro plano,  estamos fazendo algo sadio? E a questão primeira? Já é considerada insolúvel? Será que é mesmo insolúvel? Será que não estamos engolindo algo ainda não devidamente esclarecido através da lógica, como uma questão já entendida ou decretada insolúvel?  Assim como a propalada e “iminente” escassez  de água doce, ou o “risco de terrorismo” islâmico... Coisas que eu questiono  veementemente. Considero-as idéias fomentadas,  patrocinadas,  sem qualquer fundo de verdade,  só de interesses.

    #86246
    Ariadne
    Membro

    Em princípio tendo a concordar que discutir o senso comum que abarca e contamina uma premissa verdadeira, desfigurando seu real grau de veracidade, embora importante, possa ser secundário, no caso desta discussão, diante da importância em combater o mal maior, a pobreza. Já fiz por diversas vezes o mesmo tipo de reflexão. Mas, por outro lado, repenso e constato que uma coisa não necessariamente exclui a outra. Ambas as discussões me parecem fundamentais, pois o que está em jogo é a própria viabilidade da vida em sociedade. Por mais modesto que pareça o comentário, devo confessar que não consigo imaginar como uma sociedade desprovida de certos valores pode prosperar. Também me parece ser preciso distinguir o não atendimento das necessidades básicas dos cidadãos (como saúde, alimentação etc.), a miséria, que considero inaceitável em qualquer projeto de sociedade civilizada, de baixo poder aquisitivo. Além disso, um dos aspectos que me chama a atenção na questão da criminalidade é que, embora seja atribuída frequentemente à pobreza, boa parte dos crimes não está ligada às condições econômicas. A punição é que parece ser aplicada aos de baixo poder aquisitivo, em favor dos mais abastados, que, com respaldo financeiro, sempre encontram brechas em nossa legislação. Mas o fato concreto é que a prática do crime parece se banalizar pelas mais diferentes razões. E entendo que algo precisa ser feito nesse sentido, do contrário a sociedade pode se deteriorar a ponto de se tornar inviável, creio eu.

    #86247
    Ariadne
    Membro

    “Entendo que o crime não seja fruto direto das “necessidades individuais” (em sentido ariadneano), embora ambos me pareçam ter origem comum. “Será que pode explicar melhor a frase? "Ou seja: entendo que a criminalidade tenha como causa um impulso individualista componente da psique humana, o qual se opõe aos imperativos da consciência social, que ainda está em fase de desenvolvimento. " Não vejo incompatibilidade entre o individualismo e a vida em sociedade, uma vez que a qualidade da sociedade se reflete em bem-estar individual. O conflito só existe quando a noção de individualidade é deturpada, partindo do completo alheamento ao fato de que a sociedade é reflexo da conduta individual de cada um de seus cidadãos. 

    #86248
    Lekso
    Membro

    Mas o fato concreto é que a prática do crime parece se banalizar pelas mais diferentes razões. E entendo que algo precisa ser feito nesse sentido, do contrário a sociedade pode se deteriorar a ponto de se tornar inviável, creio eu.

    Pois proponho a seguinte questão: — Apesar de podermos amenizar a criminalidade através de medidas como o combate à desigualdade social, há algo que se possa fazer para erradicar a criminalidade?Outra questão, que me parece ainda mais grave: — A humanidade está caminhando rumo à própria destruição?

    Não vejo incompatibilidade entre o individualismo e a vida em sociedade, uma vez que a qualidade da sociedade se reflete em bem-estar individual.

    Pois, o bem-estar individual não proporciona necessariamente o bem-estar social. Eis por que me referi a um individualismo anti-social.

    "Entendo que o crime não seja fruto direto das "necessidades individuais" (em sentido ariadneano), embora ambos me pareçam ter origem comum. "Será que pode explicar melhor a frase?

    Considerando que o simples bem-estar individual (em análise social) é insuficiente para eliminar a criminalidade, proponho que a origem da criminalidade esteja em algo que instigue o homem à sobrevivência; num impulso até mesmo historicamente anterior à sociedade.

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