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22/11/2001 às 2:30 #69941Miguel (admin)Mestre
Eu tenho q fazer um trabalho cujo tema é esse:
Porque os clássicos se tornam clássicos, e eu queria uma ajuda se possivel, ficarei muito grato10/01/2002 às 15:02 #75472Miguel (admin)MestreTalvez o texto abaixo possa inspirá-lo para fazer o trabalho, isto é, se o prazo não expirou e com ele o interesse pelo assunto.
SOBRE OS CLÀSSICOS – JORGE LUIZ BORGES.
Escassas disciplinas devem ter mais interesse que a etimologia; isto se deve às imprevisíveis transformações do sentido primitivo das palavras, ao longo do tempo. Dadas tais transformações, que podem beirar o paradoxal, de nada ou de muito pouco serve a origem das palavras para a elucidação de um conceito. Saber, que, em latim, cálculo significa pedrinha e que os pitagóricos usavam dessas pedrinhas antes da invenção dos números da álgebra; saber que hipócrita era ator, e persona máscara, não é um instrumento válido para o estudo da ética. De modo semelhante, para fixar o que hoje entendemos por clássico, é inputil saber que esse adjetivo vem do latim classis, frota, que depois tomaria o sentido de ordem. (Lembremos, de passagem, a formação análoga de ship shape).
O que é, agora, um livro clássico? Tenho ao alcance das maõs as definições de Eliot, de Arnold, e de Sainte-Beuve, sem dúvida razoáveis e luminosas, e muito me agradaria concordar com esses ilustres autores, mas não os consultarei. Acabo de completar sessenta e tantos anos; em minha idade, as coincidências ou novidades importam menos que aquilo que julgamos verdadeiro. Limitar-me-ei, então, a expór o que pensei sobre esse ponto.
Meu primeiro estímulo foi uma História da Literatura Chinesa (1901), de Herbert Allen Giles. Em seu segundo capítulo, li que um dos cinco textos canônicos editados por Confúcio é o Livro das Mutações, ou I-Ching, feito de 64 hexagramas que esgotam as possíveis combinações de seis linhas truncadas ou inteiras. Um dos esquemas, por exemplo, consta de duas linhas inteiras, uma truncada e três inteiras, dispostas verticalmente. Um imperador pré-histórico os descobriu na carapaça de uma das tartarugas sagradas. Leibniz acreditou nos hexagramas um sistema binário de numeração; outros, uma filosofia enigmática; outros, como Wilhem, um instrumento para a adivinhação do futuro, já que as 64 figiras correspondem às 64 fases de qualquer empreendimento ou processo; outros, um vocabulário de certa tribo; ouitros, um calendário. Lembro-me de que Xul Solar costumava reconstruir esse texto com palitos de fósforo. Para os estrangeiros, O Livro das Mutações corre o risco de parecer uma simples chinoiserie; mas ele foi devotamente lido e relido por gerações milenares de homens cultíssimos, que continuarão a lê-lo. Confúcio declarou aos seus discípulos, que, se o destino lhe concedesse mais cem anos de vida, ele consagraria a metade ao estudo do livro e seus comentários, ou asas.
Deliberadamente escolhi um exemplo extremo, uma leitura que demanda um ato de fé. Chego, agora, a minha tese. Clássico é aquele livro que uma nação, ou um grupo de nações, ou o longo tempo decidiram ler como em suas páginas tudo fosse deliberado, fatal, profundo como o cosmos e passível de interpretações sem fim. Previsivelmente, essas decisões variam. Para alemães e austríacos, o Fausto é uma obra genial; para outros, uma das mais famosas formas de tédio, como o segundo Paraíso de Milton ou a obra de Rabelais. Livros como o de Jó, A Divina Comédioa, Macbeth (e, para mim, algumas das sagas do Norte) prometem uma longa imortalidade, mas anda sabemos do futuro, salvo que diferirá do presente. Uma preferência pode muito bem ser uma superstição.
Não tenho vocação de iconoclasta. Por volta de 1930, sob a influência de Macedonio Fernández, eu acreditava que a beleza era privilégio de uns poucos autore; agora sei que é comum e que esta a espreita nas casuais páginas do medíocre ou em um diálogo de rua. Assim, embora meus desconhecimento das letras malaias ou húngaras seja completo, tenho certeza que, se o tempo propiciasse a ocasião de seu estudo, encontraia nelas todos os alimentos que o espírito requer. Alés das barreiras linguísticas, interferem as políticas ou geográficas. Burns é um clássico na Escócia; ao sul de Tweed, interessa menos que Tumbar ou Stevenson. A glória de um poeta depende, em suma, da exitação ou da apatia das gerações de homens anônimos que a põem à prova, na solidão de suas bibliotecas.
As emoções que a literatura suscita são, talvez, eternas, mas os meios devem variar constantemente, mesmo que de modo levíssimo, para não perder sua virtude. Gastam-se à medida que o leitor os reconhece. Daí o perigo de afirmar que existem obras clássicas, e que para sempre o serão.
Cada qual descrê de sua arte e de seus artíficios. Eu, que me resignei a pôr em dúvida a indefinida perduração de Voltaire ou de Shakespeare, acredito (nesta tarde de um dos últmos dias de 1965) na de Schopenhauer ou de Berkeley.
Clássico não é um livro (repito) que necessariamente possui este ou aqueles méritos; é um livro que as gerações de homens, urgidas por razões diversas, lêem com prévio fervor e com uma misteriosas lealdade.22/05/2002 às 16:48 #75473Miguel (admin)MestreTEnho que fazer um trabalho que tenha os seguintes assuntos: O Tetragrama Hebraico, Simbologia Numérica, A Quintessência, Hexagrama e O Setenário.
Quero uma dica de consulta, porque não consigo achar o assunto.
Obrigado -
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