Refutando Ricardo Setti (Parte I)

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    Luiz Geraldo
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    Contesto aqui algumas passagens de um texto de Ricardo Setti, ex-editor e atual colunista da revista Veja. O texto foi publicado em dezembro de 2011 no seu blog hospedado no site da revista e trata, entre outras coisas, sobre a CELAC, o Brasil, a América Latina, Hugo Chávez e Rafael Correa.“Não sei, não, amigos do blog, o que será e porque passou a existir de fato essa tal CELAC, ou Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, integrada por 33 países.”Pois é, não é tão fácil saber o que é a CELAC e muitas outras coisas importantes quando se depende da imprensa privada como, por exemplo, a revista Veja, para saber o que se passa no país e no mundo. A CELAC é um importante espaço geopolítico que surge para reforçar a unidade política, econômica, cultural e tecnológica na América Latina.“Começo pelo fato de constatar o entusiasmo do ditador da Venezuela, Hugo Chávez – anfitrião da reunião que selou as bases da organização, em Caracas, e seu principal idealizador – pela ideia. Mau sinal.”Mau sinal é desacreditar a CELAC logo depois de admitir ignorância quanto ao tema. E muito pior sinal é atacá-la com o argumento de que seu principal idealizador é o “ditador” Hugo Chávez. Com isso, fica patente que a ignorância e a má vontade não se limitam à CELAC, mas se estende de maneira venenosa ao presidente da Venezuela, eleito e reeleito pela população do seu país através do voto secreto, livre e direto.“De cara, excluiu os Estados Unidos e o Canadá – até aí tudo bem, se é para “integrar” os países latino-americanos.”Por que essas estapafúrdias aspas? Será que o autor, além de não saber o que é a CELAC e quem é Hugo Chávez, também não sabe o que é a integração dos países latino-americanos? Ou será que a intenção com as aspas foi desacreditar o processo latino-americano de integração e defender a estratégia imperialista de dividir para conquistar?“Mas, pergunto, e a ALADI (Associação Latino-Americana de Integração), que tem até uma sede, em Montevidéu, e uma burocracia, organização por sua vez sucessora da falecida ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio)?”Parece que o objetivo da pergunta é dar a entender que a existência da CELAC é, por alguma razão misteriosa e além da compreensão dos simples mortais, incompatível com a ALADI. A verdade é que a CELAC, composta pelos 33 estados da América do Sul, América Central e Caribe, se soma à ALADI, com seus 12 membros, no fortalecimento do processo de integração da América Latina.  “E, se existe a CELAC, para que a UNASUR (União de Nações Sul-Americanas), uma das joias da política externa do lulalato?”E eis que o estranho “raciocínio” se repete. Da mesma forma que ocorre com relação à ALADI, a CELAC, com seus 33 estados membros, se soma à UNASUR, com seus 12 estados membros plenos e dois estados observadores, fortalecendo dessa maneira o processo de integração da América Latina.    “Como ficarão, com a CELAC, organizações sub-regionais, como o ex-Pacto Andino, atual Comunidade Andina de Nações?”E segue de forma já fatigante a mesma absurda pergunta-“argumento”. E o leitor verá mais abaixo que, não satisfeito, o autor a repete, uma vez mais, contrapondo, por fim, o Mercosul à “ameaça” CELAC. Cabe ressaltar que esse pseudo-argumento alarmista repetido à  exaustão é, além de destituído de sentido, incoerente com o fato de o autor ser um defensor da OEA. Ora, se o autor não vê problema na coexistência da OEA e Mercosul, UNASUR, ALADI e Comunidade dos Estados Andinos, porque imagina que haveria algum problema de coexistência entre esses últimos e a CELAC?  “O que será, além do mais, da OEA (Organização dos Estados Americanos), a espécie de mini-ONU regional que, por falta de “vontade política” dos membros, tem eficácia pouca ou nenhuma?”O que será da OEA só o tempo dirá. Mas de fato, como afirma o autor, a OEA já tem eficácia pouca ou nenhuma. A principal eficácia da OEA consistiu em, durante décadas, defender os interesses dos Estados Unidos na América Latina. Isso desgastou a organização de uma maneira que muitos julgam irrecuperável.“A presidente Dilma esteve em Caracas para prestigiar o evento.”Essa afirmação é um bom exemplo de que uma meia verdade pode ser uma completa mentira. Dilma Rousseff, juntamente com outros 32 presidentes e altos representantes de governo,  participou da reunião que resultou na fundação oficial da CELAC. Isso é bem mais do que “prestigiar o evento”.“Pergunto: não é melhor concentrar forças no Mercosul, em que os interesses brasileiros são mais imediatos, uma vez que a organização é integrada pelos vizinhos mais próximos geografica e comercialmente do Brasil, incluindo, naturalmente, a estrategicamente vital Argentina, parceiro comercial gigante do Brasil?”Da mesma forma que as já citadas Unasur e ALADI, das quais o Brasil faz parte, o Mercosul e a CELAC não são de forma alguma organizações incompatíveis, conflitantes ou prejudiciais entre si. Além desse erro conceitual, o comentário contém um erro factual. Não é verdade que o Mercosul é integrado pelos vizinhos mais próximos do Brasil comercialmente. De fato, a Argentina e o Chile, membros plenos do Mercosul, são os dois maiores parceiros comerciais do Brasil na América Latina. No entanto, o Uruguai, que é membro pleno do Mercosul, é superado na lista de parceiros comerciais do Brasil, por México e Venezuela, que não são membros plenos do Mercosul. Da mesma forma, nessa lista, o Paraguai, membro pleno do mercosul, é superado por, pelo menos, México, Venezuela, Bolívia, Colômbia, Peru e Santa Lúcia, que não são membros plenos do Mercosul. “Não me parece bom começo que a CELAC tenha abrigado um discurso interminável, de mais de uma hora de perorações do ditador Hugo Chávez contra o “imperialismo”(...)”Defesa explícita do imperialismo. Essa é pra guardar.“(...) nem que seu colega de demagogia e tendências autoritárias, Rafael Correa, do Equador, tivesse tentado, além de investir contra a “imprensa burguesa”, uma manobra visando que a CELAC substituísse, para seus integrantes, a OEA, que para ele carrega o crime inafiançável de ter sede em Washington."Claro que para a imprensa burguesa como, por exemplo, a Veja, serão ditadores ou demagogos com tendências autoritárias todos os presidentes que, como Hugo Chávez e Rafael Correa, após saírem vitoriosos em eleições livres e diretas, fizerem frente à ingerência imperialista em seus países e fizerem valer as leis que regulam a imprensa burguesa de seus países.“Pior: a “cláusula democrática” da CELAC – ou seja, tal como existe na OEA e no Mercosul, a exigência de que só países democráticos e alinhados com o Estado de Direito participem – é de uma enorme frouxidão. Só estabelece a suspensão de um país-membro quando ocorra um golpe de Estado. Não exige que, nos países-membros, exista separação entre os Poderes do Estado, nem o pluralismo partidário e – vejam bem – nem que existam eleições periódicas para a escolha de representantes e governantes.”Esse constitui um dos mais importantes avanços que representa a CELAC em relação à OEA. Questões como eleições (que, diga-se de passagem, existem em todos os países membros da CELAC), a existência ou não de pluralismo partidário e separação entre os poderes do Estado são decisões soberanas de cada país.

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