Início › Fóruns › Fórum Sobre Filósofos › Nietzsche › Schopenhauer antecipou Nietzsche?
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28/06/2007 às 0:54 #70710marcosramonMembro
oi,estudo a filosofia de schopenhauer e percebo que, apesar de poucas pessoas lerem este autor, muitas coisas que estas mesmas pessoas julgam positivas em nietzsche já estão presentes na filosofia de schopenhauer (seu estilo de scrita, sua crítica à decadência da cultura, um ensaio do que viria a ser o eterno retorno nietzscheano e até mesmo a afirmação da vida como um dos caminhos possíveis para existência). não quero dizer com isso que um seja melhor ou pior do que outro, mas é triste perceber que as críticas que nietzsche faz a schopenhauer parecem isentar o leitor de "zaratustra" da leitura de "o mundo como vontade e como representação". assim, muitos criticam schopenhauer por sua atitude "pessimista" mas só o "leram" através de nietzsche.participo de dois grupos de estudo (um sobre nietzsche e um sobre schopenhauer, sendo que coordeno este último). gostaria de um espaço para discutir o entrelaçamento das filosofias destes dois autores. como não tem o tópico "schopenhauer", escrevi aqui. alguém tem interesse nesta discussão?:marcos ramon
30/06/2007 às 15:17 #85258Miguel DuclósMembroOláEu tenho interesse nesse debate.Schopenhauer é sem dúvida a influência mais decisiva e presente na filosofia nietzscheana. Mesmo o "Nietzsche maduro" da época pós Zararustra reconhece e presta tributo de alguma forma ao Schopenhauer, que declaradamente marcou seu pensamento e iniciou-o em direção à uma filosofia própria. A questão inicial então que eu vejo seria delimitar como se deu essa ruptura de Nietzsche em relação a Schopenhauer, e qual foi o grau da radicalidade dessa ruptura, para podermos tentar identificar o quanto Nietzsche se distanciou da filosofia do mestre. Seria somente pelo conceito positivo e negativo de vontade, pela crítica ao pessimismo?Evidentemente o problema se agrava pois, como você notou, hoje Nietzsche é muito mais lido que o Schopenhauer. Este tem atraído alguma atenção no nosso país, e saiu pela Unesp finalmente uma tradução completa de "O mundo como vontade e representação". Eu mesmo li muito mais o Nietzsche que o Schopenhauer, embora tenha estudado alguns trechos deste último com a supervisão da professora Maria Lucia Cacciola.Enfim, gostaria que você continuasse postando sobre tuas investigações!Abs
12/08/2007 às 1:23 #85259Henry ThoreauMembroEu tenho interesse sim.Também sinto falta de um tópico exclusivo do Schopenhauer, fica como sugestão aos moderadores.É sabido que Nietzsche é um filósofo pop e em geral mal lido(talvez por isso pop).Mas Schopenhauer vem sendo difundido, existem já alguns mini-cursos sobre ele.Muitos destes que leem Schopenhauer por Nietzsche podem considerar este último um filósofo otimista.Mas o otimismo de Nietzsche não me parece ser um otimismo vulgar tipo “poxa, que legal a vida!”.Afirmar a vida não seria simplesmente seguir o curso de uma existência mundana qualquer, é preciso saber de qual vida Nietzsche vos fala.Ou melhor, de qual perspectiva.Seria preciso se sobrepor aa perspectiva vigente ou, como foi dito aa decadência da cultura, o que teoricamente pode ser impossível, mas que é exatamente o que Nietzsche pretende na prática, com toda a história de sua “transmutação de todos os valores”, numa tentativa prática de se inaugurar uma própria perspectiva.E nisso não cabe nenhum “poxa que legal isso também!” típico dos mal leitores, é um processo doloroso, sofrido.Agora, se fosse para rotular Schopenhauer, diria que ele é muito mais realista que pessimista, mas é apenas minha visão pessoal.Noentanto, se compararmos sua filosofia da vida com a de Nietzsche se entende o pessimismo de Schopenhauer pincelado por Nietzsche.Como exemplo, Schopenhauer ligou-se de alguma forma com o budismo, que adota a máxima “viver é sofrer”, muitas vezes mencionando a filosofia budista;e em outros aspectos é muito fácil constatar a postura negativa diante da vida.Talvez a melhor resposta dada por Nietzsche a esta máxima seria “Viver é sofrer, para quem não tem força”. Mas é óbvio que alguma postura há de se ter em relação aa vida para torná-la suportável(afinal a vida ta aí, não é nenhuma coisa abstrata), e aí podemos achar algum traço otimista em Schopenhauer, com a sua eudemonologia,mais explícita no livro “Aforismos para a Sabedoria de vida”.Mas por fim Schopenhauer acaba entrando na lista de “decadentes” do Nietzsche muito em função deste pessimismo mas também em função do conceito de vontade no Schopenhauer.Nietzsche põe no mesmo saco a vontade de Schopenhauer, a coisa em si do Kant, o ego do Descartes, enfim, tudo o que pretende instaurar algo de substancial no mundo que a rigor é entendido por Nietzsche como sinal de fraqueza(o conceito de força é muito presente em Nietzsche, tudo depende, as relações lógicas dependem de quanta “força” se tem, pelo critério dele).Pro meu gosto esses dois filósofos são os mais interessantes e talvez os que mais li também.Vamos por mais lenha na fogueira, aguardo comentários.
23/02/2012 às 19:40 #85260Claudio L.MembroQue ótimo tópico.Acredito que a filosofia de Nietzsche só se tornou o que é, por term ele subido nos ombros de schopenhauer. Com isso não quero dizer que ele viu mais longe, mas apenas que abordou alguns aspectos de outra forma.Schopenhauer também criticou muito Kant, mas deixa claro no prefácio da última edição de seu O Mundo como vontade e Representação (recomendo muito a Tradução de Jair Barboza, que saiu pela Unesp) que é impossivel conhecer sua filosofia sem a leitura de Kant.Acho que Kant está para Schopenhauer assim como Schopenhauer está para Nietzsche.A afirmação da vida de Nietzsche, só é possivel entender o todo dessa questão quando se conhece o mundo como vontade e representação.... Claro que schopenhauer, ainda que afirme que a Vontade está alheia a tempoXespaçoXcausalidade em nenhum momento que ela não exista e atue ne epectro.A afirmação da vida só é possivel através dos que entenderam Schopenhauer, como Nietzsche.A questão é que por usar aforismos e ser mais popular o segundo se tornou mais lido, comentado, e as criticas que ele expõe ao pensamento de Schopenhauer em nenhum momento dizem que uma visão não ''é, porque não dizer, filha da outra.Recomendo ao leitor de Nietzsche que queira iniciar Schopenhauer, que leia As Dores do Mundo. Escrito com linguagem muito próxima a aquela que tornaria seu aluno POP.
07/06/2012 às 3:49 #85261MonstrinhoMembromas é triste perceber que as críticas que nietzsche faz a schopenhauer parecem isentar o leitor de "zaratustra" da leitura de "o mundo como vontade e como representação"
Bom, eu não li o Schopenhauer, apesar de já ter sido indicada aqui, pelo Cláudio a leitura de "O Mundo como Vontade e Representação".E por que a leitura de Assim Falava Zaratustra não isenta o leitor do "Mundo Como Vontade e Representação"? Assim Falava Zaratustra parece uma obra independente, e muito interessante. Eu mesmo não estudei os importantes símbolos contidos nessa obra, como a águia e a cobra, o "Grande Meio Dia" que é o alvorecer das circunstâncias para o vicejar do além-homem. Me parece muito independente o Assim Falava Zaratustra de tudo o mais. Todos os cantos são como construções verbais interligadas, numa única crítica à presença da mentalidade cristã nos costumes, na filosofia e na ciência modernas. E a crítica de Nietzsche é muito fácil de ser entendida. Lembram-se dessa estória?Uma velhinha estava no mercado fazendo compras, e começou a seguir um rapaz. Num determinado momento, ela com todo aquele seu encantador "ocaso existencial", disse ao moço: "Eu tive um filho parecido com você, mas ele morreu". Você poderia realizar um desejo para mim? - "Sim, claro", respondeu o moço. E a senhora continuou: "- gostaria que você me chamasse de mamãe, e quando nos despedirmos você me diz "Adeus mamãe". O rapaz não se conteve e foi até às lágrimas. Ao passarem no caixa, a encantadora velhinha estava com o carrinho lotado, e já indo embora, exclamou: "Até logo mais meu filho querido", e ele: "Adeus mamãe! Nos vemos depois?" Sim, respondeu ela. E ela se foi. Então o rapaz passou no caixa e a moça disse: "São 554 reais". "O que? - perguntou ele surpreso - por apenas um sabonete e uma creme dental". "É que a sua mãe disse que você pagaria a conta dela". "Velha filha da put***", disse ele. A filosofia de Nietzsche é isso. Não há nada complicado. Quanto a Kant, e o sua famosa e inacessível "coisa em si", ele também foi alvo das críticas de Nietzsche, afinal, o que é a "coisa em si"? Kant afirmava que ela nunca seria acessada, nem pelos sentidos e nem pela razão. E ele tinha razão de certa forma, mas por outro lado, era como resgatar o velho ideal da ciência grega, a questão da desocultação, do desvelamento daquilo que está oculto ao olhar científico. Nietzsche disse que a coisa em si era uma ilusão (na verdade ele disse que ela era uma mentira). O que sei "de raspão" é que Schopenhauer estudou a Filosofia Oriental. Tomemos por exemplo, Shankara, que é um dos marcos mais importantes na Filosofia Oriental. Para Shankara o mundo físico é uma ilusão, não só pela sua condição de aparência, mas sobretudo pela sua condição de impermanência, logo ele não é real. Ele é, e não é real ao mesmo tempo, porque a sua realidade está e em si mesma, mas é irreal quando se contróem conceitos sobre essa realidade. Acho que - vou arriscar mesmo sem ter lido o Schopenhauer - tanto este quanto Nietzsche apreenderam alguns princípios fundamentais da Filosofia Oriental, que é a questão do Agora. O passado e o futuro não existem. O passado só pode existir como memória e o futuro apenas como hipótese. Logo, a única realidade é o Agora. O passado é o agora de ontem, e o futuro é o agora de amanhã. Nietzsche foi genial ao mostrar que a filosofia idealista, o pensamento e cristão e a mentalidade científica de cunho cristão, tornaram o homem não somente um hipócrita, mas um ser mentiroso e covarde, pois, como apontaram grandes tradições orientais como a Vedanta e o Zen, a grande problemática humana é viver no agora a partir da perspectiva do passado e da expectativa do futuro. Com isso, não se vive o Agora. Em o Anti-cristo Nietzsche mostra Jesus enunciando o Reino dos Céus como um Aqui e Agora. Mas tudo isso que a gente está discutindo aqui é prático. Me perdoem pela crítica, mas ficar debatendo em que medida fulano influenciou sicrano, e em que medida é preciso ler beltrano para compreender fulano, é meio que perda de tempo, ou então, na melhor das hipóteses, diletantismo. Compreendo Nietzsche mesmo sem ter lido Schopenhauer. O que assusta em Nietzsche é que ele proclama o mundo material como o mundo em que os instintos naturais devem ser preservados e não reprimidos. Como Jesus enfrentou essa problemática, que nos Evagelhos figura como o "dai a Cesar o que é de Cesar"? Ele simplesmente não criou uma moral subjacente para dizer que César estava contra Deus, e contudo, todo o Cristianismo após Jesus não é senão a fraqueza elevada à condição de moral dominante. Bom gente, sei que fiz umas digressões aí, e também que já passei dos limites abusando da prolixidade. Espero que retomem esse tópico, pois ele é muito importante. Abçs,
07/06/2012 às 18:23 #85262Miguel DuclósMembroEsses dias um amigo meu trouxe essa citação, que é uma das muitas passagens em que o próprio Nietzsche comenta a influência de Schopenhauer sobre sua vida e pensamento:"Anotação de Nietzsche em um de seus cadernos (Fragmento Póstumo 34 [13]): "Estou longe de crer que compreendi corretamente Schopenhauer, creio apenas que aprendi a compreender-me um pouco melhor através de Schopenhauer. É por isso que lhe devo minha maior gratidão. Não me parece tão importante, como hoje se crê, que se investigue com exatidão algum filósofo e que se traga à luz o que ele propriamente ensinou ou não ensinou, no sentido mais rigoroso da palavra. Tal conhecimento não é de todo apropriado para homens que buscam uma filosofia para sua vida, e não um novo saber erudito para sua memória: além disso, parece-me inverossímil que algo assim possa ser realmente investigado"."
09/08/2012 às 22:52 #85263Joacir Dal SottoMembroo que muitos “pecam” não é na “fé”, mas em buscarem um absolutismo sem novos aprendizados, ou pior, de conviverem com a completa adoração. o saber de Nietzsche ultrapassou os limites pela sua completa vontade (o vir-a-ser), seus mestres foram criticados e caso Niezsche não fosse atingido pela Sifilis e a desgraça cristã e anti-semita, Schopenhauer também teria seu fim.
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