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08/07/2005 às 1:33 #72044Miguel (admin)Mestre
Sócrates era tão idealista que preferia ser vítima de uma injustiça irreparável do que cometer essa mesma injustiça contra outrem e ficar impune, tal qual um onipotente tirano.
Esse tipo de idealismo é uma alienação do eu moralista, um estoicismo masoquista que não leva muito além do sonho de uma civilização utópica. É mais uma detecção do caráter racionalista na filosofia helênica.
30/09/2008 às 17:23 #72045Breno LucanoMembroTomemos cuidado, muito cuidado. O leitor desatento, não raro, interpreta os textos doxográficos e mesmo as fontes primárias de forma literal. Contudo, lembremos que muito da filosofia antiga vem de poemas, aforismas, canções: sua natureza é, portanto, poética. É impossível conhecermos tais autores senão pelos seus próprios estilos literários. Quando Platão relata que Sócrates ouvia vozes encontramos alguns viéses. Primeiro, o fato de Platão relatar esse fato não significa que Sócrates realmente ouvia vozes. Segundo, Platão, utilizando-se do conhecido conceito de gênio (daimon), introduz sua teoria epistêmica e ontológica. Artifícios, as vozes não passam de artifícios literários.
Olá, MHanemann. Vamos por partes. Sobre o ateísmo de Sócrates, vamos lembrar que a acusação do estado sobre ele era que ele não acreditava nos deuses do estado, e tentava introduzir outros, e que corrompia a juventude. O discurso de Sócrates nunca foi ateu, como se vê em qualquer representação platônica do personagem Pelo contrário, ele acreditava profundamente em Deus. Mas eram também racional. O que acontece, talvez, foi que Sócrates criticou os deuses olímpicos tais quais Homero retratava, procurando tirar os atributos humanos, as paixões, do Deus. No Timeu Sócrates apresenta a idéia do Demiurgo. No Plano transcendente do Ser, estariam as idéias imutáveis. O mundo seria criado por este demiurgo, que plasmaria-o a partir das Idéias (ou formas). Este demiurgo platônico seria portanto, passivo (na contemplação) e ativo (ao moldar o mundo). De qualquer forma, Sócrates não foi mais ateu do que um Xenófanes de Colofão, por exemplo. O ateísmo já era vivenciado por alguns na Grécia. Mas creio que a condenação não se deu por este fato, foi somente um pretexto. Sócrates ouvia uma voz sim, que segundo ele lhe indicava o caminho certo. Essa voz era o daimon. O daimon era um espírito , em que todos os gregos acreditavam. Essa palavra, daimon, gerou etimologicamente o nosso demônio. Mas o daimon grego não era necessariamente maligno. As pessoas dariam tudo para ter um bom daimon. Isso porque o daimon era quem guiava a alma na Mansão de Hades, o reino dos Mortos. Pois a alma quando morria ficava cega, e precisa de um guia nos tortuosos percursos do daimon. Aliás, a palavra grega para felicidade é a eudaimonia (da qual Aristóteles tratará em Ética a Nicômano), que quer dizer, aquele que nasceu com um bom daimon para guiá-lo. Não creio que se possa fazer tal tipo de relação com Sócrates e a esquizofrenia, ou alguma outra forma de interpretação contemporânea, pois isso é tomar o objeto de estudo fora de sua época (um erro muito comum). Na cultura grega, na mitologia, os deuses apareciam aos mortais toda hora, a todo momento você vê um deus disfarçado falando normalmente para os personagens mitológicos. Na inquisição, Joana D´arc foi tomada como bruxa possuída pelo demônio. E mais tarde, foi santificada. Tudo depende do momento. Um kardecista pode ajustar também o Sócrates à sua teoria, de maneira inconsequente, dizendo que Sócrates era médium. Esses diagnósticos como "esquizofrênico" ou "psicótico" são extremamentes conteporâneos, começaram a ser estudados pela psicanálise, e não se pode aplicá-lo a um personagem histórico do qual só temos vestígios. A loucura como uma doença mental, o exclusão social dos loucos em manicômios, é fruto da erra da razão instrumental, à partir do século XVIII. Isso é tratado muito bem por Foucault em A História da Loucura. Miguel
18/04/2011 às 18:09 #72046renan_m_ferreiraMembroSe Sócrates fugisse ele não teria uma vida digna. Foi sem dúvida um mártir e pai da filosofia ocidental (apesar de ter havido filósofos antes dele).Deixo um poema para vocês pensarem:http://interludico.blogspot.com/2011/04/estrangeiro-no-mundo.html
27/04/2011 às 11:29 #72047RubineroMembroLouco. Como pode ele ter considerado uma espécie de mamíferos – nós – capazes de um pensamento e atitude puramente racionais?
30/04/2011 às 15:03 #72048renan_m_ferreiraMembroPrimeiro devemos entender o que Sócrates considerava/entendia como uma “atitude racional”.Depois, devemos ter consciência de que a atitude racional é um ideal de moral, uma meta, algo que buscamos por toda a vida.
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