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17/11/2007 às 22:06 #80760BrasilMembro
Olá Miguel, obrigado pela atenção!
Os nazistas eram o governo na Alemanha e o mundo inteiro tinha relações com a Alemanha, ainda não se sabia o que estava por vir.
É verdade. Os brasileiros por exemplo admiravam os alemães muito mais do que hoje admiram os estadunidenses, vários prédios públicos brasileiros, na época, usavam como decoração de seus pisos ou paredes, a suástica nazista, o Teatro Amazonas era um destes locais e se não me engano conserva até hoje essa decoração. Getulio relutou muito em entrar na guerra, tal era o apreço e o nível de negociação que tinha-mos para com a Alemanha, e só o fez depois que os estadunidenses afundaram alguns navios mercantes na costa brasileira matando vários brasileiros e dando prejuízos gigantescos. Depois atribuíram o "serviço" aos alemães (coisa que eu não engulo de jeito nenhum) e deram um ultimato ao Brasil para posicionar-se amigo ou inimigo dos aliados.. A Alemanha era uma potência para qualquer país espelhar-se, como vc disse; ninguém sabia o que estava por vir.
Mas você está certo ao notar que esta faceta da filosofia adquire um caráter especial na obra de Nietzsche, e não somente pelo método de exposição. O próprio autor se precavê contra isso, ao afirmar que o que exprime na sua obra ainda não é o reflexo último dos seus sentimentos mais profundos
É curioso isso; ele tinha o domínio pleno da palavra, um talento impar na articulação das palavras, não se preocupava muito com certos pudores ou com o que os outros “gostariam” de ler... Acho que seu objetivo maior era expor suas idéias de maneira a que todos pudessem entender, mas mesmo assim, parece que não conseguiu... É certo que ele trabalhou num campo complicadíssimo e estudou muito para fazer tal filosofia tão forte, explosiva e com tanta propriedade, com tantos elementos históricos e filosóficos.
Aí eu acho que você forçou. Nietzsche era europeu, vivia no entorno social e cultural da Europa, e por isso trata especialmente de questões Européias. Mas eu citei essa referência para dar mais um ponto de distância de Nietzsche em relação ao Nazismo, já que a Segunda Guerra colocou as potências européias umas contra as outras!
Eu não havia realmente me apercebido desse aspecto. Foi porque na verdade eu em nenhum momento havia feito essa associação direta. Concordo que eu não deveria ter refutado uma vez que não é esta a questão que eu estou propondo, apesar de que essa opinião (ou proposta) de unificação tem veias culturais, etc, mas também tem veias econômicas e era mais ou menos por aí o meu raciocínio. Mas de qualquer forma peço que vc me desculpe. Minha intenção não é de ficar refutando tudo sem mais nem menos, não é atacar pura e simplesmente o Nie e sim de expor os porquês de eu entender que o super-homem nietzscheano não é possível. Talvez outro, não aquele.
A influência de Nietzsche em Foucault não é estranha, é trivial e consolidada, é um fato notório que você pode comprovar com qualquer pesquisa.
Ok. Minha intenção não foi questionar a tua informação, que aliás é muito bem-vinda, é porque eu estranhei mesmo. Pura falta de conhecimento.
Movimentos sociais de vanguarda sempre advogam o quê? O reconhecimento das diferenças, ou seja... a não-igualdade! O que fazem o movimento negro, o movimento gay e outros? ELes não querem planificar, mas sim afirmar as diferenças culturais e de caráter entre os povos, lhes incluindo. Nancy Fraser é uma filósofa da terceira geração da Teoria Crítica que trata disso, e sugere a diferenciação entre as demandas por distribuição e as demandas por reconhecimento.
Pois é, aí a gente já passa a falar do mundo atual e eu acho isso tudo um grande engodo dos “nobres”, ou seja, das grandes potências que dominam o mundo: Criar diferenças desune o povo = povo desunido jamais será ouvido ou percebido.“Pelos direitos dos anões, pelos direitos dos fabricantes de chiclets, pelos direitos dos eletricistas, pelos direitos dos plantadores de tomates”, acaba-se esquecendo dos direitos mais primordiais: Os direitos do povo. Mas eu tenho certeza que comentarei esses aspectos mais adiante em outros tópicos.
Tentar pensar o super-homem sem considerar o impensável não faz sentido.
Eu não diria impensável e sim impensado, já que ele (Nie) não se refere em nenhum momento a este aspecto: O sistema é competitivo baseado em economia. Em economia pode-se tentar igualar as coisas (comunismo ou socialismo) ou então deixar correr frouxo (sistema de livre mercado). Correndo frouxo, esse super-homem estaria situado em que lugar neste contexto?
Sem considerar o assombro, a revelação, a saída da rotina, a expansão da consciência etc etc.
Desculpe, Miguel, eu não entendi isto.
Se você considerar que tudo isso JÁ foi feito e que o homem a um certo momento de seu percurso foi um ser completo, mas foi desviado disso por forças estranhas...
Desculpe, Miguel, não estou discordando por discordar, mas eu sinceramente não vejo isso. Penso que o Homem vem melhorando, apesar de todos os erros e desvios causados muito mais por interesses de uns e outros que por causas naturais, mas de qualquer forma , penso que já fomos muito piores, só não tinha-mos tanta letalidade, tanto poder de fogo quanto temos hoje “graças” à tecnologia, mas imagine o homem da Grécia antiga com uma metralhadora nas mãos... Imagine o homem antigo com o avião nas mãos, ou dominando e manipulando o urânio enriquecido. Acho que não estaríamos aqui hoje. O Homem já tem há bastante tempo o poder de destruir a Terra e ainda não o fez... Na verdade quero dizer que este Homem completo nunca existiu, pode ter existido seres humanos completos, mas isso não é suficiente para mudar toda a humanidade. A humanidade evoluiu nas tecnologias, evoluindo muito pouco na sua índole, na retidão do comportamento, escolheu o caminho da competição, mas enfim, de alguma forma evoluiu para melhor, na minha opinião.A disputa pelo poder, antes, era mais despudorada, aberta, sanguinária, talvez, menos falsa, dissimulada e menos usada para outros fins que não os de simples domínio sobre o lugar. Mas era cruel e os seus motivos eram basicamente o que são hoje; a disputa pelo domínio. Domínio de terras, de bens, de direitos, e até das próprias pessoas, os inferiores. Ontem (antes da inversão) e hoje, com a moral cristã.
você consegue vislumbrar melhor o super-homem, vendo que na verdade ele é sim possível. O que ele traz de novidade em relação aos antigos é outra questão, que não se liga diretamente à sua plausibilidade.
Sim é claro que é possível, mas não sob o mesmo sistema. Esse é o ponto: O Homem deve mudar, isso é óbvio par mim, mas o sistema também. Ou estaríamos esperando uma santidade e não um super-homem ou mesmo um novo Homem, mas que tem na sua essência, o domínio e a subjugação.
Nietzsche critica a razão e valoriza o instinto, ou seja, ataca a idéia de igualdade. Só que é como eu disse, o perspectivismo não é igual à dominação dos fracos, nem ser senhor de si é ser senhor dos outros. É preciso entender que para Nietzsche OS FRACOS É QUEM DOMINAM, ao perverter toda a vida sadia e construir os conceitos morais para sufocar o instinto, prendendo o homem num esquema abstrato, num sistema de valores que nega a vida material e corpórea na terra para subjugá-lo, oferecendo a falsa esperança de uma recompensa não-terrena.
É exatamente aí que divergimos, Miguel, concordamos que Nie não era anti-semita, apesar de vê-los com muita desconfiança, chegou a propor que a Alemanha recebesse os judeus seletivamente, e afastasse os agitadores anti-semitas, como vimos no outro post. Concordamos que estamos falando de um gênio, um cara extremamente instruído, compenetrado naquilo que estudava, um verdadeiro pesquisador dos temas que lhe interessavam. Pesquisador no melhor termo da palavra.Mas neste ponto divergimos: Pois, não são os fracos que dominam, é a moral dos fracos que domina. Não é o poder dos fracos é a moral dos fracos, porém o poder, nós sabemos que se constitui, assim como também se constituía em 1886; no poder econômico. A moral dos fracos; que nega a vida material e corpórea e espera uma recompensa não-terrena, não é bem sucedida, não é vencedora, não QUER dominar, não TEM poder. Tem o seu predomino enquanto moral, mas não tem o Poder.Segundo Nie, os bem sucedidos economicamente, e que têm moral fraca, são exceções. Os bem sucedidos são os de moral nobre. Nobre ao “estilo antigo”, ou seja, antes da inversão, não aquela nobreza que desvaloriza a vida e por conseqüência a si mesmo, sob a ótica de Nietzsche. Quando vc diz que são os fracos que dominam, vc está querendo dizer que a moral fraca é predominante, ou seja, é maioria quase que absoluta, mas o poder, o domínio da sociedade, não é dos fracos. Na realidade quem domina é quem detém o Poder seja ele um crente ou não. O fato é que Nie acreditava, e eu acho mesmo que ele tem razão(tem razão que isso acontece e não que isso deveria ser assim) que os ateus, os espíritos livres, tinham merecimento de suas riquezas, pois eram fortes, não se deixavam levar por sentimentalismos, até ajudavam economicamente os pobres, mas não por compaixão e sim por alegria transbordante... alguma coisa assim que depois eu vou procurar.Também vou procurar trechos para afirmar isso que estou dizendo: Na opinião dele os ricos de moral fraca seriam exceção, os bem sucedidos, que são minoria, seriam em sua maioria de moral nobre, vigorosa, sem “feminilidades”, descrente de deidades e sentimentalismos.Mas, voltando ao “Poder”, eu acho que vc não discordará de que tanto hoje como naquela época o que caracteriza “poder” é certamente a riqueza. Talvez hoje mais do que ontem, mas sempre foi assim.
o perspectivismo não é igual à dominação dos fracos, nem ser senhor de si é ser senhor dos outros.
Entendi, a partir do momento que se propõe uma nova Moral, tudo é possível, quero dizer, tudo é válido para encontrar um bom termo. Não precisaria se prender a fatores que na visão de Nie são negativos, etc. Eu entendo isso, é uma nova moral, portanto pode ser livre de qualquer tipo de dogma, ou hierarquia, ou costume ou tradição, etc.Mas é aí que não bate. Pois, sobre o poder propriamente dito; o Poder que domina e que nós dois sabemos que não se fundamenta na crença e nem tampouco na raça e sim no montante de dinheiro acumulado concomitantemente à influência política que, também se fundamenta no poderio econômico. Sobre esse aspecto Nietzsche não fala nada, ou seja, não há, que eu saiba, qualquer referência sobre uma mudança neste aspecto, pelo contrário, na minha opinião ele vê essa maneira dos homens intermediarem os meios de vida, de produção e consumo de bens, de uma maneira competitiva, com dinheiro, e todo o jogo econômico que ele implica, inclusive as guerras, algo natural, como o é, de certa forma: Nunca se fez diferente, então "é natural". Sendo ou não natural, o fato é que ele não faz nenhuma referência a este aspecto. Qual aspecto? De que os valores morais, independentemente de serem fundados no amor à vida terrena ou à vida imaterial, continuariam sendo os mesmos : Quem manda é o Poder e o Poder é caracterizado pelo volume de dinheiro e capacidade de articulação deste dinheiro. O Sistema, seja ele da orientação política e ideológiga que for, impreterível e inevitávelmente incorre no seguinte erro: Um determinado valor em dinheiro guardado tem um certo valor, um valor idêntico empregado numa candidatura ou num loby ou numa fraude ou numa ilegalidade qualquer, o que é muito corriqueiro, vale muito mais, pois dele, os lucros são muito maiores. Este é na minha opinião; "o princípio do erro no sistema". Mas isso já é um outro assunto.O que quero dizer é que não mudaria praticamente nada. O super-homem seria fundamentado no mesmo sistema de hierarquia social, com os mesmos vícios. Sim, pois, todo problema consiste na luta pelo domínio, seja este domínio pretendido por um fraco ou forte, isto é indiferente, pois, os dois usam os mesmos sistemas hierárquicos, os dois incorrem no mesmo erro. Sendo o super-homem a pessoa mais bem intencionada do mundo, ou seja, sem maldade gratuita, sem mesquinharia, mesmo assim seria um sonho achá-lo possível. Como eu disse anteriormente o super-homem seria portador da moral neitzscheana, isto é, a moral que diz que a vida É dominar e subjugar o que é estranho e inferior. Então, mantendo-se os mesmos padrões na hierarquia do poder, os mesmos desde antes da inversão e depois da inversão até hoje; não mudaria muita coisa, pois o motivo de nós todos estarmos debatendo aqui é exatamente o fato de o Homem estar sempre em conflito. Conflito consigo mesmo, e principalmente conflito com os outros. O super-homem só não teria conflito existencialista, mas conflitos por poder, não tenha dúvida disso. Isso seria rotina: A vida é dominar e subjugar o inferior, é nisso que consiste a vida para Nietzsche. Por que o super-homem não iria segui esse “mandamento” nietzscheano? Acho que para dizer que não, haveríamos de encontrar alguma coisa escrita para demonstrar isso, pois pela lógica e pelo que ele disse, fica difícil de entender como todos poderiam, transmutar neste mesmo sistema hierárquico.Para ser senhor de si sob o mesmo sistema de hierarquia e convívio social que o homem utiliza desde que se humanizou, haveria de mudar-se completamente o comportamento humano, mas como? Se dominar e subjugar são a essência da vida? Não é exatamente esse o nosso grande problema hoje em dia? Não seria também naquela época? Como poderia ser o perspectivismo diferente, uma vez que não há qualquer menção na sua filosofia (que eu saiba, e devo admitir que não sei muito), sob os aspectos referidos acima? Se a essência da vida é o domínio, ou esse super-homem viveria em constante conflito consigo mesmo para não subjugar seus semelhantes, ou os subjugaria...
Depois espero escrever mais sobre o assunto, abordando outros pontos que você levantou.
Ok! Obrigado, Miguel!Abraço :)
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