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08/10/2005 às 22:59 #70303Miguel (admin)Mestre
Caros amigos,
Preciso de ajuda para uma maior compreensão da filosofia e de outras curiosidades tratadas no livro de James Clavell, Xógum.
Obrigado. Daniel Andrade Pint*.
Selecionei algumas passagens interessantes.
1- (pág 98) “de que ter maus pensamentos é realmente a coisa mais fácil do mundo. Se você deixar a mente por conta própria, ela vai sugá-la para baixo, numa infelicidade sempre crescente. Ter bons pensamentos, porém, exige esforço. Isso é uma das coisas de que a disciplina – treinamento – trata. Portanto treine sua mente para se deter em perfumes doces, o toque desta seda, tenras gotas de chuva contra o shoji, a curva deste arranjo de flores, a tranquilidade do amanhecer…”
2- (pág 223) “'Karma' era uma palavra indiana adotada pelos japoneses, parte da filosofia budista que se referia ao destino de uma pessoa nesta vida, seu destino imutavelmente fixado pelos feitos realizados numa vida prévia, dando aos bons atos uma posição melhor nestes extratos de vida e os maus, o inverso. Exatamente como os feitos desta vida afetariam o renascimento seguinte. Uma pessoa estava sempre renascendo neste mundo de lágrimas até, finalmente, depois de padecer, sofrer e aprender ao longo de muitas vidas, se tornar perfeito, quando ia para o nirvana, o Lugar da Paz Perfeita, e não precisava sofrer o renascimento nunca mais”.
3- (pág 376/377) “'Amor' é uma palavra cristã (…). Não temos a palavra “amor”, do modo como compreendo o significado dela. Dever, lealdade, honra, respeito, desejo, essas palavras e pensamentos são o que temos, e tudo que necessitamos”.
4- (pág 512) “Deixe os problemas de Deus a Deus, e karma ao karma. (…) Olhe esse pôr-do-sol, é lindo, neh? Esse por do sol existe. O amanhã não existe. Só existe o agora. Por favor, olhe. É tão lindo e nunca mais vai acontecer de novo, nunca, não este por do sol, nunca em toda a infinidade. Perca-se nele, faça-se um com a natureza e não se preocupe com o karma, o seu, o meu, ou o da aldeia”.
5- (pág 620/621) “Como cerrar os ouvidos? (…) o treinamento começa assim que a criança aprende a falar, portanto isso bem cedo se torna a segunda natureza para nós. De que outro modo poderíamos sobreviver? Primeiro se começa purificando a mente de gente, colocando-se num plano diferente. A observação do pôr-do-sol é uma grande ajuda, ou a escuta da chuva. Anjim-san, já notou os diferentes sons da chuva? Se o senhor realmente ouvir, então o presente desaparece, neh? Ouvir flores caindo e rochas crescendo são exercícios excepicionalmente bons. Claro que não se espera que o senhor veja as coisas, elas são apenas sinais, mensagens do seu hara, o seu centro, para lembrá-lo da transitoriedade da vida, para ajudá-lo a atingir a wa, a harmonia. (…) não se deixa enganar pelos nossos sorrisos e gentilezas, nosso cerimonial, nossas mesurar, delicadezas e atenções. Por tráz disso tudo, podemos estar a um milhão de ris de distância, seguros e sozinhos.
OITO CÚMULOS SE ERGUEM
PARA OS AMANTES SE ESCONDEREM
A CERCA ÓCTUPLA DA PROVÍNCIA DE IZUMO
ENCERRA AQUELES NUVENS ÓCTUPLAS –
OH, QUE MARAVILHOSA, ESSA CERCA ÓCTUPLA!(Mensagem editada por xdandan em Outubro 08, 2005)
09/10/2005 às 0:10 #80452Miguel (admin)Mestre(…) o treinamento começa assim que a criança aprende a falar, portanto isso bem cedo se torna a segunda natureza para nós. De que outro modo poderíamos sobreviver? Primeiro se começa purificando a mente de gente, colocando-se num plano diferente. A observação do pôr-do-sol é uma grande ajuda, ou a escuta da chuva. Anjim-san, já notou os diferentes sons da chuva? Se o senhor realmente ouvir, então o presente desaparece, neh? Ouvir flores caindo e rochas crescendo são exercícios excepicionalmente bons. Claro que não se espera que o senhor veja as coisas, elas são apenas sinais, mensagens do seu hara, o seu centro, para lembrá-lo da transitoriedade da vida, para ajudá-lo a atingir a wa, a harmonia. (…) Por gentileza, você poderia citar a parte que inicia a frase “…o treinamento começa assim…”?
09/10/2005 às 0:56 #80453Miguel (admin)MestreOi Mileto. Vou citar a uma parte maior para que a idéia fique completa e, assim, você poderá entender e explicar perfeitamente
Blackthorne nadou durante uma hora e sentiu-se melhor. Quando voltou, Fujiko o esperava na varanda com um bule de chá. Ele aceitou um pouco, depois foi para a cama e pegou no sono imediatamente.
O som da voz de Buntaro, transbordante de maldade, despertou-o. Sua mão direita automaticamente agarrou a coronha da pistola que mantinha embaixo do futon, o coração ribombando no peito devido ao inesperado despertar.
A voz de Buntaro cessou. Mariko começou a falar. Blackthorne só conseguia apreender algumas palavras, mas podia sentir os argumentos razoáveis e a súplica, não abjeta, lamentosa ou mesmo perto das lágrimas, apenas a firme serenidade habitual dela. Novamente Buntaro explodiu.
Blackthorne tentou não ouvir.
-Não interfira – dissera-lhe ela, e ela era prudente. Ele não tinha direitos, mas Buntaro tinha muitos. – Rogo-lhe que seja cuidadoso, Anjin-san. Lembre-se do que eu lhe disse de ouvidos para ouvir e a Cerca Óctupla.
Obedientemente, deitou-se, a pele gelada de suor, e forçou-se a pensar no que ela dissera.
-Veja, Anjin-san – dissera-lhe naquela noite muito especial, quando terminavam a última de muitas garrafas de saquê e ele brincara sobre a falta de privacidade por toda parte: gente sempre por perto, paredes de papel, ouvidos e olhos sempre espreitando -, aqui o senhor tem que aprender a criar a sua própria privacidade. Somos ensinados desde a infância a desaparecer dentro de nós mesmos, a erguer paredes impenetráveis, por tais das quais vivemos. Se não pudéssemos fazer isso, com certeza ficaríamos todos loucos e mataríamos uns aos outros e a nós mesmos.
-Que paredes?
-Oh, temos um labirinto ilimitado onde nos esconder, Anjin-san. Rituais e costumes, tabus de toda espécie, oh, sim. Até a nossa lingua tem nuanças que a sua não tem, as quais nos permitem evitar, polidamente, uma pergunta se não queremos responder.
-Mas como cerrar os ouvidos, Mariko-san? Isso é impossível.
– Oh, muito fácil, com treinamento. Claro, o treinamento começa assim que a criança aprende a falar, portanto isso bem cedo se torna a segunda natureza para nós. De que outro modo poderíamos sobreviver? Primeiro se começa purificando a mente de gente, colocando-se num plano diferente. A observação do pôr-do-sol é uma grande ajuda, ou a escuta da chuva. Anjim-san, já notou os diferentes sons da chuva? Se o senhor realmente ouvir, então o presente desaparece, neh? Ouvir flores caindo e rochas crescendo são exercícios excepicionalmente bons. Claro que não se espera que o senhor veja as coisas, elas são apenas sinais, mensagens do seu hara, o seu centro, para lembrá-lo da transitoriedade da vida, para ajudá-lo a atingir a wa, a harmonia. Anjin-san, a harmonia perfeita, que é a qualidade mais visada em toda a vida no Japão, toda a arte, toda… -Ela rira. -Pronto, veja o que o excesso de saque faz comigo. -A ponta da lingua tocara-lhe os lábios sedutoramente. -Vou lhe cochichar um segredo: não se deixa enganar pelos nossos sorrisos e gentilezas, nosso cerimonial, nossas mesurar, delicadezas e atenções. Por tráz disso tudo, podemos estar a um milhão de ris de distância, seguros e sozinhos. Pois é isso o que procuramos: esquecimento. Um dos nossos primeiros poemas jamis escritos, está no Kojiko, nosso primeiro livro de história, que foi escrito a cerca de mil anos – talvêz explique o que estou dizendo:“Oito cúmulos se erguem
Para os amantes se esconderem
A Cerca Óctupla da província de Izumo
Encerra aquelas nuvens óctuplas –
Oh, que maravilhosa, essa Cerca Óctupla!”Nós certamente, enlouqueceríamos se não tivessemos uma Cerca Óctupla, os, sim!
Lembre-se da Cerca Óctupla, disse ele a si mesmo, enquanto a fúria sibilante de Buntaro continuava….(Mensagem editada por xdandan em Outubro 08, 2005)
(Mensagem editada por xdandan em Outubro 08, 2005)
(Mensagem editada por xdandan em Outubro 08, 2005)
(Mensagem editada por xdandan em Outubro 08, 2005)
09/10/2005 às 1:14 #80454Miguel (admin)MestreMuito legal, Daniel!
Desconfio que a parte em que a senhorita diz que não existe a palavra amor na cultura japonesa é mais retórica do que um fato concreto.
Saudações!
09/10/2005 às 1:52 #80455Miguel (admin)MestreSaudações!!
No livro, é fácilmente perceptível que a cultura japonesa daquela época (1600), tinha uma concepção diversa da que nós temos hoje, sobre o “amor”.
É muito interessante comparar o modo como os japoneses de 1600 tratavam suas esposas. O livro procura mostrar que o amor que eles sentiam era o EROS. Mas você, Mileto, tens razão. Se analizarmos, a senhorita (Mariko-san) acabou amando o piloto inglês (Anjin-san), como nós ocidentais amamos uma mulher. Seria por causa da influência dele? Porque entre os japoneses (naquela época, quando havia poucos ocidentais no Japão) não há sinal do amor cristão, ou há?
Obrigado. Daniel
(Mensagem editada por xdandan em Outubro 09, 2005)
09/10/2005 às 2:51 #80456Miguel (admin)MestreÉ difícil para mim acreditar que as mulheres fiquem realmente submissas em qualquer cultura. O machismo nunca me convenceu.
Os orientais não tinham um Cristo, mas tinham um Buda e a premissa é a mesma: não matar, tratar com dignidade o semelhante…
…porém, há distorções de princípios e corrupção de valores, senão em todas, na maioria das sociedades humanas…
20/10/2005 às 1:20 #80457Miguel (admin)MestreHoje, é inaceitável moral e juridicamente tratar as mulheres de forma desigual ou preconceituosa. Mas em 1600 no Japão, de acordo com o livro, a mulher era um objeto.
Quanto a matar, todos os samurais (budistas) tinham o direito de matar qualquer mulher ou camponês pela simples vontade. Mas é claro que, nem quando bebiam muito saquê, eles saiam matando (justiça com as próprias mãos – mais atrasado que na europa, neh). Eles eram muito mais evoluídos do que os europeus em determinados aspéctos, por exemplo, enquanto estes tomavam banho, praticamente, uma vez por mês e tinham piolhos, os japoneses tomavam banho duas vezes ao dia e, além disso, eram deveras honrados.
Corrupção há em todas as sociedades
inté
20/10/2005 às 20:36 #80458Miguel (admin)MestreÉ que nem aquela senhora gaúcha que lavava a bomba na água fervente quando o marido começava a lhe incomodar muito, com seus rompantes de machismo sulista. O gaúcho é macho, porém, pode, eventualmente, queimar a língua quando for beber da cuia…
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