Nascimento e Morte do Sujeito Moderno

Nascimento e Morte do Sujeito Moderno

Francisco Fernandes Ladeira

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No livro A identidade cultural na pós-modernidade, o sociólogo Stuart Hall faz uma interessante análise sobre o “nascimento” e “morte” do sujeito moderno. De acordo com Hall, o sujeito moderno (marcado principalmente por sua identidade imutável e pela racionalidade) é produto do pensamento iluminista. Essa visão antropocêntrica foi o paradigma dominante nas ciências sociais até pelo menos o início do século XX.

No entanto, cinco grandes rupturas com o pensamento iluminista (e também as duas guerras mundiais) colocaram em xeque a visão otimista sobre o sujeito moderno.

A primeira ruptura refere-se às tradições do pensamento marxista. De acordo com essa linha de raciocínio, os indivíduos são formados subjetivamente através de sua participação em relações sociais mais amplas. “Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência”, diz o histórico aforisma de Marx. Logo, a identidade de um indivíduo está ligada ao modo de produção da vida material vigente em uma determinada sociedade.

A segunda das grandes rupturas vem da descoberta do inconsciente por Sigmund Freud. Contrariando o paradigma cartesiano, para o pai da psicanálise, são os desejos inconscientes (e não a razão) que norteiam as ações humanas. Assim, Freud (e antes dele Schopenhauer) substituiu a máxima “penso, logo existo” por “desejo, logo existo”.

Já a terceira ruptura está associada ao trabalho de Ferdinand Saussure. Segundo o linguista, nós não somos, em hipótese alguma, os “autores” das afirmações que fazemos, ou dos significados que expressamos na língua. Nós podemos utilizar a língua para produzir significados apenas nos posicionamentos no interior das regras da língua e do sistema de significado de nossa cultura. Em outros termos, as expressões de nossos pensamentos são condicionadas e limitadas pelos vocábulos existentes em nosso idioma.

Por sua vez, a quarta ruptura aparece na obra de Michel Foucault. Para o filósofo francês, os indivíduos, longe de serem sujeitos livres, são permanentemente vigiados e adestrados por poderes disciplinadores (representados por oficinas, quartéis, escolas, prisões, hospitais e clínicas).

Por fim, a última grande ruptura está associada ao impacto dos movimentos feministas que questionaram os papéis sociais desempenhados por homens e mulheres.

Assim, o “sujeito” do Iluminismo, visto como tendo uma identidade fixa e descentrada foi “morto” de forma peremptória. Desse modo, surge uma nova concepção de sujeito, resultando em identidades contraditórias, inacabadas e fragmentadas.

Embora não seja citado no livro de Stuart Hall, as ciências naturais, principalmente os estudos na área de Biologia, também contribuíram para o padecimento do sujeito moderno. De acordo com Charles Darwin, o homo sapiens não está no topo do processo evolutivo e tampouco é a “obra-prima” da natureza. Já Richard Dawkins, aponta que a replicação dos genes é a razão última de nossa existência. Nesse sentido, os seres humanos são apenas maquinas de sobrevivência dos genes. Portanto, devemos deixar a arrogância de lado e nos contentarmos com o fato de que não somos tão especiais e racionais quanto pensávamos. Somos apenas primatas bípedes em um planeta que já existia antes de nós, e que, provavelmente, continuará existindo quando nos extinguirmos como espécie.

REFERÊNCIA

DARWIN, Charles. A Origem das Espécies, no meio da seleção natural ou a luta pela existência na natureza, 2003.

DAWKINS, Richard. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

HALL, Stuart. A identidade cultural da pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

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