OS GERMANOS, OS ÁRABES, OS VENEZIANOS, OS ALEXANDRINOS, OS PORTUGUESES

OS GERMANOS,

OS ÁRABES,

OS VENEZIANOS,

OS ALEXANDRINOS, OS PORTUGUESES

Dr.  Aluísio Telles de Meirelles.

Fonte: Manual do Executivo. 
Novo Brasil editora brasileira.

A INVASÃO germânica teve profundas conseqüências na ordem mercantil. Durante a hegemonia de Roma, todas as regiões litorais do Mediterrâneo constituiu m como que um círculo fechado, desde reunidas em um círculo político.

Entretanto, subsistiu uma certa oposição entre o o«-idente latino e o oriente grego, desde que Constantino fundou uma nova capital, que convertendo-se ràpidamente * em centro do Império, tirou também a importância da mitiga e orgulhosa Roma. Constantinopla foi, durante v A rios séculos, a rainha econômica e cultural do mundo.

Já nessa época, o mundo era incomparàvelmente mais vasto do que na época da dominação romana. Nasceram novas nações e novos países e mares tomavam já parte no tráfico. A Alemanha e a Inglaterra foram conhecidas com maiores detalhes, surgindo ainda das sombras os países escandinavos e eslavos.

Navegantes inauguraram então o comércio em outros mares pouco conhecidos até aquela época, como o mar do Norte e o mar Báltico.

A construção naval, desde muito tempo, tinha adquirido uma certa perfeição entre os germanos do norte.

Os eslavos, por sua vez, dedicaram-se à navegação, empreendendo ainda grandes expedições de depredação ao interior da Rússia.

Gradativamente, as antigas rotas de piratas converteram-se em vias mercantis, ficando constituída uma rêde firme para o tráfico mundial da Idade Média.

Uma dessas vias mercantis seguia a antiga trajetória marítima para o Ocidente, sendo neste extremo Marselha, o principal centro de comunicações do tráfico ocidental. Dessa cidade, seguia a rota, como nos tempos romanos, em direção ao Norte, até às Ilhas Britânicas, onde, como ponto extremo, se desenvolveu a cidade de Londres, famosa por seu volume de negócios.

Partindo de Constantinopla, os mercadores bizantinos aventuraram-se para o Oriente, pelos antigos caminhos dos gregos, não se limitando, porém, a receber nas praças costeiras do mar Negro as matérias-primas procedentes da Rússia, mas, tratando de estabelecer relações diretas com os habitantes dos países setentrionais.

O grande número de moedas gregas e nórdicas que têm sido achadas no interior da Rússia, ao longo das diversas rotas terrestres e fluviais, são testemunhas mudas da realidade do tráfico que então existiu entre Constantinopla e os povos escandinavos.

Nessa época, o tráfico era de caráter local no centro da Europa, que se manteve afastada do comércio mundial, até que a queda de Constantinopla determinou uma profunda transformação.

Constantinopla era, para todos os produtos de procedência européia, o ponto central e sua importância consistia, principalmente no fato de ser essa cidade, para os atrasados habitantes da Europa, o tesouro de todas as coisas desejáveis e envoltas por uma sombra de mis-icrio. Uma série de objetos preciosos despertava o desejo dos senhores temporais e espirituais do Ocidente.

As artes industriais em todas as suas formas eram objeto de especial cultivo, pela extraordinária habilidade iccnica dos bizantinos.

Grande difusão teve também a confecção de preciosos trabalhos de metal, assim como trabalhos artísticos em marfim e prddutos de ourivesaria e dos teares de sêda.

Sedento de atividades, aparece então no cenário da História Universal o povo semita, subjugando em seu vitorioso avanço quase toda a Ásia e as regiões litorais do norte da África.

A princípio, os árabes fizeram graves feridas no tráfico mercantil bizantino. Apaziguada, entretanto, a primeira onda de fanatismo do Islam, a ambição e a necessidade intensa dos artigos procedentes do Oriente asiático conseguiram superar as pugnas religiosas. Assim, os mercadores bizantinos tornaram a aparecer, infatigáveis, nas praças onde, sob o domínio árabe, afluíam os artigos orientais, especialmente na nova metrópole da Bagdad, que floresceu às margens do rio Tigre nos séculos VIII e IX.

Os árabes fizeram brotar, na sua arrancada para a conquista do mundo, o bem-estar e a felicidade por onde passavam. Os historiadores contemporâneos das Cruzadas elogiam a pujança das suas cidades, bem como o cultivo magistral de campos, jardins, etc.

Junte-se a isto a constituição do império árabe que compreendia um território enorme, desde os povos do oceano Atlântico até as ilhas de Sonda, criando um ambiente mercantil livre de quaisquer impostos.

O próprio Maomé, que como mercador havia empreendido diversas viagens, santificou com suas doutrinas o comércio, da maneira que o mercador árabe, favorecido pela construção de novas pontes, estradas e canais, pode tomar cada vez mais amplo o círculo de suas relações comerciais, à medida que os muçulmanos prosseguiam no seu avanço vitorioso.

As peregrinações a Meca foram assim, ao mesmo tempo, grandes caravanas comerciais que levavam até a Caaba os produtos de todos os países, a feira mais importante em que se negociavam mercadorias de tôdas as partes do mundo de então.

Desse modo, os árabes estabelecidos no mar Vermelho e no golfo Pérsico, serviram como intermediários de comércio entre o extremo Oriente e o Ocidente e como esse tráfico constituía um monopólio seu, puderam obter benefícios sem conta durante vários séculos.

* * *

A época das Cruzadas provocou o desmoronamento do poderio de Constantinopla, deslocando o centro do comércio mundial para a Itália. O intenso tráfico que, no início das Cruzadas, se associou ao freqüente contacto estabelecido entre o Oriente e o Ocidente, deu lugar a um mais amplo desenvolvimento da navegação nas cidades costeiras italianas, destacando-se dentre todas a cidade de Veneza.

A condição da localidade obrigou os habitantes da cidade a satisfazer por via marítima, levando-os a consi-derar o mar como o verdadeiro elemento de suas atividades, tanto na pesca como na obtenção do sal.

Aó longo das costas adriáticas não existia outro grupo de população adequadamente situado para o comércio mundial. Assim, todo o tráfico foi concentrado em Veneza, mantendo essa cidade sua esplêndida posição durante quase um milênio.

Como Veneza pertencia ao império romano do Oriento, gozavam seus cidadãos pleno direito de cidadania em Constantinopla, cultivando aí suas relações comerciais com cuidadoso esmero.

Quando no século VII deixou-se notar de um modo claro a decadência da marinha bizantina, cobriram os vonezianos com sua poderosa frota tal deficiência, adquirindo direito de estabelecer feitorias próprias em todas as cidades costeiras da Síria e da Ásia Menor, competindo cada vez mais sèriamente com os grandes comerciantes bizantinos.

A quarta Cruzada acabou totalmente com o predomínio da metrópole do Bósforo, convertendo Veneza em potência real. Todas as mercadorias que o Ocidente trocava com o Oriente passavam primeiro pelas mãos de Veneza. Daí por diante o comércio mundial teve sua sede na pérola do Adriático.

Em determinadas épocas do ano partiam de Veneza numerosas esquadras, cujos porões eram arrendados para o transporte de mercadorias.

O tráfico se orientava em três direções: para o Egito, para a Síria e para o nordeste do Mediterrâneo. Também para o oeste estenderam os venezianos a sua influência, estreitando relações com a África do Norte e a Espanha, com os habitantes do sul da França, até a Inglaterra e a Holanda.

Junto a Veneza desenvolveu-se Gênova, devido à sua situação igualmente privilegiada para o tráfico naval e para o comércio, erigindo-se logo na segunda grande cidade mercantil da Itália medieval.

Como terceira metrópole comercial da Itália destacou-se Florença, onde os tecedores de lã trabalhavam materias-primas procedentes da Inglaterra e da França, confeccionando os tecidos florentinos que se vendiam em tôdas as feiras européias.

* * *

Enquanto na Itália o comércio se desenvolvia dessa forma e cada vez em ritmo de maior ascensão, por sua vez, no Norte longínquo, independentemente dos mercados mediterrâneos, desenvolvia-se outro círculo mercantil fechado, em cujo centro se achavam as cidades alemãs do Báltico.

O mar Báltico que já era anteriormente uma zona incorporada ao tráfico mundial, adquiriu nos séculos XII e Xül uma configuração nova, através de um vasto processo de germanização, cristianização e cultura dos povos eslavos.

Assim, à medida que as planícies do Leste foram absorvendo a cultura alemã, adquirindo caráter germânico, foram aumentando igualmente os mercadores que serviam de intermediários entre a pátria e os cruzados, missionários e imigrantes que se achavam em terras estranhas.

Por muito tempo o mercador alemão conseguiu manter nos mares setentrionais uma posição dominante, até que esta se quebrou com o tempo, voltando novamente Veneza ao ponto do comércio mundial.

Veneza exercia um magnético poder de atração sobre os mercadores alemães, seus produtos representando sempre uma magnífica fonte de renda.

A fabricação de armas fornecia cotas, couraças e elmos; a indústria têxtil fornecia finos tecidos de seda e algodão. Tafetás, brocados de ouro, artísticos objetos de cristal, ornamentos, produtos químicos — tudo era fornecido por Veneza que, assim, converteu-se em uma espécie de escola superior para os comerciantes do Norte, que mandavam seus filhos para aprender naquela cidade gramática, cálculo e prática comercial.

Assim, Veneza teve uma grande transcendência cultural para os países germânicos. O deslocamento do centro mercantil de Constantinopla para a Itália foi grande, de grande valor para a Alemanha, pois não só se espalharam sôbre as cidades alemãs o bem-estar e a riqueza, como também a vida industrial recebeu novos estímulos, e com isso um florescimento cultural que ainda na atualidade se reflete sôbre muitas cidades alemãs.

* * *

Segundo eminentes historiadores, três grandes centros comerciais, ou melhor, três grandes zonas comerciais se distinguiram especialmente na Idade Média*: o Oceano índico-arábico. o Mediterrâneo e os mares do Norte e Báltico.

Em toda extensão desse comércio indo-nórdico, des-tacam-se três grupos principais: Alexandria, as repúblicas municipais italianas e algumas cidades nórdicas, havendo uma incessante circulação no tráfico, tanto no mar como em terra, unindo as três grandes zonas mercantis como em uma cadeia.

Já no fim do século XV uma grande transformação se verificou quando o homem ultrapassou os limites até então conhecidos do mundo, na ânsia de dominar toda a sua superfície.

O encontro de uma rota marítima para as índias e a descoberta da América constituíram o ponto de partida para uma revolução transcendental em toda a vida econômica da Europa.

Daí por diante, o comércio local do Mediterrâneo e do Báltico foi suplantado pelo tráfico marítimo internacional.

Portugal foi a primeira nação que lançou as vistas para a imensidade do Oceano, podendo mesmo essa pequena nação ser considerada como a precursora do moderno tráfico mundial.

Os portugueses encontraram nessa época o homem de que necessitavam e que soube indicar o caminho reto aos seus compatriotas: o infante D. Henrique, na época do rei D. Afonso V.

D. Henrique, convencido de que o futuro de sua pátria estava no mar e de que o inimigo de sua fé receberia rude golpe pela conquista da costa ocidental africana, planejou uma série de expedições navais, que deram lugar a uma série de conquistas vitoriosas que serviram de base, durante um século ao florescimento mercantil da nação portuguesa.

Quando enfim, D. Henrique conseguiu encontrar uma nova rota marítima para as Índias, indicar outros caminhos ao tráfico mundial e cercar o comércio mediterrâneo, trouxe imensos prejuízos para os muçulmanos e grandes vantagens para Portugal.

Em 1486, Bartolomeu Dias, arrastado por violentas tempestades, dobrou o cabo da Boa Esperança e novas

perspectivas foram vislumbradas. Finalmente, em 1498, Vasco da Gama atravessando com felicidade o mencionado cabo, com rumo a Calcutá, chegou a esta cidade, considerada então a praça mercantil mais importante da parte ocidental das Índias. Estava consolidada a ligação marítima imediata entre a Europa e as Índias.

O encontro dessa rota marítima foi somente o primeiro passo para o fim realmente visado. O mais difícil estava ainda por vir que era estabelecer nas costas indicas pontos de apoio para o comércio e adquirir, depois, uma posição dominante em face dos árabes.

Estes tinham em seu poder, havia já vários séculos, toda a navegação comercial pelo mar Vermelho e do golfo Pérsico até Málaca, depósito principal dos produtos da Ásia oriental.

Era preciso arrebatar aos árabes tal situação de predomínio e foi assim que os portugueses iniciaram uma rude política de conquista que se traduziu em uma série de extraordinários exitos, graças aos extraordinários dotes militares de Afonso de Albuquerque, que assaltou Goa, ocupou depois as Molucas e, após uma desesperada luta, apoderou-se da rica cidade de Málaca.

As notícias das vitórias estenderam-se ao longo dos países litorâneos do Oceano Índico e de tôdas as partes acudiram embaixadores indígenas para celebrar alianças e tratados de comércio. Tais acordos permitiram o estabelecimento de feitorias e a construção de fortalezas que protegiam os comerciantes portugueses.

Assim, o extremo oriente foi submetido à esfera de interêsses de Portugal.

Afonso de Albuquerque percebeu ainda, que para aniquilar totalmente a hegemonia mercantil dos árabes, era preciso fechar a rota de absoluta importância para o comércio mundial e que se constituía no caminho que atravessava o mar Vermelho e o golfo Pérsico.

Embora todos os seus recursos militares fracassassem diante dos muros de Aden, no ano de 1515, conseguir forçar a cidadela de Armuz e, levantando nela uma grande fortaleza, cortou ao comércio árabe a ligação com o mar Mediterrâneo.

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