Peregrino Proteu

Peregrinus Proteus – Peregrino Proteu


Traduzido por Miguel Duclós
a partir dos verbetes da wikipedia-en e wikipedia-fr (08.08.2015).

Veja no “Portal Veritas” o texto sobre Peregrino da História da Filosofia Antiga de Giovanni Reale (vol. IV).

Peregrino Proteu (Grego: Περεγρινος Πρωτεύς – Peregrinus Proteus; c. 95 – 165 d.C.) foi um filósofo grego cínico, nascido em Pário, na Mísia. Tendo saído de casa ainda muito jovem, viveu primeiramente com cristãos na Palestina, até ser expulso dessa comunidade e passar a adotar o modo de vida de um filósofo cínico, até voltar para a Grécia, onde fixou-se. Ele é lembrado por ter cometido suicídio fazendo sua própria oração fúnubre [1] antes de atirar-se na pira olímpica nos jogos de 165. Em 180, uma estátua de Peregrino foi eregida na sua cidade natal, Pário. Esta estátua criou fama de possuir poderes oraculares. [2]

Vida

A biografia satírica de Luciano de Samósata

Retrato ficticio de Luciano de Samósata pelo pintor inglês William Faithorne (1616-1691) (wiki).
Retrato fictício de Luciano de Samósata pelo pintor inglês William Faithorne (1616-1691) .

O único registro detalhado da vida de Peregrino Proteu foi feito por Luciano de Samósata na sua obra satírica A morte de Peregrino (Latim: De Morte Peregrini). Embora seja uma obra que hostilize o protagonista, como um libelo, os principais fatos da sua vida podem ser apreendidos.



Peregrino nasceu em Pário, em cerca de 95 d. C. Quando ainda muito jovem, foi acusado de parricídio, tendo sido obrigado a deixar sua terra natal[3]. Durante suas viagens chegou na Palestina, lá iniciando um contato próximo com a comunidade cristã, ascendendo rapidamente à uma posição de autoridade[4]. Quando foi condenado à prisão pela justiça romana, os cristãos da Palestina lhe prestaram muita assistência[5]. Esperava-se que sofresse o martírio, sentença comum aos desta nova seita, todavia, o governo na Síria terminou por libertá-lo. Ele parece ter se tornado um filósofo cínico neste período, depois retornou à terra natal, renunciando a todo patrimônio e doando todo o seu dinheiro para os pobres da cidade natal[6]. Então retomou a vida errante, mantendo relações próximas com a comunidade cristã, até finalmente os ter ofendido de maneira tal que foi definitivamente expulso[7]. Foi ao Egito estudar com um cínico de renome, Agatobulo de Alexandria (Ἀγαθόβουλος – Agathobulus), onde aprendeu o duro ascetismo desta escola[8]. Direcionou-se à Roma, onde começou uma campanha de resistência escrachada às autoridades romanas e ao imperador Antônio Pio. Ele ganhou seguidores entre as massas, e possivelmente nesse período Teágenes (Θεαγένης, Theagenes of Patras) tornou-se seu principal discípulo. Embora tenha sido inicialmente tolerado, acabou sendo também expulso pelo prefeito de Roma[9]. Depois, se dirigiu à Élis, na Grécia, onde continuou a sua pregação anti-romana[10]. Nos Jogos Olímpicos (de 153 ou 157), insultou o rico e famoso filantropo e benemérito Herodes Ático (Herodes Atticus), de forma que a multidão injuriada começou a perseguí-lo, e ele teve de refugiar-se no Templo de Zeus[11]. Em Atenas, Peregrino dedicou-se ao estudo e ensino da filosofia, obtendo um considerável número de discípulos, dentre os quais Aulo Gélio (Aulus Gellius) [12]. Nos Jogos Olímpicos de 161, anunciou que iria queimar-se a si mesmo até a morte nos Jogos seguintes[13].

Ele dizia que queria fechar com uma chave de ouro uma vida dourada; porque quem viveu como um Hércules, deve morrer como um Hércules, difundido-se no éter. Eu desejo, dizia ele, beneficiar a humanidade, mostrando a todos a maneira como não devemos nos preocupar com a morte, é por isso que todo homem deve ser meu Filoctetes (Φιλοκτήτης). [14]

Ele cumpriu sua promessa: na noite final dos Jogos Olímpicos de 165, auto-imolou-se numa pira olímpica, localizada 20 estádios (3,7 km.) a leste de Olímpia[15]. Luciano[16], que estava presente, testemunhou o evento, tendo ouvido Teágenes, o discípulo mais fervoroso de Peregrino, elogiar as intenções de seu mestre.

pira-olimpica

É difícil reconstruir as motivações de Peregrino ao longo de sua vida, porque Luciano, por razões pessoais e gerais, apresenta um ponto de vista hostil a Peregrino. De acordo com Luciano, Peregrino estrangulou seu pai até a morte, tornou-se cristão apenas para ganhar riqueza, foi preso porque assim podia tornar-se notório, abriu mão de seu patrimônio para obter favores das pessoas da sua cidade natal, estudou com Agathobulus para poder tornar-se mais obsceno; atacou os romanos para tornar-se célebre, e matou-se para tornar-se infame.

Visão de Auro Gélio

Aulo Gélio apresenta um ponto de vista breve, mas diferente. Ele descreve Peregrino como “um homem de dignidade e coragem.” Aulo o visitava regularmente no seu abrigo for a de Atenas para ouvir coisas “úteis e nobres” [12]:

Ele costumava dizer que um homem sábio não cometeria pecado mesmo se soubesse que nunca nem deuses nem homens saberiam, uma vez que pensava que o dever é o de se afastar do pecado, não através do medo de ser punido ou da desgraça, mas através do amor à justiça e honestidade e pela consciência do dever”.

Frontispício de uma edição  de Auli Gellii Noctium Atticarum libri XX de 1706 (Noites Áticas de Aulo Gélio, vol. XX)
Frontispício de uma edição de Auli Gellii Noctium Atticarum libri XX de 1706 (Noites Áticas de Aulo Gélio, vol. XX)

Linha do Tempo

Muitos historiadores modernos tentaram esboçar a vida de Peregrino usando os trabalhos de Luciano e outras fontes que fixam datas históricas como a conclusão do aqueduto de Herodes Ático e a revolta judaica na Síria. Uma das linhas do tempo mais completa sobre a vida de Peregrino foi elaborada por Gilberto Bagnani, mais ou menos como a abaixo:

c. 95 a. C – Nascimento em Pário.

114-116 Na Armênia.
c. 120 em Pário: morte do seu pai.
120-130 vai para Palestina e Síria: entra na Igreja essênia-ebionita, em Pela, na Macedônia.
132 aprisionado com o levante da revolta Judaica.
134 Libertado por Julius Severus.
135 Depois de retornar a Pário, volta a viajar.
c. 140 Excomungado como um Ebionita, vai ao Egito.
c. 150 Vai a Roma.
c. 152 É expulso de Roma.
153 ataca Herodes Ático em Olímpia.
157 Se reconcilia com Herodes.

165 Morre em Olímpia. [17]

Notas

1. Atenágoras de Atenas, Presbeia peri Christianon, 26.

2. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 10.

3. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 11.

4. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 12, 13.

5. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 14.

6. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 15.

7. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 16.

8. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 17.

9. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 18.

10. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 19.

11. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 19, 20.

12. Aulo-Gelio, Noctes Atticae, XII. 11.

13. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 20.

14. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 33.

15. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 35-36.

16. Lucian, De Morte Peregrini, 35-36.

17. Bagnani, Gilbert (1955). “Peregrinus Proteus and the Christians”. Historia: Zeitschrift für Alte Geschichte 4 (1): 107–112. Retrieved 2011-10-10.

Linha do Tempo

Muitos historiadores modernos tentaram esboçar a vida de Peregrino usando os trabalhos de Luciano e outras fontes que fixam datas históricas como a conclusão do aqueduto de Herodes Ático e a revolta judaica na Síria. Uma das linhas do tempo mais completa sobre a vida de Peregrino foi elaborada por Gilberto Bagnani, mais ou menos como a abaixo:

c. 95 a. C – Nascimento em Pário.

114-116 Na Armênia.
c. 120 em Pário: morte do seu pai.
120-130 vai para Palestina e Síria: entra na Igreja essênia-ebionita, em Pela, na Macedônia.
132 aprisionado com o levante da revolta Judaica.
134 Libertado por Julius Severus.
135 Depois de retornar a Pário, volta a viajar.
c. 140 Excomungado como um Ebionita, vai ao Egito.
c. 150 Vai a Roma.
c. 152 É expulso de Roma.
153 ataca Herodes Ático em Olímpia.
157 Se reconcilia com Herodes.

165 Morre em Olímpia [17]

Notas

1. Atenágoras de Atenas, Presbeia peri Christianon, 26.

2. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 10.

3. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 11.

4. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 12, 13.

5. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 14.

6. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 15.

7. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 16.

8. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 17.

9. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 18.

10. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 19.

11. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 19, 20.

12. Aulo-Gelio, Noctes Atticae, XII. 11.

13. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 20.

14. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 33.

15. Luciano de Samósata, De Morte Peregrini, 35-36.

  1. Lucian, De Morte Peregrini, 35-36.

17. Bagnani, Gilbert (1955). “Peregrinus Proteus and the Christians”. Historia: Zeitschrift für Alte Geschichte 4 (1): 107–112. Retrieved 2011-10-10.

Links

Traduzido e adaptado de “https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Peregrinus_Proteus&oldid=663183424” por Miguel Duclós.

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