Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › A ciência › A separação entre a ciência e a filosofia
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07/07/2000 às 12:42 #69822Miguel (admin)Mestre
A questão proposta acerca deste objeto é estremamente pertinente para o mundo contemporâneo. A redução da ciência à aplicação no processo de produção é um movimento que, desde os séculos XV e XVI, ganha mais profundidade. Com efeito, a própria ciência vem se reduzindo a uma tecnologia, a uma técnica. Dentro dela, o capitalismo engendrou uma divisão estatutária: existem as ciências não aplicadas e as aplicadas,cuja primazia está com as últimas.
A ciência vem acompanhando a produção e reprodução de capital e, com isso, vem se inserindo nos meios de produção como instrumento potencializador na produção de valor-de-troca, isto é, ela é aplicada onde existe a possibilidade de acumulação de capital.
Destarte, o quanto mais a ciência estiver separada da filosofia, melhor para a acumulação de capital, já que as discussões e ações que poderiam dar uma dimensão social acerca do incremento científico à produção e acerca do avanço tecnológico ficam excluídas a priori. A ideologia do cientificismo, cuja âncora é o positivismo, faz justamente a separação entre ciência e filosofia: a primeira é autonomizada e alienada das discuções acerca da emancipação humana, assunto metafísico demais para uma necessidade tão premente como a acumulação de capital.
Em suma, o que eu quero dizer é que a ciência não pode estar estranhada às dimensões sociais (e, portanto, também filosóficas), às implicações de seus métodos e de seus resultados. Caso contrário, ocorre o que ocorre hoje em dia: o avanço das forças produtivas, absorvido pelo capital, se sobrepõe ao homem já dentro das bases materiais de produção (colocando o homem como ser dominado pela máquina, como um ser ontologicamente reduzido por ela) e, ademais, se absolve das consequências de uma bomba atômica, de uma teoria econômica tecnocrata…07/07/2000 às 23:40 #71686Miguel (admin)MestrePrezado Anderson: Concordo com seu ponto de vista, mas penso que este é somente um dos ângulos da questão. É certo que a ciência, como você disse, se desvincula cada vez mais do saber puro e simples para o saber aplicado, para a produção de novas tecnologias. Assim, muitas pesquisas científicas que não tem um valor econôminco são desprivilegiadas para aquelas com aplicação prática mais definida. E o pior aspecto desta história é constatar que a academia está perdendo um espaço gigantesco neste aspecto em relação às instituições de pesquisa com interesse econîomico. A maior parte das descobertas hoje vem de instituições privadas. Uma boa ilustração disso é o projeto Celera Genoma, em que esse grupo privado conseguiu resultados muito mais rapidamente do que o grupo liderado pela academia, e se deu ao direito de patentear gens, isto patentear uma descoberta, e não uma invenção. A ciência é extremamente amoral neste ponto, conseguiu um poder absoluto, extraordinário, mas pode estar facilmente a serviço de fins nada nobres, ou descontrolada de preocupações sociais ou da vigilância do governo.
Mas a separação com a filosofia envolve outros aspectos, além deste da possibilidade da filosofia prestar uma reflexão crítica acerca dos usos e métodos da ciência. O próprio Bertrand Russel -grande cientista e filósofo, por exemplo, colocava a filosofia como intermediária entre a religião e a ciência, pois especulava acerca de assuntos em que não podia se haver certezas mas não se usava de nenhuma autoridade ou dogma para isso, mas da razão. O caminho da filosofia contemporânea, de uma forma geral, tem se afastado das questões metafísicas e ontológicas (com exceção do existencialismo) para uma aproximação com a filosofia da ciência, a epistemologia, a lógica…
10/07/2000 às 12:25 #71687Miguel (admin)MestreCaro Onofre Veiga: é justamente a separação entre epistemologia e ontologia (parte da ciência com parte da filosofia) que é maléfica, o exemplo que você deu do genoma é sintomático. A filosofia contemporânea não pode se reduzir ao cientificismo, não pode se restringir a uma lógica ou a uma epistemologia. Pois, isto, é uma autonomização da ciência, uma concepção positivista que nos marca desde o século XIX. Pensadores como Rousseau, Marx, Gramsci, Marcuse e outros conseguiram mostrar que a linearilidade do avanço científico, por si só, não resolve os problemas da humanidade. Mais especificamente, Marcuse conseguiu demonstrar que as próprias máquinas já são fabricadas, na sua inerência, rebaixando o homem diante delas: não só o que a ciência produz pode ser prejudicial ao homem, mas também a sua própria forma de ser e de operar.
Falta, Onofre Veiga, dimensão social à Ciência e, nisto, também o Russel se mostra limitado. A ciência não pode, de modo totalitário caminhar com suas próprias pernas e, quiçá, a solução esteja em separar a ciência do capital, não da Filosofia.25/09/2000 às 0:42 #71688Miguel (admin)MestreMe parece interessante a discussão e, por um excesso de confiança, me atrevo a meter o bedelho nela. A separação entre capital e ciência é um fato que não envolve unicamente o processo teórico, mas abrange o aspecto instiutcional, político,econômico,etc. Podemos supor que como a ciência de ponta ,hoje em dia, é caríssima , o principal meio de separar ciência de capital seria um maciço investimento do estado nessa área. Mas, essa mesma hipótese não é 100% válida, pois o próprio estado espera uma resposta rápida.E como dinheiro ainda não nasce em árvore, é natural que os políticos com uma visão mis estreita da realidade não queiram gastar verbas em assuntos incertos, cujas possibilidades se apresentam apenas em um futuro distante. Além do que, a própria separação entre público e privado tem se tornado díficil de delinear, devido a influência de toda sorte de interesses privados no estado.
Espero ter contribuido com algumas observações para a discussão25/09/2000 às 6:51 #71689Miguel (admin)MestreSó uma nota: Creio que infelizmente, (para mim), os Estados atualmente tem cada vez menos poder de arcar com estes custos de pesquisa, principalmente em países em desenvolvimento. Na nova economia o mercado que dita as regras das inovações científicas, ou pelo menos a parceria entre governo/empresa. Uma das “desculpas” para as privatizações dos serviços telefônicos, por exemplo, foi a notória obsolência dos serviços estatais nesta área, além do exemplo citado do Celera Genomics, e muitos outros.
04/10/2000 às 17:29 #71690Miguel (admin)MestreNo entanto, amigos, se pensarmos apenas dentro da lógica do capitalismo, ficaremos em uma tautologia. É preciso pensar para além do capital, é preciso pensar relações sociais que, funcionando como subjacência da sociedade, permitam a resolução do nosso problema.
31/01/2001 às 4:00 #71691Miguel (admin)MestrePura insensatez!
A humanidade em certos aspectos tornou-se insana, doente, medrosa, em pânico, este jogo de egos está levando a um empate desfavorável, melhor dizendo a um empasse, o que fazer, retornar ou como estúpidos seguir..prosseguir cegamente, alhienadamente, como macacos em loja de cristais.
Sensato seria que o homem assumisse que tem estado um tanto esquizofrenico, desconectados de si da substância sensitiva que outrora o fez maior, pois todo conhecimento inicio-se com a intuição, pedeu-se nos egos inflados o costume da auto analise do retorno ao ontologico ao sagrado, que é a noção de tempo como relativo. Há no presente uma visão imediatista, com certeza Eistein teria algo a dizer…se ao Estado interessasse..mas creio que nesta esquizofrenia de cegos, surdos seria em vão falar..
Recomendo o livro O Animal Moral..23/02/2001 às 4:08 #71692Miguel (admin)Mestrebom… vou arriscar um palpite…o homem tem uma tendência natural ao extremismo… e tb muita vaidade… com descartes descobre-se a possibilidade de descrever o mundo material precisamente,.. depois vem bacon e newton e reforçam a possibilidade de prever eventos desde que se conheça algumas “constantes absolutas”… a física quantica derruba tudo isto, e os experimentos mais recentes falam sobre não-localidade e os mais ousados(com teorias) buscam explicar o mundo atravéz da consciência que, segundo esses físicos e piscólogos(transpessoais) possui várias faixas… mas onde eu quero chegar???…não é simples pensar quanticamente ou misticamente(compreender os taoistas, o budismo zen, o cristianismo primitivo, o hinduísmo e o vedantismo) requer demasiado tempo e sacerdócio… o homem moderno é uma formiguinha que corre feito louco para não perder o trem… a pesquisa cientifica não fica atrás, e é puro capitalismo…um exemplo claro e a lei de patentes que está sendo forçada pelos hegemônicos americanos a nós brasileiros……muitos cientistas ainda não digeriram a idéia do novo paradigma buscado pelos filósofos da ciência… se até mesmo os cientistas não conseguem entender a necessidade de união entre ciêncio e filosofia o que dirá as pessoas no seu dia a dia corrido…blake nos adverte sobre o sono profundo de newton.. o homem deixou de viver a vida uma aventura…. mas nós não fomos feitos para termos certezas…..
em suma eramos seres espirituais e nos tornamos seres materias(foi aí que a filosofia começou e ser deixada de lado pela ciência, sendo para alguns assunto de religiosos)..”nem tanto ao céu, nem tanto a terra”(sabedoria popular- a melhor, sempre!!) no momento caminhamos para algo muito próximo do equilibrios, mas os sinais devem ser percebidos….
em atos temos uma passagem que diz mais ou menos isso:
“de qualquer modo eles ouviram, mas não escutaram; enxergaram, mas não perceberam; pq o coração deste povo estava pesado..”recomendo sensibilidade, muita atenção e muito ouvido…simplicidade e introvisão.
18/04/2001 às 20:44 #71693Miguel (admin)MestreMuito rica a discussão acima, parabéns a todos pelo conhecimento.
Me arrisco a fazer uma colocação:
Observando a história de uma forma mais ampla, percebemos que, até pouco tempo, estavamos em um processo de segmentação do conhecimento. Todas as escolas estavam (e algumas ainda estão)se dividindo e se especializando, o que levou a ciência a se distanciar cada vez mais das bases filosoficas. A própria filosofia passou por esta segmentação, formando a filosofia física ou natural, filosofia positiva, filosofia racional, filosofia social, filosofia transcendente, entre outras que servem de berço para diversos áreas científicas. A medida que este processo foi crescendo, as diversas subdivisões do conhecimento foram esbarrando umas nas outras. Atualmente o que muito se nota é a fusão destes conhecimentos que se tornaram especialistas de um determinado assunto, dependendo uns dos outros para obter melhores resultados, ou seja, dentro do meu ponto de vista, a ciência já passou pela fase do distanciamento da filosofia na grande maioria de seus assuntos e, na atual situação, volta a recorrer as origens filosoficas para aplicar e complementar suas descobertas. O conhecimento hoje tende a ser holístico. Apenas como exemplo, Aristóteles foi o pai da lógica, e praticamente nenhuma ciência sobrevive sem ela. Por mais que não percebamos, jamais poderemos negar a origem dos questionamentos científicos são filosóficos e por este fato não podemos desvincular a ciência da filosofia. Para entendermos de um assunto, precisamos recorrer as origens…19/04/2001 às 18:12 #71694Miguel (admin)MestreMuito interessante. Parece que na física, realmente, está havendo essa “mudança de paradigma” para o paradigma holístico.
Mas eu acho que ainda estamos em fase de transição. Ainda há muita especialização e pouco saber unificado. Mesmo em filosofia. Uma pessoa pode saber bem acerca de um assunto, de um tema, mesmo que para isso tenha de dialogar com outros ramos. Ela não será especialista nos outros ramos, mas usara a parte destes que tem a ver com a sua pesquisa.
Embora não seja o correto, ainda acho que a especialização lidera. Estamos longe daquela figura do homem do renascimento, que sabia bem todas as ciências, procurava ser enciclopédico, aplicar o conhecimento com virtude e sabedoria, cultivava o físico, o esporte etc.
20/04/2001 às 18:22 #71695Miguel (admin)MestreAmigo Onofre,
É verdade… concordo quando você diz que ainda estamos na fase das especializações, principalmente se considerarmos as recentes descobertas científicas/tecnológicas que em quase nada abordam as origens filósificas e pouco envolvem outros conhecimentos. O que espero deste processo evolutivo é que em breve haja uma reconstrução do amplo conhecimento. É certo que exigirá muito mais do ser humano, considerando a quantidade de conhecimento acumulado no decorrer dos anos, mas já podemos perceber, pela própria competitividade capitalista, que conquista destaque quem mais armazena dados+informações=conhecimento.
A grande tecnologia atual nos disponibiliza muitas informações, e muitas delas nos são vitais para a sobrevivência. Hoje já é possível transmitir todas as edições do “The New York Times” de um lado a outro do planeta em apenas um segundo! A grande dificuldade que ainda enfrentamos é de ordenar, armazenar e utilizar estas informações para o crescimento indivudual e um benefício maior, que é atender as mínimas necessidades humanas como a fome… Enquanto o ser humano não perceber sua própria evolução, que pode ser infinitamente maior do que a tecnologica, estaremos correndo em diversas direções (se especializando) e dificilmente chegaremos ao bem estar comum!29/01/2002 às 7:35 #71696Miguel (admin)MestreA ciência de hoje precisa da Filosofia?: Respondo a esta pregunta com uma outra: O que vocês acham da obra MONADOLOGIA de Leibniz?
29/01/2002 às 7:36 #71697Miguel (admin)MestreA ciência de hoje precisa da Filosofia?: Respondo a esta pergunta com uma outra: O que vocês acham da obra MONADOLOGIA de Leibniz?
27/01/2003 às 16:25 #71698Miguel (admin)MestreSim. Acho que a ciência necessita de filosofia. Quando analisamos a matéria-prima do urbanista – o espaço físico – por exemplo, verificamos que a complexidade da cidade contemporânea nos sugere a utilização de uma metodologia. Mas eu me pergunto: que metodologia é suficientemente válida para assuntos urbanísticos?
A cidade é de natureza dinâmica, se modifica a todo tempo.
Num laboratório de quimica, ao contrário, o cientista controla suas variáveis com maior segurança (temperatura, peso etc.)Mas as variáveis espaciais são de dificil controle. Por tanto, numa realidade dessas, em que o método não abrange o propósito, o uso da filosofia se faz necessário.
Uma estrutura complexa e de dificil mensuração, como é o caso da questão urbana, ainda é tema de profundas discussões filosóficas, que ajudam a clarear e dar um direcionamento as investigações dos estudiosos do urbanismo.
23/09/2003 às 14:19 #71699Miguel (admin)MestreNão.Faz muito tempo que a ciência e a tecnologia prescindem da filosofia.Há 2400 anos,os filósofos da corrente pejorativamente designada cínica já tocavam neste tema.
A filosofia deve explicar as mudanças trazidas pela tecnologia e pela ciência,como também é obrigada a adaptar-se,sob pena de esclerosar-se.É o caso de Descartes, por exemplo,que tenta redefinir toda a filosofia,depois que se verificou que eram falsas as idéias correntes de que a Terra e/ou o Céu eram o centro do Universo.
No séc.XX,dá-se outra revoluçâo:verifica-se que nem tempo,nem espaço são absolutos.Ora,a única corrente filosófica que deu uma resposta a esta questão altamente filosófica(trata-se de saber o que é o mundo e por tabela,o que somos nós) foi o neo-positivismo.
O materialismo marxista-leninista não só não deu uma resposta a esta revolução como continuou vendo o mundo da mesma forma que se via no século XIX(veja-se as obras escritas pelos físicos soviéticos,onde,volta e meia,existe citações de Lênin e/ou Stalin,enfatizando a matéria como base da realidade)
O irracionalismo nazista, baseado em Nietzsche,foi a própria filosofia de regressão,enfatizando a vontade e o instinto.
Portanto, a filosofia deve-se pautar pela ciência -
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