Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › A ciência › A separação entre a ciência e a filosofia
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23/09/2003 às 17:44 #71700Miguel (admin)Mestre
Luiz,
O que vc escreveu está recheado de consideraçoes e gafes do senso comum. Acontece que vc inverteu tudo e colocou o carro na frente dos bois, pois o que mais frequentemente acontece é que a ciência é que se molda segundo as mudanças nas correntes de pensamento da filosofia. Pode parecer que a ciência e a tecnologia prescindem da filosofia, pode parecer isso para o senso comum, uma vez que a ciencia e a tecnologia nao analisam os seus pressupostos, mas os recebem de correntes da filosofia. Por exemplo, a “descoberta” do atomo, se podemos dizer assim, aconteceu na filosofia, nao na ciencia. As aspas foram propositais, pois, afinal, quem foi que disse que os atomos estavam lá para ser descobertos? Esse é outro pressuposto de outra corrente filosófica, já que, segundo outra correntes, quem “colocou” o atomo lá foi a sua interpretaçao. Nao existem átomos. Se vc quisesse poderia ter colocado lá as jujubas. e explicar o funcionamento do universo atraves de um jogo de jujubas. Espero que seja claro o exagero para comunicar um ponto.
Alias, essa separaçao estanque entre filosofia e ciencia já é uma gafe. Talvez o mais correto seja imaginar as duas caminhando uma com o olhar na outra.
Portanto, a filosofia deve-se pautar pela ciência
Ao dizer isso vc está fazendo filosofia, aliás, má filosofia. Se nao quer entrar em contradiçao, prove isso que está dizendo, a ciencia é baseada em experimentaçao. Que cientista elaborou experimentos para provar que os experimentos podem nos dizer como é o mundo na realidade?
PS: nao tenho certeza se ficou claro o que vc quis dizer com relaçao ao cinismo. Mas, quanto a saber o que é o mundo e o que somos nós, pelo que me lembre, nao tem nada a ver com positivismo ou neo-positivismo. Acontece justamente o contrário.
24/09/2003 às 18:44 #71701Miguel (admin)MestrePilgrim,
Trata-se de colocar o assunto no seu devido contexto.
Os termos ciência e cientista,com a acepção discutida, só foram cunhados em 1840.Antes disto,a ciência era um ramo da filosofia, a filosofia natural.Então,esta discussão não teria sentido.
A ciência e o cientista adquiriram independência, à medida em que não iam mais justificar-se perante a religião que, até o séc.XVIII,circuncrevia a filosofia.Justamente,nesse século,apareceu o Iluminismo, buscando libertar o pensamento das “trevas” da religião, com a enciclopédia,compêndio de conceitos relacionados com a análise científica. Em reação ao Iluminismo, apareceu a filosofia Romântica, opondo-se à ciência já institucionalizada.
Enfim, até o presente (com exceção do tempo da Guerra Fria, quando os dois lados envolveram-se nas corridas científicas da bomba nuclear e do espaço),pode-se dizer que a filosofia está dividida entre aqueles que aceitam a ciência e/ou a tecnologia como o modo de chegar-se à verdade e os que não aceitam isto, enfatizando modos pré-científicos.25/09/2003 às 17:58 #71702Miguel (admin)MestreLuiz,
Não concordo mais uma vez porque isso é, segundo penso, mais senso comum.
Li coisas muito estranhas no seu texto; por exemplo, de onde brotou essa data de 1840? Estou supondo que vc cometeu algum descuido e espero, se foi o caso, a sua correçao, ou, caso contrário, a sua confirmaçao. É isso mesmo que vc quis dizer?
Mas… Religião? Acho que vc está confundindo bastante as coisas!
Essa dita “separaçao” entre filosofia e teologia, ou melhor, as discussoes sobre as relaçoes entre fé e razão aconteceram durante todo o período da escolástica; lá pelo século XIII – e, portanto, bem antes do que vc imagina -já estavam sistematizadas e eram bem conhecidas.
Tomás de Aquino, por exemplo, já ensinava que existe um corpus filosófico que é fruto do puro exercício racional. Ele tinha a convicçao de que, apesar da radical dependencia do homem de Deus, o homem e o mundo gozavam de autonomia, e, portanto, cabia ao homem refletir sobre o mundo fazendo uso dos instrumentos da razao. Tomas já defendia que a teologia nao suplanta a filosofia e nem a fé subbstitui a razao. Ora, isso tudo é bem conhecido, a maioria sabe que muitos monges eram, inclusive, “cientistas”. Inclusive, cabe a Occam, filosofo, monge, religioso, lugar de destaque no nascimento da tal “ciencia moderna”.Agora, supondo que vc estivesse fazendo referencia sobre o poder temporal da igreja na época, isso vale tanto para a filosofia, quanto para a politica, quanto para a ciencia, e outras áreas. Isso em si nao explica a separaçao supra citada entre filosofia e ciencia. Se vamos falar disso, é bom chamar a atencao para o fato de que essa “separaçao” é tambem fruto de certas correntes filosóficas.
O que caracteriza a ilustraçao nao é tanto a separaçao da “religiao”, mas uma plena confiança na razao, na ciencia e na educaçao para melhorar a vida do homem. Tanto que costuma-se falar tambem de ilustraçao grega referindo-se a filosofia clássica. A desconfiança com relaçao a igreja vem forte devido a pessima experiencia europeia com as guerras de religiao. Mas isso é quase um desvido do assunto, nao é o que caracteriza a dita “separacao” entre filosofia e ciencia. A questao está mais diretamente relacionada ao valor da experimentaçao em relacao à especulaçao como meio de chegar a verdade, e sobre qual o valor da verdade. Ou seja, é uma discussao propriamente filosófica, nao científica. A ciencia, nesse sentido, pode até ser vista como o colocar em prática as convicçoes de uma corrente filosofica.
pode-se dizer que a filosofia está dividida entre aqueles que aceitam a ciência e/ou a tecnologia como o modo de chegar-se à verdade e os que não aceitam isto, enfatizando modos pré-científicos
Modos pré-cientificos? Nao sei se entendi bem mas, conforme tenha sido colocado o sentido dessa afirmaçao acima, fico com receio de termos saltado do senso comum para o preconceito.
Muitas das novas descobertas na ciencia hoje sao fruto desses “métodos pre-cientificos”. Havia algum critério de valor na afirmaçao? O que vc está chamando de “metodo pre-cientifico”?As vezes ainda me surpreendo como é presente essa herança positivista por aqui…
Abracos.
27/09/2003 às 19:38 #71703Miguel (admin)MestrePilgrim,
Quando você menciona Occam (e poderia citar mais apropriadamente, Roger Bacon, Jean Buridan e, Alberto da Saxônia. todos como você diz, “filósofos, monges, religiosos” e “cientistas”), você já pode perceber a dificuldade de ciência e filosofia estarem juntas. Qual a probabilidade de existir um Occam ou um Roger Bacon ou um Alberto da Saxônia nos dias de hoje? Nenhuma, não tem porque.
Tais filósofos referem-se a um tempo pré-científico, i.é, ao tempo anterior a Galileu e Newton.Isto que quero dizer com pré-científico. Qualquer filosofia natural anterior a Galileu era, aí sim, cheia de preconceitos, que não se podiam verificar. Bem por isto, que os positivistas pretenderam estender o método científico a todo campo do conhecimento, de modo a estabelecer a divisão que hoje qualquer vestibulando conhece: ciências exatas, ciências humanas (de que a filosofia faz parte) e ciências biológicas (a herança positivista é bem mais presente do que você supunha).Assim, inverteu-se a situação: a ciência, que era ramo da filosofia, transformou-se no tronco do conhecimento e a filosofia de que a ciência era ramo, transformou-se num ramo da ciência.
Hoje, no entanto, a ciência parece estar encontrando limites. De um lado, a ciência depende cada vez mais da tecnologia (a chamada alta tecnologia) para verificar suas proposições, tornando-se sua refém. Por outro lado, tem-se o ambientalismo, que usando o método científico, volta-se contra a própria ciência, explorando suas contradições e, com ele, a filosofia ganha autonomia da ciência, constituindo sua análise crítica.
Com isto, o tema proposto encontra-se explicitado historicamente: primeiro, a ciência separa-se da filosofia; depois, a filosofia torna-se ramo da ciência e, enfim, a filosofia pretende separar-se da ciência.
Abraço28/09/2003 às 11:31 #71704Miguel (admin)MestreLuiz,
Sugiro vc estudar um pouco mais para nao falar tanta bobagem.
Qualquer filosofia natural anterior a Galileu era, aí sim, cheia de preconceitos, que não se podiam verificar.
Voce fala essas coisas como se hoje tudo em ciencia fosse bastante verificado ou verificável. Como qualquer positivista faria, voce acredita, defende, e aposta todas as suas fichas, por pura crença nao verificavel, que tudo o que existe (e o que é o real?) pode ser medido, particionado, esquadrinhado e examinado por instrumentos “cientificos”, e repetido por experiencias aos moldes da, como vc diz, “ciencia moderna”. Contudo, te dei anteriormente um exemplo bastante simples do problema envolvido aí, mas parece que vc nao deu muita atençao: o átomo existe? (e estou falando de existencia material, que é aquela mais fácil para um positivista entender).
O curioso que que vc nao percebe – resultado do preconceito positivista que cega a visao – que o positivismo começa defendendo o poder da razao (vc até citou o iluminismo para reforçar esse ponto) mas depois em qualquer ponto se perde e resulta num dogmatismo total que acaba por levar a razao ao descrédito, já que passa a nao aceitar mais a pesquisa racional por limitar tudo o que pode ser verdadeiro apenas ao que pode ser medido por instrumentos. Se faz um ponteirinho mexer num painel entao é real, e se nao faz entao nao é.
Qual a probabilidade de existir um Occam ou um Roger Bacon ou um Alberto da Saxônia nos dias de hoje? Nenhuma, não tem porque. Tais filósofos referem-se a um tempo pré-científico, i.é, ao tempo anterior a Galileu e Newton.Isto que quero dizer com pré-científico. Qualquer filosofia natural anterior a Galileu era, aí sim, cheia de preconceitos, que não se podiam verificar.
De fato. Hoje tudo só tem valor porque é provado, a “ciencia moderna” é assim mesmo. Occam era só um especulador (ele nao tinha ponteirinhos para provar o que sonhava), e, hoje, aquele sujeito da cadeira de rodas nao é um fisico de verdade, ele tambem nao tem ponteirinhos para provar sua teoria dos buracos brancos, é só um maluco pré-cientifico, um ultrapassado que nao conseguiu sair da época de Occam.
Bem por isto, que os positivistas pretenderam estender o método científico a todo campo do conhecimento
Nisso concordo com vc, porque algo funciona bem em um ramo, certamente funcionará em todas as áreas. Por exemplo, papel higienico nunca rasga no picotado, entao se colocarmos picotados nas fuselagens dos caças elas vao ficar mais resistentes. Analogamente, quando aplicamos a matemática na analise das órbitas dos corpos celestes conseguimos bons resultados, entao será otimo fazermos o mesmo na analise do comportamento humano.
De ideias assim resultaram muitas teorias positivistas, mas, como nao sou positivista, estou mais tranquilo hoje pelo fato de pensamentos desse feitio estarem perdendo a credibilidade.
de modo a estabelecer a divisão que hoje qualquer vestibulando conhece: ciências exatas, ciências humanas (de que a filosofia faz parte) e ciências biológicas (a herança positivista é bem mais presente do que você supunha).
Procure filtrar um pouco mais suas informaçoes antes de escrever coisas desse tipo, tenha paciencia!. A maioria dessas divisoes nos campos do saber remontam à época de Aristóteles e nao tem nada a ver com positivismo. E, curioso que vc venha vindo falar de ciencias humanas…
Históricamente, as chamadas ciencias humanas (Geisteswissenschaften) se tornaram nossas conhecidas atraves dos escritos de Wilhelm Dilthey. E o mais interessante é que a obra dele aparece justamente em oposiçao a visao positivista, como crítica ao modelamento positivista de enquadrar todas as areas do saber dentro dentro das chamadas ciencias da natureza (Naturwissenschaften), ou ciencias naturais. Dilthey e os autores da Escola de Baden tratam justamente da relaçao e da diferença que existe entre as ciencias que estudam a natureza e as que estudam a cultura, o homem ou a historia. Diferenças essas desconhecidas ou desconsideradas pelos positivistas
Com isto, o tema proposto encontra-se explicitado historicamente: primeiro, a ciência separa-se da filosofia; depois, a filosofia torna-se ramo da ciência e, enfim, a filosofia pretende separar-se da ciência.
Só mais uma ultima coisa antes de eu terminar, a sua dita “ciencia moderna” está ainda longe da modernidade. Nao é porque eu defendo a filosofia que eu nao conheço ciencia, filosofos estudam a ciencia, o que nao costuma acontecer muito é o contrário; minha primeira area de formaçao nao é a filosofia, entao poderia discutir ciencia sem problema já que fui pesquisador por um bom tempo. Disse isso para que nao pense que falo só por paixao embora amante da filosofia. Deixa eu traçar um pequeno resumo aqui:
As diferentes concepçoes de ciencia podem ser distinguidas conforme a garantia de validade que se lhes atribui. Essa garantia pode consistir na (1) demonstraçao, (2) na descriçao, (3) na corrigibilidade. Agora deixa eu tentar mostrar o modo como essas garantias se encaixam dentro daquela que vc chama “ciencia moderna”:
(1)Demonstraçoes já eram comuns nas obras de Platao, Aristoteles, Euclides etc. O citado Galileu apenas concordou com o que Aristoteles já dizia quando sugeria a matemática como a ferramenta cientifica perfeita pela sua organizaçao demonstrativa. O ideal geometrico tambem foi compartinhado por Descartes e outros. Esse era o “modelo” da época, o que os “cientistas modernos” fizeram foi banhar-se nele. Ou seja, aquilo que eu já disse antes, as mudanças na ciencia normalmente sao fruto das mudanças nas correntes da filosofia; imaginar o contrario é desconsiderar os testemunhos historicos e atribuir a “ciencia moderna” mais do que ela é.
Hoje esse ideal da demonstraçao pode se considerar superado, tanto para a ciencia quanto para a filosofia. A ideia de ciencia como sistema acabado de verdades necessarias é coisa já ultrapassada. Nesse sentido, talvez vc devesse ser considerado aqui o pre-cientifico; está me parecendo que vc está argumentando com o ideal da ciencia classica na cabeça.
O que a ciencia busca hoje é algo bem mais modesto. Nada de provas demonstraveis aos moldes do que vc propos. Faz um tempo que a ciencia nao trabalha mais com a pretensao de validade necessaria de proposicoes dentro de um sistema organizado. O que se exige hoje é algo bem mais modesto, que as proposicoes sejam compativeis entre si, isto é, nao contraditórias. é uma exigencia bastante diferente porque nao-contradiçao nao implica em unidade sistematica.
(2) a concepcao descritiva convive com a anterior, mas podemos dizer que de certa forma a supera. Ela começou com Bacon e seu fundamento é a distinçao entre antecipacao e interpretaçao. Creio que Newton disse que a “regra” aqui é assumir que as causas de um fenomeno foram descobertas e entao descreve-las em principios, se esses principios conseguem descrever o fenomeno, entao considera-se isso a “prova” da explicaçao. Logo, o tipo de “verificaçao” de que se trata aqui nao tem nada a ver com aquilo que vc defende para a ciencia. Volte de novo àquela pergunta que fiz sobre o atomo.
Mas, para nao deixar aqui sem dizer da influencia das mudanças na filosofia para essa nova visao de mundo, na qual bebeu tambem a “ciencia moderna”… Newton foi herdeiro da metodologia galileana, que partia de varias crenças, adquiridas de correntes da filosofia.
Primeiro, a crença de que a ciencia (enquanto estudo da natureza sensivel) pode nos dar uma descriçao verdadeira da realidade. Essa crença é fruto maduro de uma discussao filosofica medieval entre o realismo e o nominalismo, que tem tudo a ver com uma mudança que começa a alterar à visao metafisica que as pessoas tinham do mundo. Nesse sentido, Occam teve muito mais a ver com o nascimento da ciencia moderna do que Bacon.
Segundo, a crença galileana de que a ciencia descritiva da realidade é possivel porque a realidade é objetiva e mensuravel já que “o livro da natureza está escrito em linguagem matematica, e seus caracteres sao circulos, triangulos e outros figuras geometricas”. O que de novo é fruto daquela virada metafisica de que eu falei anteriormente, e, para dizer mais, o metodo de Galileu pode ser considerado mesmo baseado em pressupostos metafisicos de origem platonica, já que, segundo Koyré, “se reclamas para a matematica um estatuto superior e se, ainda por cima, atribuis a ela um valor real e uma posicao dominante na fisica, entao és platonico”.
Mais uma vez a ciencia, fica evidente, nao brota do nada, e é, por assim dizer, “conduzida” como fruto de mudanças em correntes da filosofia.
(3) e, mais recentemente, temos a concepcao que reconhece como unica garantia de validade da ciencia a sua autocorrigibilidade. Essa é uma visao bem menos dogmatica, fruto de uma metodologia contemporanea herdada de correntes atuais DA FILOSOFIA. Eu poderia citar K.Popper e outros, mas nao acho necessario.
Aqui se parte de uma concepcao, conhecida por falibilismo, que desiste de qualquer pretensao de garantias absolutas. A ciencia hoje trabalha com esse modelo autocorretivo que considera que nenhuma proposicao é em si mesma absolutamente correta. Interessante notar que ela trabalha simultaneamente com a duvida e a correcao, aceita uma proposicao como correta enquanto ao mesmo tempo duvida desta correcao. Uma teoria vale até que se prove o contrario. Assim, toda ciencia é provisoria!
Acho que vc vai ter dificuldades para encaixar seu ideal verificabilista dentro da ciencia contemporanea. Mas acho que defendi um ponto aqui:
a ciencia caminha com os olhos na filosofia! .
01/10/2003 às 16:37 #71705Miguel (admin)MestrePilgrim,
Nota-se um menosprezo preconceituoso (pelo menos, os positivistas não tem este tipo de atitude, dado que nada aceitam a priori) pela máquina e pela tecnologia em sua última mensagem.É esta principalmente, a razão de nossa divergência e deste debate.Enquanto você menospreza a máquina e a tecnologia (ponteirinhos), levando em alta conta o trivial e o prosaico (no duplo sentido destas palavras), considero a tecnologia como fator determinante, fazendo a diferença entre Occam e S. Hawking.Não fosse pelo desenvolvimento da máquina e pelo surgimento da alta tecnologia, ainda estaríamos debatendo os mesmos temas, que Occam enfocou.
Sua exposição sobre as diferentes concepções de ciência pressupõe o desenvolvimento da máquina e de diferentes ambientes maquinais.O método demonstrativo, ou dedutivo, de que a geometria é o padrão, pressupôs o porto o ambiente portuário respectivo e o seu desenvolvimento.O método empírico, de que a astronomia é o padrão, pressupôs sucessivamente, o mosteiro, a mesquita e a universidade, seus observatórios e instrumentos.O método experimental, de que a física é o padrão, pressupôs os instrumentos de medição (termômetro, barômetro, etc.) que vão formando o laboratório, e a máquina a vapor, que se institucionaliza na indústria.É o processo da História.
De 70 anos para cá (tempos pós-históricos), de fato, o físico experimental de laboratório desapareceu, já que os laboratórios foram substituídos pelos centros de pesquisa nucleares e espaciais, dominados por engenheiros nucleares e eletrônicos. A física teorizou-se, matematizou-se, na esteira de Einstein e Dirac, com R. Feymann, M. Gell-Mann, S. Weinberg e A. Guth. A máquina foi superada pelos aparelhos induzidos por radiação, a alta tecnologia, para a qual todo o processo da História é insignificante.Nem Popper, nem Koyré parecem ter dado atenção a estas mudanças.Mas isto já é um outro debate.O que se conclui desta breve exposição é a dependência da filosofia em relação à ciência e desta em relação à tecnologia.PS: procure mostrar um pouco mais de coerência (se um filósofo não tem coerência, quem vai ter?) em seu comportamento: deixe de mandar estas mensagens eletrônicas, usando esse execrável ponteirinho do cursor do seu execrável computador e comece a mandar missivas para a seção de cartas do leitor relativo ao jornal ou revista que você mais gosta, esperando ser publicada, lida por alguém que se interesse pelo assunto, respondida, publicada a resposta e daí, começar todo um debate, que, é claro, talvez seja um tanto mais demorado, mas que fará você deliciar-se nesta esfera de puras letras, sem a intromissão desta desprezível informática.Tenha paciência!
01/10/2003 às 20:34 #71706Miguel (admin)MestreLuiz,
a sua falta de argumentos fará com que, agora, além de carência de conhecimento histórico e filosófico, voce dará mostras de carência de lógica?
você menospreza a máquina e a tecnologia (ponteirinhos)…
Isso é falácia de argumentum ad hominem!
Parece que agora vc se esqueceu da questão em debate para se entregar aos apelos emocionais procurando o assentimento dos que nao tiveram mais tempo para se aprofundar no porquê da questao. É uma pena, porque argumentos como esse nao acrescentam nada para verdade de alguma conclusao mas pretendem, tão somente, apelar para o lado emocional de quem as ouve e dá crédito; baseiam-se puramente em dados circunstanciais; aqui no caso, o fato de a tecnologia ter tornado a vida mais cômoda para todos nós, mas, O QUE ISSO TEM A VER COM O FATO DA CIENCIA E A FILOSOFIA CAMINHAREM OU NAO UMA AO LADO DA OUTRA???
Alem disso, para mim é evidente que em momento nenhum fiz pouco caso da tecnologia, mesmo porque sou pesquisador e trabalho com isso. Seu levante de indignaçao pelo uso da palavra “ponteirinho” não procede.
Bem… já que o resto da sua mensagem é basicamente uma extensao dessa falácia, nao vejo razao para tecer mais comentários.
deixe de mandar estas mensagens eletrônicas, usando esse execrável ponteirinho do cursor
Nao é da minha parte que está faltando coerência. Se tiver algum argumento de verdade, terei prazer em continuar nosso debate; por enquanto fico aguardando.
Abraços.
23/06/2004 às 3:10 #71707Miguel (admin)MestreVoltando ao tema central……… ( A ciência de hoje precisa da filosofia?) . A filosofia fornece os axiomas necessários para o início de um estudo científico. Por isso, acho que sem a filosofia não pode existir a ciência.
17/07/2004 às 3:12 #71708Miguel (admin)MestreMeu nome é Marina e sou nova no fórum. Li algumas dessas mensagens e surgiu na minha cabeça uma pergunta: quando foi que grande parte dos filósofos abandonou a ciência? O século XX foi marcado por revoluções do modo como a ciência encara o Universo (que pode até segundo alguns não existir como uno, mas sim como Multiversos). O tempo não é mais absoluto, a velocidade e posição da matéria não podem ser determinadas com certeza, podem existir “universos hologramas”, as menores partículas da matéria podem ser pequenas cordas que vibram. Onde está uma teoria filosófica que nos explique esse universo? Com algumas exceções, muitos filósofos ainda se situam num mundo do século XIX. Eu sinto muita falta dos pré-socráticos. Eles faziam modelos para explicar o Universo. Onde estão os filósofos agora que a ciência PRECISA deles? Onde estão os filósofos para explicar nosso mundo relativista e quântico?
17/07/2004 às 17:09 #71709Miguel (admin)MestreOnde estão os filósofos agora que a ciência PRECISA deles?
As questões filosóficas não são exatamente as mesmas dos demais teóricos e cientistas.
19/07/2004 às 2:14 #71710Miguel (admin)Mestrepreocupação bacana, mesma preocupação de apolodoro quando indagou sócrates sobre a filosofia investir no conhecimento das estrelas, lembrei desse questionamento da marina quando lia o texto de um amigo q falava disso, e sócrates explicou da seguinte maneira: “O que está mais perto de ti este belo pórtico com suas estruturas e adornos ou a beleza das estrelas?!(…) A divindade é sábia, Apolodoro!(…)ora, colocando-te mais perto da engenharia utilizada para construir este pórtico, quer o Deus que tu conheças primeiro este saber, o da beleza e construção do pórtico, ou o da colocação dos pilares que sustêm os astros e os céus?! Deus te pôs mais perto de teus amigos, para que os conheça antes ainda de conhecerdes o pórtico, e mais perto de ti mesmo para que conheças a ti antes disso ainda.”
19/07/2004 às 3:52 #71711Miguel (admin)MestreRespondendo ao Nômade, queria dizer que acho que você me interpretou mal. Eu não estou sugerindo que os filósofos comecem a se preocupar em calcular a curvatura do espaço. Eu simplesmente estou constatando que a ciência progrediu muito nesse último século e que existe um vácuo no lugar que a filosofia deveria ocupar, o de pensar nas consequências dessas novas descobertas para a nossa visão de mundo. Lógico que existem várias outras preocupações que a filosofia tem que encarar nesses nossos “tempos modernos”, mas queria saber o porquê de a filosofia abandonar um campo tão interessante e complicado do saber humano.
E para o Ricardo realista, queria dizer que adorei o fragmento de texto. Queria saber de onde você o tirou.(Mensagem editada por Hécate em Julho 19, 2004)
19/07/2004 às 14:38 #71712Miguel (admin)MestreMarina,
Que vácuo seria esse, deixado pela filosofia no lugar onde supostamente deveria estar?
Não estou entendendo, já que a filosofia sempre foi cúmplice das políticas de ensino, das posturas científicas e dos desenvolvimentos tecnocráticos…
…basta lembrar de algumas correntes de pensamento como o positivismo, o futurismo e o pragmatismo.
20/07/2004 às 7:05 #71713Miguel (admin)MestreNomade, percebi agora que realmente não fui muito clara nas minhas mensagens anteriores. Primeiro, queria dizer que não estou falando que TODOS os filósofos abandonaram a ciência. Estou querendo dizer que muitos filósofos de hoje em dia não estão se preocupando em fazer suas próprias teorias de mundo levando em vista os avanços e descobertas científicas.
Queria dizer que tenho apenas 17 anos e desde os 11 me interessei muito por filosofia e também por física moderna (relatividade, mecânica quântica, teoria das cordas, caos…). Nessas minhas leituras fui descobrindo muitas coisas, como o princípio da incerteza. Eu não conseguia encaixar essas coisas com muito do que já tinha lido de filosofia. Eu não conseguia encarar um mundo de incerteza. Pensei comigo: a maioria dos filósofos que eu já li morreu muito antes dessas descobertas, será que elas teriam mudado muito suas visões de mundo? Porque elas mudaram muito a minha.
Então, pensei em ler filósofos mais modernos na esperança de que algum deles tivesse criado alguma filosofia de vida que não excluísse as novas descobertas da ciência. Não consegui achar (pode ser que existam, mas eu não conheço). Você disse:Não estou entendendo, já que a filosofia sempre foi cúmplice das políticas de ensino, das posturas científicas e dos desenvolvimentos tecnocráticos…
Não estou negando essas contribuições da filosofia à ciência. Simplesmente me pergunto quando os filósofos da nossa era vão tentar explicar as conseqüências das novas descobertas científicas e o lugar do homem em um universo cada vez mais confuso. Por exemplo: como o homem deve encarar a possibilidade de viver em um universo que é apenas um holograma de outro onde outro “você” pode existir? É um dos deveres da Filosofia tentar explicar ao homem seu lugar no cada vez mais estranho universo que a ciência desvenda.
20/07/2004 às 12:25 #71714Miguel (admin)MestreMarina,
O quê? Só dezessete? Deve ser brincadeira…
Bem, eu diria que não é obrigação do filósofo formular cosmologias ou ideologias existenciais. Embora, já houveram muitos filósofos que pensassem assim.
A essência do trabalho filosófico é o estudo dos fundamentos do conhecimento, ou seja, não é saber qual o lugar do ser humano no mundo, mas formular uma teoria do conhecimento que melhor fundamente o processo dialético que há entre o cientista e o real.
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