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O lustro e a alta justiça

 

 

 

 

Lutas da confederação latina

 

Aos censores competia mais presidirem a cerimônia qüinqüenal do lustro ou purificação da cidade, quando se oferecia aos deuses, após o censo, o sacrifício expiatório de um porco, uma ovelha e um touro (suove-taurile), borrifando-se a assembléia com o sangue das vítimas. Deles era também a administração suprema da justiça.

Restabelecimento do consulado. Os guardas dos Livros Sibilinos. Os arautos e os augures

O consulado foi contudo restabelecido três quartos de século depois, cedendo os patrícios da sua obstinação em vista das insistentes reclamações adversas. No ano 367 a. C. foram adotadas as leis Licínias, abolindo os tribunos militares com atribuições consulares, determinando que um dos cônsules pudesse ser plebeu e estabelecendo o número de dez guardas — cinco patrícios e cinco plebeus — para os Livros Sibilinos, em número de três, contendo profecias de Apolo sobre o futuro de Roma e comprados pelo rei Tarquinio Soberbo à sibila de Cumes. Eram esses livros conservados por baixo do templo Capitolino e consultados ou, melhor dito, interpretados em ocasiões de extremo perigo nacional. Seus guardas formavam um dos colégios religiosos, sendo os outros os dos pontífices, dos augures e dos arautos. Estes últimos tinham deveres concernentes às relações exteriores, pertencendo-lhes declararem a guerra atirando além da fronteira inimiga uma lança embebida em sangue. O andamento das operações militares regulava-se de acordo com os vaticínios derivados pelos augures do vôo dos pássaros, das contrações das entranhas das vítimas dos sacrifícios e de outros presságios, não se procedendo mesmo a ato algum importante da vida pública ou privada sem semelhante preparo.

Os pretores. As magistraturas abertas aos plebeus

Pretextando a falta de conhecimentos legais entre os plebeus, os patrícios novamente reduziram as atribuições consulares, transferindo suas funções judiciais para uma outra magistratura patrícia — a dos pretores. Os plebeus foram porém sucessivamente invadindo todas as posições, sendo admitidos à questura ou superintendência do tesouro público, à edilidade curul ou polícia da cidade, à ditadura (356 a. C), à censura (351 a. O, à pretura (337 a. O), ao proconsu lado, magistratura criada mais tarde para governo das províncias, e até ao pontificado, por virtude da lei Ogúlnia. Pelos meados do século III a. C. Roma apresentava ao resto da Itália e ao resto do mundo, que ia quase todo pertencer-lhe, a unidade moral do Estado, indispensável a uma tão desmarcada tarefa.

A aristocracia e o dinheiro

Patrícios e plebeus formavam um só e compacto corpo de cidadãos: apenas a velha nobreza, despida de regalias políticas, cedeu o lugar à aristocracia do dinheiro.

As lutas dos romanos foram incessantes. No primeiro século da república e além foram seus inimigos os volscos, os équos, os sabinos, os etruscos, todos quantos se achavam fora da confederação latina. Tendo permanecido longo tempo na penumbra da história, pastoreando seus rebanhos, cultivando o trigo, a vinha e a figueira, haviam-se esses povos aguerrido no conflito pela existência contra a natureza, os animais bravios e os inimigos, tanto mais se arreceando por isso da índole combativa desenvolvida pelos romanos, cuja cidade virtualmente se tornara a capital do Lácio.

Cincinato

Ficaram formosas tradições desse período, entre elas a de Cincinato, proclamado ditador pelo senado num momento de crise, quando um dos cônsules estava combatendo os sabinos e o outro, derrotado pelos équos e forçado num estreito vale, se achava ameaçado de cair prisioneiro. Cincinato deixou sua charrua, bateu e aprisionou os contrários, fê-los passarem pelo jugo — símbolo da submissão — formado por três lanças, duas fincadas verticalmente e outra atravessada, e retirou-se de novo para seu campo, exercendo a ditadura apenas dezesseis dias.

Coriolano

Igualmente patriota não foi Coriolano que, despeitado por não haver sido eleito cônsul, e irritado contra os plebeus que o tinham feito exilar por pretender êle privá-los da sua quota do trigo mandado em ano de escassez pelo tirano de Siracusa, a menos que a classe plebéia renunciasse aos tribunos recentemente criados, ofereceu seus serviços aos volscos. Com estes chegou vitorioso às portas de Roma, disposto a arrasá-la, somente o demovendo de seu propósito os rogos da mãe, Vetúria, e da mulher, Volúmnia. Coriolano retirou-se e não mais se soube dele exatamente, acreditando-se que os volscos nele se vingassem.

Tomada de Veios.

O maior feito militar dos romanos nesses tempos, após mais de um século de pelejas, foi o cerco, que se diz haver durado dez anos (405-396 a. C.) e conseqüente tomada de Veios, uma das maiores e mais ricas cidades etruscas a 4 léguas de Roma, seguida da ocupação da Etrúria meridional com várias outras cidades. Por essa ocasião se criou o soldo (stipendia) para os legionários, e, equiparados os etruscos aos plebeus romanos em matéria de direitos políticos, cidadãos portanto da urbs e com o seu território franqueado à imigração e à iniciativa dos vencedores, começou a romanização da Itália.

Começa a romanização da Itália

Começaram também as lutas contra os bárbaros. No ano 390 a. C. os gauleses do norte da península — tribos célticas que tinham vindo dalém dos Alpes — chegaram na sua marcha devastadora até Roma, que assaltaram e destruíram depois de destroçado o exército romano a pouca distância da cidade, na margem do Alia, afluente do Tibre. Grande parte da população fugiu, atravessando este rio; as vestais transportaram para a Etrúria o fogo sagrado e reza a tradição que os senadores, vestidos com suas togas, deram mostra de extrema coragem aguardando que os bárbaros os trucidassem, servindo de sinal da matança a pancada desfechada por um deles com sua vara de marfim sobre o gaulês que desrespeitosamente lhe puxara a barba. A cidadela do Capitolio resistiu sete meses, salvando-a os gansos sagrados que, segundo a lenda, despertaram com seus gritos os soldados adormecidos, dando o alarma. O mais certo é contudo que os gauleses foram obrigados a voltar por estarem suas próprias terras sendo taladas por invasores: não o fizeram porém sem que Roma comprasse seu resgate a peso de ouro, tendo o chefe gaulês, Breno, atirado ainda sua espada no prato da balança para aumentar o peso e portanto o preço do resgate.

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