A Contribuição de John Dewey para a Educação: Uma Reflexão sob Ponto de Vista da Educação em Moçambique

 

Tema: A Contribuição de John Dewey para a Educação: Uma
Reflexão sob Ponto de Vista da Educação em Moçambique

 

Resumo

John Dewey
(1859-1952),
considerado o maior pedagogo norte-americano do século XX, faleceu aos noventa
e dois anos, deixando um legado imenso de contribuições educacionais. Tomando
como pressuposto a teoria da Escola Nova, que visava o ensino centrado no
aluno, o autor contrapôs ao Sistema Tradicional de educação, propondo a
Educação Democrática.

Para Dewey concretizar o ideal democrático
da sociedade, recorreu à Educação como um fenómeno de extrema importância,
capaz de proporcionar um espaço democrático para as diferentes classes sociais
e através de uma metodologia fundamentada no interesse e na experiência do
indivíduo, garantir a perpetuação dos valores liberais básicos, como a
liberdade, a solidariedade e a igualdade de oportunidades.

Em Moçambique, a Educação Democrática é
aquela onde a igualdade de oportunidades é um elemento fundamental, isto é,
todos os indivíduos presentes no processo de ensino e aprendizagem devem ter a
mesma oportunidade de ensino e que não deverá haver diferenças de classes, cada
aluno deve-se enriquecer com as experiências dos outros, entrando numa relação
de inter-ajuda.

Palavras-chave: Educação, Educação Democrática, Escola Nova, Novo
Currículo.

 

 

 

 

 

Introdução

Esta pesquisa surge
fundamentalmente com o objectivo de analisar o pensamento de John Dewey, no que
concerne ao seu legado pedagógico, de fundamentar o que Dewey entendeu por
Educação Democrática e também avaliar a
Influência da teoria de
John Dewey na actual educação Moçambicana
.

Com a finalidade de atingir estes
objectivos, procuramos fazer uma análise à
contribuição de John
Dewey à educação
. Dewey foi o continuador do Pragmatismo
filosófico, doutrina que preconiza que todo o aprendizado, todo o conhecimento
deve ter um fim prático iniciado por William James (1842 – 1910) e Charles
Sanders Peirce (1839 – 1914), ambos também americanos.

Deste modo, o pensamento de Dewey
procura centrar-se nas grandes necessidades que a sociedade americana da sua
época se encontrava, é o caso da massiva industrialização encabeçada por
intuitos políticos e também na existência de dois tipos de ensino, o
Tradicional centrado no professor e o da Escola Nova, centrado no aluno, porém,
Dewey propõe um novo tipo de ensino, o da Escola Progressista ou Democrática
onde cada aluno aprende fazendo, learn by doing, e se enriquece com as
experiências dos outros alunos.

Portanto, nos cingimos neste
trabalho, nas temáticas desenvolvidas na sua magna obra, Democracia e
Educação
, escrita em 1916, onde procuramos referenciar os temas que mais
abordam, sugerem e sustentam a questão da Educação Democrática, tido como um
tipo de Educação onde cada aluno se enriquece com a experiência do outro aluno,
numa vida partilhada onde todos os alunos têm a mesma igualdade de
oportunidades.

No fim, procuramos de uma forma
sintética, analisar a
influência da teoria de John Dewey
sobretudo da Escola Progressita para a Educação moçambicana e as suas influências
na concepção do novum curriculum, cujo agente essencial da Educação é o aluno,
ao modo como concebeu Dewey na sua Escola Progressista e Democrática.
Esta
pesquisa será embasada na exploração bibliográfica.

A idéia básica do pensamento do teórico
sobre a educação está centrada no desenvolvimento da capacidade de raciocínio e
espírito crítico do aluno.

1.
A Contribuição de John Dewey à Educação

Para se poder compreender a concepção da
Educação em Dewey, deve-se partir da ideia de que a Educação é um fenómeno
criado pela e para a sociedade. Dewey, sendo um educador, o seu pensamento teve
muita influência na “Escola Nova”.

Para Dewey, a Educação e, em especial, a
escola possui uma função de coordenar a vida mental de cada indivíduo nas
diversas influências dentro do meio social onde o indivíduo vive. Por isso, em
Dewey, a Educação ainda que seja uma função social, é uma necessidade de vida,
onde a vida é renovada através da transmissão de um conhecimento de um
indivíduo ao outro e isto diferencia o homem dos seres inanimados, assim,
afirma Dewey que “a mais notável distinção entre os seres vivos e inanimados é
que os primeiros se conservam pela renovação. Ao receber uma pancada, a pedra
opõe resistência. Se a resistência for maior do que a força da pancada, ela,
exteriormente, não apresentará mudança; no caso contrário se partirá em
fragmentos menores que ela”
Dewey (1959,
p.1).

O intuito fundamental da Educação é
fazer com que a aprendizagem de todo o conhecimento leve à prática, e assim
posto, ele propôs uma Educação, um método que tomasse em conta a experiência
de cada indivíduo, não como uma atitude isolada do sujeito com o mundo, mas que
este se integre com os outros.

Assim, a Educação em Dewey é um “processo
pelo qual uma cultura é transmitida de geração para geração, acontecendo por
meio da comunicação de hábitos, actividades, pensamentos e sentimentos dos
membros mais velhos da cultura aos mais novos” Ozmon; Craver (2004: 151). E é
por este facto que, a Educação não se deverá limitar ao ensino escolar e
formal, mas também como fazendo parte da própria vida.

Tudo o que se deve estudar na escola, as
matérias preconizadas para tal, deveriam tomar em conta a vida social de cada
indivíduo, de tomar em conta também as vivências e o quotidiano de cada
indivíduo, e, neste caso, os planos deveriam ser feitos segundo as necessidades
do aluno.

Esta ideia de deixar que o indivíduo se
eduque sozinho foi posteriormente criticada. Pitombo citado por Ozmon; Craver (2004),
afirma que acreditar que a criança se eduque sozinha sem o professor, é o mesmo
que dizer que ela educa-se naturalmente, crescendo espontaneamente, como se
fosse uma planta, mas isto surge como uma má interpretação, porque Dewey
pensava nos métodos do ensino que eram autoritários, onde tudo dependia do
professor.

Face a esta realidade, Dewey faz uma
viragem de pensamento, afirmando deveras que o aluno deve ser educado em
conformidade com as necessidades sociais, bem como sob tutela de alguém com uma
certa experiência, de modo que na sociedade não existam desníveis de educação e
não se encontrem indivíduos à margem da sociedade. Portanto, a educação deve
servir para a emancipação e para a transformação social e não virada para o
indivíduo.

A coisa principal que se nota no
processo de Educação para Dewey é a relação que se estabelece entre a
imaturidade da criança e a experiência amadurecida do adulto. Neste processo
educacional, Dewey faz uma comparação entre o modelo da Educação Tradicional e
a Educação da Escola Nova ou Progressiva. Mostra Dewey que a Educação
Tradicional, já que pressupõe o mundo da criança como incerto, vago, deve,
através de estudos e lições (ensino), substituir a superficialidade desse
mundo.

O aluno só precisa receber e aceitar
somente o que é exposto, tomando uma atitude de docilidade e submissão, porém,
a Educação da Escola Nova ou Progressista centra todo o processo educativo na
criança, para o seu crescimento e que isto determinará a quantidade e a
qualidade do que deve ser ensinado e aprendido e que, este ensinado e aprendido
é feito consoante a sua situação concreta, em função do que a criança quer
aprender e também de acordo com os seus pré-requisitos.

Entretanto, ao conciliar estas duas
escolas, a Tradicional e a Nova ou Progressista, ele propõe o que ele chama de
“Reconstrução da Experiência”. É aqui e neste aspecto onde se centra o seu
conceito de Educação. A criança, ao possuir uma experiência infantil, deve
passar por um processo contínuo de reconstrução e serão as matérias e as
disciplinas que reconstruirão a sua experiência.

O erro cometido pela Escola Tradicional
foi de querer comparar a imaturidade da criança à maturidade do adulto, porém,
o importante é considerar os interesses da criança como impulsos de uma
capacidade e potencialidade. Assim, o aluno deve tomar uma atitude de busca e
disposição de sempre aprender, possuir um espírito aberto a novas
possiblidades, novas observações e novos entendimentos. Isto só é possível
quando o professor adequa o curriculum em função dos seus alunos, incutindo no
aluno que todo o processo de ensino e aprendizagem visa o seu amadurecimento e,
para tal, deve-se aproveitar a experiência do outro, para se enriquecer a sua.
Os professores, ao planificar o currículo, devem tomar em conta os
pré-requisitos dos alunos, o que eles gostam, o que podem aprender mais e
melhor e também não pôr de lado as suas situações sociais e concretas.

A contribuição de Dewey na pedagogia
moderna foi de desmistificar a ideia de que existe uma dissociação entre a
escola e a vida, o que não existia na realidade do aluno; mostrar que o bom
ensino deve estimular a iniciativa, promovendo condição para a produção e
exploração de interesse; identificar que o problema em matérias da educação é
fornecer um ambiente no qual as actividades educativas se possam desenvolver,
quer dizer, que a escola deve propiciar um ambiente de oportunidades, sem o
qual torna-se difícil entender e apreender o interesse latente do aluno.

John Dewey é pragmatista Hegeliano de
início, depois ele passa pelo Positivismo, isto é, “qualquer filosofia que
privilegie o conhecimento científico e combate a metafísica” Clément et al (1999,
p.308), e elaborou uma nova versão do Pragmatismo a que deu o nome de
Instrumentalismo
[1].

O método experimental da sua pedagogia
baseia-se na educação da habilidade individual, da iniciativa e do espírito de
empreendimento em detrimento da aquisição de conhecimentos científicos. O seu
modelo pedagógico foi influenciado pela sua teoria filosófica, o Pragmatismo
Utilitarista que era de cariz empírico.

O seu pensamento pedagógico de Dewey surge
devido aos problemas que a Escola Tradicional pautava, que esta tinha um cariz
autoritário, selectivo, elitista e reprodutora das desigualdades sociais.
Portanto, “a finalidade da educação, em Dewey, não era integrar o jovem na
sociedade, mas sim, dotá-lo de conhecimentos e competências que permitissem a
sua participação na transformação da sociedade. Daí que a Educação Democrática
tcnsiderar-se a pedra de toque do seu modelo” Marques (1998, p. 50).

No seu pensamento pedagógico, ele usou
estes princípios: o primeiro princípio é o da Actividade, já que o verdadeiro
conhecimento é aquele que provém da experiência e esta requer uma actividade,
uma acção. O segundo é o da Utilidade, já que a aprendizagem só tem
significado, quando esta é útil para a criança, e esta consegue fazer uma
aplicação concreta da vida real. O Princípio da União dos Meios e dos Fins, é o
terceiro por ele referenciado, já que tudo quanto é objectivo útil para o
indivíduo deveria estar sempre patente no currículo escolar, assim, o
currículo deveria ser concebido para responder os problemas quotidianos.

Um dos princípios fundamentais da sua
pedagogia é o princípio da Democracia, onde, a escola deve promover uma
educação para a cidadania e a democracia só se ensina através de aprender,
fazendo, isto é, learn by doing, e isto exige que o aluno participe na
tomada de decisões, assim, “as escolas se deviam organizar como pequenas
comunidades democráticas, empenhadas no desenvolvimento de actividades
socialmente úteis, capazes de terem um impacto positivo no desenvolvimento dos
valores democráticos” Marques (1998, p.51). O princípio Científico, é o último
referenciado por Dewey, posto que fundamenta-se como um meio que procura ver
todas as inovações da ciência no tempo actual, de modo que se desenvolva a
reflexão analítica e o pensamento crítico no processo do progresso humano.

Para Dewey, o currículo deve ser
concebido tendo em conta a vida real dos alunos, já que “a vida é um processo
que se renova a si mesmo por intermédio da acção sobre o meio ambiente” Dewey
(1959, p.1), e, neste caso, a educação tem como intuito, integrar na sociedade
os alunos, mas não uma integração passiva, mas sim transformadora,
inconformista e crítica, isto é, uma Educação em que o aluno é o mentor
principal no processo de ensino e aprendizagem, onde este se integre neste
processo de modo a transformar a sua vida com a experiência dos outros. Uma
Educação onde o aluno critica o que aprende, para poder produzir mais e melhor.

 

 

 

2. A Educação Democrática em Dewey

 

Para Dewey concretizar o ideal
democrático da sociedade, recorreu à Educação como um fenómeno de extrema
importância, capaz de proporcionar um espaço democrático para as diferentes
classes sociais e através de uma metodologia fundamentada no interesse e na
experiência do indivíduo, garantir a perpetuação dos valores liberais básicos,
como a liberdade, a solidariedade e a igualdade de oportunidades.

Dewey foi um dos maiores defensores da
democracia, na segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, por
ter afirmado que é possível conceber uma sociedade melhor, quando esta pautar
pela democracia, que é a única forma digna da vida humana e não se pode pensar na
democracia sem se pensar na Educação.

Dewey, ao falar da democracia relativa à
Educação, afirma que uma sociedade “deve procurar fazer que as oportunidades
intelectuais sejam acessíveis a todos os indivíduos, com iguais facilidades
para os mesmos (…) assim, a democracia é mais do que uma forma do governo, é
uma forma de vida associada, de experiência conjunta e mutuamente comunicada”
Dewey (1959, p. 93s).

Para Dewey, a Educação Democrática é
aquela onde a igualdade de oportunidades é um elemento fundamental, isto é,
todos os indivíduos presentes no processo de ensino e aprendizagem devem ter a
mesma oportunidade de ensino e que não deverá haver diferenças de classes, cada
aluno deve-se enriquecer com as experiências dos outros, entrando numa relação
de inter-ajuda.

Assim, uma Educação sem essa igualdade
de oportunidades baseia-se nos privilégios e, neste caso, não é democrática. A
Educação, para Dewey, é um processo de vida onde se faz uma experiência, e, ao
mesmo tempo, um processo social onde representa não a vida futura, mas a
presente e real para a criança. Portanto, a Educação, “é um processo de
reconstrução e reorganização de experiências, pelo qual lhe percebemos mais
agudamente o sentido e com isso nos habilitamos a melhor dirigir o curso de
nossas experiências futuras” Dewey(1959, p. 8).

A Educação Democrática comporta uma
dimensão de formar o homem para valores republicanos e democráticos e a
formação para a tomada de decisões em todos os níveis. Para se compreender a
Educação Democrática em Dewey é indispensável: a formação intelectual e a
informação, isto é, desenvolver a capacidade de conhecer em vista a poder
escolher. Portanto, para se poder formar o cidadão é preciso informá-lo das
vastas áreas de conhecimento, através da literatura e das artes, em geral; a
educação moral também é essencial, aquela ligada a uma didáctica de valores que
não se podem aprender apenas intelectualmente, como também através da
consciência ética, que é formada tanto de sentimentos quanto da razão; por fim,
é imprescindível a Educação do comportamento, no sentido de enraizar hábitos de
tolerância diante do diferente, bem como o aprendizado da cooperação activa e
da subordinação do interesse pessoal ou grupal ao interesse geral, ao bem comum
(
http://www.hottopos.com/notand2/educacao_para_a_democracia.htm);
09/04/2010.

A Educação Democrática consiste em
formar os cidadãos para poderem viver os grandes valores democráticos que
abarcam as liberdades civís, os direitos sociais e os da solidariedade
planetária. Também consiste na formação em poder participar na vida pública,
tanto como cidadão comum ou como governante.

Para Dewey, a escola é o principal local
onde deverá ser desenvolvida a Educação Democrática, embora sofra actualmente a
concorrência de outras instituições, é o caso dos meios de comunicação social,
igrejas, cinemas, etc.

A Educação tem como finalidade, em
Dewey, propiciar à criança condições para que resolva por si própria os seus
problemas, e não os tradicionais ideais de formar a criança de acordo com
modelos prévios, ou mesmo orientá-la para um porvir. Assim, tomando o conceito
de experiência como factor central de seus pressupostos, chega-se à conclusão
de que a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas sim a própria
vida.

Para Dewey, o ensino e a aprendizagem
baseiam-se numa compreensão de que o saber é constituído por conhecimentos e
vivências que se entrelançam de forma dinâmica, distante da previsibilidade das
ideias anteriores. Deste modo, os alunos e professor detentores de experiências
próprias, são aproveitadas no processo. O professor, neste caso, tem uma visão
sintética que é mais abrangente e clara acerca dos conteúdos, e os alunos uma
visão sincrética que é confusa e não muito clara daquilo que aprende, o que
torna a experiência um ponto central na formação de conhecimentos, mais do que
os conteúdos formais. De acordo com estes factos, isto levará a uma
aprendizagem essencialmente colectiva, assim como é colectiva a produção de
conhecimentos.

Com estes aspectos e postos em prática,
o processo de ensino e aprendizagem irá avante e, portanto, os alunos e o
professor se enriquecerão e haverá, neste caso, a interacção escolar de poder
aprender e também de poder ensinar, mas tudo isto centrado no professor como
orientador deste processo de ensino e aprendizagem.

Portanto, uma sociedade assente em
princípios democráticos, permitirá uma escola que privilegie uma relação de
liberdade individual compatível com as liberdades colectivas. Neste caso, só a
existência de debates de ideias e de interesses, a vivência positiva de
conflitos, estes assentes em princípios democráticos, estimulará a
reestruturação das leis e regras que construirão uma escola coerente nos
objectivos explícitos e implícitos Leite (2001, p. 50).

 

3. Influência da Teoria de John Dewey na Educação Moçambicana

 

Dewey surge numa época em que o sistema
educacional se centrava nas técnicas de memorização e na transferência de
conhecimentos a modo de Ensino Tradicional e ele propõe a Educação da Escola
Nova ou Progressista, que partia do princípio de que a escola deveria actuar
como um instrumento para a edificação da sociedade através da valorização das
qualidades pessoais de cada indivíduo.

Para que a Educação da teoria da Escola
Nova tenha lugar, é preciso romper com a postura de transmissão de informações,
na qual o aluno é um simples indivíduo passivo, preocupando-se somente em
recuperar tais informações quando lhes são solicitadas.

Dewey referencia que o uso da
problematização no ensino-aprendizagem, é de suma importância para que ocorra o
conhecimento significativo, uma vez que a aprendizagem ocorreria mediante as
experiências anteriores vivenciadas pelo aluno, onde ele não só desenvolveria a
técnica como também o intelecto e a moralidade em vista ao seu desenvolvimento
integral. E é isto o que a política educativa moçambicana pretende com a
concepção do currículo (2002), que o aluno não seja um receptor passivo dum
conhecimento já elaborado, mas sim que este participe activamente no seu precesso
de ensino, que o ensino seja concebido em função deste e das suas condições
concretas, por isso, há necessidade de se conhecer bem e melhor o aluno que
está em nossa frente, de modo que este seja capaz de conciliar o conhecimento
teórico com o prático.

É nesta vertente que Dewey revoluciona a
Educação do seu tempo, criando um novo modelo de ensino. O movimento da Escola
Nova em Moçambique pode ser considerado como ter iniciado principalmente na
Época pós colonial, com o intuito de eliminar o Ensino Tradicional que propunha
como meta educacional a formação do homem ao nível teórico, e com o nascimento
do movimento da Escola Nova em Moçambique preconceituado por Samora Machel, com
a política da formação do Homem Novo após a independência, era
necessário encontrar princípios práticos da solidariedade bem como uma
cooperação e integração social dos indivíduos. Para tal, era preciso uma
introdução às novas formas de educação em que o aluno é o actor principal do
Processo de Ensino e Aprendizagem.

É verdade que nem tudo o que a pedagogia
tradicional ensinou é passível de se deitar fora, isto é, há alguns aspectos
positivos que poderemos dela aprender. É o caso da íntima ligação da educação
com as realidades quotidianas da vida, quer dizer, ela desenvolve-se segundo
os moldes da vida da comunidade.

A Educação Tradicional era também
polivalente, posto que o que se ensinava não era tão fragmentado como o é hoje,
e, todavia, era coerente. Através duma história poder-se-ia ensinar as
características dos animais (zoologia), os comportamentos dos homens
(psicologia), a moral, etc. Com isto, quer-se evidenciar o aspecto de que a
criança era ensinada ao mesmo tempo a levar à prática o que aprendia, é o caso
da caça, colheita, etc.

Esta concepção da Escola Nova, quer dizer,
da Educação centrada no aluno, relaciona-se com um conjunto de ideias e
realizações que Moçambique alcançou, tudo isto ligado a uma renovação da
mentalidade dos educadores e das novas práticas pedagógicas que deveriam
surgir.

O movimento da introdução da Escola Nova
em Moçambique, não pautava num caríz político e educacional, ligado a uma
agremiação partidária, nem às ideologias totalitárias na ideia dos governantes,
porém, era tida como um meio termo, onde o Estado Moçambicano pudesse executar
um decisivo papel e a educação pública pudesse ser um meio em vista a oferecer
a igualdade de oportunidades a todos e que todos os indivíduos pudessem ser
livres, embora isto fosse contraditório, porque se fala de Educação para todos,
mas são muito poucos os que têm acesso a ela.

Segundo leitores de Dewey, é o caso de
Cunha, afirma que “… voltado para o desenvolvimento e crescimento dos
educandos, o único guia do processo educacional é o espírito que evolui e
assim, é ele quem determina tanto a qualidade como a quantidade das matérias
que o educador deve apresentar-lhe. Essa corrente de trabalho coloca a vida e a
experiência da criança em oposição ao jugo do programa, delimita, de um lado, o
desenvolvimento e de outro, o acúmulo de conhecimentos” Cunha (1996, p.7).

A influência de Dewey para a educação em
Moçambique sentiu-se no período pós-colonial, onde antes havia dois tipos de
educação, a dos filhos dos colonos que deveriam ir aos liceus e a dos filhos
dos indígenas que quase não tinham acesso à escola e, se tivessem, iriam ao
ensino técnico onde iriam desenvolver a questão da prática, contudo, com a
ideia da formação do “Homem Novo” de Machel, acabou este discurso,
procurando-se uma unanimidade da formação dos jovens ao serviço da pátria
amada, embora surja um discurso contraditório, porque, enquanto se pauta pela
educação para todos, somente os que possuiam bens são os que poderiam ter
acesso à educação e este facto ainda é notório na nossa sociedade hodierna,
onde somente uma minoria é que entra em escolas melhores e com boas condições
enquanto a maioria esmagadora está em baixo das árvores e sob condições
deploráveis. Com estes aspectos, podemos ver que Dewey está presente nas
reformas educacionais, em Moçambique.

Portanto, a ideia era de organizar a
escola de acordo com o tipo de sociedade e entrando em consonância com ela.
Dewey, ao procurar fazer uma relação entre os programas escolares e aquilo que
as crianças deveriam fazer na prática, isto era uma tentativa de ligar o
currículo com o desenvolvimento psicológico e cognitivo do aluno. Entretanto,
o currículo é passível de desenvolver hábitos de o aluno agir com autonomia e
também em conjunto com os outros e isto é idêntico ao ideal democrático
Deweyano, que foi tomado a quando da concepção do novo currículo moçambicano.

Dewey afirma que a escola é o ambiente
especial para proporcionar a transmisão de conhecimentos e o objectivo
fundamental da Educação é proporcionar um ambiente favorável para o Processo de
Ensino e Aprendizagem ocorrer devidamente; eliminar os elementos que não são
favoráveis à formação da criança, quer dizer, não é importante transmitir à
criança todo o conhecimento, mas sim, aquele indispensável em vista a construir
uma perfeita sociedade futura e também, oferecer oportunidades às crianças para
poderem ir avante em relação ao grupo social de origem com o fim de fazer um
intercâmbio com os outros ambientes socio-culturais.

Segundo Manacorda (2006), Dewey como
Marx, baseou-se no desenvolvimento económico e produtivo, mas faltou-lhe aquela
análise dialéctica do real e de suas contradições, cuja explosão, segundo Marx
provocaria as mudanças e aquela perspectiva, talvez utópica, mas fortemente
estimulante, de uma totalidade de indivíduos totalmente desenvolvidos. No
lugar dessa análise, “há nele a conclamada finalidade de educar o indivíduo
para participar da mudança, concebida como progressiva evolução de um estado de
coisas em si positivo” Manacorda (2006, p. 7).

Embora,
a teoria da Escola Nova seja conhecida pela maioria dos profissionais em
educação, muitos deles, ainda preferem trabalhar com os métodos tradicionais
por serem menos trabalhosos e por exigir menos tempo de dedicação no
planejamento.
Um dos fatores relevantes na aversão à teoria referida, é a falta de uma
formação do profissional centrada no conhecimento de conceitos da prática
pedagógica. Se não bastasse isso, o sistema educacional em vigor em nada
favorece a mudança para um método de aprendizagem mais individualizado que
valorize o aluno de forma diferenciada. Para que ocorra esta educação
diferenciada é necessário romper com a postura de transmissão de informações,
na qual o aluno assume o papel de indivíduo passivo, preocupando-se apenas em
recuperar tais informações quando solicitadas.

A
utilização da problematização no ensino-aprendizagem, é de suma importância
para que ocorra o conhecimento significativo, uma vez que a aprendizagem
ocorreria mediante as experiências anteriormente vivenciadas pelo aluno. Onde
ele, não desenvolveria apenas tecnicamente, mas, intelectual e moralmente, em
outra palavras, ocorreria o desenvolvimento do aluno de forma integral.

Conclusão

Esta pesquisa bibliográfica permitiu-nos averiguar o motivo pelo qual foi
criada a teoria de John Dewey e em que contexto educacional o mesmo se
encontrava.
Ele se opôs ao sistema tradicional de ensino da época que era regida pela
burguesia. Pois o mesmo não concordava com os métodos educacionais que eram
neste período utilizados. Que se limitava a transmissão de informações
conceituais e de técnicas de memorização.

Portanto, Dewey desenvolveu sua teoria baseada em um pensamento
liberal, onde o mesmo trouxe inúmeras contribuições para o sistema educacional
atual, é o caso da Concepção do Novum Curriculum em Moçambique. A teoria da Escola
Nova trouxe através da problematização novas técnicas para que ocorresse na
educação uma aprendizagem significativa, ou seja, de forma integral.
Onde o aluno desenvolveria tanto a parte conceitual como a técnica,
através de experiências vivenciadas em seu quotidiano.

A partir deste pressuposto, Dewey desenvolve uma teoria educacional
que influi indirectamente no Sistema Nacional da Educação em Moçambique, na
medida em que em Moçambique, antes da Independência, tínhamos um ensino que não
estava concebido em função do aluno, mas sim em função do professor. Alcançada
a Independência, o país pauta por uma Educação que visa formar o homem novo.
Isto não teve bons resultados e em 1983, concebe-se o Sistema Nacional da
Educação em vista a formar o futuro homem moçambicano.
Por
isso, com esta mudança de currículo, podemos encontrar patente, uma influência
indirecta do pensamento da Escola Nova de Dewey que isto se repercutiu na
concepção do currículo de 1992 e a sua posterior mudança para o novo currículo
de 2002 em função de se aliar a teoria e a prática.

É claro, nestes documentos da renovação e concepção do novo currículo,
a referência a Dewey é implícita, posto que nestes documentos, não está clara e
evidente, a ideia de que foi à luz do pensamento deweyano que se concebeu o
actual currículo, contudo, a maneira como é abordado o currículo, os objectivos
educacionais preconizados, a tendência de pautar por um ensino voltado ao aluno
como mentor fundamental da educação, podemos inferir que há uma identidade
àquilo que Dewey propôs na América da sua época, e quiçá, os que conceberam
este currículo, terão lido sobremaneira a pedagogia de Dewey e nela se
inspiraram.

Num meio como o nosso, já não se
deverá falar duma Educação autoritária onde o professor é o único detentor de
conhecimentos. A Educação actual deveria democratizar o saber onde tanto o
aluno como o professor são tomados e considerados como sujeitos do saber, e
estes são, ao mesmo tempo, aprendizes e educadores. Ao modo como referenciou
Dewey, a escola deve ser um lugar onde o homem se torna verdadeiro homem, se
inova, faz a sua criatividade. O homem deve ser como o filósofo, um homem que
está sempre insatisfeito e sempre procura indagar a verdade.

No nosso meio, a organização da
escola segundo um intuito democrático preconizado pela Escola Nova; a
elaboração do curriculum; a inserção das ciências no cenário educativo; a
formação qualificada dos professores; o uso de critérios técnicos e
profissionais na administração escolar; a educação integral e integrada do
homem com fins práticos ligados ao teórico; a expansão das oportunidades
educativas através da extensão das escolas com ensino básico; o aumento de
escolas primárias completas em função de se combater o analfabetismo e a
pobreza; a melhoria da qualidade de ensino centrado na formação dos
professores; a descentralização da administração escolar; a adequação do
sistema educacional às novas condições socioeconómicas face à globalização é
expressão de ideias que Dewey concebeu ao formar a Escola Nova ou Progressista.

 

 

 

 

 

 

 

Bibliografia

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09/04/2010.

 


[1] Doutrina segundo a qual, o valor da verdade, do pensamento, de uma
teoria reside no seu carácter instrumental, isto é, no seu rendimento em acção.

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