- Sumário
- Introdução
- EDUCAÇÃO
- de Pragmatismo
- 2. Origens do Pragmatismo
- 3. O Pensamento Epistemológico Deweyano
- 4. Fundamentos do Pensamento Pedagógico de Dewey
- 5. A Concepção da Educação em Dewey
- 5. 1. A Escola como Formadora do Sentimento Democrático
- 5.2. A Educação Democrática em Dewey
- 6. O Instrumentalismo em John Dewey
- 6.1. A Experiência não se Reduz à Consciência nem ao Conhecimento
- 6.2. Senso Comum e Pesquisa Científica: As Ideias como Instrumentos
- 6.3. A Teoria da Democracia
- CAPÍTULO II – DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO EM JOHN DEWEY
- 1. Como Compreeder o Livro: “Democracia e Educação” de Dewey
- 2. A Educação como Necessidade de Vida
- 2. 1. A Renovação da Vida pela Transmissão
- 2. 2. Educação e Comunicação
- 2. 3. O Papel da Educação Formal
- 3. A Educação como Função Social
- 3. 1. O Meio Social como Factor Educativo
- 3. 2. A Escola como Ambiente Especial
- 4. A Educação Conservadora e Progressiva
- 4. 1. A Educação como Formação
- 4. 2. A Educação como Recapitulação e Retrospecção
- 4. 3. A Educação como Reconstrução
- 5. A Concepção Democrática da Educação
- 5. 1. As Implicações das Associações Humanas
- 5. 2. O Ideal Democrático
- 6. Objectivos da Educação
- 7. Características dos Bons Objectivos Educacionais
- 8. Valores Educacionais
- 8. 1. A Natureza do Senso Real ou da Apreciação Directa
- 8. 2. Os Valores dos Estudos
- 9. Aspectos Vocacionais da Educação
- 9. 1. O Papel dos Objectivos da Educação
- 9. 2. Oportunidades e Perigos Actuais
- 10. Filosofia da Educação
- PARA A EDUCAÇÃO MOÇAMBICANA
- 1. A Educação Democrática e sua Perspectiva em Moçambique
- 2. Influências de Dewey na Educação Moçambicana
- 2.1. Da Escola Tradicional à Escola Nova
- 2.2. Influência Indirecta
- 3. Críticas ao Ensino Tradicional
- Conclusão
- Anexos
- Vida e Obras
- Bibliografia
Jochua Abraão Baloi
A CONCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA
NA OBRA
“DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO”
DE JOHN DEWEY
Universidade São Tomás de Moçambique
Maputo – 2009
Jochua
Abraão Baloi
A CONCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA
NA OBRA
“DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO”
DE JOHN DEWEY
Monografia
Científica Apresentada à
Faculdade
de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade
São Tomás de Moçambique como
Requisito
parcial Para a obtenção do grau
de
Licenciatura em Filosofia na Especialidade em
Educação
sob Supervisão do Mestre Félix S. F. Anovo
Universidade São Tomás de Moçambique
Maputo – 2009
Dedicatória
Ao
meu pai (In Memoriam)
Agradecimentos
Agradeço
A Deus pelo dom
da vida que me concede sem ser merecedor;
Aos meus
familiares em especial aos meus pais que me ofereceram a educação inicial e me
mostraram o caminho Cristão;
Ao Mestre Félix
Anovo, meu orientador, que como poucos, preserva a sua humildade e humanidade.
Por todo o apoio, conselhos, propostas e orientação. Juntos encontrámos uma
saída para realizar este trabalho.
À Ir. Madalena
Serra (FC), que desde o início do curso esteve sempre presente na minha vida,
na decisão de fazer o curso de Filosofia, e em todo o apoio material e
espiritual que me concedeu.
A todos os
docentes e colegas do curso que directa e indirectamente me ajudaram a ser o
que sou.
A todos os
Homens no geral que estiveram e ainda estão presentes na minha vida.
“A
mais importante atitude a ser formada é a do desejo de continuar a aprender”
(John
Dewey)
Resumo
Este trabalho surge
fundamentalmente com o objectivo de analisar o pensamento de John Dewey
(1859-1952), no que concerne ao seu pensamento filosófico e pedagógico, de
fundamentar o que Dewey entendeu por Educação Democrática e também avaliar a
sua influência no que diz respeito à educação actual moçambicana.
Com a finalidade de atingir estes
objectivos, procuramos fazer uma caracterização do seu pensamento filosófico,
para depois emergir ao pedagógico, a partir do ambiente social americano do
Pragmatismo, doutrina que preconiza que todo o aprendizado, todo o conhecimento
deve ter um fim prático. Dewey foi o continuador do Pragmatismo filosófico
iniciado por William James (1842 – 1910) e Charles Sanders Peirce (1839 –
1914), ambos também americanos. Contudo, Dewey para se distinguir do
Pragmatismo concebido por James e Peirce, preferiu chamar sua doutrina como
Instrumentalismo, doutrina segundo a qual, o valor da verdade, do pensamento,
de uma teoria reside no seu carácter instrumental, isto é, no seu rendimento em
acção. Entretanto, procuramos de uma forma sintética, apresentar as
características desta corrente filosófica contemporânea surgida no século XIX.
Destacamos assim, o pensamento de
Dewey no contexto do Pragmatismo americano, a fim de poder-se fazer a sua
contextualização filosófica e sem deixar de lado o contexto histórico. Deste
modo, o pensamento de Dewey procura centrar-se nas grandes necessidades que a
sociedade americana da sua época se encontrava, é o caso da massiva
industrialização encabeçada por intuitos políticos e também na existência de
dois tipos de ensino, o Tradicional centrado no professor e o da Escola Nova,
centrado no aluno, porém, Dewey propõe um novo tipo de ensino, o da Escola
Progressista ou Democrática onde cada aluno aprende fazendo, learn by doing,
e se enriquece com as experiências dos outros alunos.
A tese fundamental do pensamento
deweyano parte da epistemologia que é o centro do Pragmatismo; portanto, nos
cingimos neste trabalho, nas temáticas desenvolvidas na sua magna obra, “Democracia
e Educação”, escrita em 1916, onde procuramos referenciar os temas que mais
abordam, sugerem e sustentam a questão da Educação Democrática, tido como um
tipo de Educação onde cada aluno se enriquece com a experiência do outro aluno,
numa vida partilhada onde todos os alunos têm a mesma igualdade de
oportunidades.
No fim, procuramos ver a
importância do pensamento de Dewey sobretudo da Escola Progressita para a
Educação moçambicana e as suas influências na concepção do novo curriculum,
cujo agente essencial da Educação é o aluno, ao modo como concebeu Dewey na sua
Escola Progressista e Democrática.
Palavras-chave: Dewey,
Pragmatismo, Instrumentalismo, Escola Progressista, Educação Democrática.
Summary
This work comes
about with the objective of analyzing the John Dewey’s way of thought
(1859-1952), in what concerns his philosophical and pedagogical way of
thinking, and pressing on what Dewey understood about Democratic Education and
also evaluate his influence in regards to current Mozambican Education.
With the final
intent of reaching this objectives, we try to make a characterization of his
philosophical thought, to later emerge in the pedagogic, from the American social
environment of Pragmatism, a doctrine that states that all learned must have a
practical end. Dewey was a follower of the Pragmatic philosophy initiated by
William James (1842-1910) and Charles Sanders Pierce (1839-1914) both also
American. However, Dewey in order to distinguish himself from the Pragmatism
brought about by James and Pierce, preferred to call his doctrine
Instrumentalism, a doctrine where by the value of the truth, of the thought of
a theory resides in its instrumental character, this is, in its income in
action. However, we looked to present the characteristics of this contemporary
philosophical chain a synthetic form originated in the XIX century.
We emphasized
therefore, the thought of Dewey in the context of American Pragmatism in order
to make allow us to do philosophical contextualization and without leaving
aside its historical context. Therefore, Dewey’s way of thinking centers in the
big necessities that American society of his time was embedded in, which is the
case of massive industrialization headed by politicians and the existence of
two forms of learning. The Traditional, centered on the teacher, and the New
School centered on the student, although Dewey proposes a new type of learning,
that of the school of Progressiveness or Democratic where each student learns
by doing, and enriches with the experience from other students.
The fundamental
thesis from deweanian thinking comes from epistemology that is the centre of
Pragmatism; therefore we concentrate in this work in the thematics developed in
his great work “Democracy and Education” written in 1916, where we tried
to refer to the themes that mostly touch on, emerge and sustain the issue of
Democratic Education, seen as the type of Education whereby each student
enriches from the experience of another student, in a life where all is shared
and all students have equal opportunity.
In the end, we
tried to see the importance of Dewey’s thinking, especially in what concerns
the Progressive School for Mozambican Education and its influences in the
conception of the new curriculum, whose essential Education agent is the
student, from the form how he interpreted Dewey in his Progressive and
Democratic School.
Key words: Dewey,
Pragmatism, Instrumentalism, Progressive School and Democratic Education
Sumário
CAPÍTULO I – DO PRAGMATISMO À CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO.. 7
1. O
Conceito de Pragmatismo. 7
3. O Pensamento Epistemológico Deweyano. 12
4. Fundamentos do Pensamento Pedagógico de Dewey. 13
5. A Concepção da Educação em Dewey. 14
5. 1. A Escola como Formadora do Sentimento Democrático. 17
5.2. A Educação Democrática em Dewey. 18
6. O Instrumentalismo em John Dewey. 21
6.1. A Experiência não se Reduz à Consciência nem ao Conhecimento. 21
6.2. Senso Comum e Pesquisa Científica: As Ideias como Instrumentos. 22
6.3. A Teoria da Democracia. 24
CAPÍTULO II – DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO EM JOHN DEWEY.. 26
1. Como Compreeder o Livro: “Democracia e Educação” de Dewey. 26
2. A Educação como Necessidade de Vida. 27
2. 1. A Renovação da Vida pela Transmissão. 27
2. 2. Educação e Comunicação. 28
2. 3. O Papel da Educação Formal 29
3. A Educação como Função Social 31
3. 1. O Meio Social como Factor Educativo. 31
3. 2. A Escola como Ambiente Especial 33
4. A Educação Conservadora e Progressiva. 35
4. 1. A Educação como Formação. 35
4. 2. A Educação como Recapitulação e Retrospecção. 36
4. 3. A Educação como Reconstrução. 37
5. A Concepção Democrática da Educação. 39
5. 1. As Implicações das Associações Humanas. 39
7. Características dos Bons Objectivos Educacionais. 44
8. 1. A Natureza do Senso Real ou da Apreciação Directa. 45
8. 2. Os Valores dos Estudos. 46
9. Aspectos Vocacionais da Educação. 47
9. 1. O Papel dos Objectivos da Educação. 47
9. 2. Oportunidades e Perigos Actuais. 49
CAPÍTULO
III – A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE DEWEY PARA A EDUCAÇÃO MOÇAMBICANA 53
1. A Educação Democrática e sua Perspectiva em Moçambique. 53
2. Influências de Dewey na Educação Moçambicana. 57
2.1. Da Escola Tradicional à Escola Nova. 57
3. Críticas ao Ensino Tradicional 60
Introdução
Entre os séculos
XIX e inícios do século XX, um dos sistemas educacionais vigentes nos Estados
Unidos era o método que se limitava nas técnicas da memorização e transferência
do conhecimento vindo do professor. Surge, neste contexto, John Dewey
(1859-1952), que revoluciona este sistema de ensino, propondo novas técnicas
educativas que levariam uma significativa mudança ao modelo de Ensino
Tradicional vigente naqueles países e naquela época.
Estas novas
técnicas de ensino foram concebidas para criar a Escola Nova ou Progressista,
oposta à Tradicional. Este tipo de modelo educacional tinha como pressuposto
básico, de que a escola deveria ser um organon, isto é, um instrumento
em vista a edificar-se uma nova sociedade em que se pudesse tomar em conta as
qualidades pessoais e de cada indivíduo; assim, a educação tinha que ser um
factor de humanização e transformação social.
A Escola
Tradicional vigente naquela época era rigorosa, favorecia a aula expositiva, a
lição magistral, onde o professor era o único detentor de conhecimentos e tido
como um informador e transmissor dum saber já elaborado e o aluno tido como um
receptor passivo dum conhecimento previamente concebido e estruturado e a sua
função na escola se resumia, fundamentalmente, em consolidar, repetir e
reproduzir a mensagem vinda do professor, e os conhecimentos que este adquiria
não possuíam nenhuma finalidade e nem utilidade.
Para Dewey, este
tipo de ensino era já insuficiente face às condições e transformações
socioeconómicas e históricas acontecidas naquela época; daí, Dewey funda a
Escola Nova ou Progressista, onde o mais importante na aprendizagem dos alunos
é a relação que estes devem ter uns para com os outros e o ensino é
individualizado, é activo, onde se estimula a criatividade do aluno e do
professor, quer dizer, o aluno deve possuir um espírito crítico na sua
aprendizagem, tomando, neste caso, uma iniciativa pessoal.
As ideias de
Dewey no que concernem à Educação eram de especial importância para a América
da sua época, e a concepção de que toda a actividade educacional que se
desenvolve na escola deve ter um intuito prático e utilitário na vida
quotidiana; também ainda se podem aplicar na nossa realidade educativa moçambicana.
Para Dewey, tanto a Escola como a Educação devem fazer com que o aluno
reconstrua a sua experiência no mundo, e neste contexto, o que se aprende, deve
fundar-se essencialmente na vida do aluno, na sua experiência com o mundo, de
modo que este faça uma reconstrução da sua experiência na interacção com os
outros alunos e que cada aluno se enriqueça com a experiência do outro aluno.
O pensamento
filosófico de Dewey é denominado Pragmatismo e Dewey, embora continuador de
William James e de Charles Sanders Peirce, no que tange ao Pragmatismo, ele
preferiu chamar sua filosofia de Instumentalismo ou Experiencialismo,
corrente filosófica que preconiza que o indivíduo deve estar atento àquilo que
são as suas experiências no quotidiano e que cada experiência deve ser útil à
sua vida, quer dizer, o valor da verdade, do pensamento, de uma teoria reside
no seu carácter instrumental, isto é, no seu rendimento em acção.
Temas como
Educação, História, Filosofia, Moral, Política, são os mais preferidos de Dewey
na sua filosofia, embora a sua maior atenção fosse a Educação, e isto o levou a
escrever a obra “Democracia
e Educação” (1916),
considerada sua obra-prima. O experimentalismo de Dewey não é aquele cujo
primado é a experiência a modo dos empiristas ingleses, porém, o de ligar esta
experiência à existência do indivíduo, e que esta experiência tem como intuito,
a aprendizagem e deveras, a produção do conhecimento, por isso, Dewey afirma
que temos que aprender fazendo, isto é, learn by doing.
Dewey não põe de
lado a experiência dos conteúdos que os alunos aprendem na escola, assim para
ele o uso de recursos lúdicos, os jogos, entretenimentos nas crianças são a
chave de ouro para a educação infantil. A modo de Kant (1724 – 1804), que
afirma que não se deve ensinar o aluno a pensar, mas como pensar, então, em
Dewey, a escola não mais ensinará a pensar, porém, a procurar oferecer, na
experiência do aluno, pressupostos educativos, de modo que este desenvolva por
si, o seu pensar espontâneo. Neste aspecto, o pensamento de Dewey quanto à
Educação também, é Libertadora como propôs Paulo Freire (1921 – 1997) que a
Educação deve estimular a criatividade e a crítica ao aprendizado.
Em Dewey, tanto
o professor como o aluno são os mentores principais da Educação, encontrando-se
numa relação pedagógica e dialéctica da experiência, seja da educação formal,
como dos temas que o aluno encontra no seu quotidiano. Entretanto, a Escola é o
segundo meio da socialização, segundo Dewey, já que o aluno procura construir e
reconstruir a sua experiência de vida aprendida em casa, bem como no seu meio
social, e, neste caso, é a experiência directa tida na escola, como local
especial da aprendizagem, que favorece a melhor aprendizagem, tanto dos valores
éticos, como sociais.
Procuramos
também de uma forma sucinta mostrar nesta pesquisa, as influências que o
pensamento de Dewey teve para a concepção do Sistema Nacional da Educação (SNE)
em Moçambique e em especial a concepção do Novo Curriculum (2002).
No primeiro
capítulo deste estudo apresentamos o Pragmatismo no pensamento deweyano, a
saber: a sua definição, suas origens e o pensamento epistemológico de Dewey,
face ao Pragmatismo. Para tal, recorremos àquilo que são os fundamentos do
pensamento pedagógico de Dewey em vista a perceber a sua pedagogia.
Apresentamos o que Dewey entendeu por Educação Democrática, onde esta só é
possível, se se fundar no meio onde cada aluno se enriquece com as experiências
dos outros alunos, e que também há igualdade de oportunidades entre os alunos.
Pretendemos contextualizar a filosofia do Instrumentalismo no seu pensamento no
que diz respeito às teorias da pesquisa científica e o senso comum.
A segunda parte
abordará o núcleo fundamental desta pesquisa: A concepção da Educação
Democrática em Dewey, onde são expostas as ideias principais da Educação
Democrática e Pragmatista de Dewey. Neste caso, recorreremos a uma análise
pormenorizada da obra “Democracia
e Educação”,
onde escolhemos os capítulos mais sugestivos para referenciar e sustentar a
ideia da Educação Democrática patente nesta obra.
A questão da
importância do pensamento de Dewey para a Educação moçambicana foi a temática
do terceiro e último capítulo. Apresentámos as influências do pensamento de
Dewey para a educação moçambicana, no que concerne à concepção do Novo
Curriculum (2002), isto é, procurámos apresentar os aspectos em que o
pensamento educacional da Escola Progressista de Dewey pode ser útil, ou pode
ter influenciado o processo educativo moçambicano.
O objectivo que
norteia esta pesquisa é, antes de mais, o interesse em fundamentar a questão da
Educação Democrática preconizada pela Escola Progressista e a sua repercussão
na educação actual moçambicana. Face a esta problemática, escolhemos John
Dewey, por considerarmos que, ainda que ele tenha morrido, porém, as suas
ideias sobre a Educação Democrática e sobre a concepção da Escola Nova e
Progressista ainda estão sendo discutidas na actualidade e no nosso meio.
Face aos novos
desafios da Educação preconizados pelo Novo Curriculum moçambicano concebido em
2002, com o intuito de integrar os conteúdos a nível teórico-prático; organizar
a escola segundo um intuito democrático; inserir as ciências no cenário
educativo; formar professores com qualidade; usar critérios técnicos e
profissionais na administração escolar; oferecer uma Educação integral e
integrada do homem com fins práticos ligados ao teórico; expandir as
oportunidades educativas através da extensão das escolas com ensino básico;
aumentar o número de escolas primárias completas, em função de se combater o
analfabetismo e a pobreza; melhorar a qualidade de ensino centrado na formação
dos professores; decentralizar a administração escolar; adequar o sistema
educacional às novas condições socioeconómicas face à globalização, então há
uma necessidade de se recordar e buscar as ideias de Dewey, de modo que se
compreenda a realidade e os desafios educativos actuais. Neste caso, as ideias
defendidas por Dewey estão de acordo com os problemas encontrados na vida
hodierna, principalmente na Educação, quando procuramos, principalmente,
compreender a Educação que está mais virada à vida, em função dum fim prático e
que seja útil e benéfico ao aluno e à sociedade onde este está inserido.
Portanto,
recordar e retomar o pensamento de Dewey na perspectiva da Escola Nova e
Progressista, a fim de compreender o seu intuito fundamental, principalmente
nas suas teses sobre a Educação Democrática onde a Educação, o curriculum devem
ser concebidos em função do aluno, é um desafio enriquecedor e de excepcional
importância para esta pesquisa.
No que diz
respeito à metodologia para esta pesquisa, seguimos as pesquisas bibliográfica,
crítica e reflexiva, tomando em consideração os aspectos filosóficos e
educacionais das referências bibliográficas utilizadas nesta pesquisa.
CAPÍTULO I – DO PRAGMATISMO À CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DA
EDUCAÇÃO
1. O Conceito
de Pragmatismo
Na sua origem grega,
Pragmatismo significa trabalho. O pragmatismo é um sistema filosófico que
encoraja a buscar os processos e a realizar as coisas que funcionam melhor para
se conseguir atingir os objectivos desejados (OZMON; CRAVER, 2004:131).
Embora se pense que o
pragmatismo seja uma filosofia do século XX, e desenvolvida pelos americanos,
ela remonta à filosofia da tradição inglesa e teve como figuras importantes,
Francis Bacon, John Locke, J. J. Rousseau e Charles Darwin. Contudo, o que dá
um pressuposto básico de ser uma verdadeira filosofia são as intervenções de
Charles Sanders Peirce, William James e John Dewey.
Vem da palavra grega, pragma,
que significa acção, a qual vêm as palavras, prático (a).
Historicamente, foi tido como uma doutrina filosófica desenvolvida por
filósofos dos Estados Unidos do século XIX, Charles Sanders Peirce (1839 –
1914), William James (1842 – 1910), entre outros, que defendiam que a prova da
verdade de uma determinada proposição é a sua utilidade prática. Isto
significava que o intuito do pensamento era de levar tudo à acção e o efeito de
uma determinada ideia era mais importante do que a sua origem ( OZMON; CRAVER,
2004: 131).
Não se pode falar de
Dewey sem se concentrar naquilo que se chamou de Escola Nova, movimento que
teve o seu apogeu na primeira metade do século XX, que foi responsável pela
mudança da antiga Escola Tradicional, que era rigorosa, disciplinar e centrada
no professor.
É necessário
referenciar que o movimento da Escola Nova, é uma viragem ao Ensino
Tradicional, e este ensino leva a educação a ser relacional. Aqui é importante
o aluno individual e não uma turma anónima. Estimula-se, no aluno, a criatividade,
o espírito crítico e as iniciativas particulares e individuais dos alunos. O
seu intituito fundamental é formar o aluno para a autonomia. Neste ensino
preconiza-se que o aluno pode aprender e aprender bem. É também tida como uma
Escola Construtivista onde o conhecimento é discutido da parte dos alunos.
Neste caso, o professor deve encontrar actividades que possam pôr o aluno em
actividade dentro e fora da escola. Neste tipo de ensino, o currículo é
flexível e adapta-se às condições concretas dos alunos. O professor aprende do
aluno, assim como o aluno aprende do professor e, neste caso, há um
intercâmbio, em termos de conhecimentos.
A Escola Tradicional
tinha como característica de ser transmissiva em termos de conhecimentos, e as
suas práticas estavam centradas no professor, tido como detentor de
conhecimentos. Entretanto, para o professor, o importante era transmitir os
conhecimentos, e não levar o aluno a reflectir sobre o seu aprendizado.
Portanto, o conhecimento era algo fechado e acabado, já que os fazedores do
currículo esgotaram tudo, e nada há que se possa investigar, por isso, o
currículo era rígido e não poderia ser alterado.
Para Dewey, toda a
actividade realizada na escola deve ter uma unidade, quer dizer, deve levar os
alunos à acção, à prática. Neste sentido, a Educação está ligada à experiência
com o mundo e partindo das realidades sociais, ver a relação entre os
conhecimentos adquiridos na sala de aula e a vida no quotidiano.
Assim, ao levar o aluno
à prática, o pensamento Deweyano é denominado Pragmatismo, filosofia
que defende que o pensamento e a acção devem formar um todo invisível, o que
implica na formulação teórica como hipótese activa, demonstração para as
situações práticas da vida.
A preocupção
fundamental de Dewey no que concerne à Educação, foi de procurar caracterizar o
seu pensamento como uma filosofia de acção, quer dizer, usar a prática como
elemento fundamental para a realização plena do indivíduo.
Dewey ao falar do
Pragmatismo como uma corrente filosófica, afirma que ele é mais
experimentalista na medida em que o seu pensamento abarca vários campos da
filosofia. O seu intuito não é ser mais empirista, isto é, dar o primado da
experiência, contudo, ligar a experiência à vida humana. Esta experiência é
feita em função de produzir conhecimentos, dai se concluir que a sua pedagogia
é de cariz “learn by doing”, isto é, aprender, fazendo.
Assim, ele privilegia a
escola como um ambiente de socialização, de troca de impressões e vivências
quotidianas entre o aluno e o professor. Portanto, a aprendizagem só será
efectiva através de uma experiência directa.
O Pragmatismo é uma
filosofia empirista, não a modo de empirismo tradicional que dava primazia à
natureza e à experiência e que não tomava em conta o homem nos seus problemas e
necessidades e se caracteriza por acreditar que a filosofia nunca deverá tomar
em consideração nenhuma realidade fora da experiência humana real e possível.
O pragmatismo é oposto
às especulações em que não têm uma aplicação prática. E, neste caso, afirma, de
facto, que a verdade está ligada ao tempo, lugar e objecto da investigação e
que o valor é inerente tanto por seus meios como por seus fins (http://www.biblioteca.pucpr.br/tede//tdebusca/arquivo.php?codarquivo=205);
10/02/09.
2. Origens do Pragmatismo
Teve como base, no
Empirismo, e especificamente o inglês, que remonta às tradições iniciadas desde
o período clássico. Portanto, o Pragmatismo remonta ao Empirismo Europeu,
encabeçado por John Locke. Entretanto, tendo como pressuposto básico, a
experiência, Rousseau terá contribuido eficazmente para a implantação do
Pragmatismo, quando fez a conexão educacional entre a natureza e a experiência.
“Foi sobre essa conexão íntima que ele contribuiu, em grande parte, na sua
teoria da educação” (OZMON; CRAVER, 2004: 135). Rousseau, ao se concentrar na
natureza do desenvolvimento infantil e sua crença na bondade natural do homem,
tem inflência no desenvolvimento da Educação contemporânea centrada na criança.
Em Dewey, o Empirismo
brota com o intuito de recuperar tudo o que ficou perdido em relação à
filosofia e ao mundo moderno, tudo isto causado pelo desenvolvimento da
ciência. Dewey, neste caso, afirma que toda a experiência que o homem tem deve
ser reconstruída, concebida em função da sua utilidade prática.
É claro que os
americanos foram os que levaram o movimento pragmatista avante, e, neste caso,
“James popularizou o pragmatismo, e Dewey sistematizou-o, levando suas principais
ideias a um desenvolvimento mais abrangente” (OZMON; CRAVER, 2004: 135).
Entretanto, Dewey concordava com James, pelo facto de considerar que não havia
absolutos ou universais imutáveis e seu dado básico era a experiência.
Para Dewey, a natureza
e a experiência são conceitos que devem andar juntos, visto que a experiência
poderia, no sentido reflexivo, ser dividida entre o ser que experimenta e a
coisa experimentada, e neste caso, a experiência só pode ser percebida na
natureza. Assim, “a natureza é o que experienciamos e devemos ver na nossa
experiência em termos das suas conexões naturais” (OZMON; CRAVER, 2004: 140).
No que tanje ao
experimentalismo, Dewey preferiu chamar sua filosofia deste nome, “já que ele
acreditava que dever-se-ia usar a filosofia para ajudar as pessoas a serem mais
experimentais nas suas abordagens dos problemas sociais, testando ideias e
propostas reflexivamente, antes de agir sobre elas, e por meio da avaliação
crítica e do exame reflexivo dos resultados, depois de experimentá-los na
prática” (OZMON; CRAVER, 2004: 141). Entretanto Dewey afasta-se de James e de
Peirce no modo como ele interpreta as relações entre o conhecimento e a
realidade e neste caso, “enquanto os outros dois expoentes do Pragmatismo
concebem o conhecimento como reprodução subjectiva de uma realidade objectiva,
Dewey considera o sujeito e o objecto como um todo único” (MONDIN, 1983: 157).
Portanto, as ideias são
tidas como meio para se poder resolver todos os problemas que o homem enfrenta
e que a resolução dos mesmos só tem sentido na vida prática e de uma forma
experimental para se poder atingir um fim melhor; dai a preferência em
experimentalismo e instrumentalismo a referir à sua filosofia do que pelo
Pragmatismo.
Em Dewey, a escola,
através duma Educação Democrática, deve enfatizar a interacção entre o
individualismo e a sociabilidade, uma apoiando e ampliando a outra. Para Dewey
e todos os que abraçam a corrente pragmatista, a Educação é uma necessidade de
vida, isto é, “ela renova as pessoas para que possam enfrentar os problemas
encontrados em sua interacção com o ambiente” (OZMON; CRAVER, 2004: 151).
Já se terá dito que os
mentores principais do movimento Pragmatista foram Peirce e James. Vejamos como
é que estes pensadores, através das suas ideias, influenciam Dewey a levar
avante esta corrente.
É com Charles Sanders
Peirce (1839 – 1914), que surgem as ideias principais do Pragmatismo e este
conceito foi introduzido, pela primeira vez, em 1878, no seu artigo “como
tornar claras nossas ideias”. Com este conceito influenciou James e Dewey a
conceberem o Pragmatismo e a continuarem com o seu pensamento. Este, para não
procurar encontrar semelhanças entre o Pragmatismo e o Empirismo Inglês,
preferiu chamar sua teoria de Pragmaticismo e que está directamente
ligada às concepções de semiótica e de lógica (SOUZA, 2004, 39s).
Foi, portanto, William
James (1842 – 1910), que popularizou o Pragmatismo a ser tomado como filosofia.
Ainda que ele se intitule de pragmatista, ele está mais ligado a um Pragmatismo
empírico e distancia-se do Idealismo[1]
e Positivismo[2].
Assim, para James, “um empirismo não deve nem admitir em suas construções
qualquer elemento que não seja directamente experienciado” (JAMES, 1979: 188),
quer dizer, para poder ser conhecido por outros, deve-se extrair da
experiência; caso contrário, o conhecimento não se viabiliza de modo
pragmático.
Shook afirma que as
teorias de James podem ser classificadas como Personalismo[3],
pelo facto de ele dar ênfase à acção dos indivíduos; pluralismo, ao considerar
as realidades e as experiências de modo diferenciado e ao mesmo tempo único; e
Pampsiquismo[4],
por levar em consideração que vários elementos, seja de consciência humana ou
de realidade empírica, levam àquilo que chamamos conhecimento (SHOOK, 2002:
128).
Portanto, o Pragmatismo
de Dewey considera a experiência como uma chave que abre o futuro, reduzindo a
verdade à utilidade. Neste caso, o conhecimento é pragmático por definição.
De acordo com estes
pressupostos básicos, há uma relação intrínseca entre o Pragmatismo
e a Educação Democrática, na medida em que o Pragmatismo, já que preconiza que
todo o conhecimento e toda a acção do indivíduo devem ter um fim prático,
então, a Educação Democrática possui também este intuito, pois nela, toda a
acção do homem tem como fim, relacionar o teórico com o prático, haver uma
relação de inter-ajuda e de enriquecimento mútuo entre os alunos, onde a
experiência de um vai ajudar a melhorar a experiência do outro, numa vida
compartilhada, onde todos têm a mesma igualdade de oportunidades em poder se
educar.
Portanto, será
democrática segundo Dewey, a sociedade que promove a participação nos seus bens
de todos os membros em igualdade de oportunidades e onde se assegura um
reajuste flexível das suas instituições através da interacção das diferentes
formas da vida associada, onde há um mútuo enriquecimento e igualdade de
oportunidades.
3. O Pensamento Epistemológico Deweyano
Para perceber o
pensamento de Dewey é necessário perceber a sua epistemologia. Segundo CUNHA
(1998), a concepção epistemológica de Dewey referencia o Pragmatismo Norte
Americano, que, por sua vez, com James é apresentado um método, isto é, um
instrumento que adapta o homem ao seu lugar onde vive com o intuito de mudar os
intentos colectivos e individuais. É por isso que o conceito de democracia é
presente em toda a sua pedagogia.
Ao acreditar Dewey no
liberalismo, afirma que a filosofia está ligada ao indivíduo educado para a
vida democrática, quer dizer, uma vida associada. É importante o conceito de “vida”
em Dewey, que representa uma vida reflexiva, que é capaz de operar acções
inteligentes no mundo, que se podem tornar em benefício a ele, como indivíduo
que se socializa com os outros.
O princípio da
democracia liga-se à ideia de igualdade e de liberdade onde a acção livre do
homem só é percebida na interacção com as acções dos outros, em vista a um bem
comum. E será graças à Educação que esta irá reconstruir a experiência ganha
na vida associada. Assim, “estabelecer uma teoria de experiência em termos
naturalísticos é, portanto, degradar valores nobres e ideais que caracterizam a
experiência” ( DEWEY, 1974: 161), posto que a experiência só é rica e
enriquecida dentro duma vida associada, onde haverá interacção social e cada um
vai-se enriquecer com a experiência do outro.
4. Fundamentos do Pensamento Pedagógico de Dewey
O que interessa a Dewey
é perceber o significado da experiência humana em vista à aquisição de
conhecimentos. Assim, ele propõe uma Educação renovada a partir das
constatações que ele vê no quotidiano.
O currículo, os
programas de ensino devem ser concebidos em consonância com a natureza social
dos indivíduos, de modo que se permita que a experiência seja eficaz. Portanto,
é necessário para a vida dos indivíduos, e neste caso, possui uma função
social, se a Educação é desenvolvimento, ela deve, progressivamente, realizar
as possibilidades presentes, tornando, assim, os indivíduos mais aptos a lidar,
mais tarde, com as exigências do futuro.
O seu modelo pedagógico
centra-se em dois tipos de Educação, a Tradicional e a Progressiva. Afirma ele
e os seus leitores que a Tradicional esteve ligada àquilo que era o progresso
da herança cultural, enquanto que a Progressiva estimulou o interesse dos
alunos e os problemas que os apoquentavam, e isto só era evidente nos fins e
objectivos que preconizava cada tipo de ensino (SOUZA, 2004, 82s).
A Educação Tradicional
não tomava em conta o desenvolvimento e o avanço da técnica e a matéria escolar
era dada como quase que elaborada sem possibilidades de se enriquecer, tal como
alguns no nosso meio afirmam, “no tempo dos meus pais era asim, por isso, nada
deve mudar”, quer dizer, a Tradicional não pautava pela mudança. Assim, os
alunos recebiam passivamente as aulas sem possibilidades de eles questionarem
sobre o seu próprio ensino.
Entretanto, nesta
escola, educar era receber e formar hábitos, ter posse de comportamentos
estabelecidos por padrões culturais e mais nada. Em contrapartida, a Educação
Progressiva baseia-se no cultivo da expressão, da individualidade, da
disciplina externa e da actividade livre do indivíduo. Neste caso, as matérias
e os objectivos educacionais são recebidos em função dos alunos. Neste caso,
há democratização das relações pedagógicas, daí a escola de Dewey ser uma Escola
Democrática.
5. A Concepção da Educação em Dewey
Para se poder
compreender a concepção da Educação em Dewey, deve-se partir da ideia de que a
Educação é um fenómeno criado pela e para a sociedade. Dewey, sendo um
educador, o seu pensamento teve muita influência na “Escola Nova”.
Para Dewey, a Educação
e, em especial, a escola possui uma função de coordenar a vida mental de cada
indivíduo nas diversas influências dentro do meio social onde o indivíduo vive.
Por isso, em Dewey, a Educação ainda que seja uma função social, é uma
necessidade de vida, onde a vida é renovada através da transmissão de um
conhecimento de um indivíduo ao outro e isto diferencia o homem dos seres
inanimados, assim, afirma Dewey que “a mais notável distinção entre os seres vivos
e inanimados é que os primeiros se conservam pela renovação. Ao receber uma
pancada, a pedra opõe resistência. Se a resistência for maior do que a força da
pancada, ela, exteriormente, não apresentará mudança; no caso contrário se
partirá em fragmentos menores que ela” (DEWEY, 1959: 1). Contudo, o ser vivo
não se opõe à resistência, já que este é muito fácil ser esmagado e sente as
consequências desta força externa.
O intuito fundamental
da Educação é fazer com que a aprendizagem de todo o conhecimento leve à
prática, e assim posto, ele propôs uma Educação, um método que tomasse em conta
a experiência de cada indivíduo, não como uma atitude isolada do sujeito com o
mundo, mas que este se integre com os outros.
Assim, a Educação em
Dewey é um processo pelo qual uma cultura é transmitida de geração para
geração, acontecendo por meio da comunicação de hábitos, actividades,
pensamentos e sentimentos dos membros mais velhos da cultura aos mais novos
(OZMON; CRAVER, 2004: 151). E é por este facto que a Educação não se deverá
limitar ao ensino escolar e formal, mas também como fazendo parte da própria
vida.
Tudo o que se deve
estudar na escola, as matérias preconizadas para tal, deveriam tomar em conta a
vida social de cada indivíduo, de tomar em conta também as vivências e o
quotidiano de cada indivíduo, e, neste caso, os planos deveriam ser feitos
segundo as necessidades do aluno.
Esta ideia de deixar
que o indivíduo se eduque sozinho foi posteriormente criticada. Pitombo citado
por OZMON e CRAVER (2004), afirma que acreditar que a criança se eduque sozinha
sem o professor, é o mesmo que dizer que ela educa-se naturalmente, crescendo
espontaneamente, como se fosse uma planta, mas isto surge como uma má
interpretação, porque Dewey pensava nos métodos do ensino que eram
autoritários, onde tudo dependia do professor.
A coisa principal que
se nota no processo de Educação para Dewey é a relação que se estabelece entre
a imaturidade da criança e a experiência amadurecida do adulto. Neste processo
educacional, Dewey faz uma comparação entre o modelo da Educação Tradicional e
a Educação da Escola Nova ou Progressiva. Mostra Dewey que a Educação
Tradicional, já que pressupõe o mundo da criança como incerto, vago, deve,
através de estudos e lições (ensino), substituir a superficialidade desse
mundo.
O aluno só precisa
receber e aceitar somente o que é exposto, tomando uma atitude de docilidade e
submissão, porém, a Educação da Escola Nova ou Progressista centra todo o
processo educativo na criança, para o seu crescimento e que isto determinará a
quantidade e a qualidade do que deve ser ensinado e aprendido e que este
ensinado e aprendido é feito consoante a sua situação concreta, em função do
que a criança quer aprender e também de acordo com os seus pré-requisitos.
Entretanto, ao
conciliar estas duas escolas, a Tradicional e a Nova ou Progressista, ele
propõe o que ele chama de “Reconstrução da Experiência”. É aqui e neste
aspecto onde se centra o seu conceito de Educação. A criança, ao possuir uma
experiência infantil, deve passar por um processo contínuo de reconstrução e
serão as matérias e as disciplinas que reconstruirão a sua experiência.
O erro cometido pela
Escola Tradicional foi de querer comparar a imaturidade da criança à maturidade
do adulto, porém, o importante é considerar os interesses da criança como
impulsos de uma capacidade e potencialidade. Assim, o aluno deve tomar uma
atitude de busca e disposição de sempre aprender, possuir um espírito aberto a
novas possiblidades, novas observações e novos entendimentos. Isto só é
possível quando o professor adequa o curriculum em função dos seus alunos,
incutindo no aluno que todo o processo de ensino e aprendizagem visa o seu
amadurecimento e, para tal, deve-se aproveitar a experiência do outro, para se
enriquecer a sua. Os professores, ao planificar o currículo, devem tomar em
conta os pré-requisitos dos alunos, o que eles gostam, o que podem aprender
mais e melhor e também não pôr de lado as suas situações sociais e concretas.
A contribuição de Dewey
na pedagogia moderna foi de desmistificar a ideia de que existe uma
dissociação entre a escola e a vida, o que não existia na realidade do aluno;
mostrar que o bom ensino deve estimular a iniciativa, promovendo condição para
a produção e exploração de interesse; identificar que o problema em matérias
da educação é fornecer um ambiente no qual as actividades educativas se possam
desenvolver, quer dizer, que a escola deve propiciar um ambiente de
oportunidades, sem o qual torna-se difícil entender e apreender o interesse
latente do aluno.
John Dewey é
pragmatista Hegeliano de início, depois ele passa pelo Positivismo, isto é,
“qualquer filosofia que privilegie o conhecimento científico e combate a
metafísica”( CLÉMENT, É, et al., 1999: 308), e elaborou uma nova versão do
Pragmatismo a que deu o nome de Instrumentalismo[5].
O método experimental
da sua pedagogia baseia-se na educação da habilidade individual, da iniciativa
e do espírito de empreendimento em detrimento da aquisição de conhecimentos
científicos. O seu modelo pedagógico foi influenciado pela sua teoria
filosófica, o Pragmatismo Utilitarista que era de cariz empírico.
O seu pensamento
pedagógico surge devido aos problemas que a Escola Tradicional pautava, que
esta tinha um cariz autoritário, selectivo, elitista e reprodutora das
desigualdades sociais. Portanto, “a finalidade da educação, em Dewey, não era
integrar o jovem na sociedade, mas sim, dotá-lo de conhecimentos e
competências que permitissem a sua participação na transformação da sociedade.
Daí que a Educação Democrática ter sido a pedra de toque do seu modelo”
(MARQUES, 1998: 50).
No seu pensamento
pedagógico, ele usou estes princípios: o primeiro princípio é o da
Actividade, já que o verdadeiro conhecimento é aquele que provém da experiência
e esta requer uma actividade, uma acção. O segundo é o da Utilidade, já
que a aprendizagem só tem significado, quando esta é útil para a criança, e
esta consegue fazer uma aplicação concreta da vida real. O Princípio da União
dos Meios e dos Fins, é o terceiro por ele referenciado, já que tudo
quanto é objectivo útil para o indivíduo deveria estar sempre patente no
currículo escolar, assim, o currículo deveria ser concebido para responder os
problemas quotidianos.
Um dos princípios
fundamentais da sua pedagogia é o princípio da Democracia, onde, a
escola deve promover uma educação para a cidadania e a democracia só se
ensina através de aprender, fazendo, isto é, learn by doing, e isto
exige que o aluno participe na tomada de decisões, assim, “as escolas se deviam
organizar como pequenas comunidades democráticas, empenhadas no desenvolvimento
de actividades socialmente úteis, capazes de terem um impacto positivo no
desenvolvimento dos valores democráticos” (MARQUES, 1998: 51). O princípio Científico,
é o último referencido por Dewey, posto que fundamenta-se como um meio que
procura ver todas as inovações da ciência no tempo actual, de modo que se
desenvolva a reflexão analítica e o pensamento crítico no processo do progresso
humano.
Para Dewey, o
currículo deve ser concebido tendo em conta a vida real dos alunos, já que “a
vida é um processo que se renova a si mesmo por intermédio da acção sobre o
meio ambiente” (DEWEY, 1959: 1), e, neste caso, a educação tem como intuito,
integrar na sociedade os alunos, mas não uma integração passiva, mas sim
transformadora, inconformista e crítica, isto é, uma Educação em que o aluno é
o mentor principal no processo de ensino e aprendizagem, onde este se integre
neste processo de modo a transformar a sua vida com a experiência dos outros.
Uma Educação onde o aluno critica o que aprende, para poder produzir mais e
melhor.
5. 1. A Escola como Formadora do Sentimento Democrático
O pensamento
educacional de Dewey é fruto da Educação do seu tempo, onde a sociedade era
marcada pela crise da produção capitalista na sua fase inperialista, pelas
contradições impostas pelo modelo capitalista de produção que apresenta, de um
lado, uma burguesia enriquecida e, de outro lado, um operariado numeroso em
miséria, e, neste caso, a Educação é um motor essencial para operar estas
mudanças dentro da sociedade. Neste caso, é função da Educação, oferecer
mecanismos para que a vida seja mais humana e mais justa, através de uma
organização social democrática.
A Educação deve formar
no aluno um sentimento democrático e deve ser desenvolvida num ambiente
democrático de modo que se dê a troca das diferentes experiências individuais,
onde o aluno, com aquilo que aprendeu em casa, ao se encontrar com os outros
seus colegas, se enriquece com a sua experiência, ocorrendo, assim, relações de
inter-ajudas recíprocas, onde, cada um aprende doutro e que deve-se respeitar a
experiência individual de cada um. Em Dewey, o ponto de partida para tudo isto
é que a escola deve ser uma sociedade em miniatura, dai ele definir a Educação
como uma Reconstrução da Experiência para as novas experiências.
Deste modo, para Dewey,
“as escolas, todavia, continuam sendo o exemplo típico do meio especialmente
preparado para influir na direcção mental e moral dos que a frequentam” (DEWEY,
1959: 20). Por isso, a escola é um ambiente especial onde se forma o aluno para
a maturidade, para a aquisição de valores e para a sua futura intervenção
social como membro desta sociedade.
Os princípios
educativos na perspectiva de Dewey propunham uma aprendizagem através de várias
actividades que deveriam ser realizadas em consonância com o currículo, isto é,
documento ou plano realizador da Educação; ou conjunto de planos sistematizados
da Educação em vista a acompanhar a evolução da sociedade no tempo, o que era
oposto à Educação de cariz autoritário, porque supunha somente oferecer aos
alunos aquilo que era ao gosto dos poderosos. Dai se afirmar que Dewey rejeita
a tendência da abordagem tradicional do curículo, onde o conhecimento é
separado da experiência e é fragmentado e compartimentalizado. Dewey afirma que
“o resultado da fragmentação deve em geral, dar mais atenção aos conteúdos da
disciplina do que da experiência da própria criança (OZMON; CRAVER, 2004, 156).
Assim, só quando o currículo é diversificado, então este ajuda a criança a
abarcar várias áreas de domínio do conhecimento.
Ao
propor esta medida, Dewey constatava que o que era oferecido pelo sistema
educativo da sua época não oferecia aos cidadãos uma preparação adequada para a
vida dentro duma sociedade democrática. Assim, Dewey considera que “a Educação
não deveria ser meramente uma preparação para a vida futura, mas sim deveria
proporcionar e ter pleno sentido em si mesmo, o desenvolvimento e a realização
(…) criticou a Educação que enfatizava tanto a diversão relaxada dos
estudantes como mantê-los entretidos sem mais, assim como a orientação
exclusiva até ao mundo profissional” ( Dewey, John, In " Enciclopedia
Microsoft® Encarta® 2000. © 1993-1999 Microsoft Corporation).
5.2. A Educação Democrática em Dewey
Para Dewey concretizar
o ideal democrático da sociedade, recorreu à Educação como um fenómeno de
extrema importância, capaz de proporcionar um espaço democrático para as
diferentes classes sociais e através de uma metodologia fundamentada no
interesse e na experiência do indivíduo, garantir a perpetuação dos valores
liberais básicos, como a liberdade, a solidariedade e a igualdade de
oportunidades.
Dewey foi um dos
maiores defensores da democracia, na segunda metade do século XIX e primeira
metade do século XX, por ter afirmado que é possível conceber uma sociedade
melhor, quando esta pautar pela democracia, que é a única forma digna da vida
humana e não se pode pensar a democracia sem se pensar na Educação.
Dewey, ao falar da
democracia relativa à Educação, afirma que uma sociedade “deve procurar fazer
que as oportunidades intelectuais sejam acessíveis a todos os indivíduos, com
iguais facilidades para os mesmos (…) assim, a democracia é mais do que uma
forma do governo, é uma forma de vida associada, de experiência conjunta e
mutuamente comunicada” (DEWEY, 1959: 93s).
Para Dewey, a Educação
Democrática é aquela onde a igualdade de oportunidades é um elemento
fundamental, isto é, todos os indivíduos presentes no processo de ensino e
aprendizagem devem ter a mesma oportunidade de ensino e que não deverá haver
diferenças de classes, cada aluno deve-se enriquecer com as experiências dos
outros, entrando numa relação de inter-ajuda.
Assim, uma Educação sem
essa igualdade de oportunidades baseia-se nos privilégios e, neste caso, não é
democrática. A Educação, para Dewey, é um processo de vida onde se faz uma
experiência, e, ao mesmo tempo, um processo social onde representa não a vida
futura, mas a presente e real para a criança. Portanto, a Educação, “é um
processo de reconstrução e reorganização de experiências, pelo qual lhe
percebemos mais agudamente o sentido e com isso nos habilitamos a melhor
dirigir o curso de nossas experiências futuras” (DEWEY, 1959: 8).
A Educação Democrática
comporta uma dimensão de formar o homem para valores republicanos e
democráticos e a formação para a tomada de decisões em todos os níveis. Para se
compreender a Educação Democrática em Dewey é indispensável: a formação intelectual
e a informação, isto é, desenvolver a capacidade de conhecer em vista a poder
escolher. Portanto, para se poder formar o cidadão é preciso informá-lo das
vastas áreas de conhecimento, através da literatura e das artes, em geral; a
educação moral também é essencial, aquela ligada a uma didáctica de valores que
não se podem aprender apenas intelectualmente, como também através da
consciência ética, que é formada tanto de sentimentos quanto da razão; por fim,
é imprescindível a Educação do comportamento, no sentido de enraizar hábitos de
tolerância diante do diferente, bem como o aprendizado da cooperação activa e
da subordinação do interesse pessoal ou grupal ao interesse geral, ao bem comum
(http://www.hottopos.com/notand2/educacao_para_a_democracia.htm);
09/01/09.
A Educação Democrática
consiste em formar os cidadãos para poderem viver os grandes valores
democráticos que abarcam as liberdades civís, os direitos sociais e os da
solidariedade planetária. Também consiste na formação em poder participar na
vida pública, tanto como cidadão comum ou como governante.
Para Dewey, a escola é
o principal local onde deverá ser desenvolvida a Educação Democrática, embora
sofra actualmente a concorrência de outras instituições, é o caso dos meios de
comunicação social, igrejas, cinemas, etc.
A Educação tem como
finalidade, em Dewey, propiciar à criança condições para que resolva por si
própria os seus problemas, e não os tradicionais ideais de formar a criança de
acordo com modelos prévios, ou mesmo orientá-la para um porvir. Assim, tomando
o conceito de experiência como factor central de seus pressupostos, chega-se à
conclusão de que a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas sim a
própria vida.
Para Dewey, o ensino e
a aprendizagem baseiam-se numa compreensão de que o saber é constituído por
conhecimentos e vivências que se entrelançam de forma dinâmica, distante da
previsibilidade das ideias anteriores. Deste modo, os alunos e professor
detentores de experiências próprias, são aproveitadas no processo. O professor,
neste caso, tem uma visão sintética que é mais abrangente e clara acerca dos
conteúdos, e os alunos uma visão sincrética que é confusa e não muito clara
daquilo que aprende, o que torna a experiência um ponto central na formação de
conhecimentos, mais do que os conteúdos formais. De acordo com estes factos,
isto levará a uma aprendizagem essencialmente colectiva, assim como é colectiva
a produção de conhecimentos.
Com estes aspectos e
postos em prática, o processo de ensino e aprendizagem irá avante e, portanto,
os alunos e o professor se enriquecerão e haverá, neste caso, a interacção
escolar de poder aprender e também de poder ensinar, mas tudo isto centrado no professor
como orientador deste processo de ensino e aprendizagem.
Portanto, uma sociedade
assente em princípios democráticos, permitirá uma escola que privilegie uma
relação de liberdade individual compatível com as liberdades colectivas. Neste
caso, só a existência de debates de ideias e de interesses, a vivência positiva
de conflitos, estes assentes em princípios democráticos, estimulará a
reestruturação das leis e regras que construirão uma escola coerente nos
objectivos explícitos e implícitos (LEITE, 2001: 50).
6. O Instrumentalismo em John Dewey
6.1. A Experiência não se Reduz à Consciência nem ao Conhecimento
Dewey é considerado
por unanimidade dentre vários pensadores do século XX como um dos filósofos
eminentes que não só influenciou os filósofos como também os pedagogos, os
estudiosos da estética, bem como os da teoria política. Portanto, o seu
pensamento como filósofo é tido como naturalismo, já que “se move no leito do
Pragmatismo e se situa no quadro da tradição empirista. Entretanto, Dewey optou
por chamar a sua filosofia de Instrumentalismo, que, em primeiro lugar,
se diferencia do Empirismo[6]
clássico
quanto ao conceito fundamental de experiência” (REALE; ANTISERI, 1990: 503).
A experiência de que
Dewey fala não é aquela dos clássicos que era sucinta, errónea e destinada aos
estudos da consciência clara e distinta do homem, porém, ele referencia que a
experiência é história, é vida, onde a pessoa durante a vida faz a experiência
e este se enriquece com as experiências da vida das outras pessoas que a ele se
ligam. Por isso, a experiência não se pode reduzir em Dewey aos estados de
consciência, mas sim à vida.
Em Dewey já que a
experiência se liga à vida, então ela faz parte da história que o homem faz na
sua vida e isto em vista a atingir o futuro. Para Dewey, a experiência
encontra os seus equivalentes em coisas como a história, a vida, a cultura,
etc., e a filosofia tem como função de desmembramento analítico e de
reconstrução sintética das experiências (REALE; ANTISERI, 1990: 506ss).
A experiência que se
faz na vida é precária e está envolta de riscos, já que a existência do homem
na terra é limitada. Assim, é importante para Dewey que a vida seja um lugar
para efectuarmos boas experiências de vida que contribuirão para o melhor
sucesso do futuro.
Para Dewey, a
experiência, a natureza e a existência são fenómenos imanentes ao homem e, para
tal, a luta para enfrentar o mundo e a existência tão difíceis exige
comportamentos e operações humanas inteligentes e responsáveis e é por este
facto que a sua teoria filosófica se denomina instrumentalismo.
O conhecimento é um
processo que passa pela investigação onde o homem procura se adequar e se
adaptar ao ambiente e isto só é possível através da experiência da vida. Esta
investigação afirmada por Dewey tem a sua génese num dado problema constatado,
onde este suscita dúvidas e incertezas, perturbação, etc. Portanto, Dewey se
declarava desconcertado diante do facto de que pessoas sistematicamente
empenhadas nas investigações sobre questões e problemas (como certamente são os
filósofos), sejam tão curiosas acerca da existência e da natureza dos
problemas.
Portanto, Dewey (1959)
afirma que através dos instrumentos nós podemos ter o mundo mais ou menos
conforme as nossas necessidades. Assim, o conhecimento humano está sempre em
evolução, e o conhecimento sendo investigação, deve ser prático, deve ajudar a
resolver os problemas suscitados pelo ambiente. A escola neste caso, deve
reflectir o mais cedo possível, uma comunidade real, isto é, uma mini-sociedade
para ajudar os alunos a desenvolver as suas capacidades.
6.2. Senso Comum e Pesquisa Científica: As Ideias como Instrumentos
O homem, ao conhecer um
determinado fenómeno, está a participar em todos os problemas do mundo. Assim,
para Dewey, a cultura viva é parte do mundo, que partilha suas vicissitudes e
sua sorte e que só pode assegurar a sua segurança, em sua dependência precária,
com sua identificação intelectual com as coisas que estão em torno de si e com
a previsão de futuras consequências do que aconteceu, dando, então, forma
adequada à sua actividade, isto significa que é só na vida que tudo é
experimentado e só poderá participar em todas as actividades passíveis ao
homem.
Nesta perspectiva do
senso comum e pesquisa científica, Dewey afirma que “a ciência marca a
emancipação do espírito do seu emprego e fins ordinários e torna possível a
sistemática investigação de novos fins. É o factor do progresso da acção.
Considera-se, às vezes, o progresso como constituído em avizinharmo-nos dos
fins que buscamos” (DEWEY, 1959: 245s).
Em termos desta
pesquisa científica, todos os objectos passíveis de se qualificarem são ponto
de partida para a ciência e isto só é possível dentro dos processos e
instrumentos do senso comum, isto é, da experiência que segundo Dewey é o
mundo do uso, da fruição e de sofrimentos concretos.
Assim, o
instrumentalismo de Dewey afirma que a verdade não é mais adequação do
pensamento ao ser, mas se identifica mais com o poder comprovado de guia de uma
ideia ( REALE; ANTISERI, 1990: 509s), isto é, só é verdadeiro algo que se tenha
uma garantia da sua prova ainda que esta não seja eterna nem absoluta, mas que
seja passível de verificação científica.
Em Dewey não há valores
absolutos e dogmáticos, quer dizer, os valores são históricos e passíveis de se
poderem pôr à prova para todos os casos possíveis da existência humana. Dewey
afirma que em relação aos valores, o filósofo tem, por um lado, a função de
examinar as condições generativas, interpretando as instituições, os costumes e
as políticas em função dos valores que com eles emergem no desenvolvimento da
história como fonte de engenhosidade humana.
Nesta perspectiva,
Dewey identifica valores de facto, como bens imediatamente desejados e valores
de direito como bens racionalmente desejáveis. Portanto, e em consequência
disto, a Filosofia e a Ética têm a missão de promover continuamente uma revisão
crítica dos valores de direito em vista à sua conservação e enriquecimento, já
que estes são os bens racionalmente desejáveis.
A Ética Deweyana é
histórica e social, já que há uma dependência interna entre a unidade e a
relação dos fenómenos, e os fenómenos por sua vez são factos humanos, são
planos de acção, tentativas de resolver problemas que brotam da vida associada
dos homens no pensar de Dewey.
Ele afirma que é
objectivo da Filosofia, educar os homens para reflectir sobre os valores
humanos mais elevados, como eles aprenderam a reflectir sobre aquelas questões
que se inserem no âmbito da técnica. Entretanto, “o método científico, tornado
em hábito, por meio da Educação, significará nossa emancipação dos métodos
autoritários e da rotina criada por eles” (DEWEY, 1959: 247).
Em Dewey não se
distingue entre o meio e o fim, já que todo o meio é também um fim e
vice-versa, assim, a actividade que produz meios e a actividade que inventa e
consome os fins, estão intimamente ligados uma à outra. O fim alcançado é meio
para outros fins. E a avaliação dos meios é fundamental para todo o fim real e
genuino, que não queira ser vã fantasia, ainda que nobre e sugestiva ( REALE;
ANTISERI, 1990: 511s).
6.3. A Teoria da Democracia
Para Dewey, a
democracia é um sistema em que todas as pessoas maduras participam na formação
dos valores que regem a vida dos homens associados. A liberdade é algo que deve
ser alcançado hoje, em vista a ser preservada no futuro e que esta, por sua
vez, beneficiará e entrará em consonância com a liberdade dos outros, daí ele
escreve, “a liberdade conquistada hoje cria situações graças às quais haverá
mais liberdade amanhã e no sentido de que a minha liberdade faz crescer a dos
outros” ( REALE; ANTISERI, 1990: 513), e por este facto, a sociedade
totalitária, para Dewey, é posta de lado, preconizando mais a sociedade
democrática.
A ideia referenciada
anteriormente sobre a liberdade, pode-se relacionar com o que J. P. Sartre
(1905-1980), chamou de transcendência ou mesmo de liberdade, onde esta
liberdade não é um ser, porém, um nada, um projecto tido como uma
intencionalidade. Entretanto, para Sartre, a liberdade não é um ser, ela é um
ser do homem, quer dizer, o seu nada de ser. A liberdade é a essência que
constitui o uno, o para si. Quem nega a liberdade, nega também o
homem, já que o homem se constitui nesta.
A liberdade, para
Sartre, coabita com a escolha e para manifestar a liberdade é preciso nadificar
o presente (REALE; ANTISERI, 1990, 608). Portanto, no tema da liberdade, Sartre
afirma que o homem está condenado a ser livre, isto é, não há nenhum limite da
liberdade para o homem. O homem, já que está dentro do mundo, deverá se
responsabilizar por todas as suas acções relativas à sua escolha.
Ele rejeita a sociedade
totalitária, posto que esta abraça tudo como poder absoluto, que não dá espaço
ao diálogo, à discussão, porém, na sociedade democrática, há liberdade, diálogo
e é aberta, há um trabalho em conjunto. Quer dizer, uma relação de inter-ajuda
em vista a alcançar o bem comum.
Em Dewey, a Sociedade
Democrática “repudia o princípio da autoridade externa e deve dar-lhe, como
substituto, a aceitação e o interese voluntários, e unicamente a educação pode
criá-los (…) uma democracia é mais do que uma forma do governo; é,
primacialmente, uma forma de vida associada, de experiência conjunta e
mutuamente comunicada” (DEWEY, 1959: 93).
Portanto, no pensamento
Deweyano, a democracia é aquele modo de vida em que todas as pessoas maduras
participam da formação dos valores que regem a vida dos homens associados,
modo de vida que é necessário tanto do ponto de vista do bem social como da
óptica do pleno desenvolvimento dos seres humanos como indivíduos.
Na democracia, tudo o
que é aspiração do indivíduo, não deve ser inibido, mas sim, estimulado, de
modo que tudo o que o indivíduo anseia, seja alcançado. Se se permitir que isto
aconteça, o indivíduo se torna um sujeito que conhece, em vista a desenvolver e
a contribuir no que é útil à sociedade da qual faz parte.
Com estes factos de
ódio à sociedade totalitária e absolutista, e a necessidade de se pautar pela
sociedade democrática, surgem estes dois conceitos fundamentais no pensamento
de Dewey: “sociedade planeada (a Planned society) e a sociedade que se
planeia constantemente (a continuously plannig society), que os define
deste modo: a primeira requer desígnios finais impostos de cima e que, portanto
se baseiam na força física e psicológica, para fazer com que nos conformemos a
eles. A segunda significa libertar a inteligência, mediante a forma mais vasta
de intercâmbio cooperativo” ( REALE; ANTISERI, 1990: 513).
Ligado ao pensamento
como filósofo e pedagogo, a teoria da investigação, a dos valores bem como a
da democracia relacionam-se com a teoria da educação patente nas suas obras, “Democracia
e Educação” bem como “Experiência e Educação” que eram entendidas
como uma reconstrução e reorganização contínua de tudo quanto o homem vivenciou
e experimentou, em vista a perspectivar, a partir da experiência passada e
presente, a futura experiência.
CAPÍTULO II – DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO EM JOHN DEWEY
1. Como Compreeder o Livro: “Democracia e Educação” de Dewey
O livro “Democracia
e Educação” versa sobre a Educação e, em especial, sobre a Educação num
ambiente democrático. É prático segundo vários leitores de Dewey, afirmar que
este livro se divide em quatro partes:
A primeira parte abarca
os primeiros seis capítulos, e ela fala da Educação como uma necessidade de
vida, um processo em que se transmitem conhecimentos aos mais novos a partir
dos mais velhos, isto numa vida em sociedade. Numa colectividade, e educar
seria reconstruir a experiência que cada um possui, já que o homem não nasce
tabula rasa.
A segunda parte inicia
com o capítulo 7 e vai até ao 17. É no capítulo 7, que analisa o processo
educacional como um fenómeno somente humano, mas visto numa sociedade
democrática, quer dizer, numa sociedade em que há maior reciprocidade de
interesses entre os membros e mais cooperação entre os diferentes grupos
sociais que a compõem. Também analisa alguns aspectos do processo educatico, é
o caso dos objectivos educacionais, a relação do aluno com o conhecimento que
lhe é transmitido, o pensamento como instrumento da aprendizagem, o método
educacional, as matérias de estudo e as ciências no curriculum. Entretanto,
todo o proceso pedagógico deweyano apresentado na segunda parte é feito de
acordo com a Educação que se estabelece numa sociedade democrática.
Numa sociedade
democrática, os fins sociais não são impostos do exterior nos indivíduos, mas
sim do livre desenvolvimento da experiência pessoal de cada membro. Daí, a
Educação numa sociedade democrática não precisar de definir, antes, os
objectivos que pretende atingir, já que a escola não precisa de subordinar-se a
fins externos ao processo educativo, podendo e devendo confiar no
desenvolvimento da experiência de cada um.
Para Dewey, os fins
educacionais são aqueles que foram definidos pela sociedade, que, sendo
democrática, deseja manter e ampliar cada vez mais a experiência compartilhada,
a liberdade e a igualdade entre todos os membros.
A terceira parte
compreende os capítulos 18 a 23 e versa essencialmente sobre os limites e a efectivação
da Educação Democrática na actualidade. É aqui onde ele discute as
circunstâncias que impedem que o projecto pedagógico democrático se realize
plenamente. Ele descobre que, o que leva a que o projecto educacional não se
materialize, é a existência de dualismos, isto é, a divisão da sociedade em
classes e grupos mais ou menos demarcados. A quarta parte é formada pelos
capítulos 24 a 26, onde versa sobre a finalidade da filosofia da educação, quer
dizer, uma concepção filosófica para dar conta do fenómeno educacional na
perpectiva pragmaticista (http://www.geocities.com//Athen/Atrium/4778/DEPadago.doc);
09/01/09.
2. A Educação como Necessidade de Vida
2. 1. A Renovação da Vida pela Transmissão
A vida, bem como a
Educação, são um processo pelo qual os indivíduos que a eles se ligam, têm a
tendência de se renovarem, dentro do ambiente social em que se localizam, e,
neste caso, a vida é um processo de auto-construção.
A vida, para além de se
referir ao que é o desenvolvimento de todos os acontecimentos ocorridos, das
lutas e realizações, esperanças e gostos, neste sentido, ela é parte
constitutiva dos costumes, instituições, crenças, vitórias e derrotas,
divertimentos e ocupações, isto é, tudo o que faz parte do seu substracto
socio-individual.
Tal como a vida, a
experiência tem a característica de continuidade e renovação, portanto, “com o
renovar da experiência física, também se renovam, no caso dos seres humanos, as
crenças, ideias, esperanças, venturas, sofrimentos e hábitos. Assim, se
explica, com efeito, a continuidade de toda a experiência, por efeito da
renovação do agrupamento social” (DEWEY, 1959: 2), e, neste sentido, o
instrumento desta continuidade social da vida é a Educação.
O processo de
transmissão dentro da sociedade é importante, posto que revela o carácter de
renovação educacional que a sociedade possui, e esta transmissão só é possível
mediante uma comunicação a partir dos mais velhos aos mais novos, no que diz
respeito aos modos de agir, proceder, pensar e sentir. Portanto, assim, vistas
as coisas, a Educação ou educar é uma questão de necessidade.
2. 2. Educação e Comunicação
Só com a aprendizagem é
que há continuidade da experiência de todos os aspectos que a sociedade
preconiza como importantes. A escola é um dos lugares e meios para capacitar os
imaturos a serem ensinados os valores fundamentais para serem homens. A
Educação consiste primeiramente na transmissão por meio da comunicação.
Portanto, “a sociedade
não só continua a existir pela transmissão, pela comunicação, como também se
pode perfeitamente dizer que ela é transmissão e comunicação” (DEWEY, 1959:
4). Dentro da sociedade, os homens têm a tendência de viver uma vida em comum
e a comunicação é o processo de participação da experiência para que se torne
um património comum.
Nem todas as relações
dentro dum grupo social são tidas como relações sociais, e nem sempre toda a
vida social se identifica com a comunicação de intereses, como também toda a
comunicação é educativa, portanto, receber uma comunicação é possuir uma
experiência mais ampla e diversificada, porém, é importante que se formule a
experiência para que esta seja comunicada e que deve ser pessoal.
Contudo, toda a prática
social que seja vitalmente social ou vitalmente compartilhada é por sua
natureza educativa, por isso, toda a vida social não precisa do ensino e do
aprendizado para se qualificar de educativa, ela por si, a é, ela aumenta e
clarifica a experiência, ela estimula e enriquece a imaginação, guia o
sentimento da responsabilidade, obrigando-nos a falar e a pensar com cuidado e
exactidão.
Esta visão de
Dewey é muito redutiva porque ele não vê a comunicação no seu sentido mais
amplo. Jayme Abreu, um leitor e ao mesmo tempo crítico de Dewey não aceita em
parte este aspecto deweyano ao conceber uma sociedade e uma Educação ideal
democrática, que não pudesse representar sobremaneira a sociedade real
norte-americana. Entretanto, Dewey procura através da Educação e comunicação,
fazer uma cisão com as tradições que existem nessa comunicação baseada numa
determinada sociedade. Ele procura uma outra forma de comunicação em que
deveria ser constituída a partir de um programa de acção social em que consiste
a sua própria filosofia. Só através da comunicação é que os indivíduos
pertencentes a uma mesma sociedade podem-se relacionar entre si. Portanto, não
se pode dispensar a comunicação num mundo em que a transmisão de conhecimentos
só poderá ser por via da comunicação.
Este crítico concebe um
mundo em constante mudança o que não permite que os dados actuais da sociedade
e da escola fossem tomados como critérios para nortear a Educação bem como a
própria comunicação, por meio ds ciências, e isto não foi favorável para que a
crença na comunicação humana fosse dispensada, já que o homem, por natureza, é
um ser em comunicação.
2. 3. O Papel da Educação Formal
Existe uma Educação que
se limita a dar os modos de convivência social com os outros membros do grupo e
também Educação intencional dos mais novos. A que se limita no ensino dos modos
de convivência é casual. Por causa disto, foi urgente pretender construir uma
Educação mais formal, a do ensino directo ou escolar. Este tipo de Educação
também faz com que os jovens se tornem membros eficientes da comunidade,
aprendendo os costumes dos mais adultos. Assim, ao fazerem o que os adultos
fazem, devem entrar numa aprendizagem directa dos assuntos cadentes da
sociedade.
Neste sentido, para
aprender e assimilar o que os adultos fazem, houve necessidadede de formalizar
o ensino, surgindo, desta feita os factores especiais, as escolas e a matéria a
aprender em cada fase escolar e a tarefa de transmitir a matéria de estudo,
somente é incumbida a pessoas especiais, os professores.
Sem a Educação formal,
torna-se impossível a transmissão de todo um património cultural e geral, tão
complexos. Surge, portanto, a Educação escolar que não se vai basear na
transmissão de valores sociais, mas na transmissão do saber por meio de sinais
verbais, a aquisição de letras. Entretanto, a tarefa da filosofia da educação é
de conciliar entre os “membros de educação não formal e os da formal e entre os
casuais e os não intencionais” (DEWEY, 1959: 9), por isso, a Educação ou o
ensino escolar criar homens eruditos.
Esta visão de
restringir a escola como único local em que deverá ocorrer o processo de ensino
e aprendizagem é, muitas das vezes, discutível, já que nem sempre a escola é
favorável à transmissão dos valores da sociedade. Moreira (1954) afirma que as
teses de Dewey sobre a educação formal somente são aplicáveis unicamente na
sociedade Americana, já que possuem limites para serem aplicados num local fora
dos EUA. Dewey não pensou nas situações concretas doutros povos que ainda não
possuiam o tal desenvolvimento. Ele não tomou em conta que a Educação inicia
em casa, e depois nos grupos e será somente aperfeiçoada na escola. Portanto, a
que se administra em casa não é formal e se não se toma em conta como base para
a introdução da formal, erguer-se-á uma casa, sem nenhuma base sólida.
Na ideia de Cunha, a
teoria de Dewey, de tomar a educação formal como protótipa e que deverá levar à
prática, “como teoria de conhecimento, é uma resultante da nossa época
industrial, da nossa economia e dos nossos problemas e seria uma tentativa de
concentrar esforços e atenção nos problemas de trabalho e economia, mas, por
isso mesmo, unilateral e nitidamente capitalista” (CUNHA apud MOREIRA, 1954:
36).
Com estas ideias de
Moreira (1954) é patente a certeza de que ele não concordava com os
pressupostos do Pragmatismo de Dewey, e tudo o que era a ideia educacional de
Dewey, o que em parte diverge sobremaneira das posições de outros pedagogos, é
o caso de Anísio Teixeira (1900-1971)[7],
no que concerne ao carácter temporário dos conhecimentos científicos, já que
nele estavam ausentes os meios para se distinguir do senso comum.
De facto, para haver
unanimidade naquilo que são as matérias de ensino, houve, com o tempo, a
necessidade de se uniformizar a Educação, criando-se desta feita a educação
formal, onde todos os membros do mesmo grupo social seguissem a mesma estrutura
no que tange às matérias de ensino, para possibilitar a convivência e o perfil
social, mas não se deve cair no erro de considerar as crianças como adultos em
miniatura. Deve-se deixar a criança aprender aquilo que faz parte e que se
relaciona com a sua idade.
3. A Educação como Função Social
3. 1. O Meio Social como Factor Educativo
Sendo o homem um animal
social, então a sua acção deve tender sempre mais para a socialização, para a
solidariedade, a fim de que se constitua uma sociedade verdadeiramente
democrática, capaz de realizar o domínio completo da natureza, submetendo-a a
nossos fins. Entretanto, “uma organização vedadeiramente democrática da
sociedade tem como princípio que cada um considere a actividade do outro como
ponto de referência da sua, permitindo, assim, a coordenação da multiforme
actividade humana em sociedade pacífica e progressista” (MONDIN, 1983: 159).
O meio social onde o
homem vive faz com que o homem desenvolva várias actividades e atitudes, sejam
mentais ou emocionais e isto faz com que as suas acções movam as acções dos
outros e isto é recíproco, e pensar como possível conceber as actividades de um
indivíduo em termos das suas acções isoladamente, é o mesmo que tentar imaginar
um homem de negócios a fazer negócios de compra e venda completamente sozinho.
Assim, “… é realmente inevitável alguma participação na vida daqueles com
que o indivíduo se acha em contacto; por essa participação, o ambiente social
exerce um influxo educativo ou formativo, independentemente de qualquer
propósito intencional” (DEWEY, 1959: 18), isto é, todo o indivíduo que está
dentro dum grupo, tenderá a desenvolver estímulos que se adequam a este grupo,
dando exemplo, “uma criança vivendo no seio de uma família de músicos, terá
inevitavelmente estimuladas….as suas aptidões musicais” (DEWEY, 1959: 18).
Neste, um ensino que
seja consciente e deliberado, deve proporcionar ao aluno uma liberdade na
aptidão pessoal de modo que a acção que o indivíduo venha a desenvolver possa
fornecer objectos que tornem sua actividade mais rica e repleta de muita
significação.
Por isso, é importante
libertar o aluno do inconsciente influxo do ambiente para que isto não seja
banal e a coisa essencial que se deve trabalhar é o hábito da linguagem ligado
aos modos de falar, o uso do vocabulário, tudo isto é formado durante o
contacto e interacção com os outros, não tanto como uma instrução, mas sim,
como uma necessidade social. Por isso, todo este hábito inconsciente pode ser
ultrapassado pelo ensino consciente. A linguagem, neste caso, é de exterma
importância na aquisição do conhecimento, e é a principal causa da noção do
senso comum, de que o conhecimento pode ser trasmitido de uns para os outros.
A outra coisa
importante são as boas maneiras de se relacionar com os outros que isto é
edquirido pelos actos habituais de sempre procurar fazer o bem e se relacionar
com os outros. Por isso, o meio e as boas maneiras de agir dentro dum ambiente
são os principais agentes para se adquirirem as boas maneiras, em vista a se
relacionar com os outros.
O outro aspecto
importante é o bom gosto e a apreciação estética e isto é criado pela maneira
como o indivíduo vê as coisas, e isto não surge espontaneamente, dependerá do
lugar e do ambiente em que se encontra o homem na interacção com os outros.
Cunha não se mostra tão
favorável no que tange ao considerar sobremaneira o meio social como factor
determinante para a Educação, dado que ele tem consciência de que este pode
levar a um individualismo solipsista[8].
De facto, o homem é um ser social e tem a tendência de viver com e para os
outros, mas isto, para Cunha, não é suficiente para a sua formação como homem.
Este pensador ao
analisar o Pragmatismo de Dewey afirma que esta possibilita intermintentes
discussões sobre a exactidão e a universalidade das leis científicas, e ele
acredita que, se assim for, não se poderá chegar a uma distinção entre o
verdadeiro e o falso, nem como se poderá conceber todo o resultado que a
ciência traz.
Ele mostra um
relativismo naquilo que é a função social da Educação e ele afirma que esta
poderá ser tomada apenas a partir da “utilidade imediata do conhecimento
científico, na esfera de necessidades particulares, individuais e isoladas, por
vezes mesquinhos, de pessoas, grupos ou nações” (CUNHA, 1993: 94).
Bem vistas as coisas, o
ambiente social, o gosto pela natureza, pela beleza, a maneira como o indivíduo
interage perante os outros pode, sobremaneira, favorecer àquilo que é o
desenvolvimento das capacidades educativas para aquele que ainda está em
momento de poder adquirir a Educação como factor de seu crescimento. Portanto,
pode-se afirmar que as coisas que temos como certas, sem questionarmos ou
reflectirmos, são exactamente aquelas que determinam o nosso pensar consciente
e decidem as nossas conclusões. E estes hábitos que estão abaixo do nível da
reflexão, são aqueles que se formam no permanente dar e receber das nossas
relações com os outros indivíduos dentro do meio onde vivemos.
3. 2. A Escola como Ambiente Especial
Os mais adultos, regra
geral, não educam directamente a pessoa mas sim, indirectamente por meio do
ambiente onde o sujeito se encontra. Portanto, “as escolas, todavia, continuam
sendo o exemplo típico do meio especialmente preparado para influir na direcção
mental e moral dos que a frequentam” (DEWEY, 1959: 20), quer dizer, a escola é
um ambiente muito especial criado pela sociedade para levar avante a missão da
educação, como função social.
Isto surge, porque,
devido à complexidade da sociedade, urge padronizar alguns aspectos
importantes, pondo-os em arquivos e, ao surgir a escrita, vê-se que não é algo
inato ao homem, mas sim, algo adquirido e a escrita não pode ser aprendida numa
relação casual entre indivíduos.
A escola, como um
ambiente especial e ordinário das associações, possui três funções especiais: a
primeira função afirma que, ainda que a maior parte das coisas que o homem sabe
aprende na escola, porém, uma civilização complexa não pode ser assimilada de
uma forma total, assim, para o seu estudo, é necessário dividí-la em partes e
estudar cada parte. Assim, a escola, sendo um ambiente especial, deve fornecer
um ambiente simplificado, “seleccionando os aspectos mais fundamentais, e que
sejam capazes de despertar reacção da parte dos jovens (…) na progressão,
utlizando-se os elementos adquiridos em primeiro lugar como meios de
conduzí-los ao sentido e compressão real das coisas mais complexas” (DEWEY,
1959: 21).
A segunda função
preconiza que o meio escolar tem como função, eliminar os aspectos que não
trazem vantagem dentro do ambiente escolar e que isto não chegue a influenciar
os hábitos mentais dos indivíduos. A escola deve abrir um espaço para o aluno
entrar em acção. Portanto, é dever da escola omitir as coisas perniciosas à
vida do aluno, fazendo com que com o andar do tempo, a socidade veja a
necessidade de não transmitir e conservar todas as suas realizações, mas sim,
unicamente as que importam para uma sociedade futura mais perfeita. Por fim, a
última função advoga que a missão deveras da escola, escolher os elementos do
ambiente social e proporcionar oportunidades para cada indivíduo de modo que
fique longe das limitações do seu grupo social e proporcionar, desta feita, um
amplo estudo com mais oportunidades (DEWEY, 1959: 22).
Isto tudo é justificado
pela ideia segundo a qual um grupo social e determinado fornece meios
educativos para todo o indivíduo que participa da sua actividade colectiva ou
conjunta. Portanto, “a escola tem, igualmente, a função de coordenar, na vida
mental de cada indivíduo as diversas influências dos vários meios sociais em
que ele vive. Um código prevalece na família; outro, nas ruas; um terceiro, nas
oficinas ou nas lojas; um quarto, nos meios religiosos. Quando uma pessoa passa
dum destes ambientes para o outro, fica sujeita a impulsos contraditórios e
acha-se em risco de desdobrar-se em personalidades com diversos padrões de
julgar e sentir, conforme as várias ocasiões. Este risco impõe à escola uma
função fortalecedora e integradora” (DEWEY, 1959: 23).
Toda a Educação, para
ter efeitos, precisa dum meio e este dá oportunidades e condições para que os
indivíduos desenvolvam as suas actividades que os dignificam como seres vivos.
Deste modo, para Dewey,
não há dúvida que a missão da escola é pôr em
prática o método da Educação Activa ou da Escola Nova, e este
método consiste em desenvolver na criança a espontaneidade inventiva,
ajudando-a, desde cedo, a fazer por si mesma, a pensar por si mesma. Segue-se
que a Educação deve ter por finalidade, formar personalidades livres, capazes
de alargar ulteriormente a esfera da acção e da experiência da humanidade, de
tornarem cada vez melhores, as condições da existência e da associação (MONDIN,
1983: 160).
Portanto, a escola,
para Dewey tem também como função, coordenar as diversas influências no
carácter de cada indivíduo, dos vários meios sociais de que este faz parte.
Assim, há vários códigos que o indivíduo encontra, tanto na família, na rua, na
escola, na Igreja, etc. Quando a pessoa muda de um meio para o outro, fica
sujeita a forças antagónicas, e corre o risco de se desintegrar num ser com
diferentes padrões de juízo e emoções em diferentes ocasiões e lugares onde se
deverá encontrar.
4. A Educação Conservadora e Progressiva
4. 1. A Educação como Formação
Segundo a teoria da
Educação, como formação, a Educação não é tida como um processo onde se
desenvolvem as qualidades internas do aluno, nem o seu aperfeiçoamento, antes,
porém, é “ a formação do espírito pelo estabelecimento de certas associações ou
conexões de conteúdos por meio de matéria apresentanda do exterior” (DEWEY,
1959: 75), neste caso, ela se efectua através da instrução, e ela deve formar o
espírito.
O
melhor representante da teoria da Educação como formação é Johann
Friedrich HERBART (1776-1841)[9],
onde
ele não aceita, por completo, a existência de faculdades inatas, já que “o
espírito é simplesmente dotado de poder de produzir várias qualidades da
reacção segundo várias realidades que actuam sobre ele” (DEWEY, 1959: 75), e
estas reacções são tidas como representações; como Herbart o ensinar tornou-se
uma actividade consciente com o objectivo e processo bem definidos.
Herbart trouxe ao
debate, problemas relacionados com o objecto e as matérias de estudo,
“apresentou os problemas do método sob ponto de vista da conexão dos mesmos
como material de ensino, o método tinha de cuidar do modo e da sucessão com que
o novo material deveria ser apresentado para assegurar sua conveniente
interacção com o velho” (DEWEY, 1959: 77). Contudo, o erro grave desta
concepção consiste precisamente em não considerar no homem a existência de
funções activas e especiais que se desenvolvem pela redireção e combinação em
que entram quando se põe em contacto com o seu ambiente.
Deste modo, a fraqueza
do pensamento deste autor, consiste no facto de ele tomar em linha de conta
tudo o que é educativo, mesmo a essência da Educação, que é a energia vital.
Assim, todo o processo educacional consiste na formação do carácter da personalidade
mental e moral do indivíduo, contudo, a formação tem em vista a selecção e
coordenação das actividades inatas, de modo a possibilitar a utilização de todo
o material do ambiente social. Assim, a formação é tida como um processo de
reconstrução e reorganização.
Portanto, toda a
Educação forma o carácter, mental e moral, e esta formação consistirá na
seleção e na coordenação das actividades inatas, de modo a poder utilizar os
conteúdos do estudo dentro do meio social. Além disso, a formação não é apenas uma
formação de actividades inatas, mas toma lugar através delas.
4. 2. A Educação como Recapitulação e Retrospecção
Tudo quanto acontece no
desenvolvimento da formação do indivíduo é uma recapitulação biológica e
cultural e o indivíduo precisa somente repetir consoante os diferentes
momentos da vida que ele passa. A primeira repetição se dá fisiologicamente e
esta é terminada com a repetição na Educação como sendo a última.
Houve uma crença no
passado que a criança se desenvolvia segundo vários estágios de desenvolvimento
onde durante o tempo, iria desenvolver a sua condição mental e moral e
desenvolveria também seus instintos até conseguir chegar a um estado cultural
que se identifica com os seus semelhantes e tido como adulto, e isto só é
condicionado através da Educação essencialmente retrospectiva, “de que ele
encara sobretudo, o passado especialmente, os produtos literários do passado, e
de que o espírito só é convenientemente formado na proporção em que se modela
sobre a herança espiritual do passado” (DEWEY, 1959: 79), e isto só teve
influências na Educação do nível superior.
Aqui, o escopo da
Educação deveria ser o de facilitar a observação dos vários estágios de
desenvolvimento, de modo a emancipar o indivíduo para não permanecer nos
valores do passado, e libertá-lo da necessidade de reviver o passado, do que
levá-lo a uma reinterpretação daquilo que já terá acontecido.
Neste caso, a Educação
como reconstrução, surge na ideia de que o ideal de crescimento resulta da
concepção de que a Educação é uma constante reorganização ou reconstrução da
experiência passada. Tem sempre um fim imediato, enquanto a actividade é
educativa e alcança esse fim na transformação directa da qualidade da
experiência. Assim, a Educação é essa reconstrução ou reorganização
da experiência que se acrescenta ao significado da experiência e que aumenta a
capacidade para dirigir o curso da experiência subsequente..
Portanto, a primeira
coisa que um educador deverá fazer é procurar fazer um estudo cuidadoso das
aptidões e deficiências inatas de um indivíduo e depois disto, oferecer a este
indivíduo, um ambiente que favoreça para que toda esta energia existente
desperte e funcione. Assim, o que faz com que haja uma relação entre a
hereditariedade do indivíduo e o meio social onde ele vive é a linguagem.
A Educação pode ser
concebida, retrospectivamente, quer com base no futuro, quer dizer, pode ser
tratada como um processo de acomodar o futuro ao passado ou utilizar o passado
como recurso num futuro em desenvolvimento. O primeiro encontra os seus modelos
e padrões no que aconteceu no passado. O espírito pode
ser visto como um grupo de matéria que resulta da presença de certas coisas.
Neste caso, as primeiras representações constituem o material ao qual os
últimos vão ser assimilados.
4. 3. A Educação como Reconstrução
Na maior parte das
vezes, a Educação é tida como um constante reorganizar da nossa experiência que
nunca acaba, já que sempre estamos a nos educar cada dia e estamos deveras a
reconstruir e a refazer o que nós já conhecemos, de modo que haja uma
transformação directa da qualidade daquilo que faz parte da experiência.
No âmbito da Educação
como reconstrução da experiência, a Educação é definida como “uma reconstrução
ou reorganização da experiência, que esclarece e aumenta o sentido desta e
também a nossa aptidão para dirigirmos o curso das experiências subsequentes”
(DEWEY, 1959: 83).
É importante considerar
que de tudo o que o homem aprendeu desde criança, jovem ao adulto, é uma
experiência e também toda a experiência é enriquecida por todas as percepções e
conexões de tudo o que encaramos na vida. Tudo inicia num tom muito leve e aos
poucos, ganhamos a experiência. Toda a actividade ligada à Educação, faz com
que o indivíduo conheça o que anteriormente não sabia, exemplo, “uma criança
queima-se ao pôr a mão numa chama. De então por diante, ela sabe que certo acto
táctil em conexão com certo acto visual (e vice-versa), significa calor e dor”
(DEWEY, 1959: 83).
Ainda que o aumento da
capacidade de direcção ou regulação das experiências subsequentes faça parte de
uma experiência educativa, contudo, proporciona conhecimentos e aumenta as
aptidões nos indivíduos, e isto se diferencia de uma actividade rotineira.
Tudo o que aprendemos,
fazêmo-lo inconscientemente, sem tomar em conta que estamos a fazer assim, sem
esperança de um fim pre-determinado e se calhar sem perceber o alcance daquilo
que estamos a fazer. Portanto, “alguém pode aprender fazendo coisas que não
compreende; até nas actividades mais inteligentes fazemos muita coisa sem
atenção consciente (…)” (DEWEY, 1959: 84). Contudo, somos obrigados a
aprender e só nos damos conta através da observação dos resultados que não
esperávamos. Daí, existir, segundo Isabel Marnoto, um paradoxo na aprendizagem,
na medida em que a pessoa adquire o saber fazer, fazendo, assim, “a
aprendizagem distingue-se da informação por implicar a actividade do sujeito e
por não ser possível senão através dela. Mas que actividade? Aquela mesmo que
se deve aprender. As coisas que temos de aprender para as fazermos, é
fazendo-as que as aprendemos. E é nisto que reside o paradoxo; temos de fazer o
que não sabemos fazer para aprender a fazê-lo! É trabalhando na forja que se
vem a ser ferreiro, mas como forjar, se não se é ferreiro? É nisto que reside a
essência da aprendizagem, na medida em que temos de fazer o que não sabemos
fazer, para podermos fazer bem e neste caso, estaríamos a aprender a fazer” (
MARNOTO, 1989: 38).
A rotina também é
considerada como uma acção automática e que também aumenta a habilidade para
fazer algo e que tenha um efeito educativo, ainda que não amplie horizontes,
fazendo com que o indivíduo fique limitado no horizonte da aprendizagem.
A experiência, sendo
algo que ajuda o indivíduo a aperfeiçoar a sua aprendizagem, ela como um
processo activo, prolonga-se no tempo, projectando luz para o futuro e que o
resultado final possa objectivar a significação do antecendente, mas a
experiência que é tida como um todo, determina uma disposição de modo que as
coisas possuam sua significação. Toda a experiência ou actividade assim
realizada, é educativa, já que a Educação não prescinde da experiência.
A reconstrução da
experiência pode ser social ou pessoal, mas nas sociedades progressistas, isto
não é bem assim. As sociedades progressistas, “se esforçam por modelar as
experiências dos jovens de modo que, em vez de reproduzirem os hábitos
dominantes, venham a adquirir hábitos melhores, de modo que a futura sociedade
adulta, seja mais perfeita que as suas próprias sociedades actuais” (DEWEY,
1959: 85). Assim, neste ponto de vista, a Educação é um meio de modo que o
homem possa realizar suas experiências e a Educação, ao invés, de fazer
desenvolver o homem individual, fá-lo também à sua sociedade.
Entretanto, a Educação
pode ser percebida retrospectivamente, quando se considera como um processo de
adaptar o futuro ao passado e prospectivamente como utilização do passado como
um recurso para o desenvolvimento do futuro.
5. A Concepção Democrática da Educação
5. 1. As Implicações das Associações Humanas
A Educação é uma função
social que procura assegurar a direcção e o desenvolvimento dos imaturos por
meio da sua participação na vida da comunidade a que pertencem, e esta
Educação varia de acordo com o tipo de vida ou qualidade que cada grupo tem,
assim, todos os homens associam-se, de todos os modos e para todos os fins,
dentro da interacção social.
Toda a Educação que um
grupo administra tem a função de socializar os seus membros, embora a qualidade
e o valor desta socialização possa depender dos hábitos e aspirações do grupo.
Todos os membros da
sociedade devem dispor de oportunidades iguais para aquele mútuo dar e receber
dentro do grupo. Deveria existir maior variedade de empreendimentos e
experiências de que todos participassem. Os homens associam-se de diversas
maneiras e pelos mais variados objectivos. Um só homem envolve-se em vários e
diversos grupos, nos quais os seus associados podem ser bastante diferentes.
Assim, a vida familiar
pode ser marcada pela exclusividade, suspeita, e ciúmes em relação aos de fora,
e, no entanto, ser unido de amizades e ajuda mútua entre os seus membros.
Qualquer Educação dada por um grupo tende a socializar os seus membros, mas a
qualidade e o valor da socialização depende dos hábitos e objectivos do grupo,
e, neste caso, o indivíduo se socializa dentro do grupo de que faz parte.
5. 2. O Ideal Democrático
Numa associação existem
interesses comuns e, por sua vez, recíprocos, mas também há um isolamento que
põe o indivíduo como anti-social e estes elementos nos remetem à democracia. A
participação nos interesses comuns e a confiança no reconhecimento destes
interesses comuns e recíprocos são factores de regulação e direcção social que
fazem com que haja um ideal comum e democrático.
Entretanto, existe uma
cooperação livre entre os grupos sociais e também a mudança de hábitos sociais,
uma contínua readaptação para as situações concretas criadas por estas
mudanças. São estes dois factores que caracterizam uma sociedade democrática
constituída. Isto é, “o primeiro significa não só mais numerosos e variados de
participação do interesse comum, como também confiança no reconhecimento de
serem, os interesses recíprocos, factores de regulação social. E o segundo não
só significa uma cooperação mais livre entre os grupos sociais (…) como
também a mudança de hábitos sociais, sua contínua readaptação para ajustar-se
às novas situações criadas pelos vários intercâmbios” (DEWEY, 1959: 93)
No processo
educacional, a participação na vida e interesses da sociedade, o progresso ou a
readaptação às novas situações faz com que haja uma comunhão democrática mais
interessada dentro da Educação.
Uma sociedade
democrática é aquela em que não se aceita o princípio da autoridade externa,
mas aceita o interesse voluntário e a Educação levará o indivíduo a esta
autonomia, para tal, uma democracia é mais do que uma forma de governo, é uma
forma de vida associada, de experiência conjunta e mutuamente comunicada
(DEWEY, 1959: 93).
Entretanto, numa
sociedade democrática, a extensão no espaço de número de indivíduos que
participam num interesse de modo que cada um tenha de remeter a sua própria
acção à dos outros, e considerar a acção dos outros para orientar e direcionar
a sua própria, é equivalente à quebra de barreiras de classe, de raça e
território, que impede os homens de se aperceberem de toda a importância da sua
actividade socializadora.
Uma sociedade
democrárica deve fazer com que as oportunidade intelectuais sejam acessívevis a
todos os indivíduos, com iguais facilidades para os mesmos. Deve se preocupar
de modo a que seus membros sejam educados de modo a possuirem iniciativas
individuais e em poder se adaptar.
Platão no República
diz que toda a sociedade deve-se achar organizada estavelmente, quando cada
indivíduo faz aquilo para o qual tem especial aptidão, de modo a ser útil aos
outros e que é tarefa da educação descobrir estas aptidões e exercitá-las
progressivamente para seu uso social.
A Educação, para
Platão, deve seleccionar os indivíduos, descobrindo aquilo para que cada um
serve e proporcionar-lhe os meios de determinar a cada um, uma própria tarefa.
E é obrigação da Educação, em Platão, descobrir estas aptidões e
progressivamente treiná-las para o uso social, isto é, “ninguém exprimiu melhor
que ele, o facto de que uma sociedade se acha organizada estavelmente, quando
cada indivíduo faz aquilo para o qual tem especial aptidão, de modo a ser útil
aos outros ( ou a contribuir em benefício de tudo o que pertence) e que a
tarefa da educação se limite a descobrir estas aptidões
e a exercitá-las progressivamente para o seu uso social”
(DEWEY, 1959: 94s). Assim, o lugar da pessoa na sociedade deve ser determinado
no processo da educação. Em Platão só há verdadeira Educação quando existe um
Estado Ideal e a tarefa da Educação se limita a conservar este ideal.
Para Platão, educar é
formar um homem virtuoso. Portanto, no livro VII da “República”, ele
compara o mundo sensível a uma caverna onde os homens se encontram acorrentados
e ofuscados pelas sombras projectadas nas paredes. O homem, no interior da
caverna, caracteriza-se pelo seu próprio estado de ignorância. Neste caso, a
Educação conduz a alma humana para fora da caverna.
Para compreender o que
Platão entende por Educação deve-se analisar o seu conceito sobre a virtude.
Educar é formar o homem virtuoso. Somente sendo virtuoso, é que o homem poderá
ser feliz, já que a virtude faz referência àquilo que é belo, bom e harmonioso
e “quem pratica a acção justa necessariamente realiza um acto belo”, (TEIXEIRA,
1999: 35).
A Educação é a formação
que desde a infância dirige o homem para a virtude, infundindo-lhe o desejo e
ilusão de chegar a ser um cidadão perfeito e justo, que saiba mandar e obedecer
conforme a justiça. A justiça, para cada um, é cumprir a sua própria função,
“que cada um deve ocupar-se de uma função na cidade, aquela para a qual a sua
natureza é mais adequada. Além disso, executar a tarefa própria e não se
meter nas dos outros” ( PLATÃO, 1949: 433a).
Platão está preocupado
com uma Educação como condição e possibilidade privilegiada da formação do
homem integral. A Educação, para Platão, tem a pretensão de ajudar o homem a
discernir uma vida mais honesta, responsável, justa e comprometida, na qual
possibilita escolher o melhor para o bem dos cidadãos.
No que diz respeito à
Educação diz que ‘‘os indivíduos das classes dominantes são guerreiros na
juventude e políticos na velhice, de que é exemplo Nestor, que, embora não
combata, está sempre presente no campo da batalha, dando conselhos e sendo
obedecido’’ (MANACORDA, 2006: 42). Por isso, ele teoriza, projectando uma
Educação dos guerreiros, para escolher, entre estes, aqueles que, na velhice,
serão os governantes – filósofos.
O ideal individualista
consiste em fornecer ao indivíduo, o método e as matérias a ser estudadas,
pondo de lado tudo o que consistiu na socialização deste, isto é, os dotes que
a natureza fornece ao homem. Portanto, só com a conversão do indivíduo de tudo
o que o levava a ser anti-social é que fará com que a sociedade seja
compreensiva e progressista.
A Educação não se pode
fixar só na natureza do indivíduo, pondo de lado a sua situação social, mas
sim, a Educação deve ser confiada à sociedade, a qual deverá criar uma
instituição própria, que é a escola como lugar apropriado para se poder educar
o homem.
Só através do ideal
democrático da escola progressiva é que se pensou em criar as escolas públicas
para a formação do homem de amanhã. Assim, o intuito fundamental da Educação
era para a formação, não do homem, mas sim do cidadão, já que este participará
na vida pública da sociedade.
Entretanto, mediante
uma gama variada de métodos educativos, chega-se a uma conclusão que, quem
deverá orientar a educação para que tenhamos bons cidadãos, deverá ser um homem
esclarecido no que concerne também àquilo que são as suas iniciativas
particulares. Assim, “toda a cultura principia com iniciativas particulares e
depois se propaga na sociedade. Só é possível à natureza humana aproximar-se
gradualmente de seus fins, por meio dos esforços de pessoas capazes de compreender
o ideal de uma futura condição melhor” (DEWEY, 1959: 102s).
Platão, ao falar da
Educação, concebe-a como uma conciliação entre o cultivo das aptidões pessoais
e também a coesão e estabilidade sociais, isto porque o indivíduo não só deve
cultivar as suas aptidões pessoais, deixando de lado o meio social onde ele
vive, ainda que a sociedade do seu tempo fosse dividida em castas sociais.
Neste caso, uma
sociedade é democrática quando “… prepara todos os seus membros para, com
igualdade, aquinhoarem-se de seus benefícios e em que assegura o maleável
reajustamento de suas instituições por meio da interacção das diversas formas
da vida associada. Essa sociedade deve adoptar um tipo de Educação que
proporcione aos indivíduos um interesse pessoal nas relações e direcções
sociais, e hábitos de espírito que permitem mudanças sociais, sem o
ocasionamento de desordens” (DEWEY, 1959: 106).
Portanto, uma sociedade
democraticamente constituída, deve, não só ser numerosa e variada nos mais
pontos de interesse comuns partilhados, mas também possuir maior confiança no
reconhecimento dos interesses mútuos como um factor de controle social. Deve,
também, não só haver interacção entre os grupos sociais, já que estão isolados
até ao ponto em que a interacção possa se manter numa separação, mas também,
haver mudança nos hábitos sociais, no que tange ao seu reajustamento através do
enfrentar de novas situações produzidas por variadas relações.
6. Objectivos da Educação
Todo o processo
educacional deve preconizar um objectivo ou um fim a atingir e isto significa
que o educador deve aceitar a responsabilidade das observações dadas pelos
mentores educacionais, isto é, os pais e encarregados de educação devem aceitar
as previsões e disposições necessárias para o exercício duma função. Em Dewey,
“ter objectivos ou fins significa a aceitação de responsabilidades das
observações, previsões e disposições necessárias para o exercício duma função
(…) todo o objectivo tem valor, na medida em que auxilia a observação, a
escolha e a elaboração de planos (…) quando no dedicamos a algumas
actividades” (DEWEY, 1959: 116).
Portanto, todo o
objectivo preconizado na Educação ou não, tem um valor, posto que, ajuda à
observação, à escolha e à elaboração de planos e projectos, em todo o momento.
Contudo, uma ideia abstracta da Educação não possui nenhum objectivo, porém, as
pessoas, educadores, pais e encarregados de educação e professores, são os que
os têm e estes objectivos são infinitamente variados, e, neste caso, dependem
do tipo de educandos ou crianças e que esta pode variar à medida que as
crianças vão crescendo e deveras a experiência do educador que as ensina é
fundamental neste processo.
Segundo OZMON e CRAVER
(2004: 151s), os objectivos da Educação, visam levar a criança ao crescimento,
já que o crescimento é a característica da vida, a Educação está unificada com
o crescimento. Ela não tem qualquer fim além de si mesmo. Com relação a isso,
Dewey estava falando do crescimento como uma ampliação da capacidade de
compreender com a experiência e de dirigir a experiência futura de uma forma
significativa. Assim, a Educação deve libertar as actividades das pessoas
tornando-as mais capazes de dirigir a vida social e individual, porque apenas
desse modo pode ocorrer o crescimento adequado na vida democrática.
7. Características dos Bons Objectivos Educacionais
Tudo quanto se refere a
um objectivo deve atingir, sobremaneira, os alvos da educação, e, neste caso,
os objectivos educacionais devem ser levados em conta com a perfeição dos
actores da Educação. É impensável uma Educação sem nenhum objectico a atingir,
senão esta não teria nenhum sentido.
Nesta perspectiva,
Dewey, advoga aqueles objectivos que são essenciais na prossecussão da
Educação, e que esta Educação, ainda que seja formal, mas também deve ser
democrática, capaz de levar os indivíduos a uma convivência e interacção mútua
de modo que a experiência de um, seja algo útil para o outro e que a vida
associada leve ao enriquecimento contínuo. Portanto, Dewey advoga que um
objectivo educacional deve-se alicerçar nas actividades e necessidades
intrínsecas (inclusive os instintos inatos e os hábitos adquiridos do indivíduo
que vai ser educado). Esta tendência favorece a preparação, pondo de lado as
aptidões já existentes e fixar-se como fim a realização ou a responsabilidade.
Neste caso, deve-se evitar também a tendência de propor objectivos uniformes
que não se coadunam com as aptidões especiais e exigências de um indivíduo com
o esquecimento da circunstância de que toda a aprendizagem é coisa que acontece
a um indivíduo em lugar e tempo determinados ( DEWEY, 1959: 116s).
Neste caso, o objectivo
educacional deve ser passível de ser convertido num método de cooperação com a
actividade daqueles que recebem a instrução. Isto implica que um objectivo deve
preconizar um meio necessário para a expansão e organização de suas aptidões.
Não deve acontecer que um professor transmita isto taxativamente como mandam os
seus superiores hierárquicos.
Muito raramente é o
professor suficientemente livre das imposições da autoridade fiscalizadora,
sobre métodos a adoptar, programas de estudos, etc. Para poder deixar seu
espírito comunicar-se de perto com o espírito do aluno e com as matérias de
estudo. Esta desconfiança da experiência do professor reflecte-se, por
conseguinte, na falta de confiança nas respostas ou reacções dos alunos.
Em todo o caso,
enquanto não se puder reconhecer o critério democrático da importância
intrínseca de toda a experiência que se desenvolve, sentir-nos-emos
intelectualmente desnorteados pela exigência da adaptação a objectivos
exteriores.
Portanto, os educadores
devem-se pôr em campo contra os fins que se alegam serem gerais e últimos. Toda
a Educação só tem valor educativo quando o seu conteúdo é imediato, tem um
objectivo verdadeiramente geral que amplie a perspectiva de espírito,
estimulando o indivíduo a tomar em conta o viver em associação, quer dizer, uma
observação de meios e recursos mais vastos e flexíveis (DEWEY, 1959: 118s).
8. Valores Educacionais
8. 1. A Natureza do Senso Real ou da Apreciação Directa
Em todo o processo
educacional subsistem vários valores que levam o Processo de Ensino e
Aprendizagem avante, como a utilidade, a cultura, os conhecimentos
informativos, a preparação para a eficácia social, a disciplina ou a capacidade
mental, etc.
Assim, neste processo
educacional a experiência directa é muito fundamental e ela deve-se relacionar
com o material que simboliza a sua vida ligada à Educação. Antes que o ensino
possa com segurança, começar a comunicar factos e ideias por meio de sinais, a
escola deve oferecer situações autênticas e verdadeiras onde a participação
pessoal do educando incute a compreensão da matéria e dos problemas que esta
situação possa suscitar.
Portanto, tomando a
experiência como valor importante, “sob o ponto de vista do educando, as
experiências resultantes terão valor por si mesmo; e do ponto de vista do
professor, serão também meios de suprir a matéria necessária para a compreensão
da instrução que se transmite por ‘sinais’, símbolos e do provocar as
atitudes de receptividade mental necessária para o interesse pela matéria
simblicamente transmitida” (DEWEY, 1959: 256).
Ao falar-se da natureza
dos padrões de valor, refere-se que todos os adultos, adquiriram, durante a sua
formação e experiência educacional, algumas medidas de valor para as várias
experiências de que passaram, assim, “a aprenderam a considerar como coisas
moralmente boas a honestidade, a amabilidade, a perseverança e a lealdade (…)
aprenderam também certas regras para estes valores: a regra áurea para a moral;
a harmonia, o equilíbrio, etc, a proporcionalidade de elementos nas obras
estéticas; a objectividade, a clareza, a sistematização nos trabalhos
intelectuais” (DEWEY, 1959: 257).
Estes princípios aqui
referenciados são de grande importância, posto que são equivalentes aos padrões
para se possuir o valor das novas experiências, onde os encarregados e
professores ensinaram directamente aos jovens.
Afirma-se que em todos
os domínios, a imaginação é um meio eficaz para se poder efectuar a apreciação
directa, e esta participação da imaginação é uma coisa que faz com que a
actividade não seja um mero mecanicismo. Assim, para não se cair num método
mecânico no processo de ensino, é preciso fazer um adequado reconhecimento do
papel da imaginação como legítimo intermediário para se poderem compreender
todas as espécies de coisas patentes dentro do campo da realidade física
directa. Portanto, “o valor educativo dos trabalhos manuais e dos exercícios de
laboratório, assim como o dos jogos, depende da extensão em que auxiliam a dar
o sentido da significação daquilo que se está fazendo” (DEWEY, 1959: 260).
8. 2. Os Valores dos Estudos
Valorizar um estudo é
atribuir um sentido, uma importância, uma estimação a todo o processo
educacional e, neste sentido, os estudos têm grande importância, posto que
ajudam a julgar as coisas pelo seu valor. Portanto, no que respeita à Educação,
é difícil categorizar os valores, a partir daqueles com menos valor, para os
que têm mais valor. Assim, os valores dos estudos são tidos como meios para se
alcançar a verdadeira significação das coisas e o critério para sua avaliação
deve ser tomado mediante a especial situação em que irão ser usados.
Em matérias da
Educação, não se deve ensinar a ciência como um valor em sí mesmo, em toda a
vida do estudante, porém, como algo que tem valor devido à sua excepcional
contribuição para a experiência da vida do estudante.
O trabalho escolar é
importante para segregar e organizar valores que se torna difícil
categorizá-los, porém, a espécie de experiências em que o trabalho das escolas
contribui é marcado “pela capacidade de execução em face dos recursos e
obstáculos encontrados (eficiência); pela sociabilidade, ou interesse pelo
contacto directo com outras pessoas; pelo gosto estético ou capacidade de
apreciar a excelência artística em alguns, pelo menos, de suas formas
clássicas; pelo método intelectual ou interesses educados para alguma espécie
de realização científica; e pela sensibilidade aos direitos e pretensões
alheias” (DEWEY, 1959: 267), assim, a experiência é importante na atribuição
dos valores imediatos e é fundamental para determinar os valores instrumentais
que possam provir dos estudos.
Ao isolarem-se os
grupos e classes sociais, corre-se o risco de se atribuir diferentes valores a
cada estudo e também considerar o currículum, no seu conjunto, como uma espécie
de agregação que se forma pela justaposição de valores isolados. Assim, a
Educação tem uma missão fundamental dentro dum grupo social e democrático, que
é combater a segregação de modo que os vários interesses possam, na verdade,
auxiliarem-se e ajudarem-se mutuamente.
9. Aspectos Vocacionais da Educação
9. 1. O Papel dos Objectivos da Educação
A vocação é uma
propensão, uma direcção das actividades da vida, que tudo se torna fundamental,
por causa das consequências que dela advêm e úteis às pessoas que a nós estão
ligadas. O erro no processo educacional seria educar e preparar as pessoas para
uma única profissão ou habilidade, já que ninguém é unicamente artista, sem
poder ser outra coisa além disso.
A Educação deve
suscitar nos educandos várias vocações, para se evitar que a função da
Educação seja unicamente de estimular uma certa tendência, porém, que o
indivíduo tenha conhecimentos em várias áreas.
“Uma ocupação é uma
única coisa que estabelece equilíbrio, entre a capacidade distintiva de um
indivíduo e os serviços sociais do mesmo” (DEWEY, 1959: 340). Neste caso, a
pessoa chega a alcançar a felicidade, quando descobre que ela é apta a fazer e
que se cria uma oportunidade para tal.
Diz-se que houve uma
ocupação acertada, se se descobriu aquilo que a pessoa, pelas suas tendências,
é apta a desempenhar e que a sua acção deve levar a uma satisfação.
Platão é de
referência, ao estabelecer um princípio duma filosofia pedagógica, segundo a
qual, “a tarefa da Educação é de descobrir o que cada pessoa pode fazer bem, e
exercitá-la para se assenhorar dessa espécie de excelência, posto que esse
desenvolvimento asseguraria também de modo mais harmónico, a satisfação das
necessidades sociais” (DEWEY, 1959: 341). Entretanto, Dewey também refere, no
mesmo aspecto, já que o educador, ao respeitar os pé-requisitos, a experiência
anterior do aluno, aquilo que ela sabe fazer e melhor, então deve orientá-lo em
função daquilo que são as suas inclinações e se o professor se descuida disto,
o processo de ensino e aprendizagem será frustado da parte do aluno, posto que,
não se terão descoberto as tendências e os gostos do aluno.
Entretanto, a Educação
Democrática, tem em vista estes aspectos, dentro duma vida partilhada, ver o
que é que o aluno sabe fazer melhor e orientá-lo em função dos seus gostos, o
que também é advogado por Platão, ao afirmar que o educador deve descobrir o
que a criança ou aluno sabe, e fazer o exercício em função disso, para que ela
ganhe gosto no que faz.
Uma ocupação é uma
actividade seguida e contínua visando um fim, portanto, a Educação por meio da
ocupação conduz ao saber e tem a exigência de produzir alguns resultados à
vista. Por isso é que se diz que a vocação, em matérias de Educação, visa um
desenvolvimento intelectual e moral. Convidam-se os educandos para que a
preparação vocacional dos adolescentes seja de maneira que se dê um acesso
contínuo à reorganização e reajustamento dos objectivos e dos métodos
educacionais.
9. 2. Oportunidades e Perigos Actuais
No passado, era costume
afirmar que a Educação era mesmo de vocação e isto era visível na prática onde
as massas eram educadas utilitariamente e chamava-lhe mais aprendizado do que
educação, ou o ensino por experiência, “as escolas dedicavam-se ao ensino da
leitura, escrita e contas, na proporção em que as espécies de trabalho exigiam
seu conhecimento” (DEWEY, 1959: 344).
Mas a Educação para
aqueles que eram detentores de poderes era mais vocacional e não tinha em conta
a preparação para a técnica em vista a ganhar a remuneração pelo trabalho
feito.
Há referências de
numerosas causas para o actual encarecimento consciente da educação vocacional,
neste caso, existe nas chamadas sociedades democráticas, um grande gosto pelas
trabalhos manuais, pelas ocupações comerciais e o prestar algum serviço que
seja útil à sociedade. É condenado, deveras, o ser ocioso, sem procurar nenhuma
ocupação, mas de grande grado àquele que se ocupa em algum trabalho e, neste
caso, a responsabilidade social é importante e também a capacidade que o
indivíduo tem de fazer algo.
Por outro lado, a
indústria e o comércio ganham não só uma estima doméstica como também mundial,
onde há, cada vez mais um maior número de pessoas que a ela se entregam. Assim,
com as descobertas científicas, a indústria deixou de ser algo sobre a
experiência, mas sim algo que estimula o avanço da ciência em função de poder
resolver grandes problemas que requeiram o uso da inteligência e devido a este
desenvolvimento, a ciência teve que agradecer os eforços que a indústria teve
no tocante ao seu desenvolvimento. Assim, “torna-se imperativa a necessidade de
uma Educação que familiarize os operários com os fundamentos e alcances
científicos e sociais da sua actividade, porque os que não tiveram recebido,
degradar-se-ão inevitavelmente ao papel de apêndice das máquinas com que
trabalham” (DEWEY, 1959: 347). Entretanto, tudo quanto faz parte da
responsabilidade intelectual do indivíduo concernente ao trabalho, deve ser
executado pela escola.
Com estes factos, Dewey
conclui que todo o processo educacional visa uma reconstrução de todas as
matérias e métodos escolares para que as actividades a ser desenvolvidas sejam
eficazes. É através do processo educacional que se molda o tipo da sociedade
que se pretende atingir.
10. Filosofia da Educação
A Educação, sendo um
processo por meio do qual um grupo humano, mediante uma interacção contínua
sobrevive, então, pode-se considerar como um processo em que a experiência é
renovada através da transmissão do universo cultural dos mais velhos aos mais
novos, e isto é feito intencionalmente de modo que se perpetue esta dinâmica
social.
As sociedades que se
pautam por este tipo de Educação, são tidas como democráticas por possuir
“maior liberdade que a concedem aos seus componentes e à necessidade consciente
de incutir nos indivíduos um interesse conscientemente socializado, em vez de
confiar principalmente na força dos costumes que actuam sob a direcção de uma
classe superior” (DEWEY, 1959: 355).
Os problemas
filosóficos advêm dos conflitos, interacções e problemas que procuram responder
na vida social, neste caso “tais problemas são coisas como as relações entre o
espírito e a matéria, o corpo e alma, a humanidade e natureza física, o
individual e o social, a teoria (ou conhecimentos) e a prática (ou acções)”
(DEWEY, 1959: 357).
A filosofia surge para
compreender os problemas provindos da vida em sociedade na sua globalidade e
totalidade. Portanto, o que caracteriza a filosofia é a capacidade de poder
aprender e encontrar significados até das desagradáveis vicissitudes da vida e
modificar o aprendido numa capacidade de poder aprender mais. O valor da
filosofia não consiste em oferecer soluções, mas sim em poder analisar um facto
ou um problema na tentativa de poder encontrar um método eficaz para poder
responder a este problema. Assim, “pode-se quase definir a filosofia como o
pensamento que se tornou de si mesmo – que generalizou seu lugar, função e
valor na experiência” (DEWEY, 1959: 359).
Embora na sociedade
surjam problemas de vária ordem e assim tidos como genéricos, os filósofos são
os únicos capazes de formularem uma linguagem técnica e própria, diferente
daquela que a sociedade comum usa, em vista a responder-lhes, porém, isto é
possível quando o filósofo responde a este problema, adaptando a sua linguagem
à da maioria, e neste aspecto, há uma intrínseca relação entre a filosofia e a
Educação, posto que, se a Educação propõe um espaço com grandes vantagens para
se poder entrar numa significação humana que é diferente da significação
técnica em vista a uma discussão filosófica. Portanto, toda a teoria filosófica
deve influenciar deveras a actividade educativa, sob perigo de ser uma teoria artificial.
Por conseguinte, “se
quisermos conceber a Educação como o processo de formar atitudes fundamentais,
de natureza intelectual e sentimental, perante a natureza e os outros homens,
pode-se, até, definir a filosofia como a teoria geral da Educação” (DEWEY,
1959: 362).
Para Dewey, o homem não
é um pequeno deus dentro e fora da natureza, mas simplesmente um homem, isto é,
uma parte da própria natureza em acção recíproca com as outras. Por isso,
enquanto pode valer-se dos seus poderes deve filosofar. A revolução da
filosofia, segundo Dewey, deverá ser como aquela de Kant, feita à questão do
conhecimento, que consiste na compreensão de que o conhecimento não é e nem
oferece a totalidade do real e que, por isso, a filosofia não pode propor
este ideal. O seu objecto é abandonar a busca da realidade e do valor absoluto
e imutável (ABBAGNANO, 1984: 60s).
Perante toda esta
problemática, a filosofia possui como tarefa indispensável, criticar os
objectivos que existem dentro dos pressupostos da ciência, com vista a apontar
os valores que são tidos como fundamentais para se alcançar os objectivos
preconizados. É também tarefa da filosofia, interpretar os resultados
alcançados pela ciência em vista à prática e empreendimentos sociais. Contudo,
com vista a realizar estas tarefas, é importante uma componente educacional, e
é através da Educação que os pressupostos filosóficos são postos à prova.
Ao definir a filosofia
como teoria geral da Educação, pretende-se dizer que ela é uma forma de pensar
e que tem sua origem na experiência e visa reconhecer a natureza de todos os
problemas em vista a encontrar possíveis respostas de modo que se esclareçam
seus conteúdos.
Restringir a filosofia
como teoria geral da Educação tal como concebeu Dewey é criar uma visão míope
da própria filosofia. Já afirmava Jayme de Abreu que existem várias filosofias
da educação, em contraposição do que Dewey concebe. Ele fala de um Autoritarismo
educacional, que significa a atitude daqueles que pensam e agem como se a
Educação fosse determinada, em todos os seus aspectos importantes, por
influências exteriores ao indivíduo, defendendo e sustentando teorias que
justificam esse controle e direcção exterior. É a teoria da contingência
objectiva, que enfatiza a ambivalência externa.
Abreu fala de um
Laissez faire educacional, que significa a titude assumida por quantos
pensam, sentem e agem como se a Educação, em todos os seus aspectos importantes
fosse determinada por factores inerentes aos próprios indivíduos, justificando
a manifestação, o desenvolvimento e realização directa das tendências
individuais. O último aspecto que ele referencia é o Experimentalismo
educacional, que consiste numa determinada atitude que muitas pessoas
frequentemente assumem pensando, sentindo e agindo, seja em relação a assuntos
educacionais, seja quanto a princípios e teorias que lhe prestam base
intelectual (…) esta é a teoria da contingência funcional que afirma que a
experiência educactiva é função da interacção entre o indivíduo e o meio
(ABREU, 1958: 73s).
Estas ideias da
filosofia e sua natureza, levam a concluir que este crítico quis realçar mais a
ideia de que a filosofia da educação não era uma arte e que o professsor não
deveria ensinar a experiência, seguindo sua vocação, que o professor não
deveria considerar-se cientista, já que esta tentativa era fútil e hostil para
o magistério. Contudo, Dewey afirma que a Educação é uma arte e que , no seu
contacto com a ciência, se torna mais científica, não deixando de ser uma arte
e sem se render aos conhecimentos externos à escola.
Existe, de facto, uma
filosofia da educação em Dewey que se deverá relacionar, tanto com a matéria de
estudo, bem como com aquilo que é a vida, a experiência do indivíduo dentro dum
meio social e, neste caso, a natureza da filosofia só terá sentido na natureza
dos problemas educacionais.
CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO DE DEWEY
PARA A EDUCAÇÃO MOÇAMBICANA
1. A Educação Democrática e sua Perspectiva em Moçambique
Antes da Independência,
o Sistema da Educação, em Moçambique, estava ligado aos programas, conteúdos e
objectivos preconizados pelo Sistema Colonial Português. Onde segundo Basílio
(2006) in tese de Mestrado em Educação, para que os objectivos da Educação
Portuguesa fossem mantidos, no território Moçambicano, desenvolviam-se em
paralelo, dois tipos de ensino: o ensino oficial controlado e destinado à
formação dos filhos dos colonizadores e o ensino indígena destinado à formação
dos moçambicanos. Estes dois ensinos pressupunham a existência de dois
currículos aparentemente opostos. A vinculação ao sistema Português criava uma
lacuna nos alunos moçambicanos, no que dizia respeito aos desafios da sua vida,
do seu mundo e dos seus direitos (BASÍLIO, 2006: 67).
O sistema educativo
vigente em Moçambique na era colonial consistiu sempre em duas etapas
diferentes de ensino, correspondentes a duas concepções da educação
bastante diversas, a educação para os indígenas, e a educação da elite,
para o povo colonizador e para os assimilados. Portanto, segundo Golias, o dito
ensino oficial, organizado para atender os valores e padrões aristocráticos,
representou basicamente a educação para a elite colonial. O ensino para os indígenas,
por sua vez destinado ao povo colonizado, reduziu-se quase exclusivamente, a
uma instrumentalização técnica (aprender a ler e a escrever) e à domesticação,
sem representar uma preocupação nitidamente formativa (GOLIAS, 1993: 57). De
acordo com estes pressupostos, pode-se inferir que, a educação colonial e
tradicional tinham um carácter descriminatório, já que, estabeleciam dois
diferentes tipos de educação, uma destinada à população negra e dirigida pelas
missões, e outra reservada às crianças brancas dos colonos e aos assimilados,
confiada ao Estado e às instituições privadas.
Depois da Independência,
Moçambique prourou por estruturar um novo currículo da Educação que se
preconizasse em se coadunar com as condições novas que o país enfrentava. E é
por este facto que o país introduziu, em 1983, o Sistema Nacional da Educação
(SNE) pela lei 4/ 83 de 23 de Março de 1983. Perante as novas condições
económicas e políticas que o país passava, houve necessidade de este mesmo
currículo ser reajustado em 1992, pela lei 6/ 92, de 6 de Maio. Mesmo assim,
com as dificuldades encontradas no que tange ao Ensino Básico, que não permitia
uma necessária abordagem dos conteúdos em função das necessidades vigentes,
houve inovações da parte do Ministério da Educação, assim, concebeu-se em 2002,
um outro novo currículo que preconizava uma integração dos conteúdos a nível
teórico-prático, a modo como Dewey fundamentou a sua Escola Progressista que
deveria unir a teoria e a prática.
Segundo Mucavele
(1998), mediante uma reforma curricular, para que esta tenha sucesso, é
necessário realizar seminários, onde estão envolvidos todos
os sectores públicos e privados, a participar, a fazer comissões de trabalho e
consultas aos professores e aos alunos, de modo a se desenvolver uma relação de
colaboração entre as comunidades e as escolas. É preciso também recrutar
professores na própria comunidade onde a escola se localiza, de modo que se
sinta que a escola é pertença da comunidade (MUCAVELE, 1998: 28s).
Castiano afirma que a
transformação curricular do Ensino Básico visava responder a três questões
básicas: a expansão das oportunidades educativas, a melhoria da qualidade de
ensino e uma administração escolar descentralizada (CASTIANO apud BASÍLIO,
2006: 67). A estas questões se acrescenta uma outra, que está vinculada à
adaptação do sistema educativo às novas condições em que Moçambique se
encontrava.
Tal como preconiza este
novo currículo do Ensino Básico, ela centra-se no aluno, isto é, o aluno é o
centro de todo o processo de ensino e aprendizagem, que isto é compatível com
os intentos de John Dewey a quando da fundação da Escola Nova ou Progressista
que visava que o centro de toda a aprendizagem fosse o aluno e o currículo
deveria ser concebido em função deste.
O novo currículo do
ensino preconiza formar os alunos para as habilidades e competências em vista a
se adequarem ao novo mercado e à valorização das diversas culturas. Neste caso,
tal como o concebeu Dewey, este currículo focaliza-se no aluno como mentor
principal da Educação, no construtivismo onde se constrói e se reconstrói o
conhecimento adquirido em casa, em função da diversidade cultural que a criança
encontra na escola, a quando da sua socialização com os outros.
Entretanto, para se
alcançarem estes objectivos, o Governo teve que usar várias estratégias. Uma
das estratégias foi expandir as oportunidades educativas, onde houve extensão
das escolas que possuem o Ensino Básico, visto que a sociedade, bem como os
grupos sociais, quiseram ver os seus filhos escolarizados. Portanto, houve a
maximização de oportunidades de cada um poder se escolarizar, isto no que
concerne ao Ensino Básico.
O aumento das Escolas
Primárias Completas, em vista a combater o analfabetismo e a pobreza em função
de se consolidar a paz nacional, foi a outra estratégia que o governo usou.
Portanto, houve um decreto em 2004 do Ministério da Educação para que o ensino
da 1ª a 7ª Classe fosse gratuito, assim, houve maior diversidade e
oportunidades de cada indivíduo se formar.
A outra estratégia foi
o melhorar a qualidade de ensino centrado na formação contínua de professores
qualificados, na destribuição gratuita do material escolar e deveras, na
reforma curricular. Face ao deficit epistemológico e moral, em que a sociedade
constatava nos alunos, então houve necessidade de se distribuir o material
escolar, de haver centros de formação de professores. Isto só era possível se
se adequassem os conteúdos aprendidos na escola em função das condições
económicas, políticas, sociais e culturais que o país enfrenta.
Descentralizar a
administração escolar, isto para que as escolas pudessem responder às
necessidades sociais vigentes da parte dos alunos, foi uma estratégia que o
Governo usou em função de se dar a autonomia às escolas. O Estado descentraliza
a gestão do ensino, dando oportunidades aos governos locais, ao modelo dos
municípios que respondem às necessidades locais sem, no entanto se desligar do
governo central. Graças a esta filosofia da descentralização, às direcções
provinciais e distritais foram concedidas o poder de formar e capacitar
professores e de definir políticas educativas regionais e locais, de recrutar o
corpo docente e de fazer parcerias, o que até então funciona como uma política
educativa do Governo.
O Governo teve que
adaptar o sistema educacional às novas condições socio-económicas. Face à
globalização, o sistema escolar também se viu obrigado a aderir a essa nova
política internacional. Assim, houve necessidade de se construir um currículo
que se articulasse com as condições socio-económicas locais e globais.
Assim concebido o
currículo, visa fundamentalmente capacitar os alunos de modo que se interessem
na sua formação em vista a aplicarem os conhecimentos adquiridos para o
desenvolvimento da comunidade e do país. Isto só pode ser possível quando a
nova pedagogia se centra no aluno e na cultura deste. Portanto, o essencial é
levar o aluno a conhecer os aspectos da personalidade, da cidadania, da
diversidade cultural, da manuntenção da democracia, do intercâmbio cultural e a
desenvolver conhecimentos, valores, comportamentos, capacidades e habilidades
que lhe permitirão valorizar as relações humanas, a interpretar os fenómenos
socio-culturais, políticos, económicos e naturais.
O novo currículo visa
fundamentalmente introduzir uma educação que se preoconiza em resguardar a
diversidade cultural dos indivíduos em vista a encontrar o aluno nas suas
condições locais. Visa também desenvolver as habilidades para estimular a
competência nos alunos em função do mercado local e internacional que oferece
intrumentos de análise da vida humana (BASÍLIO, 2006, 68ss).
Esta transformação
curricular inicia em 2002, pelo Ministério da Educação, com a concepção e a
consequente introdução de um currículo para o ensino básico, sob os auspícios
da UNESCO. Neste novo currículo para o ensino básico, são introduzidas inovações,
é o caso dos ciclos de aprendizagem, o ensino básico integrado, a distribuição
dos professores, a promoção semi-automática, a introdução das linguas
moçambicanas no ensino, a introdução da lingua inglesa, a introdução de
ofícios, a introdução da educação musical e cívica e a introdução do currículo
local (CASTIANO, 2005: 65), podemos afirmar sobremaneira que são indícios das
ideias de Dewey a quando da transfomação da escola tradicional em progressista.
Segundo NGOENHA (2000),
com a independência, a educação deveria participar na criação da nação moçambicana,
por isso, o termo Ensino Nacionalista pode ser tomado em dois sentidos: no
sentido em que o ensino foi nacionalizado, mas também no sentido em que a
finalidade da educação era o nacionalismo africano, a nação moçambicana, o
sentido da pertença à nação moçambicana.
A educação deveria
procurar no máximo preparar os moçambicanos para as funções que visam responder
aos problemas reais e concretos com que o homem moçambicano enfrentava. Assim,
a educação nacionalista pretendia fazer uma identidade moçambicana e, ao mesmo
tempo, cimentar os pressupostos axiológicos da pertença à nação moçambicana, de
combate ao tribalismo, de enraizar cada homem e mulher na terra moçambicana.
Contudo, aqui surge o
problema: como é que a Educação teria uma base forte, enquanto dentro do país
não havia estruturas próprias, nem meios económicos para realizar esta
revolução, pessoas qualificadas para levar avante esta missão e também
assegurar uma educação nacionalista edequada? ( NGOENHA, 2000: 78). Por isso
houve necessidade de se estruturar o currículo, a concepção do Sistema Nacional
da Educação (1983), o reajustamento do currículo em função das necessidades
vigentes (1992) e, por fim, a concepção do novo currículo (2002) em função do
desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, globalização, para
se combater tanto a pobreza como o analfabetismo, em vista a responder às
necessidades hodiernas e acompahar o desenvolvimento do mundo.
O processo da educação
que surgiu após a independência foi de massificar a educação e garantir uma
educação básica para todos. Assim, a massificação da educação, naquele tempo,
incluía mais do que proporcionar às crianças em idade escolar, o acesso à
educação. Na visão educacinal da altura incluía também adultos (operários e camponeses),
campanhas específicas para mulheres, para jovens e para velhos. A educação
assume-se, com este termo, uma tarefa de todos nós, como dizia Samora
Machel (CASTIANO, 2005: 16).
É com estes factos que
o projecto da formação do Homem Novo de Machel foi abaixo, posto que não
havia estruturas na altura que pudessem levar avante este projecto. Segundo
Mazula (1995), o Homem Novo seria aquele que, embora consciente das suas
limitações, travava consigo mesmo, o combate interno e permanente para superar
as insuficiências e as influências reaccionárias que herdou, aquele que
constrói o socialismo e mobiliza as massas pela sua dedicação, disciplina e
entusiasmo (MAZULA, 1995: 179). Para estes, a educação é tida como instrumento
fundamental para a criação do homem novo.
2. Influências de Dewey na Educação Moçambicana
2.1. Da Escola Tradicional à Escola Nova
Dewey surge numa época
em que o sistema educacional se centrava nas técnicas de memorização e na
transferência de conhecimentos a modo de Ensino Tradicional e ele propõe a
Educação da Escola Nova ou Progressista que partia do princípio de que a
escola deveria actuar como um instrumento para a edificação da sociedade
através da valorização das qualidades pessoais de cada indivíduo.
Para que a Educação da
teoria da Escola Nova tenha lugar, é preciso romper com a postura de
transmissão de informações, na qual o aluno é um simples indivíduo passivo,
preocupando-se somente em recuperar tais informações quando lhes são
solicitadas.
Dewey referencia que o
uso da problematização no ensino-aprendizagem, é de suma importância para que
ocorra o conhecimento significativo, uma vez que a aprendizagem ocorreria
mediante as experiências anteriores vivenciadas pelo aluno, onde ele não só
desenvolveria a técnica como também o intelecto e a moralidade em vista ao seu
desenvolvimento integral. E é isto o que a política educativa moçambicana
pretende com a concepção do currículo (2002), que o aluno não seja um receptor
passivo dum conhecimento já elaborado, mas sim que este participe activamente
no seu precesso de ensino, que o ensino seja concebido em função deste e das
suas condições concretas, por isso, há necessidade de se conhecer bem e melhor
o aluno que está em nossa frente, de modo que este seja capaz de conciliar o conhecimento
teórico com o prático.
É nesta vertente que
Dewey revoluciona a Educação do seu tempo, criando um novo modelo de ensino. O
movimento da Escola Nova em Moçambique pode ser considerado como ter iniciado
principalmente na Época pós colonial, com o intuito
de eliminar o Ensino Tradicional que propunha como meta educacional a formação
do homem ao nível teórico, e com o nascimento do movimento da Escola Nova em
Moçambique preconceituado por Samora Machel, com a política da formação do
Homem Novo após a independência, era necessário encontrar princípios práticos
da solidariedade bem como uma cooperação e integração social dos indivíduos.
Para tal, era preciso uma introdução às novas formas de educação em que o aluno
é o actor principal do Processo de Ensino e Aprendizagem.
É verdade que nem tudo
o que a pedagogia tradicional ensinou é passível de se deitar fora, isto é, há
alguns aspectos positivos que poderemos dela aprender. É o caso da íntima
ligação da educação com as realidades quotidianas da vida, quer dizer, ela
desenvolve-se segundo os moldes da vida da comunidade.
A Educação Tradicional
era também polivalente, posto que o que se ensinava não era tão fragmentado
como o é hoje, e, todavia, era coerente. Através duma história poder-se-ia
ensinar as características dos animais (zoologia), os comportamentos dos homens
(psicologia), a moral, etc. Com isto, quer-se evidenciar o aspecto de que a
criança era ensinada ao mesmo tempo a levar à prática o que aprendia, é o caso
da caça, colheita, etc.
Esta concepção da
Escola Nova, quer dizer, da Educação centrada no aluno, relaciona-se com um
conjunto de ideias e realizações que Moçambique alcançou, tudo isto ligado a
uma renovação da mentalidade dos educadores e das novas práticas pedagógicas
que deveriam surgir.
O movimento da
introdução da Escola Nova em Moçambique, não pautava num caríz político e
educacional, ligado a uma agremiação partidária, nem às ideologias totalitárias
na ideia dos governantes, porém, era tida como um meio termo, onde o Estado
Moçambicano pudesse executar um decisivo papel e a educação pública pudesse ser
um meio em vista a oferecer a igualdade de oportunidades a todos e que todos os
indivíduos pudessem ser livres, embora isto fosse contraditório, porque se fala
de Educação para todos, mas são muito poucos os que têm acesso a ela.
Segundo leitores de
Dewey, é o caso de Cunha, afirma que “… voltado para o desenvolvimento e
crescimento dos educandos, o único guia do processo educacional é o espírito
que evolui e assim, é ele quem determina tanto a qualidade como a quantidade
das matérias que o educador deve apresentar-lhe. Essa corrente de trabalho
coloca a vida e a experiência da criança em oposição ao jugo do programa,
delimita, de um lado, o desenvolvimento e de outro, o acúmulo de conhecimentos”
(CUNHA, 1996: 7)
2.2. Influência Indirecta
A influência de Dewey
para a educação em Moçambique sentiu-se no período pós-colonial, onde antes
havia dois tipos de educação, a dos filhos dos colonos que deveriam ir aos
liceus e a dos filhos dos indígenas que quase não tinham acesso à escola e, se
tivessem, iriam ao ensino técnico onde iriam desenvolver a questão da prática,
contudo, com a ideia da formação do “Homem Novo” de Machel, acabou este
discurso, procurando-se uma unanimidade da formação dos jovens ao serviço da
pátria amada, embora surja um discurso contraditório, porque, enquanto se pauta
pela educação para todos, somente os que possuiam bens são os que poderiam ter
acesso à educação e este facto ainda é notório na nossa sociedade hodierna,
onde somente uma minoria é que entra em escolas melhores e com boas condições
enquanto a maioria esmagadora está em baixo das árvores e sob condições
deploráveis. Com estes aspectos, podemos ver que Dewey está presente nas
reformas educacionais, em Moçambique.
Portanto, a ideia era
de organizar a escola de acordo com o tipo de sociedade e entrando em
consonância com ela. Dewey, ao procurar fazer uma relação entre os programas
escolares e aquilo que as crianças deveriam fazer na prática, isto era uma
tentativa de ligar o currículo com o desenvolvimento psicológico e cognitivo
do aluno. Entretanto, o currículo é passível de desenvolver hábitos de o aluno
agir com autonomia e também em conjunto com os outros e isto é idêntico ao
ideal democrático Deweyano, que foi tomado a quando da concepção do novo
currículo moçambicano.
Dewey afirma que a
escola é o ambiente especial para proporcionar a transmisão de conhecimentos e
o objectivo fundamental da Educação é proporcionar um ambiente favorável para o
Processo de Ensino e Aprendizagem ocorrer devidamente; eliminar os elementos
que não são favoráveis à formação da criança, quer dizer, não é importante
transmitir à criança todo o conhecimento, mas sim, aquele indispensável em
vista a construir uma perfeita sociedade futura e também, oferecer
oportunidades às crianças para poderem ir avante em relação ao grupo social de
origem com o fim de fazer um intercâmbio com os outros ambientes
socio-culturais.
Segundo MANACORDA
(2006), Dewey como Marx, baseou-se no desenvolvimento económico e produtivo,
mas faltou-lhe aquela análise dialéctica do real e de suas contradições, cuja
explosão, segundo Marx provocaria as mudanças e aquela perspectiva, talvez
utópica, mas fortemente estimulante, de uma totalidade de indivíduos totalmente
desenvolvidos. No lugar dessa análise, há nele a conclamada finalidade de
educar o indivíduo para participar da mudança, concebida como progressiva
evolução de um estado de coisas em si positivo (MANACORDA, 2006: 7).
3. Críticas ao Ensino Tradicional
A principal crítica
que se encontra no Ensino Tradicional é que neste, o aluno toma uma posição
passiva na assimilação dos conhecimentos administrados pelo professor e que os
recebe através dos órgãos dos sentidos. Assim, também as operações efectivas,
somente são executadas pelo professor. O aluno não age sobre o seu Processo de
Ensino e Aprendizagem, quer dizer, o aluno limita-se somente a memorizar os
conceitos oferecidos pelo professor sem poder questionar ou tomar uma atitude
activa em função àquilo que está a aprender.
Dewey criticou a
pedagogia de Herbart, posto que nesta, o professor é o sujeito responsável em
infundir ideias e conhecimentos na mente do aluno, mas este permanece sempre
sem ocasião para elaborar conhecimentos seus e próprios, já que existe a acção
externa do professor que lhe fornece ideias, conceitos, valores e regras morais
que através da instrunção educativa, este deve agir.
A Escola Nova ou
Pedagogia Activa ou Escola Activa ou ainda Escola de Trabalho como queiramos
dizer, surge como crítica à pedagogia Tradicional de tipo Jesuítico e
Herbartiano que era eminente no século XIX. Os seus defensores refutaram o
ensino enciclopédico centrado na instrução e no professor e em contrapartida,
pautaram por uma Educação que tomasse como base a criança, a sua vida, a sua
actividade e tomando a ela como mentor do Processo de Ensino e Aprendizagem e
deveras como elemento activo na aprendizagem.
Dewey, ao contrariar os
intuitos da Escola Tradicional, concebe a Educação como um processo de contínua
reconstrução da experiência humana na sociedade, e para tal, concebeu um ensino
que tivesse como pressuposto, a prática, isto é, a experiência. Portanto, para
Dewey, a experiência e a aprendizagem não podem estar separados.
Os pragmatistas não concordam
que a Educação deve ser tratada como algo que prepara a vida, porém como parte
importante da vida que é, de facto, vivida pelas crianças. No que diz respeito
ao currículo, os pragmatistas rejeitam por completo a abordagem tradicional do
currículo, onde o conhecimento está separado da experiência.
Para Dewey, a principal
tarefa do professor é estabelecer um ambiente adequado e favorável para a
aprendizagem, para estimular o crescimento intelectual e emocional desejado
entre os estudantes.
Uma crítica que se pode
fazer à Educação da Escola Nova ou Pragmatista é que esta orienta-se numa
Educação que está mais voltada aos interesses dos estudantes, sem tomar em
conta que muitas vezes, os estudantes não têm a disciplina que provêm dos
estudos em conteúdos básicos. Também porque a aplicação deste novo método
acontece imediatamente sem uma preparação prévia dos professores para se
lidarem com esta nova realidade educativa.
É verdade que todas as
críticas referenciadas por Dewey para a Escola Tradicional, também são válidas
no nosso contexto da educação moçambicana, porque a ideia geral é que o modo
como concebeu Dewey a sua escola pragmatista que surge em oposição à
tradicional, também a concepção do novo currículo local opõe-se ao ensino
preconizado antes da independência, entrando em consonância com aquilo que foi
a Escola Nova de Dewey, fundada num princípio da democracia com fins
eminentemente práticos. Portanto, estas críticas aqui encabeçadas também são
válidas para a Educação moçambicana, onde esta não se deve centrar no professor
como o era na época colonial, mas sim deve-se centrar no aluno, como agente
principal da Educação.
Conclusão
Dewey
influenciou, sobremaneira a Educação no seu país bem como nos outros países,
principalmente entre os anos 1930 e 1950. Neste caso, a partir deste estudo,
descobrimos o motivo que levou Dewey a propor uma Educação Democrática centrada
no aluno, em oposição ao Ensino Tradicional, no qual o professor era o centro
de toda a aprendizagem e limitava-se somente a transmitir conhecimentos aos
alunos e estes deveriam, através da memorização, reproduzi-los.
A partir deste
pressuposto, Dewey desenvolve uma teoria educacional que influi indirectamente
no Sistema Nacional da Educação em Moçambique, na medida em que em Moçambique,
antes da Independência, tínhamos um ensino que não estava concebido em função
do aluno, mas sim em função do professor. Alcançada a Independência, o país
pauta por uma Educação que visa formar o homem novo. Isto não teve bons resultados
e em 1983, concebe-se o Sistema Nacional da Educação em vista a formar o futuro
homem moçambicano. Por isso, com esta mudança de currículo, podemos encontrar
patente, uma influência indirecta do pensamento da Escola Nova de Dewey que
isto se repercutiu na concepção do currículo de 1992 e a sua posterior mudança
para o novo currículo de 2002 em função de se aliar a teoria e a prática.
É claro, nestes
documentos da renovação e concepção do novo currículo, a referência a Dewey é
implícita, posto que nestes documentos, não está clara e evidente, a ideia de
que foi à luz do pensamento deweyano que se concebeu o actual currículo,
contudo, a maneira como é abordado o currículo, os objectivos educacionais
preconizados, a tendência de pautar por um ensino voltado ao aluno como mentor
fundamental da educação, podemos inferir que há uma identidade àquilo que Dewey
propôs na América da sua época, e quiçá, os que conceberam este currículo,
terão lido sobremaneira a pedagogia de Dewey e nela se inspiraram
Entretanto, o
que pretendemos nesta pesquisa foi, a partir das ideias filosóficas e
pedagógicas de Dewey, fundamentar o que é que ele entendeu por uma Educação
Democrática que se preconiza no ensino relacional onde o aluno é o agente
principal do processo de ensino e aprendizagem. Para Dewey, a
Educação Democrática é aquela em que a igualdade de oportunidades é um
elemento fundamental, isto é, todos os indivíduos presentes no processo de
ensino e aprendizagem devem ter a mesma oportunidade de ensino, e que não deverá
haver diferenças de classes, cada aluno deve-se enriquecer com as experiências
dos outros, entrando numa relação de inter-ajuda.
Para Dewey, uma
Educação sem essa igualdade de oportunidades basear-se-ia nos privilégios e
neste caso, não seria democrática. A Educação para Dewey é um processo de vida
em que se faz uma experiência e, ao mesmo tempo um processo social em que se
representa não a vida futura, mas a presente e real para o aluno. É um processo
onde se reconstrói e se reorganizam as experiências que o indivíduo teve
durante a sua vida.
A ideia base
desta pesquisa centra-se fundamentalmente em procurar explicar a partir da sua
filosofia pragmatista e seu pensamento pedagógico, o que é a Educação
Democrática e em que aspecto o pensamento da Escola Progressista poderá ter
influenciado a concepção do Novo Currículo (2002), em Moçambique. Assim posto,
para se poder responder a esta questão, foi necessário fazer uma pesquisa
pormenorizada do pensamento filosófico de Dewey, focando principalmente o movimento
pragmatista de caris norte-americano. Foi referenciado que, ainda que William
James e Charles Sanders Peirce tenham iniciado este movimento, Dewey o
sistematizou.
Para podermos
ter o fulcro da questão, foi necessário perceber a epistemologia deweyana, onde
se concluiu que o Pragmatismo, mais do que uma repetição do Empirismo Inglês
encabeçado por Francis Bacon (1561 – 1626) e John Locke (1632 – 1704), é uma
doutrina que preconiza que todo o aprendizado deve ter como pressuposto básico,
a experiência e que esta deve ter um fim prático.
O Pragmatismo
norte-americano fundado por William James e Charles Sanders Peirce tinha um
carácter inovador tanto no âmbito epistemológico, lógico, político, social,
educativo, ético bem como religioso. Neste caso, o liberalismo político e a
democracia que estão na epistemologia pragmatista, alcançam bases totalmente
diferentes daquelas que foram teorizadas por seus representantes, e isto
aconteceu logo após o surgimento do liberalismo político do século XVI, com o nascimento
do Estado moderno e do pensamento democrático, que tem a sua génese no mundo
grego, e que passa por sucessivas mudanças conceituais ao longo da história do
pensamento ocidental.
A origem de
muitos conceitos propostos e referenciados pela Educação da Escola Nova ou
Progressista na vertente deweyana são encontrados nestas ideias, que poderemos
afirmar que são características do Pragmatismo norte-americano.
Na sua filosofia
pragmatista pode-se referenciar que ele foi um dos pioneiros desta corrente filosófica,
onde pretendia responder à questão: o que é a verdade? E como ela se diferencia
do erro? Surgido o Pragmatismo numa época em que havia rápidas transformações
no seio da sociedade em mudança, de sucessivas descobertas científicas, é o
caso da física contemporânea, esta trouxe novos estudos que preocuparam muitos
físicos, então, perante estes factos, o Pragmatismo pretendia elaborar uma
filosofia que tinha como escopo, o verdadeiro e o eficaz nas tais descobertas.
Assim, para os pragmatistas, o conhecimento era fruto de uma reflexão sobre o
significado da experiência que a pessoa teve anteriormente.
Entretanto, para
se perceber a filosofia pragmatista deweyana, é necessário também e antes de
tudo perceber a sua epistemologia, onde ele afirma que o pensamento pragmático
serve como instrumento que adapta o homem enquanto ser vivo ao seu ambiente
natural, com o escopo de transformá-lo de acordo com os interesses individuais
e colectivos. A filosofia de Dewey é um pensamento que se entende na tentativa de
ligar o pensamento reflexivo com os acontecimentos daquilo que experimentamos
todos os dias. Portanto, o método empírico do qual o Pragmatismo faz parte
requer da filosofia que os métodos usados estejam directamente ligados à
experiência. É por este facto que Dewey critica as filosofias que se punham
aquém da experiência ordinária, é o caso do Escolasticismo, do Racionalismo, do
Idealismo, do Realismo, do Empirismo, do Transcendentalismo, etc.
Ao falar de Vida
em Dewey, refere-se a uma vida reflexiva, vida esta que é capaz de realizar no
mundo acções que possam ser úteis aos indivíduos bem como ao grupo social, do
qual este indivíduo faz parte. Entretanto, ao pensar sobre a teoria do
pensamento democrático, encontra-se no meio duma perspectiva ética, política,
bem como na vida social.
A partir da
conceitualização do Pragmatismo, referenciamos os fundadores do Pragmatismo,
James e Peirce de uma forma muito sintética. No pensamento de Dewey, o
Pragmatismo procura fundamentar-se no liberalismo político bem como na
democracia, democracia esta não tida como uma forma de governo, mas sim uma
forma de vida associada, de experiência conjunta e que se deve comunicar numa
mútua relação entre os alunos.
Dewey ao falar
da Educação Democrática, chegamos a perceber que ele se referia àquela Educação
onde há uma igualdade de oportunidades de cada aluno poder educar-se, onde não
há privilégios de alguns, mas que todos tenham as mesmas oportunidades. A
Educação Democrática é aquela em que se cinge à experiência e à vida do aluno,
dentro dum meio social. Este tipo de Educação, não deverá ser para Dewey uma
preparação para a vida, mas sim deve ser a própria vida. Para sustentar esta
ideia da Educação Democrática, fizemos um referencial teórico da sua obra, Democracia
e Educação. Com esta obra tivemos a ideia de que ele faz uma síntese de
todo o seu pensamento, e é nela que ele oferece uma ideia geral do seu
pensamento pedagógico e também se contemplam os aspectos gerais da sua
filosofia.
Dewey afirma que
a Educação, sendo uma forma social, então, assegura, sobremaneira, a direcção e
o desenvolvimento da criança através da sua participação na vida do grupo
social, a qual faz parte, quer dizer, a Educação irá variar de acordo com a
qualidade de vida que cada grupo possui. Assim, já que esta Educação é um
processo social, então, dentro da colectividade, existem vários tipos de
sociedade, e a ideia para a construção educacional implica necessariamente um
ideal social e particular de cada grupo. Deste modo, uma sociedade será
indesejada se esta interna ou externamente estabelece barreiras à livre relação
e comunicação da experiência entre os membros que fazem parte do mesmo.
Portanto, será
democrática segundo Dewey, a sociedade que promove a participação nos seus bens
de todos os membros em igualdade de oportunidades e onde se assegura um
reajuste flexível das suas instituições através da interacção das diferentes
formas da vida associada, onde há um mútuo enriquecimento e igualdade de
oportunidades.
Com estes
aspectos, é claro afirmar que o pensamento pedagógico de Dewey também está
ligado a uma educação renovada, partindo dos novos métodos e estruturas
curriculares. Assim, a Escola deve procurar organizar-se segundo os moldes do
desenvolvimento psicológico dos alunos, tal como o preconceituou Rousseau, a
quando da educação do Emílio, de modo que se atinjam os resultados necessários.
Esta organização deve partir do ambiente escolar, do currículo e dos próprios
conteúdos leccionados, concebendo isto em função dos alunos, seus interesses de
modo que também se permitam as experiências anteriores destes.
Todas as ideias
sintetizadas no Pragmatismo norte-americano são pressupostos básicos daquilo
que Dewey chamou de Escola Progressista ou Escola Nova. A pedagogia da Escola
Nova ou Progressista está baseada em desenvolver a cultura, a expressão, o
interesse pelo indivíduo, pela disciplina externa e pela actividade livre onde
o aluno deve ser capaz de por si desenvolver as suas capacidades de modo que
contribua em algo para o seu processo de ensino e aprendizagem, para que este
não seja um indivíduo passivo, mas que entre em acção e interaja com os outros.
A pedagogia da
Escola Nova consiste num aprendizado pela experiência como resposta aos apelos
vitais do aluno. Neste caso, visa também estabelecer uma relação entre uma
experiência real do aluno e a Educação. Aqui, a ideia central não é rejeitar
por completo a autoridade, porém, democratizar a relação pedagógica, daí ele
chamar a sua escola de democrática.
Em Dewey, o
principal foco da aprendizagem é a experiência que cada aluno tem e que esta
poderá enriquecer a experiência dos outros alunos, e também este aluno se
enriquece com as experiências dos outros e neste caso, há um recíproco dar e
receber. Dewey chega a concluir que o ensino da Escola Tradicional ignora por
completo a experiência vivida por cada aluno, e neste caso, e de acordo com
esta abordagem, as experiências são defeituosas e mais para os alunos. Em
Dewey, a qualidade da Educação é directamente dependente da qualidade da
experiência educativa que cada aluno teve individualmente.
Deste modo, o
projecto educativo de Dewey se centra na experiência de vida, onde esta se
torna útil ao indivíduo de uma forma inteligente. É necessário compreender
também a necessidade da autoridade e de regras que se devem usar para o
controle social dos alunos. Para tal, devem-se usar, na sua pedagogia, os
jogos, o entretenimento, que estes representam o modo de vida democrático, onde
há regras estabelecidas mas o seu cumprimento é por igual e pata todos.
Percebemos ao
longo da pesquisa que as ideias chave da sua filosofia educacional estão
patentes na sua obra-prima Democracia e Educação (1916), onde fizemos um
referencial teórico dos capítulos mais sugestivos que pudessem explicar a
Concepção da Educação Democrática.
No seu
pensamento pedagógico, o conceito de Experiência é fundamental, já que a
Educação, sendo uma necessidade de vida, então só através da experiência que
cada aluno tem na sua vida é que poderá enriquecer os outros alunos, assim como
se enriquecer, e, neste caso, a Educação deve oferecer esta oportunidade de o
homem agir sobre o seu próprio ambiente em função de poder enriquecer a sua
vida. Entretanto, só através da Educação é que os homens podem exercer, de boa
maneira, a democracia. Só com o Pragmatismo é que tudo o que o homem pretende
alcançar terá uma aplicação prática. Assim, a teoria e a prática são dois
conceitos que no processo educacional de Dewey não se devem separar.
Na pedagogia
deweyana, o papel do professor é de ser um orientador e colaborador directo do
aluno, onde este deverá aprender com os alunos e também os alunos deverão
aprender com a sua experiência. O professor tem como tarefa, descobrir os
verdadeiros desejos, gostos e interesses do aluno, e apoiar-se nestes
interesses e desejos para levar o aluno à aprendizagem, à disciplina, de modo
que este, por si, e através da orientação do professor adquira os verdadeiros
valores educativos. Só com esta dialogicidade é que ocorre o processo de ensino
e aprendizagem.
Dewey apela ao
professor para que o aluno, além da experiência, deve desenvolver trabalhos
manuais, já que estes poderão responder às situações-problema, a que o aluno
não é capaz de responder. Assim educada, o aluno beneficiará e se enriquecerá
tanto da experiência do professor, como da dos seus companheiros e isto será
uma função de poder igualar as oportunidades educativas de cada um.
É com estes
pressupostos que a sua pedagogia toma um múnus social e político, em vista a
pôr na prática o ideal democrático. De acordo com estas ideias, funda Dewey a
sua filosofia da educação que visa uma acção prática da Educação, onde a
Educação não tem sentido se não chega a ligar a teoria e a prática.
Num meio como o
nosso, já não se deverá falar duma Educação autoritária onde o professor é o
único detentor de conhecimentos. A Educação actual deveria democratizar o saber
onde tanto o aluno como o professor são tomados e considerados como sujeitos do
saber, e estes são, ao mesmo tempo, aprendizes e educadores. Ao modo como
referenciou Dewey, a escola deve ser um lugar onde o homem se torna verdadeiro
homem, se inova, faz a sua criatividade. O homem deve ser como o filósofo, um
homem que está sempre insatisfeito e sempre procura indagar a verdade.
No nosso meio, a
organização da escola segundo um intuito democrático preconizado pela Escola
Nova; a elaboração do curriculum; a inserção das ciências no cenário educativo;
a formação qualificada dos professores; o uso de critérios técnicos e
profissionais na administração escolar; a educação integral e integrada do
homem com fins práticos ligados ao teórico; a expansão das oportunidades
educativas através da extensão das escolas com ensino básico; o aumento de
escolas primárias completas em função de se combater o analfabetismo e a
pobreza; a melhoria da qualidade de ensino centrado na formação dos
professores; a descentralização da administração escolar; a adequação do
sistema educacional às novas condições socioeconómicas face à globalização é
expressão de ideias que Dewey concebeu ao formar a Escola Nova ou Progressista.
A nossa pesquisa
cingiu-se principalmente em trazer à ribalta as ideias pedagógicas de Dewey, em
função de se poder explicar e fundamentar onde queria chegar Dewey ao falar da
Educação Democrática.
Após esta
pesquisa, afirmamos que os resultados esperados foram alcançados, ficando ainda
um trabalho maior de melhorá-los cada vez mais. Nesta pesquisa, esperamos os
seguintes resultados:
Que a Educação
seja um meio que faz com que todos os alunos tenham a mesma oportunidade de se
educar tal como preconiza a Educação Democrática em Dewey;
Que a Educação
seja Democrática em Moçambique, ao modo como Dewey tinha concebido no seu tempo
de modo que o agente essencial da Educação seja o aluno e não o professor e que
a influência de Dewey da concepção da Escola Democrática se faça sentir no
ensino moçambicano.
Perante estes
factos constatados na Educação em Dewey, podemos propor alguns aspectos a
implementar na Educação moçambicana:
Que a Educação
não se limite só para o professor mas que deve estar em função do aluno e deve
haver um mútuo dar e receber;
Que a Educação
seja um meio para educar os homens para a maturidade, para a moralidade e para
a boa intervenção social; Que todo o pré-requisito do aluno desde sua casa, no
grupo, seja valorizado e tomado em conta, a fim de se poder planificar, com
eficácia, o processo de ensino e aprendizagem e que este deve ser feito em
função deste aluno;
Que a sociedade
da qual o aluno faz parte seja ela a propor os valores necessários para a
educação dos seus filhos e isto deve ser tomado em função da vida de cada
comunidade; Que a Educação seja pragmática, conciliando o teórico e o prático,
de modo que o conhecimento teórico não seja meramente formal;
Que a Educação
seja democrática, onde todos têm as mesmas oportunidades de se poder educar e
que todos se enriqueçam mutuamente; Que a Educação seja um learn by doing, isto
é, um aprender, fazendo, onde o aluno aperfeiçoa, fazendo o que ele aprende.
De acordo com
estas conclusões, aspectos a implementar e os resultados que esperamos alcançar
nesta pesquisa, recomendamos que:
Na concepção do
currículo, que sejam convidados os professores dos distritos e localidades que
estes entram em contacto directo com o verdadeiro aluno que não possui o mínimo
para se poder educar;
Ao implementar
um novo currículo, o professor, ao materializá-lo, deve planeá-lo em função dos
seus verdadeiros alunos, suas necessidades e situações concretas, sociais e
económicas; Que a sociedade, já que é para ela que os alunos são educados,
então que ela participe ou, ao menos, consultada em função de alguma
modificação no currículo;
Que seja
revitalizada a questão do Conselho Escolar, posto que é nela que participam
alguns membros da sociedade para poderem deliberar qualquer problema que nela
possa surgir; Que os professores não menosprezem a experiência individual dos
alunos, para que estes possam reorganizá-la em função duma aprendizagem ligada
à sua experiência vital;
Que a Educação
ajude a responder e a resolver os problemas concretos que os alunos enfrentam
no seu processo de ensino e aprendizagem; Que os pais e encarregados de
educação, acompahem e se interessem no desenvolvimento intelectual dos seus
filhos, não deixando esta missão somente para os professores;
Que o governo
crie e ofereça maior oportunidade na existência de escolas técnicas, onde os
alunos irão conciliar a teoria e a prática, e que com estes meios possam surgir
maior oportunidades de se poder empregar estes alunos.
Que os profissionais em
educação conheçam a teoria da Escola Nova, e que deixem os métodos da Escola
Tradicional, ainda que estes sejam menos trabalhosos e exigirem menos tempo de
dedicação no planeamento.
Se tivermos
trazido tudo isto ao longo desta pesquisa, um novo olhar sobre as ideias
pedagógicas de Dewey e a sua influência no sistema da Educação em Moçambique,
teremos alcançado os objectivos que norteiam este trabalho e nos damos por
satisfeito.
Anexos
Vida e Obras
A família Dewey chega
aos Estados Unidods em 1630, proveniente da Inglaterra e professando a fé
congregacionista. John Dewey nasceu em Burlington, a principal cidade do estado
americano de Vermont, a 20 de Outubro de 1859. Filho de um proprietário de um
armazém. Dewey teve a sua infância marcada por uma escolarização desestimulante.
Grande parte da sua educação foi percebida por ele como tendo sido realizada
fora dos limites estreitos da escola. Contribui para isso, o facto de que a sua
família cultivava o hábito de atribuir pequenas tarefas às crianças, com o
escopo de despertar-lhes responsabilidades (CUNHA apud SOUZA,
2004: 75).
Para se poder
compreender o pensamento deweyano é imprescindível uma retomada da influência
religiosa por ele recebida. Os congregacionistas defendiam a autonomia para os
membros de sua igreja. Não havia ordem hierárquica para nortear as relações dos
fiéis. Havia um espírito de igualdade, os ministros eram eleitos, o que
poderíamos interpretar como uma forma de democracia religiosa. Instigavam a
presença de Cristo nos indivíduos para que a consequência fosse a
solidariedade. Podemos afirmar deveras que da religião o que influenciou Dewey
não foi tanto a teologia, porém a experiência
democrática e igualitária vivenciada em sua comunidade.
Com 15 anos
termina os estudos secundários e, de seguida, ingressa na Universidade de
Vermont, para estudar artes. Lá realizou também estudos na área de Fisiologia,
tomando contacto com as teses de Charles Darwin (1809 – 1882). Nessa altura,
Dewey desperta para a Filosofia. Em 1879, obteve o bacharelato em artes,
exercendo, de seguida, o magistério em pequenas escolas da sua região. Sob a
orientação de H. Torrey, seu ex-professor em Vermont, iniciou a filosofia. Em
1882 inicia seus estudos na Universidade John Hopkins de Baltimore, considerada
avançada na época nos Estados Unidos. Nesse momento, na história dos Estados
Unidos, se vive o fim da Guerra Civil, o desenvolvimento da indústria e do
comércio. Doutorou-se em filosofia em 1884, pela Universidade John Hopkins,
defendendo uma tese sobre a Psicologia de Kant.
Na Universidade
John Hopkins, através de G. S. Morris, que era também do estado de Vermont,
Dewey estudou Hegel (1770-1831).
Esse estudo o levou à conclusão de uma unidade orgânica a perpassar todo o
universo. Em 1884 casa com Alice Chipman, de uma família “pioneira” de Vermont.
Uma característica da personalidade de Alice era seu espírito de liberdade. Do
casamento de Dewey retira a preocupação com as injustiças sociais, e um vínculo
mais prático para o seu pensamento. Ainda em 1884, por convite de Morris, foi
leccionar na Universidade de Michigan, permanecendo lá por dez anos. Essa
Universidade era conhecida como um ambiente democrático, incentivando as
responsabilidades e a liberdade dos jovens do sistema de ensino (CUNHA apud
SOUZA, 2004: 76).
Em Michigan
entrou em contacto com A. H. Loyd e G. H. Mead (1863-1931); deste último levou em conta as
teses psicológicas. Segundo Cunha (1998), Mead foi o principal pensador que
influenciou Dewey nesse período, a ter a ideia de que o cérebro e o sistema
nervoso possuem a função de regular o organismo com factores práticos da vida.
Opunha-se às concepções que isolavam o organismo das determinações do ambiente
em que se situa, preferindo enxergar a dependência entre ambos.
De Mead, Dewey
considera que a mente é uma instância dotada de função instrumental,
encarregada de medir as relações com o meio social, essas ideias estão contidas
na obra Como Pensamos (1910). Em Michigan leu a obra Princípios de
Psicologia de W. James. Dewey reorientou seu pensamento a partir de James.
No seu tempo histórico, a Psicologia atomista encontrava grande repercussão nos
estudos desenvolvidos sobre o funcionamento da mente e a organização do
pensamento. Para essa psicologia, o pensamento é formado por ideias e sensações
situadas em compartimentos estanques. A nova psicologia de James vem-se
contrapor a essa vertente, defendendo que a consciência utiliza-se de uma
continuidade, possui estados transitórios, processos, e não elementos
estanques. A mente é instância de mediação entre o organismo e o meio social.
O Pragmatismo
filosófico tem relação com os factos da história americana. O avanço dos
colonizadores para o oeste do território americano e as transformações
económicas, tecnológicas e a construção do sistema democrático dos Estados Unidos.
“O espírito americano pioneiro, contraído à passividade diante dos
condicionamentos do meio, valorizava o conhecimento como ferramenta para
ampliar o controlo do homem sobre as condições adversas impostas pelo ambiente”
(CUNHA apud SOUZA, 2004: 77). Para Dewey, o pensamento e a acção devem formar
um todo indivisível, o que implica uma formulação teórica como hipótese activa,
demonstração para situações práticas da vida. A inteligência garante ao homem
aterrar as condições da sua experiência. Na escola se deve experimentar a
utilidade das teses filosóficas.
Em 1894, Dewey
vai leccionar na Universidade de Chicago. Nesse período chega à conclusão de
que a filosofia tem uma aplicação social. Cria nessa Universidade um
laboratório de ensino. O laboratório de Dewey abalava a Educação Tradicional,
posto que os educandos, com o auxílio do professor, vão organizar o ambiente
escolar de acordo com os seus interesses.
O laboratório
previa a liberdade dos estudantes, ao passo que o modelo Tradicional estava
muito centralizado na ordem e na disciplina. Nesse modelo de educação elaborado
por Dewey há o contacto subjectivo do mestre com os alunos. Esse contacto deve
reger as relações de ensino e aprendizagem, num clima de liberdade, de ajuda
mútua, de simpatia e amor que deveriam sempre estar presentes.
O pensamento
deweyano vinculou-se a conceitos do liberalismo. Confiança na inteligência, na
liberdade de pensamento e no carácter experimental da vida enquanto forças
orientadas da acção humana. As áreas de interesse de seu pensamento são:
Epistemologia, Metafísica, Filosofia da mente, Filosofia da educação e o
Empirismo naturalista como pressuposto para suas teorias sobre a Psicologia
Social, Ética, e progressivíssimo democrático cristão.
Por fim, Dewey
participa activamente num movimento de assistência social denominado Hull
House. A Hull house era uma organização filantrópica dirigida no
tempo de Dewey por Jane Adams. Essa associação influenciou muito o modo de
Dewey enxergar entre as classes sociais. A Hull House promovia relações
recíprocas de auxílio, uma vez que as desigualdades sociais geram dependência
entre as classes sociais. As relações entre as classes sociais deveriam
despertar a consciência dos desequilíbrios sociais. A organização era regida
por princípios democráticos que acentuaram a vida de Dewey (CUNHA apud SOUZA,
2004: 79).
Em Chicago,
Dewey escreve as seguintes obras: Psicologia em 1887; Meu Credo Pedagógico
em 1897; Escola e Sociedade em 1899, fruto da experiência com o
laboratório de ensino. A Criança e o Currículo em 1902; A Situação
Educacional também foi escrita neste ano. Em 1904 deixa a Universidade de
Chicago devido às discordâncias com relação à escola – laboratório.
Ingressa em 1905
na Universidade de Colúmbia de Nova Iorque, onde permanece até 1930. Deixou a
Universidade como professor emérito. Estuda lógica e epistemologia nesse
período para elucidar suas ideias educacionais. Obras por ele escritas: Ética,
com James H. Tufts em 1908; Democracia e Educação em 1916; Reconstrução
em Filosofia em 1920, Homem natural e a Liberdade da Conduta Moderna
em 1922, Experiência e Natureza em 1925; o Público e os seus
Problemas em 1927; Educação Progressiva em 1928, a Busca da
Certeza de 1929, O Caminho para sair da Confusão Educacional em
1931, a Filosofia e Civilização também em 1931; Como Pensamos em
1933; Vida e Educação também em 1933; A Arte como Experiência em
1934; Fé na Prosperidade Pública igualmente em 1934; Liberalismo e
Acção Social em 1935; Experiência e Educação em 1938; Teoria da
Avaliação em 1939, Liberdade e Cultura também de 1939; Problemas
do Homem em 1946; Aprendizagem e Conhecimento também de 1946. Houve
uma série de conferências publicadas sob forma de livros, que mostram a intensa
produção do pensamento deweyano. Dewey morre no dia 1 de Junho de 1952, aos 92
anos de idade, em Nova Iorque (ARCHAMBAULT apud SOUZA, 2004: 80).
Foi membro da Liga
para a acção política independente, na qual actuou no ideal da causa
democrática. Entrou para a liga por ocasião da Primeira Guerra Mundial. Sua participação
na Liga foi tão activa que esteve na China, Turquia e na ex-União Soviética
durante a década de 1920 com o intuito de conhecer o comunismo, e sua proposta
de uma política do proletariado. Decepciona-se com o despotismo dos
líderes políticos, e não mais oferece apoio aos regimes comunistas.
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