Para começar a identificar o caráter peculiar da função social
do historiador no exercício seu ofício, o autor contrapõe-o a uma
idéia de cientista que ganhou força no final do século XIX. Os avanços
do conhecimento científico foram reconhecidos pela sociedade a partir
da aplicação em grande escala de inovações tecnológicas que transformaram
o mundo, adotando-se um discurso da superioridade da racionalização
em detrimento de antigas crenças e preconceitos. Um grande exemplo
disso é a utilização da eletricidade e os inventos a ela relacionados.
No entanto, o prestígio alcançado pelo cientista através dos êxitos
das ciências, especialmente as "naturais" e exatas, não
se traduziu necessariamente em popularização do conhecimento científico,
que continuou delegado a indivíduos que alcançaram grande fama de
genialidade solitária, como se tivessem à parte do mundo, abstratos
em experimentos de laboratório incompreensíveis ao vulgo, envolto
na descoberta de invenções, mistérios e fórmulas de grande alcance.
Florescano de certa forma ironiza a maneira peculiar como tal figura
foi aparecendo no imaginário da sociedade e expresso mesmo na literatura
da época, como lemos no clássico Frankenstein, o Moderno Prometeu,
de Mary Shelley, por exemplo. Florescano adota um tom irônico quando
menciona esse esteréotipo quando usa um vocabulário religioso ("auréola",
"ungifo") para aludir à essa proeminência do status da ciência
e seus protagonistas em suas revoluções e descobertas constantes,
com seu aspecto de necessidade e autoridade verticalizada.
O subtítulo do romance de Shelley, no entanto, já nos fornece certa
pistas de como a ciência e suas questões também dialogam com questões
velhas no percurso de sua evolução. Para a defesa da história e do
historiador, Florescano destaca a sua antiguidade e tradição. O discurso
do historiador está intercalado funções sociais desde sua origem.
O estudo do passado é feito por humanos e sobre o humano. O historiador
deve remeter-se aos fatos passados, ao que já foi escrito sobre eles,
tanto no passado quanto contemporaneamente, em várias culturas e línguas
diferentes e repensá-los também aos desafios que seu contexto
cultural apresenta e permite. Os grupos sociais que o historiador é
devedor são, portanto, tanto em relação à sociedade que vive quanto
ao campo mais restrito dos seus colegas , dos textos anteriores sobre
os temas, das fontes e documentos, e das pessoas e instituições envolvida
quando trata delas.
O texto nos permite supor que a ciência não pode considerar-se uma
ciência, ainda mais se comparada com as ditas ciências modernas. No
entanto, o historiador deve obedecer a parâmetros definidos, embora
não rígidos, percebendo que o terreno da história tem um campo teórico,
tradição historiográfica reconhecida. Para ser notado, reconhecido
e debatido pelo colegiado dos historiador, o novo historiador precisa
seguir os métodos elaborados pela disciplina conforme a técnica de
uma arte, com as elaborações de seus mestres anteriores, observando
a história das publicações e a trajetória das problemáticas.
Os temas abordados pelo historiador devem abordar considerrar
a leitura de fontes diretas e indiretas, mas também pela profusão
de referências e exegeses anteriores de autores que trabalharam no
tema, pois senão corre o risco de "escancarar portas já abertas".
Porém, criar algo novo ou relevante num ambiente cada vez mais acirrado
é uma das motivações que o novo historiador pode tomar como impulso.
A competição que existe entre os historiadores pode ser entendida
também pelo desafio da superação das análises das fontes já existentes.
É instigante uma vez que fontes que parecem superadas pelo tempo, podem
ser analisadas mediante novas concepções, alcançando uma perspectiva
distinta inclusive da sociedade em que o historiador está emergido,
e da qual é produto.
Vimos que apesar dessa antiguidade e a constante relação com os grupos
sociais, a disciplina da história também apresentou uma trajetória
própria, também, como a ciência, em especial a partir do fim do século
XIX. O paradigma da identidade da verdade dos fatos passados com a verdade
objetiva foi sendo questionado pelas vertentes interpretativas que inclusive
passaram a pensar a própria disciplina da história e seus pressupostos
na relação com a historiografia. A questão do ponto de vista e dos
interesses envolvidos, tanto no trabalho das fontes, como na construção
de um discurso sobre ela, pode ser considerada quando se lê um texto,
problematizando-o conforme o espírito crítico, mesmo que de autores
notórios e reconhecidos. Aí entra o papel do historiador como indivíduo,
situado perante um grupo, porém com a liberdade garantida para sua
expressão mesmo com tantas condicionantes sociais inevitáveis, que,
sendo importantes, não podem servir de pretexto para a coerção ou
engessamento do exercício do ofício.
A história de certa forma emancipou-se de funções sociais anteriores
para ganhar mais autonomia, tanto na relação da sociedade quanto em
sua especificidade na relação com outras disciplinas sociais. A história
se renova como a sociedade, através de novas gerações, pelos mecanismos
de sucessão. Não está mais diretamente subordinada, por exemplo,
a uma política e uma ideologia oficiais, como no caso da criação
das identidades nacionais, na formação dos estados modernos. Isso
não quer dizer que vertentes múltiplas e contraditórias, inclusive
políticas e ideológicas, não se encontrem e entrecruzem nos meandros
dos debates contemporâneos, mas agora podem ser mais facilmente desconstruídas
ou relativizadas, mesmo com a ameaça forânea da instrumentalização
das questões que em si aglutina.
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