As diversas éticas

Ricardo Ernesto Rose

Jornalista, graduado e pós-graduando em filosofia; pós-graduado em sociologia e gestão ambiental.

Autor do livro de ensaios A religião e o riso & outros textos de filosofia e sociologia e dois outros livros de crônicas sobre a questão ambiental.

1. Definição básica de ética

A ética é a disciplina da filosofia que estuda os valores e os princípios ideais do comportamento humano. Enquanto a moral é baseada na obediência dos costumes e hábitos estabelecidos – geralmente colocados como valores e princípios – a ética procura fundamentar as ações morais na razão, no raciocínio.

Segundo Abbagnano existem duas principais concepções da ética. A primeira estabelece a ética como sendo o objetivo para a qual a conduta humana deve ser direcionada com os meio que se utilizam para chegar-se a tal fim; sendo que tanto o fim quanto os meios devem ser deduzidos da natureza humana. A segunda definição explica a ética como sendo a ciência do motivo (razão) da conduta, procurando determinar tal motivo com o objetivo de dirigir ou disciplinar esta conduta humana.

Estas definições, apesar de bastante parecidas à primeira vista, apontam para duas maneiras diametralmente opostas de avaliar a ética. A primeira definição parte de uma posição idealista do humano e de seus objetivos, utilizando expressões como “essência”, “substância” ou “natureza” do homem. Já a segunda visão da ética aponta para uma visão mais realista, falando dos “motivos” e das “causas” da conduta humana ou das “forças” que a determinam, atendo-se ao conhecimento dos fatos. A título de exemplo, podemos mencionar como típicos representantes da primeira definição de ética os filósofos Platão (em seus diálogos e na República) e Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco. Escreve Aristóteles:

Pensa-se que a vida feliz é conforme a virtude. Então, uma vida virtuosa exige esforço e não consiste em divertimento. E dizemos que as coisas sérias são melhores do que as coisas risíveis e relacionadas com o divertimento, e que a atividade da melhor entre as duas coisas é a mais séria – seja em relação aos dois elementos do nosso ser, seja em relação a duas pessoas. Assim, a atividade da faculdade ou pessoa mais nobre é superior em si mesma e, portanto, participa mais da natureza da felicidade. (Aristóteles, 2002).

Como representante da segunda interpretação da ética, podemos citar o filósofo Epicuro, que no texto abaixo apresenta sua concepção da “vida feliz”, ou seja, ética:

“Chamamos ao prazer princípio e fim da vida feliz. Com efeito, sabemos que é o primeiro bem, o bem inato, e que dele derivamos toda a escolha ou recusa e chegamos a ele valorizando todo bem com critério do efeito que nos produz. Quando dizemos, então, que o prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos pela sensualidade, como creem certos ignorantes, que se encontram em desacordo conosco ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e de perturbações da alma.” (Epicuro, 1985).

2. Breve histórico

A ética já aparece como objeto de estudo nos filósofos pré-socráticos, como Tales de Mileto, Heráclito de Éfeso, Anaxímandro de Mileto, Demócrito e Parmênides de Eléia, entre outros. Nestes autores, a ética tem a forma de uma filosofia moral; ensinamentos que têm determinado objetivo pedagógico e que transparecem nos textos dos filósofos cosmológicos. Algumas características apresentadas por estes textos são:

  • a) uma busca incansável de um conhecimento ainda não disponível, mas que se encontrado proporcionará um aperfeiçoamento da conduta;
  • b) a exigência de que os homens, em harmonia com o cosmos, deveriam agir baseados em uma teoria coerente;
  • c) a adesão provisória a uma concepção sobre o que é bom e o agir de acordo com esta concepção;
  • d) a firme decisão de manter uma atitude coerente, baseada na concepção do bem.

A ética, como fundamentação teórica do melhor modo de viver, tanto na vida privada quanto pública, abrangia diversos conhecimentos; atualmente incluídos na psicologia, antropologia, sociologia, economia, pedagogia e política. A ideia do “bem viver” incluía diversos aspectos da vida humana e não se limitava somente a uma disciplina. É, no entanto, a partir de Sócrates – e mais especificamente com Platão – que a filosofia começa a desenvolver uma concepção mais clara da ética. Exemplo disto é o Mito de Giges, exposto na obra A República. Aristóteles chega a dedicar textos específicos à ética, como a Ética a Nicômaco, A Grande Ética, e a Ética a Eudêmio. Outras correntes de pensamento do período helenístico, como a epicurista, a estoica, a cética, a cínica, e a cirenaica, também davam um grande espaço à ética em suas doutrinas. A grande maioria dos filósofos destas escolas tinha uma visão realista da ética, com exceção dos representantes da escola estoica.

Na Idade Média a ética passa a tratar de temas relacionados principalmente à religião cristã. Um dos tópicos mais debatidos em todo o período medieval é o do “livre arbítrio” – sem o qual toda a ética, a moral e a escatologia cristã não fariam sentido. O tema perpassa praticamente todos os principais filósofos medievais, de Santo Agostinho a São Tomás de Aquino. Com relação ao livre arbítrio escreve este último que “O homem possui livre arbítrio, caso contrário seriam vãos os conselhos, as exortações, as ordens, as proibições, as recompensas e as punições.” (São Tomás de Aquino apud Dittrich).

Com a filosofia moderna foram redescobertos os temas já tratados pelos filósofos da Antiguidade. Estes, porém, passaram a ser tratados de maneira independente, não relacionada à religião cristã. O mais conhecido exemplo desta nova maneira de tratar o assunto aparece na obra “A Ética” do filósofo holandês Baruch Espinosa. A crescente crítica da metafísica clássica em toda a filosofia a partir do século XVII faz com que o estudo da ética fique cada vez mais longe das normas e dogmas da religião. A famosa frase do filósofo David Hume em sua obra Tratado da Natureza Humana, dizendo que seria ilegítimo derivar proposições contendo ought (deve) de proposições contendo is (é), ou seja, derivar valores de fatos; prescrições de descrições; tornou-se bastante influente em todas as reflexões éticas nos períodos posteriores. Nietzsche, em concordância com sua crítica ao cristianismo e à cultura, escreve que não existem valores morais absolutos e que estes variam de época e cultura. Todos estes pensadores contribuíram para dissociar a ética da metafísica e torná-la mais afeita aos temas práticos.

3. Diversas éticas

A ética não funciona através da imposição e da dogmatização de seus códigos. Desde seu início, a filosofia moral (ética) sempre se utilizou da argumentação racional, valendo-se de métodos que variavam, de acordo com o pensador ou a escola filosófica. Assim temos como metodologias de argumentação ética ao longo da história da filosofia:

  • – o método empírico-racional, desenvolvido por Aristóteles;

  • – o método empirista e racionalista, adotado pela maioria dos filósofos modernos a partir de Descartes;

  • – o método transcendental, desenvolvido por Kant na Crítica da Razão Pura;

  • – o método dialético-absoluto, elaborado por Hegel em sua filosofia;

  • – o método dialético-materialista, criado por Marx e utilizado por pensadores marxistas;

  • – o método fenomenológico, elaborado por Husserl e desenvolvido por Scheler;

  • – a análise da linguagem, utilizada pelos pensadores ingleses Moore, Stevenson e Ayer;

  • – por final, o método neocontratualista, desenvolvido pelo filósofo americano John Rawls.

O desenvolvimento das tecnologias e das sociedades humanas tem contribuído para a expansão do campo de aplicação da ética. A Declaração dos Direitos do Homem (1949), assinada por todos os países-membro da ONU; assim como diversas comissões criadas para proteção às pessoas (crianças, idosos, deficientes, etc.), à biodiversidade, aos recursos naturais, etc., fizeram com que surgissem diversas novas áreas de preocupação e atuação para a ética. Bioética, ética empresarial, ética ambiental, ética médica, ética política, ética econômica, entre outras, são áreas onde a análise e a crítica filosófica se faz cada vez mais presente.

Fontes pesquisadas:

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