AS PROMESSAS DE ADÃO –

Brasil

Incluímos nesta seleção a história que segue, a título de curiosidade, pois a vimos citada onde quer que fosse. Recebemo-la contada diretamente por um velho caipira paulista, cuja linguagem tremendamente pitoresca registramos no mesmo momento. Afirmou-nos ele que o "causo" era corrente entre a gente do seu "fundão", e constituía história que se passava "de boca prá ouvido".

Que figure aqui como contribuição do nosso matuto.

AS PROMESSAS DE ADÃO

COMO mecê sabe, Adão vivia bem cômodo lá no Paraíso de Deus Nosso Sinhô. Mai quem é que diz que o marvado tava contente? Qui nada…

Tinha tudo ali, de graça, bunito, tudo novinho em fôia, até a muié dele, que, no fim das conta, foi a curpada de tudo. Pruquê mecê me adescurpe, mai muié quando dá de azucrina os ovido de um home, é pió que peste da braba.

Pois é. A tar não tava sastifeita ali, e tantas revirada deu ca língua, tanta mexida fêiz, que acabo chamando a serpente lá prá drentro. Mecê pensa que Deus Nosso Sinhô num tava sabendo de tudo? Ora, si tava! Mas êle só queria vê até onde aqueles dois tonto ia.

E foro, num foro?

Ora, mecê num sabe? Aquela história da maçã, e intecetra…

Pois se acabo a mamata. Deus Nosso Sinhô fico loco da vida, e disse ansim prá Adão:

"óie, seu camarada, tu acho ruim esta vidona, num acho? Pois tu vai vê como dói uma sardade. Já daqui prá fora e vá cavá a terra préla te dá o sustento, e vá derruba as arvre préias te dá casa e fogo. E zute daqui, que tu já tá sobrando".

Mecê tá dizendo "pobre do Adão?" Pobre nada! Trôxa, déis veis trôxa! Mai que havéra de fazê? Chorando, chorando, garro a boa bisca da muié dele e se pôs pro mundo. Mai porém, quando êle quis cavá a terra prá prantá, é que foi o nó. Num é que a terra deu de grita, de se troce, de se alamentá, dizendo prêle: "Num me corte, que dói! Num me corte, que dói!"

Mecê qué sabe de onde saía a voiz da terra? Pois das entranha dela. Como um ronco de bicho numa grota. Então, veio a Eva, muito espivetada, e disse ansim:

"Largue disso, meu fio. É mió mecê derruba uma arvre prá fazê fogo, que eu tô cum frio maluco."

O marido, que obedecia ela como um bobão mermo, lá se foi corta uma arvre. Mar prego o machado no tronco, a arvre garro a sortá uma sanguera loca pelo corte e a berra: "Num me corte, que dói! Num me corte, que dói!"

O homem quage quage deu em doido. De cada veiz que atentava cavá a terra ô derruba uma arvre lá vinha a berraria e a sanguera. Afinar, cansado de morá no relento e só come fruta, Adão arresorveu tê umas prática com Deus Nosso Sinhô.

Chego no Paraíso e foi dizendo: "Afinar, meu Nosso Sinhô, mercê me disse que cavasse a terra prá tirá meu sustento, mais da muié que mecê mesmo me deu sem eu pedi. E que derrubasse as arvre pra fazê fogo e casa. E agora nem as arvre nem a terra qué me ajuda. Só faiz berra e botá sangue, mar eu toco a enxada e o machado nelas. Mecê qué fazê o favô de dá um jeito nessa história?"

Se Deus Nosso Sinhô deu o jeito? Mai quem é que pôde co pode de Deus, dona? Craro que êle conserto a trapaiada toda. E óie que se eu fosse ele num consertava nada, que aqueles dois num miricia consideração ninhuma. Tá bom, ta bom, tudo nóis nacêmo deles… Mai havéra de sê bem mió se eles tivesse ficado quietinho e num tivesse nascido a gente, mecê num acha?

Mai então, Deus Nosso Sinhô disse prêle: "Óia, tu vai, e diz prá terra que ela te sustente, que tu dará teu corpo préla come, quando a morte chega. Diz pras arvre que te dê fogo e teto que tu há de i pro coração da terra drentro de um caixão feito de madêra delas."

E Adão foi e fêiz as promessa que Deus Nosso Sinhô tinha mandado. E daí a terra dexô cavá e começo a capricha nas coisa que criava. Capricho tanto que até praga de mato deu prá criá. E as arvre num se quexaro mais e pegaro a dá tudo pro home: teto, fogo, fruta, sombra e até este marvado de cabo de enxada, que obriga a gente a trabaiá…

Purisso que sê enterrado na terra é coisa sagrada, dona… Triste de quem num pode cumpri as promessa de Adão…

Fonte: Maravilhas do conto popular. Adaptação de Nair Lacerda. Cultrix, 1960.

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