EL-REI AÇÚCAR

Oliveira Lima

EL-REI AÇÚCAR

Em todas as Antilhas onde se cultiva a cana-de-açúcar, e nelas o clima e o terreno são próprios geralmente para tal cultura, a impressão inequívoca é de prosperidade excepcional, determinada pela igualmente excepcional valorização do gênero, produzida pela guerra.

Mesmo em Barbados, ilha pequena, com uma população das mais densas, o açúcar tem dado grandes lucros, que só não parecem aproveitar os trabalhadores negros, cujos salários continuam reduzidos, decerto pela concorrência do número, provocando seu êxodo para Cuba, onde os salários se elevaram muito pela procura e que é o grande empório do açúcar da América Central.

Porto Rico não lhe vai ficando atrás nos lucros, se bem que pelo seu tamanho não possa competir na importância total dos mesmos. Várias das plantações têm tido proventos de cento por cento e o menos que acusam os demais são dividendos de cinqüenta por cento.

O capital americano tem-nas dotado com os aparelhos de produção mais aperfeiçoados e a cana é cientificamente tratada, comportando cada usina dois a três químicos. Ainda assim, tão privilegiado é o nosso solo pernambucano para tal cultura que com todas estas condições favoráveis ao produto cubano, a proporção sacarina da cana "pérola das Antilhas" não é em média superior a 11%. Se a fonte de receita econômica é muito mais copiosa é porque é de 4 1/2 milhões de toneladas a safra anual da ilha, despejada pelas suas grandes fábricas, em número muito considerável.

O tipo cubano é o da usina central; em Barbados são as pequenas usinas que se encontram, adequadas a meios de produção intensa, requerendo adubos, quer químicos, quer simplesmente estrume, importados de ilhas vizinhas menos povoadas.

Cuba dispõe, além do seu açúcar, de fumo de reputação firmada e inabalável, de minerais e de frutos tropicais, com venda fácil no mercado próximo dos Estados Unidos. Também terra alguma dá ou pode dar impressão igual de prosperidade, sendo mister notar que a ilha se emancipou cm 1898, há 22 anos apenas, e que ainda teve que atravessar um período de adaptação às suas novas instituições e de conseqüentes perturbações. A transformação data de uns dez anos e foi sobretudo ativada nos últimos cinco pela falta extraordinária do açúcar.

A Havana era uma cidade colonial espanhola, de ruas estreitas e sujas, com alguns palácios dc frontaria enegrecida com brasões lapidados e muitos tugúrios em cujas janelas secava a roupa lavada dos habitantes. Hoje conserva-se êssc xadrez de vielas; mas a cidade recebe ar de seus quarteirões novos, com edifícios de amplas dimensões e de gosto arquitetônico, sobressaindo entre as artérias principais o "Prado", que corresponde à Avenida Central do Rio de Janeiro, e o "Malecon", que corresponde à Avenida Beira-Mar sem a rara beleza que a esta empresta a paisagem única, mas derivando não pouco pitoresco das suas fortalezas, do Morro e de Cabanos, que guardam a entrada do porto.

O "Vedado" é um bairro novo dc residências elegantes, que suporta a comparação com os mais bonitos de outras cidades importantes, e além do Vedado, em Marináo, até a praia na costa, fora do porto de garganta apertada, se está cobrindo o campo de vilas confortáveis.

A vida oferece em Cuba todo o conforto, mas está excessivamente cara, mais ainda do que nos Estados Unidos, pela razão muito simples de que tudo é importado, a não serem os citados artigos de exportação — fontes de riqueza — c o comércio quer ganhar rios de dinheiro conquanto seja objeto de compra e venda.

Este estado de coisas reflete-se na questão política. Cuba está cm vésperas de eleição presidencial e dois partidos ou antes dois candidatos disputam a suprema magistratura. Semelhante pleito é sempre renhido porque a posição traz honras, dignidade e proventos, mas um editorial que li na minha curta estada na Havana diz, com sobeja razão, que o resultado nada influi sobre o futuro do açúcar, que todos concordam em julgar o mais risonho por alguns anos a vir, pelo menos. E o editorial ajuntava, com muito desvanecimento, que se acha provado, sem sombra de dúvida, que a energia produtora de Cuba pode desafiar "as piores administrações e o mais desenfreado desperdício dos dinheiros públicos, o qual não constituirá mais do que uma gota dc água num balde". Esse desperdício o jornal o reputa necessário para manter os políticos mansos e satisfeitos. O melhor será, porém, não forçar a experiência. Outros países meteram-se a isso e deram-se mal.

Washington, novembro de 1920

 

Fonte: Oliveira Lima – Obra Seleta – Conselho Federal de Cultura, 1971.

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