A filosofia do filme Waking Life

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  • #79856

    “o homem vinha com aquele papo pseudo-científico de telepatia”

    Não era pseudo-científico nem científico.
    Para se fazer qualquer afirmação desse “naipe” é preciso ser muito prepotente.

    Primeiro, é necessário se ter a certeza de que não existe reencarnação, vida após a morte etc… e essa certeza eu não tenho. Segundo, é preciso se ter um perfeito discernimento do que é ciência…o que também exige um conhecimento que não foi demonstrado aqui.
    Isso não é uma atitude filosófica razoável, e também soa muito arrogante. Eu acho melhor não saírem discriminando o que é ou não é ciência e sim aceitar (e procurar) entender os diálogos no seu próprio contexto.
    Acho que aquela afirmação sobre “telepatia” foi um tipo de licença poética, foi um exemplo, ele não estava falando de “telepatia” como se vê em filmes de ficção científica e sim um tipo de teoria Jungana.

    Concordo e admiro todas as demais afirmações feitas nesse fórum (com exceção desta que eu critiquei)

    #79857

    “O que achei muito interessante é que as opiniões filosóficas dos personagens são tão passíveis de erros e contradições quanto na vida real.”

    Concordo, a verossimilhança é um detalhe muito legal no filme. Realmente acontece essa aproximação com a nossa realidade, e ao mesmo tempo, o filme nos entorpece de imagens oníricas, dando a sensação de que nós tambem vivemos um sonho. Esse é o legal da arte, ela é sentida e muito do que é sentido não pode ser verbalizado. Como diz aquela personagem:
    “os símbolos estão mortos”

    #79858

    Acho que aquela afirmação sobre “telepatia” foi um tipo de licença poética, foi um exemplo, ele não estava falando de “telepatia” como se vê em filmes de ficção científica e sim um tipo de teoria Junguiana.

    É, se ele estava se referindo à possibilidade de que as pessoas pudessem ter indiretamente assimilado uma certa facilidade de resolver as questões das palavras cruzadas pelo fato de já haverem introduzido a solução daquelas palavras cruzadas na cultura de massas, então a idéia de “telepatia” como um inconsciente coletivo parece ter fundamento.

    Primeiro, é necessário se ter a certeza de que não existe reencarnação, vida após a morte etc… e essa certeza eu não tenho.

    Concordo. É tão prepotente afirmar a inexistência de reencarnação após a morte quanto afirmá-la sem jamais ter tido uma só prova disso ou, pelo menos, uma argumentação bastante convincente.

    Esse é o legal da arte, ela é sentida e muito do que é sentido não pode ser verbalizado. Como diz aquela personagem: “os símbolos estão mortos”

    A linguagem surgiu pela existência e, não, pela necessidade de comunicar propriamente – é o que parece mais provável. A comunicação apareceu na vida animal como uma transmissão de informações sem a necessidade de que esses sinais fossem entendidos. Sendo assim, um sinal de perigo pode levar os outros animais a se refugiarem em suas tocas e ficarem alertas sem nem mesmo saberem de onde vem e que tipo de predador os persegue…

    …pois “a existência pretere a comunicação”.

    #79859

    ADENDO À MENSAGEM ANTERIOR:

    Apesar de que eu acho, não me recordo direito, que ele estava se referindo à assimilação dessa “facilidade” de resolver as questões das palavras cruzadas num grupo de controle que estava realmente isolado da sociedade, num momento em que as soluções das questões já haviam passado a ser divulgadas externamente ao público.

    Se foi isso, é telepatia mesmo. E daí só me resta mandar às favas…

    #79860

    acho que é um tipo de consciente coletivo e esse consciente evolui com o tempo. Por isso hoje é mais fácil resolver palavras cruzadas antigas.

    Ja assistiu sonhos, de Akira Kurosawa?

    #79861

    Já assistiu a Sonhos, de Akira Kurosawa?

    Muito bom! Uma das partes preferidas é aquela em que o protagonista entra nas obras de Vincent Van Gogh…

    #79862

    Também adoro essa parte!!! Quadros de Van Gogh e música de Chopin. Outra parte que eu também gosto é o ultimo conto.
    E voce reparou a referencia que o Waking Life fez ao conto do “demonio de 3 chifres” (um dos contos de Sonhos de Kurosawa)?

    Ainda sobre Waking Life, reparei que aqueles 4 caras que eram “teoria sem ação” estavam andando em uma rua fechada (no início da cena, a placa mostra- DESVIO) Isso é uma alusão e crítica as pessoas que andam na “contra-mão” do sistema, mas que na verdade elas “pensam” que são diferentes, porém suas ações não provam suas ideologias. Elas não dão exemplo, apenas falam. Também aparece um “A” (símbolo de anarquia) pixado no muro enquanto eles caminham.

    Gostei muito também daquele cara que ateia fogo nele mesmo- “Deixar que minha própria falta
    de voz seja ouvida”.
    Ele explica que o homem autodestrutivo também tem interesse em guerras, catástrofes etc… assim como toda a sociedade têm. Ou seja, o cara autodestrutivo se sente diferente, sozinho, mas ele também é parte disso tudo.

    Enfim, o filme é todo bom. Vale a pena comentar cada trecho dele.

    #79863

    Existem pessoas que acham que andam na “contra-mão” do sistema, pensam que são diferentes, porém suas ações não alteram a essência do que criticam.

    A sociedade nos cobra moralmente contribuições para soluções paliativas e é preciso ter muita coragem para contestar essa maneira de pensar, pois, infelizmente, a maioria acredita mesmo em tais soluções paliativas.

    Quem contesta pode ficar mal-visto. Ser chamado de radical. Pois aqueles que acreditam nas soluções paliativas estão convencidos de que estão mesmo mudando uma realidade, quando na verdade estão apenas dando mais consistência a ela…

    #79864

    Sim, concordo totalmente com o que voce postou.

    Outra coisa que também gostei foi a mulher que esbarra com ele, e ela diz: “não quero ser uma formiga”

    Depois podemos continuar comentando cena por cena. No momento estou meio ocupado, mas vou adorar comentar e ler comentários sobre esse filme e talvez outros filmes, livros, discos etc.

    Valeu:-)

    #79865

    Existem pessoas que acham que andam na “contra-mão” do sistema, pensam que são diferentes, porém suas AÇÕES não alteram a essência do que criticam.

    Analizando com mais calma, notei a palavra “ação”.
    Acho que o problema dessas pessoas é justamente que elas não “agem” segundo suas próprias ideias. Elas pensam que são diferentes, mas não “agem” materialmente de forma diferente. Elas não externam suas idéias. O problema é que elas são sem “ação”, não fazem nada para mudar as coisas. Elas apenas seguem a maré. É como o motorista do taxi-barco fala: “Esta é a minha janela para o mundo. A cada minuto, um novo espetáculo. Posso não compreendê-lo ou concordar com ele… mas eu o aceito e acompanho a maré.”
    Só que, o contexto que o motorista fala é outro, e no contexto do motorista eu concordo que seguimos a maré. Mas no contexto sócio-político acho que deve haver ação somada a teoria e não apenas teoria. No contexto socio-politico não devemos simplesmente “seguir a maré” -Mas sei que isso é muito difícil de não fazer.
    O motorista ainda apresenta as consequencias de se seguir a maré, observe:
    “(outro passageiro)Faça o seguinte. Suba mais três ruas.Vire à direita. Mais 2 quarteirões.
    Deixe-o na próxima esquina.
    (Willy)Onde é isso?
    (motorista)Não sei, mas é algum lugar. E isso determinará o desenrolar do resto de sua vida.

    No meu entender, e segundo esse diálogo, quando seguimos a maré somos determinados e não livres. O exemplo é Willy, que “seguiu a maré” ao aceitar a sugestão do passageiro a seu lado, ao invés de pensar ele mesmo num destino para si.

    Valeu
    :-)

    #79866

    Interessante as suas observações. São determinados tipos de situações que realmente ocorrem.

    O motivo de empregar a palavra 'ação', foi criticar outro tipo de caso, que se refere ao agir consciente, porém inconsciente de permanecer num circuito vicioso, enquanto acredita-se estar saindo dele…

    …seria, mais ou menos, como a situação do protagonista dos sonhos, sempre esperando um despertar que nunca chega…

    …contudo, no caso dele, havia desconhecimento dos fatos, o que é diferente; a situação a que me referi antes disso seria melhor chamada de burrice ou de ignorância idealista.

    #79867

    “O motivo de empregar a palavra 'ação', foi criticar outro tipo de caso, que se refere ao agir consciente, porém inconsciente de permanecer num circuito vicioso, enquanto acredita-se estar saindo dele…”
    -Sim, entendo e concordo plenamente.

    E eu posso dizer isso de outra forma:
    Essa é uma característica da alienação, que impede as pessoas de agirem concretamente, materialmente. As pessoas julgam-se conscientes dos problemas, mas na verdade, elas não estão verdadeiramente conscientes ou estão acomodadas. Para os rebeldes sem causa, eu indico a leitura de Marx, que é um tapa na cara, pois a teoria marxista não adminte revolta sem ação, não há consciência sem ação. Moral sem ação não é moral, é ideologia, e ter consciencia de que algo está errado sem que se faça nada material para mudar o que está errado não é consciência, é alienação.
    Esse é o modo como eu entendo o marxismo.

    Sobre Waking Life, gostei da parte que o homem (que trabalhava num posto de gasolina) no bar diz:
    “nunca vou me esquecer dos olhos dele, tinha muita raiva de mim em seus olhos”.
    Eu já vi em algum lugar, que quando uma pessoa mata outra, aquela pessoa que matou nunca se esquece do olhar daquela pessoa morta por ela. Além disso, também entendo que a pessoa que mata, não mata simplesmente por medo, mas sim por raiva, ódio ou por desamor. Mas não é por raiva do outro simplesmente, é por raiva de si próprio.
    “A” mata “B” pois “A” tem raiva de “A”, ou seja, “A” tem raiva dele mesmo.
    Por isso o cara disse no bar “tinha muita raiva de mim em seus olhos”. Esse cara atirou covardemente contra um homem armado apenas com uma faca, que mesmo depois de cair com um tiro no peito, o cara ainda disparou vários tiros. Pode ser que no início fosse medo, mas depois ele tomou gosto, e matar virou prazer, satisfação.
    É como o caso do brasileiro morto em Londres pela polícia inglesa. Aqueles policiais deviam ter muita raiva de si mesmos.

    #79868

    Renan, realmente é uma frase que passa despercebida(como muitas no filme, por possuir diálogos velozes e sucessivos principalmente na primeira metade) mas carrega muito significado.O mundo é(dentre outras coisas) uma representação de nós mesmos.Quando digo mundo não falo exclusivamente de objetos e acontecimentos físicos, deste modo o mundo seria incompleto.As pessoas projetam o que são em coisas exteriores.Evidentemente não sou só eu que falo isso(mesmo que de uma forma vulgar), Kant que o diga.Veja, uma pessoa por si só é neutra.Daí poder ser julgada como boa ou ruim, legal ou chata, metida ou humilde, feia ou bonita, nojenta ou agradável, sempre por outros.Então, quando acho alguém chato na verdade deveria dizer “como sou chato por achar esta pessoa chata”.Os defeitos só existem na medida em que desejamos vê-los.Quando acho alguém bonito o bonito sou eu, que consigo enxergar beleza neste outro.Nós colorimos o mundo da maneria que quisermos com as cores que quisermos.A consciência deste relativismo é muito útil no que se refere a se desprender das próprias convicções e abarcar a realidade de uma forma mais ampla.Em geral este esforço é louvável pela sociedade mas será que a sociedade realmente sentiu a necessidade disto por uma reflexão deste tipo?Será que ela realmente entendeu este relativismo como primordial para uma convivência tolerante entre as pessoas?Será que quem prega a tolerância e humildade o faz porque percebeu que se pode estar tão errado quanto o outro ou por que se tem certeza absoluta de que a tolerância e humildade são verdades inabaláveis e nunca poderão ser postas em dúvida por ninguém por serem bens absolutos?Ou ainda, se prega a tolerância e a paz por medo, por pura vontade de autoconservação…Fico com as duas últimas hipóteses.Posso estar errado.

    #79869

    Só uma correção:O nome correto do filme é Waking Life e não Walking Life.Seria algo como, “Despertando para a vida”.

    #79870

    Corrigi no nome do tópico, mas em algumas mensagens ainda ficou errado.Abs

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