A Gramatologia e a desconstrução da Modernidade

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  • #69957

    Derrida é, certamente, um dos maiores filósofos contemporâneos. Para a perspectiva gramatológica, o texto tem uma estrutura vitrificante. Toda a leitura é um suplemento que não totaliza uma vez que existe sempre essa dimensão de excesso. A finitude do leitor do texto é também a condição para a transformação textual para que esta seja uma inacabada transfiguração do texto. Nunca nos apropriamos do texto devido à estrutura do outro, do idioma, do rastro. Somos ultrapassados pela língua. Há que assumir a disseminação da leitura e a sua insaturabilidade. O texto apela, a dúvida é infinita e a relação inreminável.
    Como entender neste registo a relação autor/texto?

    #75944

    O autor aparece e se expoe – torna-se vulnerável. O leitor toma e reapropria-se, mas como participa de uma briga, não assume a autoria por inteiro. Ambos situam-se no não-território do texto onde o entendimento é preenchido por aquilo que fica excessivo, a fofoca.
    O texto é um não-lugar. Nem Autor e nem leitor tem a total presença a ele. Importa que estão unidos pelo texto, a linguagem que une os descompassados, a letra e a fofoca que une aqueles que ficam atrasados. Mas até aqui é preciso restringir. Não se trata de um contexto ou uma situação, como uma oportunidade ou uma posse. Não se trata de nenhum tipo de território que permitiria ao homem discernir e apontar. Aqui não há lugar e nem território. Por isso e só por isso o Autor e o leitor se encontam unidos, e não numa relação onde ganham tempo como na “amizade” Aristotélica. É na verdade uma relação de morte, de corrupção e de concorencia.

    #75945

    O leitor participa de uma briga? O que você entende por “briga”?

    Derrida afirma a não existência de território? Ou a não existência de fronteiras definíveis?

    Se não há lugar e nem território, então como pode haver texto? Como algo pode existir sem ocupar espaço? Ou como algo pode significar sem ter materialidade?

    #75946

    Caro Nomade da Silva,
    Pode ser que seu termo “Fronteiras definíveis” seja mais honesto – dependendo o que te parece tão absurdo em falar de “não territórios”. Mas pode ser que não.
    Pode ser que não pois um não espaço significa um lugar de múltiplas entradas e saídas – nenhum absurdo. Por quê chama-lo de não espaço? Simplesmente pois não é nenhum espaço. Não é um espaço por inúmeras razões. Uma delas é que está ao mesmo tempo em vários lugares e em um lugar em vários tempos. Outra é que no Texto a resposta pode ser ouvida como pergunta – existe uma inversão do processo de causalidade, ou seja, na leitura de um texto não se atualiza o significado contido nele e tão pouco se progride no que o Texto “significa” – acontece pelo contrário, um processo vicioso de excessos e faltas, interpretações ociosas e excessivas, violencia, gasto.
    Essa situação do Texto, experimentamos mais fortemente na internet, se precisar de um exemplo. O círculo de respostas virtuais é sempre inesgotá vel, mas nem por isso é infinito. É incompleto – quer dizer, cada resposta e réplica deferida representa um “gozo” – ou seja, só tem efeito na medida em que pressupÕe ser rebatida e replicada. Um gozo, pois nunca é decisiva, definitiva ou apodítica – é mais forte quanto mais perto de ser destruída. Por isso não se pode nem memso falar de representação aqui – no máximo é uma simulação, uma não situação, um antro de trapaças e de violencia, uma guerra contínua. Ninguém tem territórios próprios aqui, ninguém “habita” o Ser. Há tão somente briga e busca, uma impressionante “perda daquilo que NÃO se tinha”.
    Abraços.

    #75947

    Um não espaço não significa necessariamente um lugar de múltiplas entradas e saídas e estar ao mesmo tempo em vários lugares e em um lugar em vários tempos ainda assim corrobora a idéia de espaço, na geometria chamam isso de topologia.

    Novamente, não entendo por que o leitor participaria de uma briga, posto que só o que ele precisaria fazer seria ler e interpretar um determinado texto. O que já não seria o mesmo caso se ele estivesse discutindo com o autor.

    E, para finalizar, jamais me ocorreu a idéia de que o pós-modernismo tivesse eliminado a idéia de espaço. Pelo contrário, até mesmo um rizoma precisa estar enraizado em alguma coisa para ser uma raíz…

    #75948

    Corrigindo a mensagem anterior, você mesmo se contradiz ao dizer que um não espaço seria um LUGAR de múltiplas entradas e saídas.

    #75949

    Concordo. Se considerado como você quer considerar, é forçoso falar em não espaços. Mas veja que o caso aqui não é a Não existencia do Autor ou do leitor, e tão pouco a desenraização destes.
    Você diz que mesmo o não espaço é um espaço. Está certíssimo, e cairiamos na mesma armadilha da dialética que moveu Sartre se continuassemos nessa discussão. Se trata então de um entre-espaço, acho que assim fica mais adequado.
    Já sobre os outros tópicos, tenho de discordar. Primeiro pois uma interpretação Não é simples. Não há intencionalidade ou desvelamento do Ser na interpretação. O Sujeito que iinterpreta faz trasbordar aquilo que Não é, enquanto sendo – e não faz constituir uma totalidade negativa com isso – cuidado com a dialética de novo. Quer dizer, transborda pois não Recebe o significado. Transborda pois o Compra, participa de um processo instável onde não há “transporte” de significado e tão pouco doação.
    Diga-se de passagem, é essa a situação de guerra. Professor e aluno, pai e filho, homem e mulher, participam dessa situação ambígua, uma diferença atraente, a mesma do ciúmes. Pq isso é uma não situação? Por quê nunca compõe uma totalidade. Não é uma situação de risco do mesmo tipo daquela que Hobbes descreve – o estado de direito de todos. Não. O estado de guerra é mais complexo que isso. Nele nada progride ou evolui, e nada permanece ou desaparece. ´Nem positividade plena e nem negação plena. Acontece aqui um círculo vicioso – Autor só existe na sua não atualidade, mas essa não atualidade tem de ser comprada por um leitor. Não pode ser “recebido” pelo leitor pois isso faria dele um leitor pleno – um Sujeito intencional – e nenhuma guerra pode ser efetuada entre Sujeitos que não transbordam – a guerra estaria acabada antes de começar se fosse assim.
    Continuando, o autor só existe nessa relação ambígua que mantém com o leitor, sob risco de perder autoria, o que faz da autoria uma entre-autoria. Ninguém ocupa um teritório pleno, mas apenas entre-territórios. Participam da fofoca e não da “lembrança”. Aparecem por aquilo que vendem e compram, mas nunca por aquilo que “fazem” ou “constróem”. São apelidos, nicks, mas nunca nomes ou Sujeitos.
    Por isso não se trata de eliminar a idéia de espaço, de maneira alguma. Nem eliminar a idéia de Autor. Mas é uma reformulação completa da idéia de autoria. O Texto não pode ser lido sem o autor – o que analogamente seria dizer: O presente não existe sem o passado?(veremos) – mas o Autor aqui não pressupoe a idéia de causalidade,anterioridade e nem de Ação. Aqui só se pressupõe a idéia de ambiguidade e ruptura, pois não há leitura pura, mas apenas uma interpretação excessiva, um significado desvelado no seio de uma guerra, sem o qual não existiria qualquer “desvelamento” – e “aparecer” aqui significa participar do estado de fofoca e atraso, e não um aparecimento “atual”, nada de “informação”). Não há fidelidade e nem transporte. O texto portanto, é um entre-espaço, como um pixel de computador. Por isso o Autor existe sim, mas é tão precioso como o Leitor, na Guerra efetuada. Não é lícito fazer a analogia com a “causalidade” ou “anterioridade” pois é da não atualidade e da instabilidade que surge o significado do texto, que não passa de um exceso, atingindo os participantes da guerra como “gozo” , um excesso, nunca uma “suficiencia”.
    Por conseguinte, o termo espaço, autor, leitor, é imprescindível. Eles aparecem por todos os cantos, onde existe disputa. Mas não apareceriam não fosse a “disputa” – e é por isso que há guerra. Não fosse guerra, não haveria referencia qualquer e tão pouco as direções e posições, o espaço, território. E é nesse clima que se fala. Mesmo os cachorros participam – de certa maneira – da fala, já que assim como nõs não tem Ação, mas apenas compra e venda – guerra – por territórios. Tão pouco recebem “informações” da natureza – assim como nõs, estão atrasados e desinformados, vivendo apenas o gozo, a desatualização da guerra. Isso é falar.
    Abraços.

    #75950

    Talvez você ache tudo isso interessante, contudo, meu objetivo era entender melhor o ponto de vista de Derrida e isso está bem difícil de se conseguir aqui na internet, já que parece que estamos passando por alguma fase de obscurantismo.

    Sem contar que a moderadora Isabel Maia está ausente, senão desaparecida…

    #75951

    O ponto de vista de Derridá é motivo de controvérsias por toda a parte. Minha única contribuição aqui foi a de exaltar a não posição tomada do autor para o leitor – ou seja, onde nenhum está presente ao outro, embora nessa desatualização mesma, fazem seus rótulos – apelidos – na guerra, na instabilidade.Assim, leitor e autor não existem nem isolados e nem compostos. Não são Sujeitos individuais e nem compoe uma universalidade de sua relação.
    Em suma, da relação entre Leitor e Autor – e com isso se supoe Pai e Filho, Professor e Aluno, reácionário e revolucionário, etc – alguma transborda viciosamente.Não se trata de evolução, e nem memso de progressão. É repetição viciosa.
    Um exemplo: Uma briga entre comadres. Cada qual goza com a réplica da outra, ou seja, responde deixando sempre um ponto cego para a outra replicar – é o lugar da indecisão, e portanto, um entre-lugar.
    Sim, esse ponto de vista já existia em Foucault e Deleuze… Há tantas controvérsias a respeito de Derridá que é perigoso arriscar no que ele quis ou não dizer.
    Abraços. Espero ter pelo menos servido de “a quem deve-se evitar” para elucidar alguma questão sua…

    #75952

    Aí você está bem equivocado. Certamente, você não fala sobre Derrida. Posso não ser um expert não assunto, mas já sei um pouquinho para distinguir um bom debate de conversa fiada.

    Por exemplo, para Derrida não se trata de afirmar que o autor não está presente para o leitor e vice-versa. O que ele diz é que não se pode determinar com certeza a que tipo de leitor o autor se dirige.

    “Com a desconstrução do significado e a indeterminação espacial do contexto, tem-se também a ruptura da presença, ou a ausência da presença “de qualquer destinatário empiricamente determinado em geral” (Derrida:1973:62). Com esta afirmação, pode-se concluir que, quando se produz um programa de rádio, por exemplo, por mais levantamentos que se faça da audiência, não se consegue determinar quem será o ouvinte de fato.”

    Outro erro seu seria achar que para Derrida não existe isolamento entre o autor e o leitor.

    Também Derrida não afirma que as relações humanas se reduzem à meras repetições de círculos viciosos, não é exatamente isso que ele quer dizer com desatualização.

    E não há tão grandes controvérsias a respeito de Derrida. É só uma questão de achar textos mais explicativos, mais fáceis de se digerir.

    Não acho que você seja um “a quem deve-se evitar” para elucidar alguma questão minha”. Você só está “errado”, mas isso é fácil de perceber…

    #75953

    Amigo..
    O fato do leitor nunca estar plenamente definido, significa que o próprio autor permanece numa situação de risco uando escreve e logo, sua própria autoria é contaminada por esse risco, que atuam como pressupostos, preconceitos e isso em geral. Foi exatamente o que eu disse, e também o que quer dizer sua citação. O único problema até agora, é que você não quiz admitir a radicalidade dessa posição Derridiana que é com toda certeza o “fim da metafísica da presença” assim como O próprio Derridá diz ser o seu objetivo, repetidas vezes.
    Quanto ao círculo vicioso, é fácil: Se não há presença pura entre autor e leitor, cada palavra representa um desvio, e não um atalho. Como desvio, mantém ambos atrasados um frente ao outro, e cada passo que dão apenas pode os distanciar mais. Isso significa algo que já na Ética aristotélica era abominável – que uma falta só pode ser preenchida por um excesso. Sim, se não há prsença resta o Vício, isso é óbvio. Se a filosofia Derridiana abole a met. da presença é OBVIO que admite o Vício – isso também você encontra em “A diferença e repetição” de Deleuze.
    Por fim, Autor e leitor são definodos sempre separadamente. Representam sempre entidades distintas, mas não na sua indispensbilidade ou incondicionabilidade de territórios, mas sim, na sua deterritorializaão, e pois um só existe em conflito com o outro. Poranto, não há com oentender um texto sem o confrontar com um Autor, e nem como escrever um livro sem levar em conta o medo do leitor. A não presença entre autor e leitor é indispensável à evolução do Texto, ou que antes se chamava Mundo o uCosmos.

    #75954

    Situação de risco? Que risco?

    Se não há presença pura entre autor e leitor, cada palavra representa um desvio? Nada a ver…

    A crítica à metafísica da presença de Derrida não quer dizer que duas pessoas não consigam realizar o que se propõem objetivamente. Ele apenas diz que há algo mais para além das aparências de que as coisas se encerram por aí. Um belo exemplo disso é a política, onde eventualmente é possível encontrar pessoas defendendo propostas contrárias às suas diretrizes iniciais. A política também é uma relação de trocas em que eventualmente é preciso fazer concessões em benefício de certos ganhos em acordos com os próprios adversários.

    Se a filosofia Derridiana abole a met. da presença é óbvio que admite o Vício?

    HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHHAHAHAHA
    HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
    HAHAHAHHAAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHAHA
    HAHAHAHAHHA…

    …SÓ PORQUE VOCÊ QUER!

    Derrida jamais incentivou a existência dos vícios, ele não admite vícios…

    …justamente o contrário disto, ele quer desconstruir tudo que seja vício…

    (Mensagem editada por Nômade em Agosto 03, 2004)

    #75955

    Eu te conheço galinho de briga. Não precisa mais trocar mensagens comigo, fique a vontade com o que você acha ser tão evidente. Só um adendo…caso você não saiba, há uma diferença enorme entre substancialidade e vício – a primeira admite a estaticidade do autor e do leitor, a segunda, o círculo vicioso ocorrendo entre eles( não poderia ser movimento pleno, senão atestaria ainda outra espécie de estaticidade. O vício por seu turno, é sempre uma situação instável e portanto, nem movimento pleno e nem estaticidade plena. É o reino do Virtual).
    Um bom exemplo disso ocorre quando imbecis tentam polemizar e caracaturizar os outros(dando risadinhas por exemplo). O que fica pelas bordas, pelos desvios, provoca sempre nova resposta, num circuito vicioso sem nunca chegar a uma definição. O simples fato de serem ausentes um ao outro (quer dizer, se comunicam pelas bordas e pelo que um excede no que o outro falou, sempre incorrendo em insultos, por exemplo) ou seja, não podem decidir nada entre si, já significa que sempre incidem entre si, ou seja, brigam.
    Numa presença pura, autor e leitor se comunicariam à maneira do transporte puro. O que um falasse estaria pressuposto pela recepção do outro, que, se respondesse, ainda estaria no caminho direto para uma decisão. Já no discurso vicioso, o que um fala nunca é recebido mas comprado, excedido, reinterpretado preconceituosamente. Por isso, tende a uma situação de indecisão, onde o excesso sempre produz mais excesso, violencia produz violencia, resposta produz réplica. Há como evitaressa espécie de discurso? Derridá é radical e diz que não. Já eu não saberia responder. S´otenho a dizer que ele é mais frequente entre pessoas inseguras e incapazes de dirigir uma discussão honesta num fórum de filosofia, por exemplo, quando deixam nas bordas e desvios do texto sempre alguma provocação – no fundo seu texto nada mais é do que uma provocação.
    Ps. agora sei por que a moderadora daqui sumiu…

    #75956

    Eu também te reconheço: é o sofista que distorce os contemporâneos para defender uma postura racionalista radical.

    Quer passar a falsa impressão de que a contemporaneidade é um perfeito caos para que as pessoas voltem a acreditar nos velhos e ultrapassados idealismos clássicos.

    Não estou mesmo aqui para perder meu tempo com pessoas como você. Eu só vim aqui para tirar dúvidas com a professora Isabel Maia…

    #75957

    Mas não vou ficar só na palavra fiada. Para provar que não é subjetivismo meu, destaquei dois trechos importantes de uma entrevista de Antoine Spire à Jacques Derrida. Nesse trecho, pode-se claramente perceber que nunca houve essa suposta tendência do filósofo contemporâneo de arrastar a filosofia para o caos, como propõe nosso equivocado sofista…

    “Todo lo que usted apunta que se ventila aquí es muy grave porque tenemos la sensación de que debemos mantener la validez de ese concepto clásico y dominante. Si lo pusiéramos en tela de juicio, estaríamos arruinando todo el fundamento de la ética, del derecho, de la política. Por lo tanto, hay que mantener ese concepto que denomino el concepto cuadriculado, cabal, de la mentira: alguien dice deliberadamente algo distinto de lo que sabe con la intención de confundir al que le está escuchando.” [Jacques Derrida – SOBRE LA MENTIRA EN POLÍTICA]

    “Lo que dice Hannah Arendt es que, hoy en día, la extensión de la mentira se debe al fenómeno que ella denomina la «conspiración a plena luz»: antes se mentía allí donde los ciudadanos no sabían, porque no podían saber; hoy se miente a los ciudadanos allí donde, en principio, pueden saberlo todo. Hoy existe, por consiguiente, una especie de exposición absoluta en la mentira. Éste es el fenómeno que Hannah Arendt interroga con mucha fuerza, pero también ahí podemos preguntarnos si la palabra mentira conviene para describir esta situación.”[Jacques Derrida – SOBRE LA MENTIRA EN POLÍTICA]

    A propósito, esse texto bem como outras entrevistas, conferências e livros de Jacques Derrida podem ser encontrados no site “Derrida en Castellano”:

    http://personales.ciudad.com.ar/Derrida/de_derrida.htm

    Podem ir que é de graça! Paga nada não…

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