Início › Fóruns › Questões sobre Filosofia em geral › Você acha que existe um Deus? › A questão do Mal
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08/08/2004 às 23:07 #70159Miguel (admin)Mestre
Acho extremamente intrigante a seguinte passagem: “Deus, ou quer impedir os males e
não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e
pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em
Deus. Se pode e não quer, é invejoso, o que, igualmente, é
contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e
impotente: portanto nem sequer é Deus. Se pode e quer, o que
é a única coisa compatível com Deus, donde provém então a
existência dos males? Por que Deus não os impede?” (Epicuro, Ética) O que vocês acham?25/08/2004 às 13:55 #79239ateu1974MembroEu acho muito simples.
O resultado de tal observação é que deus não existe, simples.
Agora a frase volta a fazer sentido.25/08/2004 às 16:02 #79240Miguel (admin)MestreResposta simples ou resposta simplória?
A questão levantada dizia respeito ao mal, mas, fugindo pela tangente, concluiu-se com a não existência de Deus. Agora são duas questões sem resposta:
– a questão do mal, permanece sem resposta;
– a questão da existência de Deus, idem.São duas questões diferentes, portanto, da primeira não se pode concluir com qualquer resposta para a segunda. Aliás, aproveito para chamar a atenção para outra questão:
A razão tem pretensão totalitária, se julga capaz de explicar o todo, logo:
# respondendo com o não-sentido do mal, afirma-se que o mal é absurdo, aceita-se a incapacidade da razão explicar o mal. Havendo lacunas que a razão não consegue explicar, ficam abertos horizontes fora do alcance da razão: a razão “perde o poder” de emitir parecer sobre a questão da existência de Deus.
# com a posição agnóstica, respondendo com a possibilidade de um sentido para o mal, ainda que não descoberto, fica reconhecida novamente a incapacidade (ainda que momentanea) da razão: com o que se aceita (ainda que momentaneamente) a incapacidade de responder questões acerca de Deus;
# respondendo pela existência de um sentido para o mal… essa eu estou ainda pagando para ver! Nesse ponto a primeira mensagem cumpriu um papel.
25/08/2004 às 18:02 #79241Miguel (admin)Mestrea questão do mal…kkkk, não seria uma oportunidade de desgostar dele?!
25/08/2004 às 18:03 #79242Miguel (admin)Mestrea palavra desgostar não é bem correta, mas foi a q achei
29/08/2004 às 2:27 #79243Miguel (admin)MestreAproveitando o fim de semana…
respondendo pela existência de um sentido para o mal… essa eu estou ainda pagando para ver!
Já houve muitas tentativas de resposta para essa questão tanto na filosofia quanto na teologia. Dentre as mais conhecidas (na filosofia) estão as de Platão, Plotino, Sto Agostinho e as de Malebrance e Leibnitz. Também na teologia houve muitas tentativas de “explicação”, embora, contemporaneamente, seja consenso apontar a questão do mal como sendo mistério, e, consequentemente, considerar todo tipo de resposta como exercício hermenêutico.
Sto Agostinho tratou extensamente desse tema, sendo, portanto, bastante difícil resumir suas considerações aqui; entretanto, em um “resumo” é quase certo que seriam apontadas as influência do pensamento de Plotino e, claro, de outros autores cristãos (notadamente as cartas paulinas). A grosso modo, o Mal não existe absolutamente, apenas o Bem. O Mal nada mais é do que o reconhecimento de uma certa “ausência” ou “distância” do Bem, assim como as trevas aumentam com o distanciamento da luz. Já no séc V, Agostinho questionava a existência de um “ser maligno” que atuasse como princípio: “para explicar a existencia do mal não há necessidade de recorrer a nenhum ser maligno, basta reconhecer a natureza do homem”. O “mal”, portanto, dentro de um contexto mais amplo, acabava confirmando a existência da liberdade: a “prova empírica” de que Deus criou o homem livre é a possibilidade real do homem se afastar da luz e fazer o mal. Não houvesse realmente essa possibilidade o homem seria “determinado” a fazer o bem: assim, num contexto mais amplo, sendo a liberdade reconhecidamente um grande Bem, a “existência” do mal aparece como sendo “o mal menor”
(ver Do livre arbítrio)
Noutro contexto e de modo diferente, embora aparentemente chegue ao mesmo resultado, está o pensamento de Malebranche. Malebranche (no seu Tratado da naturaleza e da graça, e nas Conversações sobre a metafísica), afirma a possibilidade da existência de vários mundos, já que o mundo depende de Deus, e este é onipotente: Deus poderia criar tantos mundos quantos quisesse, portanto, o mundo atual é apenas um caso particular dentre infinitos mundos possiveis. Agora, sendo que Deus é um ser perfeito e onisciente, se criou este mundo e não outro é porque este é o melhor e o mais simples de todos os possíveis.
A noção anterior (o melhor dos mundos possíveis) foi depois difundida por Leibniz ao relacioná-la com diversos pontos fundamentais de seu sistema metafísico: as idéias de mónada, contingência, onipotencia e liberdade divinas, e o otimismo metafísico que caracterizava seu sistema. Para Leibniz (especialmente na Teodicéia e na Monadologia), há infinitos mundos possiveis que diferem entre si por variaçoes mínimas. O mundo real existente é resultado de uma decisão divina, mas isso não impede a possibilidade da existência de todos os outros mundos que podem ser pensados sem contradição. Nesta noção funda Leibniz a definição de “verdade necessária”: aquela que é verdadeira em todos os mundos possiveis. Mas dos infinitos mundos possiveis, só pode existir um, se se entende por «mundo» o conjunto de todo o existente, não é possivel uma pluralidade de mundos. Conclue então que o mundo atualmente existente é a região das verdades eternas, geradas da inteligencia divina: pela aplicação do principio da razão suficiente, e tendo en conta que a) é Deus quem cria o mundo, b) Deus é onipotente e onisciente, conclui-se que este é o mehor dos mundos possíveis.
O pensamento de Leibniz estava diretamente conectado com a pergunta metafísica fundamental e mais radical: “por que existe o ser e não o nada?”. Esta pergunta pela razão do ser, despertada pelo criacionismo cristão, representa um giro fundamental a respeito da metafísica antiga que propunha somente o problema “o que é o ser?”. Leibniz responde usando o principio de razão suficiente: já que nada contingente pode ser causa de si mismo e, posto que nada existe sem razão, tem que existir uma causa suprema e necessária, ou seja: Deus. A pergunta decorrente “por que as coisas são assim e nao de outra maneira?” é respondida por Leibniz apelando para a perfeição de Deus: sendo Deus perfeito e bom, faz o maior bem possivel, portanto criou o melhor dos mundos possiveis.
Para não estender ainda mais, tocando no pensamento de Teilhard de Chardin, sobre a criação continuada, partilhada e livre e no mal como etapa do processo evolutivo, nem em outros mais, ficarei por aqui.
Tentativas de resposta houveram, mas nenhuma responde tudo e é sem problema. A idéia mesma do “melhor dos mundos possíveis” foi duramente criticada por muitos; dentre alguns recordo Voltaire que teceu diversos comentários carregados de ironia. Contudo, embora criticada, esse idéia ainda tem servido de inspiração para pensadores contemporaneos. A possibilidade de conceber outros mundos distintos do atual foi o ponto fundamental para a teoria semântica da lógica modal: mundos possiveis são modelos teóricos compostos de conjuntos não vazíos de objetos e propriedades que podem servir como interpretação de todos os enunciados da lógica modal. Contemporaneamente, o filósofo analítico Saul Kripke tem sido um dos mais destacados defensores da idéia dos mundos possiveis, que usa em lógica modal para contemplar universos alternativos. Utilizando lógica modal, os filósofos Kripke e Putnan têm criticado posições de outros filófosos de renome como Russell, Frege, Quine e outros. Todas essas discussões acabam sendo praticamente incompreensiveis para quem não é do campo da filosofia, mas diversas correntes de lógica ainda discutem acerca de se estes mundos tem alguma realidade (realismo), se são meramente instrumentos lógicos (formalismo) ou mero produto da mente humana (constructivismo).
E sobre a resposta para a questão do mal: reconhecendo o mistério, ainda continuo pagando para ver uma que dê conta de tudo
Abraços.
31/08/2004 às 20:22 #79244Miguel (admin)MestreCaro Pilgrim, tome cuidado com seu dinheiro, pois tem muita gente oferecendo respostas totalitárias por aí…falando em pagar então J
Sobre a questão de Epicuro lá em cima fico com a opção de que Deus é invejoso.Se eu fosse Deus criaria o homem e teria inveja dele.Acho que a perfeição deve ser muito tediosa.A propósito pode alguém (algo) que tem desejos ser perfeito?Ah, isto me lembrou de algo; estava lendo o velho testamento e tem uma parte em que Deus se arrepende!!Pena que não me lembro onde.De qualquer forma não acho que Deus como me aparece na Bíblia seja perfeito.Por que não um Deus imperfeito, um Deus que fosse mais poderoso, mas tivesse desejos?É mais ou menos assim que os nórdicos viam seus Deuses…
O interessante na mitologia nórdica é que existiam vários deuses e cada pessoa escolhia um para adorar.Odin o deus do frenesi e da sabedoria, Thor o deus da justiça, do laço entre os homens e Frej o deus da colheita da paz, o mais humano dos Deuses (entre outros menos importantes).Acho genial essa idéia de poder escolher seu Deus particular, alias isso acontece também no cristianismo, mas todos com o mesmo nome.E os santos, são os últimos resquícios do paganismo (irracionalismo?) na cristandade?Os últimos resquícios de “imaginação” caberia melhor, na minha opinião.
Outra coisa interessante na mitologia nórdica é a origem da sabedoria de Odin.Em uma das versões Odin se empalou (?) com sua lança na arvore do mundo por uma semana para receber sabedoria, na outra concedeu seu olho direito (ou esquerdo, sei lá) para Mimir para poder beber da fonte da sabedoria. “No pain, No gain” é uma expressão mais antiga do que imaginava…
Sobre a questão do mal ela é representada na mitologia nórdica por Loki, um deus invejoso e infantil.Uma maldade bem pouco “má”.Loki só fica efetivamente ruim, satânico, no juízo final.Claro, pura influencia da bíblia, visto que essas sagas nórdicas eram escritas por cristãos.No caso do Edda prosa, Snorri (que dizem ser o menos “cristão” dos escritores de sagas nórdicas).Alias o começo desse Edda prosa é impagável!Os seres que vão contar a historia do mundo estão sentados em três cadeiras um em cima do outro, o “alto”, “mais-alto” e “terceiro” (ou algo assim).
Mas voltando ao mal, Loki foi muito descaracterizado nas sagas, mas é bem possível que os nórdicos considerassem a maldade dessa forma ingênua e infantil mesmo.Ou seja, não existia a culpa metafísica, culpa sagrada.
Alias aí reside uma questão importante para o mal, ele pode ser, se quiser entender dessa forma, metafísico ou pratico.Eu pago para quem provar que para mim Mal NÃO é aquilo que me faz de alguma maneira me –sentir- mal!Já o que Deus, ou o que “todo mundo”, acha disso eu já suspendo minhas fichas, ou seja se sou “culpado” ou não, não posso ter certeza.De que forma os outros ou o Outro me vê não posso saber, a não ser que ele venha me dizer…mas os emissários do Outro são no mínimo suspeitos na minha opinião.
Arrisco, a alto risco, dizer que definir o mal metafísico é questão de decidir quem é “culpado” pelo mal prático, Deus ou outros seres, ou nós mesmos.A culpabilidade deve ter então um grande papel aqui.Sou levado a pensar que a culpa sempre envolve o outro, não existe culpa de si mesmo para si mesmo (ou existe?)…arrependimento não é bem culpa (ou é?),não sei tmb.De qualquer forma, quando as coisas complicam “lá fora” (alias, conheço muito pouco dos autores citados por Pilgrim acima, então agradeço as explicações) prefiro olhar pra dentro, pois convivo com estas definições o tempo todo e tenho de ter uma resposta para elas, nem que sejam provisórias e minguadas como as do velho René Meditativo.
01/09/2004 às 5:25 #79245Miguel (admin)MestreOlá de novo,
tome cuidado com seu dinheiro, pois tem muita gente oferecendo respostas totalitárias por aí..
E eu não sei?
Fique tranquilo, sou mais crítico do que aparento, mais ainda com sistemas totalitários. Mas, por hora, falemos das “respostas parciais” propostas na sua msg:
Se eu fosse Deus criaria o homem e teria inveja dele. Acho que a perfeição deve ser muito tediosa.
Já escrevi sobre isso em outras listas, transcrevo parte de uma antiga msg aqui:
(1) Perfeição, como parece estar sendo interpretada aqui, é um conceito grego que tem a ver com “completo”. Cabe lembrar que a esfera era considerada a figura perfeita para um grego: completa, finita. O finito era considerado perfeito, era interpretado como completo; o infinito era a imperfeição.
(2) A aplicação desse conceito grego (perfeito) a um Deus de outra cultura não é tão simples como parece estar sendo ventilado aqui. Na cultura judaica, a santidade era considerada a perfeição, nao a completude. Um Deus infinito seria, portanto, um absurdo para o modo grego de pensar. Existe muito material sobre esse assunto para quem se interessar, a cultura ocidental foi forjada no choque dessas grandes culturas grega e judaica.
(3) A adjetivação “Deus perfeito” já mereceria, portanto, mais considerações.A propósito pode alguém (algo) que tem desejos ser perfeito?
Parece que vc está trabalhando com conceitos gregos, mas transplantando-os para outra cultura, e isso não é feito sem problemas. O cristianismo tem solo na cultura oriental judaica e somente depois foi amalgamado com a cultura grega – processo conhecido que acabou forjando a nossa cultural ocidental. Nesse tempo, a cultura grega recebeu diversas novas contribuições da judaica: na cultura metafísica grega, a razão criticava a realidade; na cultura metafísica judaica, era a Palavra que criticava a realidade. É possível traçar um paralelo entre a figura do sábio/filósofo com a figura do sábio/profeta.
Mas, retornando dessa breve divagação e continuando… para o grego, amor é imperfeição, implica falta, busca da parte ausente, por isso o motor imóvel não ama, movimento é corrupção, coisa inadmissível para Deus. O Deus judeu cria por amor, não por necessidade, já que o amor ágape se dá por transbordamento e não por falta, coisa até então impensável para um grego. Também já escrevi sobre isso anteriormente.
De qualquer forma não acho que Deus como me aparece na Bíblia seja perfeito
De outras vezes já tentei mostrar que nem a própria Bíblia faz questão de afirmar isso, pelo menos não daquela perfeição no sentido grego, as Escrituras apontam sempre para a Santidade de Deus, não para a perfeição: amor, compaixão, fidelidade etc. Sem esquecer, sim, poder e sabedoria também. Também está claro, imagino, que o amor divino compromete, já que em parte abre mão do poder, tem esse poder de se retirar quando “quer”… desejo divino, sim. Não se esqueça que o poder divino, para o cristão, o amor, se revelou na fraqueza. A coisa se complica mais na teologia, já que algumas, além da racionalidade demonstrativo-argumentativa, trabalham com o poder do discurso narrativo e a racionalidade mítica.
Já sobre a questão do mal… a associação que vc apontou com o problema da culpa já foi citada por Paul Ricoeur no escrito «Le Mal: un défi à la philosophie et à la théologie» de 1986 (publicado em “Lectures 3, Aus frontières de la philosophie”). Cito um pequeno trecho abaixo:
“O que constitui todo o enigma do mal consiste em colocar sob um mesmo termo, pelo menos na tradição do ocidente judeo-cristão, aqueles fenomenos tão diferentes, como seriam em uma primeira aproximação, o pecado, o sofrimento e a morte. Se poderia dizer que, na medida em que o sofrimento é constantemente posto como termo de referencia na pergunta pelo mal, este se distingue da pergunta pelo pecado e pela culpabilidade. Antes pois de afirmar que o que na fenomenología do mal cometido e do mal sofrido aponta na direção de uma enigmática profundidade comum, é necessário insistir sobre sua disparidade de principio.
No rigor deste termo, o mal moral – o pecado na linguagem religiosa – designa aquilo que faz da ação humana um objeto de imputação, de acusação e de reprovação.”O texto é longo. Citei-o para confirmar que sua intuição não está tão desinformada assim
mas, o texto falava do mal moral, enquanto vc do mal metafísico. Questão mais complicada, embora a mudança não desautorize sua abordagem.
Ricoeur aponta para uma relação dialética no mal, já que o mal produzido por alguém tem réplica no mal padecido por outro. Também nas calamidades, nas doenças, etc, parece que o homem busca um “culpado”, tem que encontrar alguém a quem incriminar e demonizar. (Isso me recorda Nietzsche, na fábula da águia e das ovelhas)
E já que o castigo é um sofrimento considerado como merecido, de novo a questão da culpa: e a vítima, para piorar, ainda se torna a culpada. Falta pessoal ou coletiva? Conhecida ou desconhecida?
Há uma infinidade de teorias para tentar explicar o mal. Tudo isso derivado da pergunta clássica e fundamental: “por que?” Necessidade de traçar um discurso coerente para tudo… mas ainda ninguém encontrou um sobre o mal que satisfizesse a todos. Não só isso! O homem não se sente bem impotente, e, diante do mal, do sofrimento, da morte, quer saber, já que é assim: “o que podemos fazer?” Todas essas coisas bem kantianas
Abraço.
01/09/2004 às 15:39 #79246Miguel (admin)MestreCaros Amigos.
Há uma falácia habilmente colocada por Epicuro, que é percebida claramente por Agostinho: o mal não é o oposto de Deus. Agostinho dizia: o mal é a ausência do bem. O que vale dizer que Deus está “além do bem e do mal”. Pode-se dizer que o bem e o mal fazem parte da natureza humana, na medida em que é livre para poder exercer sua vontade (= livre arbítrio).
Penso que se ficarmos extrapolando os termos colocados por Epicuro, nunca chegaremos a uma resposta plausível. A falácia sempre conduzirá a um círculo vicioso. Se Deus criou o céu e a terra – Deus não faz parte da criação. Podemos constatar a existência do mal através de nossa percepção humana. Como afirmar o mesmo através da percepção de Deus? A questão não se coloca. Percebem?
01/09/2004 às 21:48 #79247Miguel (admin)Mestreo grande problema supondo a priori a existência de deus, é saber se a ele pertence a distinção entre mal e bem, será que essa caracterização de coisas boas e más não é somente humana?parece haver um equívoco do homem em adjetivar alguns atos e pensamentos como bons ou maus, positivos ou negativos temos sempre que caracterizar as coisas para expressar o que sentimos em relação a elas e o mau é uma forma de caracterização, muitas coisas que ocorrem parecendo estar longe das vistas de deus e assim parecendo ser más, são na verdade extremamente evolutivas, pois por trás de uma intenção maligna está uma intenção que parece visar um melhor preparo para a vida humana, e então o mau é fictício, utópico ou realmente existe?
03/09/2004 às 17:24 #79248Miguel (admin)MestreCaro Sr Peregrino,
Você acha mesmo que te tomaria por um “cura” (significante palavra essa usada pelos espanhóis) ou algo do tipo? Hehe.De qualquer forma irônico também não sou, só quero rir um pouco.E só Deus sabe como este ato faz falta hoje, quando parece que o nível de nosso intelecto é medido pela quantidade de idéias que podemos negar.Pena que esta duvida sempre esqueça de duvidar de si mesma.E pessoalmente gosto das coisas simples, embora isso infelizmente só leve a complexidades (eis um paradoxo).
Sobre a perfeição: A idéia que tive de perfeição talvez se aproxime mesmo da grega, aquele negócio da perfeição na arte do sapateiro etc (alias Platão, era meio obcecado pela arte do sapateiro não? Hehe).De qualquer forma a idéia de um Deus não perfeito me parece interessante, seria um Deus mais humano (que talvez acreditasse no homem hehe).
Penso as religiões (e todo tipo de idéia) como temas musicais a serem desenvolvidos em função do “maestro” (e isso de forma alguma entra em choque com uma leitura rigorosa de textos).Creio que Nietzsche tenha realmente menosprezado o caráter criativo do cristianismo (embora reconhecesse de certa forma esta capacidade nas religiões pagãs, a grega/romana essencialmente. A propósito seria até interessante averiguar, mas creio que Nietzsche (mesmo filólogo) devia conhecer muito pouco da mitologia nórdica e celta visto que na época a arqueologia era muito pouco desenvolvida e a distinção entre celtas e saxões ou vikings simplesmente não existia. Sei que tem um “enciclopedista” que escreveu sobre os celtas, Grimm se não me engano, mas realmente a distinção destes povos como tais os conhecemos hoje ficou mais clara somente no séc XX mesmo).Talvez se Nietzsche tivesse lido Blake sua idéia sobre o cristianismo seria outra (bem, talvez não).
Sobre o mal: Quando me referi ao mal metafísico me referi ao mal que transcende o meu mal individual.Ah, mas não se preocupe que não vou ficar orgulhoso pq o Paul Ricour falou algo que lembra o que disse (essa é uma paranóia de professores de filosofia alias hehe.. e eles tem lá seus motivos).Não me referi a nenhuma existência “ontológica” do mal, só quis olhar para idéia de mal que tenho.Ou seja, tenho um ou dois males dentro de mim e não são nenhum “encosto”, ou “Exú Capa-preta” etc hehe, e nem chegam realmente a formar uma legião.
Essa idéia grandiosa, apocalíptica do bem ou do mal não me agrada muito, como diriam os ingleses “put the kettle on and we'll talk about it – can't be that bad!”.É, não pode ser tão mal assim!hehe
“Tenham um bom fim de semana”
09/09/2004 às 14:02 #79249Miguel (admin)Mestreé isso aí o homem inventou o mal, essa palavra parece provocar tanto o nosso ser…talvez o “mal” seja o fruto de tudo aquilo que é bom, se não existisse o oposto de bem(via Heráclito) o próprio bem não teria valor pois não teria nada se opondo a ele, e a essência das coisas é descoberta quando conhecemos seus opostos, acho que o verdadeiro mal predominante não é metafísico e sim cientìfico, não que a ciência vise fazer o mal mas que ela encobre a verdade através de postulados, estes também presentes na religião. O postulado, a máxima verdade são males verdadeiros porque cegam as pessoas por determinado tempo em que poderíamos estar evoluindo, Heidegger por exemplo, afirmou que a ontologia se perdeu nos postulados da tradição filosófica e tentou reconstruir a questão do ser retornando assim a base da questão, bom parece que ele quebrou uma longa tradição que deixou esquecida a essência do ser, e este esquecimento por parte dos filósofos não terá sido um mal?
ob-la-di ob-la-da…17/11/2004 às 13:45 #79250Miguel (admin)MestreO mal… O que é o mal? Não caracterizo a mal como uma propriedade material e sim como um ponto de vista, não há o mal sem o pensamento e não há elementos maus, apenas coisas que receberam cargas de energia negativa por nos mesmos. Por exemplo, uma faca pode cortar um alimento ou matar uma pessoa.
Há porém a ignorância, que são aqueles que fazem o mal e tornam aquilo um ato normal conseguindo se livrar da sua consciência.
Há aquele mal porém que tem consciência do que fez, este não consegue conviver com sua conciência e passa a pensar duas vexes antes de fazer algo semelhante.
Deduzimos assim que o real mal está nas pessoas que se conservam ignorantes de si mesmas.
Resumindo, o mal é uma propriedade do nosso pensamento não sendo concebido por nenhuma outra força oculta senão nós mesmos, não podemos ser controlado por nenhuma espécie de Deus.31/08/2005 às 4:53 #79251Miguel (admin)MestreÀs vezes, o mal pode estar apenas na cabeça de quem o vê…
31/08/2005 às 15:27 #79252Miguel (admin)MestreMileto, o cara que fez esse deseho é um verdadeiro gênio. Muito legal você postar isso. Da até para fazer um fórum para contemplar essa gravura, descobrindo significados, ideologias, críticas, moral e ensinamentos, etc… Depois faça o favor de postar aqui o nome do artista. Valeu.
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