Início › Fóruns › Fórum Sobre Filósofos › Hanna Arendt › A Reflexão sobre a política de Hannah Arendt, um novo tema!
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27/07/2005 às 17:19 #77907Miguel (admin)Mestre
O texto revela que o autor consultou mais comentadores do que a própria autora. Isto fica evidente do parágrafo 17 ao 20 em que o autor, diz que Arendt inaugura em sua “melhor obra” EPF uma nova maneira de pensar a verdade. Isso é desprezar aquilo que é tão caro ao pensamento de Arendt, a saber, as distições! É imprescindível para se compreender a obra de Arendt que se perceba a diferença entre a busca da verdade, um traço marcante da tradição de pensamento ocidental,criticada por Arendt e a busca de sentido proposta por Arendt. Pensar a verdade, corresponde ao método tradicional de pensamento que busca um ponto de vista arquimediano, que não aceita a diversidade, a pluralidade – para usar um termo tão caro à teoria política arendtiana. Segundo palavras da própria Arendt, (Ver Dignidade da Política – O que é a filosofia da Existenz? ) a distância entre sua teoria política e o existencialismo, e qualquer tipo de metódo fenomenológico, é que todos esses acabam recaindo no essencialismo, justamente por se apegarem à busca da verdade, por atrelarem o pensamento à busca da verdade, e com isso funcionalizarem o pensamento como foi feito também com a ação. É preciso perceber que Arendt apropria-se sim de certos conceitos kantianos, aristotélicos, mas sua apropriação transforma tais conceitos dando a eles novos significados, daí a impossibilidade de a rotularmos como “aristotélica, heideggeriana” e simplesmente encerrar o assunto. Ser capaz de encontrar familiaridades entre um autor novo e um antigo, revela uma leitura superficial do mesmo. A compreensão é diferente, revela a singularidade de tal autor, aquilo que faz dele, não um mero repetidor. Se Arendt simplesmente repetisse as idéias de Heidegger ou Aristóteles, não valeria a pena lê-la. Mas todo aquele que de fato leu sua obra, sabe que toda tentativa de “submergir o pensamento num turbilhão de familiaridades” leva não à verdade, mas à falta de sentido, ao paradoxo.
27/07/2005 às 18:53 #77908Miguel (admin)MestreÉ imprescindível para se compreender a obra de Arendt que se perceba a diferença entre a busca da verdade, um traço marcante da tradição de pensamento ocidental, criticada por Arendt, e a busca de sentido proposta por ela.
Interessante. E onde ela menciona isso?
02/08/2005 às 18:18 #77909Miguel (admin)MestreOlá!
Essa distinção permeia toda a obra de Arendt porém só recebe uma formulação explícita em sua última obra A Vida do Espírito que infelizmente permaneceu inacabada por ocasião da morte de Arendt. Porém, a fase embrionária dessa distinção entre verdade e sentido já aparece em textos mais antigos como por exemplo no “Conceito de História Antigo e Moderno” um dos seis ensaios que compõe o Entre o Passado e o Futuro. É imprescindível obviamente que se leia todo o ensaio, mas é possível conferir esta distinção ainda em sua fase embrionária, consultando as páginas 78 a 82, (caso você use a edição brasileira da Editora Perspectiva). Nessa obra aparece como distinção ENTRE OS ANTIGOS(“Os gregos aprendera a compreender…” (p.82) que buscavam a COMPREENSÃO e os MODERNOS, que – por atribuírem status de CIÊNCIA(Ciência Natural) à história – buscavam uma OBJETIVIDADE EUNUCA, (p.79) porque dissociada dos eventos que ela deveria compreender, OU SEJA, A VERDADE. Assim, pode-se ler a crítica que Arendt faz ao moderno conceito de história como uma ruptura falaciosa entre a ciência e o senso comum, ou seja, uma vez que ambos jamais perdem seu elo com a evidência (Vida do Espírito, p.43). Na base dessa falácia está a instrumentalização do pensamento que resultou na identificação/redução da compreensão ao conhecimento, bem como do sentido à verdade. A desconstrução dessas falácias metafísicas que redundaram na instrumentalização do pensamento, é feita em sua última obra, A Vida do Espírito, que permaneceu inacabada por ocasião de sua morte. Esta obra teria 3 partes: o pensar, o querer e o julgar. Somente a primeira, o pensar, foi revisada por Arendt, e é nessa que Arendt distingue entre verdade e significado. (Capítulo I: Aparência, – tópico 8- Ciência e senso comum; a distinção de Kant entre intelecto e razão; verdade e significado (p.42-50, na edição brasileira da Relume-Dumará). Sendo grande parte da obra de Arendt sustentada por essa oposição entre verdade e sentido, o que justifica a sua formulação tão tardiamente é mudança de enfoque: nos primeiros textos, Arendt observa os reflexos da confusão entre verdade e sentido, sob o viés da ação/discurso e portanto política, no seu último livro, sob o viés da ética. Porém, uma nova ética, uma ética política.12/08/2005 às 10:38 #77910Miguel (admin)MestreNão conheço profundamente os trabalhos de Hanna Arendt, mas acho interessante que se tenha feito essa distinção. Também penso que o verdadeiro não deva, necessariamente, “fazer sentido”…
23/08/2005 às 13:52 #77911Miguel (admin)MestrePor favor, alguém poderia me dar algumas informações biográficas dessa autora? Agradeço
26/08/2005 às 23:51 #77912Miguel (admin)MestreOlá Mileto!
O trabalho do pesquisador possui certa semelhança com o trabalho do garimpeiro, a meu ver, pois, na medida em que tentar fundamentar um trabalho acadêmico, é de certa maneira vasculhar a obra inteira do autor para encontrar o parágrafo, a frase que corrobore nossa intuição, ou seja, garimpar no texto. Embora, ao garimpar na obra de Arendt, eu não estivesse procurando pedras como “a verdade” ou a “mentira”, parece-me que em se tratando de teoria política arendtiana, seria um engano supôr que para Arendt exista algo que possa ser definido como o “verdadeiro”. Isto, se por “verdadeiro” se compreende aquilo que se esconde por trás das aparências, ou mesmo, que esteja além das aparências. No ensaio intitulado “O que é a Filosofia da Existenz?”, Arendt apenas aponta tal conceito de verdade como uma falácia metafísica que até então sustentou as fenomenologias existentes, isto é, as fenomenologias husserliana e heideggeriana, e aquelas diretamente influenciadas por essa duas. De modo que as fenomenologias de seus antigos mestres, são cada uma à sua maneira, contraditórias, paradoxais, por fundamentam-se ainda na dicotomia essência/aparência, privilegiando sempre a primeira. A reposição das três faculdades: pensar, querer e julgar, passa pela construção de uma fenomenologia em que tal dicotomia não existe: ser=aparecer. Escreve de forma magistral em A Vida do Espírito, contra a visão de que aquilo que é mais verdadeiro, que é real está além das aparência, para Arendt, as aparências jamais são superadas, o que há é uma substituição de uma aparência por outra. Os seres humanos jamais deixam o espaço das aparência. A Terra, o mundo humano, é aparência ou não é nada, não existe.27/08/2005 às 0:09 #77913Miguel (admin)MestreAna Rita,
você pode obter informações bastante precisas sobre a vida e obra de Arendt, no livro de Elisabeth Young-Bruehl intitulado Hannah Arendt: Por amor ao mundo, publicado pela Relume-Dumará. Aliás, é a melhor biografia de Arendt, embora quem teve acesso à correspondência Arendt-Heidegger perceba certos deslizes, explicáveis pelo fato de tal correspondência só tenha vindo à público alguns anos depois da publicação desta excelente bibliografia. Gostaria de registrar que embora, os deslizes digam respeito à tentativa de encontrar coerência entre a vida pessoal de Arendt e à sua obra, são deslizes em relação à teoria política de Arendt, e não que haja “deslizes” de mexericos. Infelizmente o livro está esgotado nas livrarias, de modo que você somente poderá encontrá-lo em sebos ou bibliotecas universitárias, como por exemplo, na USP e na UnB.
14/10/2005 às 23:07 #77914claudiaMembroDia 14 de outubro, Hannah faria 100 anos se estivesse viva (* 1906). Suas idéias são atualíssimas: o espaço do público e do privado, a ação, a política… é apaixonante… pena que poucos se dedicam em sua leitura.
15/10/2005 às 1:31 #77915Miguel (admin)MestreEu sou um desses que se dedicam pouco a essa leitura. Mas até que achei interessantes alguns conceitos dela que aprendi…
25/10/2005 às 20:25 #77916Miguel (admin)MestreO espaço da política, para Arendt, não é lugar da verdade… Nisso, há uma relação com Platão, que retorna do mundo das idéias para a caverna… para fazer política, certo?
25/10/2005 às 21:13 #77917Miguel (admin)MestreA teoria política arendtiana e a filosofia política de Platão são diametralmente opostas. Arendt elabora uma crítica à filosofia política, seja ela platônica ou aristótelica.A crítica a filosofia política – expressão para Arendt já contraditória pois, a filosofia visa à contemplação, ou seja, a cessação de todo tipo de atividade,inclusive o pensamento, pois, este é pura atividade enquanto que a política visa a ação, a atividade conjunta. Resumindo a teoria política de Arendt não possui semelhanças com a filosofia política tradicional, pois, sua teoria política rejeita qualquer tipo de fundamentação, seja ela, imanente ou transcendente, porque qualquer tipo de fundamentação leva a negação daquilo que é o diferencial de sua teoria política, daquilo que Arendt pretende resgatar, a saber, a pluralidade humana. Daí H.A. ter escrito todo um capítulo em A Condição Humana contestando o ponto arquimediano, ou seja, tal ponto é uma metáfora do ponto de vista privilegiado, e que justamento por sê-lo, exclui a pluraridade de perspectivas, a diversidade. Leia em Entre o passado e o futuro, o ensaio intitulado O conceito de História antigo e moderno.
25/10/2005 às 21:19 #77918Miguel (admin)MestreEsqueci de dizer o principal: O espaço da política de fato não é o espaço da verdade, onde quer que seja que exista os homens no plural e não o homem no singular, haverá sentido e não verdade. A verdade definida como oposição à aparência, é para Arendt a falácia metafísica que sustenta o edifício conceitual do pensamento ocidental. Por isso, escreve em A Vida do Espírito um longo capítulo para desmantelar, desconstruir essa falácia. Vale a pena conferir.
30/10/2005 às 1:54 #77919Miguel (admin)Mestre>>O totalitarismo nunca é o poder absoluto de um homem ou grupo: é também, talvez antes de tudo, o poder de uma doutrina, de uma ideologia (freqüentemente com pretensões científicas), de uma “verdade”, ou pretensa verdade. A cada tipo de governo seu princípio, dizia Montesquieu: como uma monarquia funciona com base na honra, uma república na virtude e um despotismo no temor, o totalitarismo, acrescenta Hannah Arendt, funciona com base na ideologia ou (visto de dentro) na “verdade”. É nisso que o totalitarismo é intolerante: porque a verdade não se discute, não se vota e independe das preferências ou das opiniões de cada um. É como uma tirania do verdadeiro.<< http://geocities.yahoo.com.br/mcrost04/pequeno_tratado_das_grandes_virtudes_14.htm 05/11/2005 às 1:58 #77920Miguel (admin)MestreOI gente tudo bem? Estou no 1º Sem de Diretito e preciso de algumas informaões sobre Hanna Arendt.
Obrigada! Algum texto sobre legitimidade.05/11/2005 às 14:08 #77921Miguel (admin)MestreSou de Caruaru-PE, Curso Direito, Estou preparando um projeto sobre a influencia e perspectiva da obra de Hannah Arendt no contexto atual, gostei do texto e se alguem poderia contribuir para o meu trabalho ficarei muito aagradecido. Agradeço antecipadamente.
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